segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Exercitando Literatura/Ficção (2)

Ela se sentia só e com vontade de chorar. Angustia. Uma angustia que de repente, assim do nada, tomou conta de seu peito. Ele ligou pra saber como ela estava, e percebeu que não estava bem. Foi até a casa dela. Ela estava triste, só isso, disse, sem motivo. Apenas estava triste. Ele a abraçou. Tentou consolá-la. Não sabia o que fazer, o que dizer - nunca teve muito jeito com essas coisas, só queria que ela ficasse bem. Ela chorou nos seus braços, ele acolheu sua cabeça em seu ombro. Ficaram ali, sem dizer nada, por muito tempo. Já era noite quando havia chegado, agora estava ainda mais tarde. "tenho que ir; você tem que dormir". Ela concordou balançando a cabeça. Levou ele até a porta, abriu. Ele saiu e ela olhou para ele caminhando até o pequeno portão. Correu até ele e o segurou pela mão. "Não vai; fica aqui comigo hoje. Não quero ficar sozinha nessa casa". Os seus país tinham ido viajar e ela estava sozinha em casa, mas não era baladeira, nem pensou em dar uma festa. "Posso? Será que devo?" Ela sorriu dizendo que sim, deveria. Ela o puxou pela mão, de volta para dentro. Entraram, ela fechou a porta, e o puxou pela mão novamente, escada acima. Pouca coisa foi dita. Ela o levou até seu quarto, carregando-o pela mão. Ela deitou-se em sua cama; "me abraça", disse, "só me abraçe; preciso ser abraçada". Ele olhou para ela, deitada de ladinho, joelhos dobrados, encolhida, abraçada num travesseiro. Ele deitou-se atrás dela, também de lado, espremendo-se na cama de solteiro. Passou seu braço entre os braços dela. Ela ajeitou-se, indo um pouco para trás, aconchegando-se junto ao corpo dele, sentindo seu corpo junto ao dela. Sentiu-se protegida, acolhida. Nada disseram, apenas sentiam o som da respiração um do outro. Ficaram ali um longo momento, sentindo aquele momento único, mágico. Não haviam segundas intenções, aquele momento, a união, a sintonia, era muito mais forte do que qualquer experiencia sexual. Adormeceram, abraçados. De manhãzinha, a claridade fraca do sol nascente o despertou. Abriu os olhos, sentindo o calor do corpo dela junto ao seu, seu braço ainda envolto nela. Sussurrou, para si mesmo, como que sem esperar que ela ouvisse "eu queria poder acordar assim toda manhã.". Ela respondeu, sussurrando de volta "eu também". Ela virou-se, e ficaram frente a frente, nariz a nariz quase colados, sentido o ar que entrava e saia da boca do outro. Olhando-se nos olhos. Um olhar profundo. Ele pensou que gostaria de guardar a imagem daquele olhar para o resto da vida, que gostaria de poder se lembrar dele no instante antes de sua morte por que então morreria feliz. Ela pensou que gostaria que depois de anos ele ainda olhasse para ela assim,  toda manhã. Ela levou sua mão até o rosto dele e fechou seus olhos. Ela também fechou os olhos. Suas bocas se aproximaram e seus lábios de tocaram. Após terem dormido a noite juntos, abraçados, deram seu primeiro beijo.

Um comentário:

Merini disse...

Incrível como lendo a gente consegue imaginar cada olhar, cada palavra sendo dita, ficou muito bom Márcio, parabéns!