terça-feira, 31 de agosto de 2010

“Dilma neles” e o lugar de fala

Semana passada fui a São Paulo, participar do Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas. Lá, comprei uma camiseta, cuja imagem reproduzo através de uma foto. Ilustrada por uma imagem estilizada de Dilma, da época de militância, trazia a frase “Dilma Neles”. Na volta para casa, fui com ela.
No aeroporto, ao passar pelo detector de metais, a moça do aeroporto que cuidava das checagens me olhou estranhada. Não entendeu. Perguntou “Dilma Néles?”, com ênfase no “Né”. Pensando que ela não havia enxergado a camiseta, a estiquei com as mãos, mostrando. Ela inclinou levente a cabeça, mostrando não entender. Eu disse: “Dilma, candidata à presidência”. Ela respondeu “Sim, eu sei quem é a Dilma, mas... Néles?” Demorei a conseguir explicar. Repeti “neles” batendo com as costas de uma mão na palma da outra, representando o símbolo de choque. Ela repetiu “Néles”, como se fosse um incomum sobrenome. Perguntou: “mas o sobrenome dela é Néles?”. O outro rapaz, ao lado, veio em meu socorro, na explicação. “Neles, nos outros”, disse. Eu completei “Os tucanos querem voltar, então dá-lhe Dilma neles”. Ela entendeu. Talvez tenha faltado na camiseta um ponto de exclamação, é verdade, mas há uma outra questão.
Lembrei das aulas de Análise do Discurso. Colocar aquela camiseta era assumir um lugar de fala que o outro não pode compreender se estiver em outro lugar de fala, se não tiver os mesmos pressupostos do universo representacional no qual o discurso é proferido (acabo de fazer uma salada de Bakhtin, Pechêux, e outros... Haha). Afinal, quem são eles?? É saudável para o debate democrático tratar a questão “nós e eles?”. Achei interessante encontrar alguém que, certamente sem conhecimentos dos signos que fazem da disputa política uma guerra, não consegue conceber o que seriam “eles”, pois, afinal, todos estamos juntos e somos “nós”. A camiseta é excelente, como ferramenta de comunicação, mas talvez não seja como pensamento e discurso. Não somos (ou não devíamos ser) divididos entre nós e eles, pois, afinal, todos somos nós, brasileiros.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Dilma e as mulheres (Ou: As mulheres são invejosas)

As pesquisas mostram que um dos últimos campos que Dilma conseguiu penetrar é entre o eleitorado feminino. Tem avançado e já está na frente, mas entre o eleitorado masculino as intenções de voto são consideravelmente maiores. Tenho uma boa explicação para isso. Conversando e escutando muitas amigas, que não votarão nela, ouço sempre comentários como “aquela mulher…” e segue algum adjetivo, inculta, masculinizada, etc (apenas argumentos racionais que referendam o sentimento subjetivo, e mesmo inconsciente). O interessante é a identificação da pessoa como “mulher”. Não vejo falar de Lula ou mesmo de Serra como “aquele homem”. O que percebo, e posso estar errado, é que as mulheres são invejosas. Elas sentem ciúmes, inveja pela posição aquela outra mulher está ocupando. A despeito de toda evolução do feminismo, elas não pensam como classe; pensam como indivíduos, isolados, e egoístas. E sentem inveja. Principalmente por que Dilma é uma mulher “comum”. Mais ou menos como Lula. Não é alguém que “se preparou a vida inteira para ser presidente”, como Serra gosta de falar de si próprio, mas alguém que viveu sua vida, casou, separou, teve uma filha, teve um negocio, estudou, trabalhou e conquistou seu espaço. Foi descoberta por Lula e tem agora sua chance. É uma mulher comum, que poderia ser qualquer uma de nós, mais ou menos como Lula. Não há grandes atipicidades em sua vida. Mas essa relação se processa de forma bem diferente. Os homens pobres, os trabalhadores, olham para Lula e se enxergam nele. Sentem-se felizes e contemplados, realizados, pois eles estão lá com Lula, eles são o Lula, e Lula está lá por eles. As mulheres não pensam assim, não pensam no campo que está sendo aberto ou nas conquistas de classe. Elas olham para Dilma e sentem inveja. Não se sentem representadas, mas que elas que queriam, lá no fundo da alma, aquele reconhecimento e sucesso para elas mesmas, e não para a outra. Inconscientemente, são egoístas. E é por isso que Dilma se elegerá majoritariamente com o voto masculino.

Em tempo: muitas que falam e sentem assim por Dilma votarão Marina. O voto em Marina não conta, pois se sabe se antemão que ela não se elegerá. Não se têm inveja sobre o irreal e por isso podem votar em Marina achando que não sentem o mesmo. Se Marina pudesse ganhar, sentiriam.

domingo, 29 de agosto de 2010

A Internet e o Nobel da Paz

A Internet foi indicada ao prêmio Nobel da Paz. A notícia é velha, de alguns meses atrás, mas lembrei dela agora. Até alguns dias atrás, quando se entrava no YouTube, havia um pequeno banner chamando para uma votação simbólica, pedindo apoio. Agora não tenho visto mais. Serei direto. Isso é uma palhaçada. Vou resumir, pois estou sem paciência (poderia me fundamentar em autores e referenciais teóricos, mas deixo isso para a próxima). A Internet é um objeto, um artefato. Ela não cria o bem em si. Todas as mudanças sociais que de fato existiram e foram propiciadas pela internet, são na verdade mudanças estruturais da própria sociedade. Um exemplo. Quando na Espanha o país inteiro mandou mensagens de texto via celular e virou o resultado das eleições presidenciais na véspera (esse é um case clássico já, não vou entrar em pormenores aqui), isso foi uma mudança da sociedade. Os celulares apenas foram o instrumento que permitiram que essa mudança se concretizasse. Se eles não existissem, a mudança não seria realizada e a eleição não teria sua virada, tudo bem. Mas não se pode atribuir ao celular, em si, a mudança. Ou dizer que ele provocou a mudança. Não, ele foi apenas um instrumento que tornou possível. Pode ser usado para o bem ou para o mal. A  Internet é absolutamente a mesma coisa. É um instrumento, um artefato, e não pode ser pré-definida como boa ou má. A sequer indicação de um objeto para o Prêmio Nobel da Paz já é uma piada. Objeto por objeto, que se premie o guarda-chuva ou o isqueiro, que já escrevi aqui e aqui, serem os grandes inventos da humanidade.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Humor e pseudo-censura

Dizem que o CQC é de direita. Discordo. Não vejo isso no programa. Vez em quando transparecem suas opiniões, é verdade, mas isso não importa. Ainda que sejam, o que importa que é são talentosos. Gosto de assisti-los e (a maior parte) acho engraçado. Mas discordo veementemente de uma postura que têem adotado. Diz respeito à proibição do humor com candidatos durante as eleições. Já faz semanas esses vem numa reiterada campanha contra a decisão do TSE de proibir programas humorísticos de fazer graça com candidatos. Em parte, é compreensível a reação, pois estão defendendo o seu ganha-pão. O ruim disso é defender interesses próprios como se fossem coletivos, sob a bandeira da liberdade de expressão ou de opinião, ou mesmo da democracia. Não é nada disso e dizê-lo depõe contra eles. O CQC (mas não somente) faz questão de repetir o erro, de chamar a decisão judicial de lei. São coisas absolutamente diferentes. Chamar de lei, joga a responsabilidade sobre o executivo e o legislativo. A proibição, embora (como tudo num estado de direito) baseada em leis, partiu do judiciário, por medida suprema de um colegiado, o do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Passa-me a impressão de que querem criticar o governo indiretamente, quando este nada teve a ver com a decisão. Mas vamos logo ao cerne da questão em si. Defendo a decisão do TSE por alguns motivos bem evidentes. Primeiro, direito de expressão não deve se confundir com direito de chacota. Os candidatos tem direito a resguardar sua imagem pública. Segundo, o argumento de que o humor ajuda a democracia, o povo a conhecer os candidatos é falso. Ajuda, tão somente, a esteriotipá-los e transformá-los em humor. Não é isso que se espera de um momento solene como uma eleição. E, creio, talvez o mais importante argumento, é que o humor pode ser usado políticamente. Ele pode, sim, ser usado por grandes humoristas com intenções nada mais do que fazer graça. Mas se deixarmos o humor livre, todos poderão, com a desculpa de fazer humor, criar peças negativas contra seus adversários, atacar posicionamentos opostos aos seus. É uma questão perigosa. Ainda mais sendo que o humor é uma questão subjetiva. Mesmo que se aplicasse algum principio de igualdade (se faz piada com um candidato, tem que fazer com o outro), não há absoluta garantia de real igualdade. Por exemplo, um humorista tem preferencias pelo PT. Ele faz piadas leves com Dilma, para que não digam que a poupou, mas ao fazer com Serra, realmente cpricha na acidez. O humor com o adversário teria maior capacidade de denegrir sua imagem, e ninguém poderia comprovar que ele fez intencional. No limite, esse humorista hipotético diria "trabalhei no limite de minha capacidade criativa"; e quem vai conseguir argumentar contra isso? O humor pode ser perigoso, se usado políticamente, para fins político-partidários, e deve sim, ser proibido em momentos tão delicados e importantes como as eleições. Isso não se aplica, evidentemente, a todos demais momentos de nossa democracia, onde todos, inclusive humoristas, têm o direito de se expressar livremente, inclusive através do humor, sobre o que quer que seja. Mas nas eleições deve-se assegurar um duelo justo, limpo, e igual. Trata-se de uma questão maior, que é a democracia, e pelao bem da democracia deve-se impor limites à certas liberdades.

Em tempo: infelizmente, tal decisão que proibia o humor nas eleições foi suspensa hoje, por coincidencia, algumas horas após a publicação desse post. É triste ver a vontade da mídia manipulando a opinião pública e até nosso judiciário.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Dilma pode errar (e por isso poderá acertar)

Apesar das críticas que já fiz à Dilma, de não achá-la à altura do cargo, entre outras coisas, penso que ela tem uma grande oportunidade em suas mãos, e por isso tem a chance de ser uma grande presidente. Ela tem a oportunidade de errar. Ela pode se arriscar a errar. Lula, em diversas entrevistas, já disse e repetiu sobre seu compromisso em não errar. Ele toma por exemplo Walesa, lider trabalhador que chegou ao poder na Polonia e fez um governo desastroso. Lula diz que, desde o primeiro dia de seu governo, tinha o compromisso de fazer um grande governo, pois se ele fizesse algo ruim, nunca mais na história um trabalhador conseguiria se eleger nesse país. Ele se comprometeu, talvez a maior de suas promessas, a fazer um bom governo e realizou isso. Para poder fazer isso, em muitos momentos, não pôde arriscar. Teve que ser ortodoxo na economia, não fazer grandes reformas, e por aí vai. Dilma não tem nenhum compromisso com não errar. Repito, com enfase: Dilma não tem compromissos em não errar. Ela pode errar. E por poder errar, ela pode se arriscar a fazer grandes reformas, inovar na economia, etecetera e etecetera. Ela pode fazer as reformas estruturantes que Lula não fez. Poderão argumentar alguns que ela também não poderia errar, pois seria a primeira mulher presidente. É diferente. Lula se elegeu sob a bandeira de ser um trabalhador e se fizesse um governo ruim seria essa bandeira que iria fracassar. Dilma não está se elegendo sob a bandeira de ser uma mulher. Embora (só agora) isso começe a ser explorado na campanha, o fato dela ser mulher é um detalhe tão importante quanto Lula ser barbudo. Não estou desmerecendo o fato histórico da primeira mulher na presidencia, mas constatando que não é sob essa bandeira que ela está caminhando. Dilma está se elegendo sob a bandeira do PT de continuar o governo Lula. Na pior das hipóteses, em um governo desastroso, a única bandeira que fracassaria seria essa (e já expressei aqui o quanto temo que, sim, Dilma torne-se para o PT o estorvo que FHC é para o PSDB, em termos de governo mau aprovado). Por ela poder se dar a esse luxo do erro, e por poder errar, sem maiores compromissos em comprometer a história, então ela poderá acertar.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Por que Marina é uma decepção

Marina é uma decepção. Diferentemente de Heloisa Helena no passado, ela poderia ser grande. Não é. Ela insiste em seu discurso único. Já comentei isso com alguns amigos. Ninguém vota para presidente em candidato de discurso único. O presidente não é ministro, seja da educação, do meio ambiente ou da saúde. Quem insistir nisso, perderá. Repito, presidente não é ministro. Esse foi o erro, por exemplo, de Cristovam Buarque. Não propriamente um erro, pois ele estava defendendo e levantando uma bandeira. Belíssimo e essencial. Mas a decepção com Marina é por que ela poderia ir além, ela poderia, eu ainda tinha esperanças, de ser uma grande novidade do cenário político brasileiro. Por exemplo, o discurso de que ela seria a opção de terceira via que poderia, uma vez no governo, unir PSDB e PT. É um bom discurso, mas que não é explorado. Qual discurso é explorado? A ecologia. Ora, todos, todos sabem que Marina Silva é a candidata do meio ambiente. Ela não precisa reprisar essa tecla. O que ela precisa é mostrar que, além de ecologia, ela também sabe lidar com educação, saúde, segurança... afinal, presidente não é ministro. O que ela faz é repetir hoje o erro histórico do PT: pregar para os já convertidos. Quem já está convencido de Marina, não muda; quem já está alinhando ao discurso da ecologia, já está alinhado e não mudará. Se ela quer ampliar suas bases, então justamente é necessário mostrar que tem outros discursos. Infelizmente, não é isso que está acontecendo até agora.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O Encontro Nacional dos Blogueiros Progressitas

Em algumas horas estarei embarcando para São Paulo. Passarei o fim de semana lá, para um evento. O evento chama-se 1° Encontro Nacional dos Blogueiros Progressitas. Trata-se de ativismo e jornalismo político na web. Faz dias que estou para escrever este texto, mas fico me enrolando. Sei que é pela importância e pelo significado que ele tem para mim. O evento é organizado por pessoas como Luiz Carlos Aznha e Luis Nassif. Há anos leio este dois autores, muito antes de entrar para a faculdade. Em boa, muito boa medida, eles são responsáveis pelo meu interesse pela área. E agora ficarei frente a frente com meus "ídolos", por assim dizer. Irei encontrá-los. Não sei como colher autógrafos, visto que nunca tive em situação análoga. Mas então percebo a beleza a situação. Diferentemente das tietes de bandas musicais ou de estrelas do cinema e da televisão, não estarei perante eles em uma relação de submissão. Quando um fã de rock ou de cinema encontra seu ídolo, nada pode fazer senão cumprimentá-lo e expressar sua admiração. Provavelmente farei isso, claro. Mas há mais. Estarei lá como profissional de comunicação. Ainda estudante, é verdade, mas alguém da área. Não apenas numa relação passiva, mas de igual para igual (guardadas as devidas proporções, claro), em busca de discustir a comunicação no Brasil e de soluções para nosso país. Percebo então que sou um privilegiado pois tenho uma rara chance na vida: estar ao lado dos profissionais que você admira, contribuindo e colaborando com eles. Será formidável. E é apenas o começo.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

As pessoas por detrás (Ou: Dilma é FHC do PT)

Engraçado como todos meus amigos e conhecidos pensam que meu voto nas eleições já está definido. Dizem "Ah, Márcio, você é petista". De fato, em termos gerais, tenho grandes simpatias com o PT, mas isso não faz com que eu deixe de ter dúvidas ou questionamentos. Não sei por onde começar, então serei direto. Acho Serra muito melhor do que Dilma. Também acho Serra muito pior do que Dilma. Agora que já o confundi, caro leitor, deixe-me explicar. 
Cada entrevista que vejo da Dilma ela me decepciona um pouco mais. Não acho que ela seja a candidata ideal. Serra demonstra ser mais seguro, expõe melhor, pensa melhor, por assim dizer, em questão de inteligência e raciocínio mesmo, academicamente falando. Acho o Serra um sujeito inteligente, até certo ponto. Fosse o voto apenas na pessoa, e talvez eu pudesse considerá-lo. Mas há alguns problemas. Primeiro, o pensamento de Serra, suas posturas, das quais discordo frontalmente. Apenas alguns exemplos? O liberalismo econômico, que sob FHC quebrou o Brasil duas vezes. Essa é uma postura teórica-ideológica dos demo-tucanos, à qual Serra se filia, com a qual não concordo. Também a postura em política externa, de ser subalterno aos interesses norte-americanos e de enfrentamento aos vizinhos sul-americanos. Com Lula, o Brasil passou a ser um grande "player" do cenário internacional e Serra é contra essa política, quer voltar a ser subalterno. Apenas alguns exemplos. Mas talvez, muito talvez, eu ainda poderia considerar a opção Serra. Como individuo apenas, isolado de suas idéias, acho ele um ser muito melhor que Dilma. Como representante internacional, chefe de estado, aquele que carrega o nome do Brasil para o exterior, talvez ele fosse mais recomendado. Mas há outras questões. Suas idéias são uma das coisas, o que prejudica bastante. Mas a, talvez principal, questão é outra.
O problema são as pessoas por detrás. Como disse, o voto não é apenas na pessoa. Quando você vota num candidato, não vota apenas nele, mas num grupo. É este grupo que você elege, não apenas o candidato em si. É este grupo e suas idéias que irão governar. Em relação às pessoas por detrás, não tenho dúvidas. Confio plenamente no quadro do PT, e rechaço os quadros do PSDB. A mídia conseguiu, em certa medida, criar uma lenda de que o governo Lula fez composição com corruptos e tal. É lenda. Há uma diferença entre comando de governo (ou seja, os ministros e a equipe) e a composição da bancada no congresso. Ora, a bancada no congresso não importa em nada, se está se coligando com Sarney ou Collor ou os corruptos que forem (lembre-se que o PSDB tinha as mesmissimas alianças). O que importa é a equipe de governo, e aqui a diferença é gritante.
Outro dia li uma frase de Jorge Furtado, que disse "Sarney, comparado a Bornhausen, é Che Guevara". O senador Jorge Bornhausen é um dos lideres dos Demos, da coligação de Serra. Foi ministro de FHC e certamente teria papel decisivo num governo Serra. Para quem não lembra, Bornhausen (dizem, nazista) é aquele famoso pela frase do "nos livraremos dessa raça por 30 anos", se referindo a adversários. O cara é de causar repulsa. O coordenador da campanha de Serra, senador Sérgio Guerra, é outro crápula. São duas pessoas que deveriam ser expurgadas da vida pública. Mas podem se tornar influentes ministros sob Serra. E o vice de Serra, então?! Um sujeito de 30 e poucos anos, que nunca foi nada, absolutamente nada, na vida. Tá, foi deputado federal, em primeiro mandato. E daí?! Ele é totalmente inexpressivo, autor de projetos esdrúxulos, como um que propõe multa para quem dá esmola!!! Sim, é verdade, há um projeto de lei da autoria de Indio da Costa que propõe instituir multa para quem dá esmola!!! É um exemplo da mentalidade de extrema direita das pessoas que cercam Serra. Agora pense: o vice-presidente da república é um total desconhecido, que nunca fez nada, que mal atingiu a idade mínima para o cargo. O cara foi inventado, por falta de alternativa. E se ele precisar assumir, por quais motivos forem? Serra não é imortal. Quem é o presidente do Brasil? Um tal de Índio da Costa. É absurdo, é insano. Em matéria de vice, aí sim, Dilma dá um show. Michel Temer, goste-se ou não dele, pode, numa eventualidade, assumir a presidência sem nenhum problema (onde, inclusive, já esteve interinamente enquanto presidente da câmara, substituindo o vice José Alencar). A equipe de Dilma é competentíssima. Palocci, que deveria ser o candidato, não Dilma, já mostrou sua capacidade. Fernando Pimentel é uma nova estrela nacional que desponta, e isso sem falar em Aloizio Mercadante, provável derrotado em São Paulo e com todas as chances (se fizer bem feito) de ser o sucessor de Dilma. Confio nessas pessoas que são as pessoas que ajudaram Lula a fazer de seu governo um grande governo.
Mas o que quero dizer sobre Dilma é o seguinte. Dilma Rousseff é o Fernando Henrique Cardoso do PT. O que quero dizer com isso? Bom, aqui vai minha previsão do futuro. Espero estar errado, mas, pelo meu olhar, é para isso que caminha. Dilma é um excelente paralelo com FHC. Alguém sem apelo popular, um tanto técnico, que devidos às circuntancias foi criado, fabricado (o plano real de FH e o governo Lula de Dilma) e ganhou a oportunidade de governar o país. Se a história se repete, como nos ensina a doutrina marxista (e eu creio que, sim, a história tende a se repetir), Dilma tem grandes chances de, em certa medida, frcassar e se tornar para o PT o estorvo que FHC é para o PSDB. Alguém cujo governo os opositores usarão como exemplo do quanto aquele grupo político é ruim. Sabe o que acho? Acho que Dilma se elege este ano, e torço por isso. É o melhor que pode ocorrer, nas atuais circunstâncias (a opção Serra faria um governo ainda pior). Mas também acho que seu governo não será bom. Em não sendo, creio que ela não se re-elegerá em 2014, perdendo assim a eleição para Aécio Neves (alguém tem um mínimo de dúvida que Aécio é o candidato tucano de 2014?). Poxa, estou fazendo muitas previsões, hein? Esse é um texto para se guardar para o futuro. Ou não. Rsrss. Enfim... Creio que, sim, o governo Dilma pode dar certo, mas se der será pelas pessoas por detrás. Espero que isso possa ocorrer.
Por fim, uma coisa realmente me intriga. Lula podia ter escolhido qualquer um para lhe suceder. Quem ele dissesse seria aceito pelo partido e provavelmente ganharia a eleição. Podia ter escolhido pessoas muito melhores e com perspectivas muito mais grandiosas de futuro. Dois exemplos emblemáticos seriam Antonio Palocci, mesmo com toda bobagem sobre supostos escândalos, ou Tarso Genro, excelente ministro e mais do que preparado para a missão. Na verdade, consideraria Tarso a pessoa certa para o cargo. Tem uma reputação pública, uma história que faria frente à Serra em qualquer campo. Alguém perfeito que realmente representaria nosso país. Posso fechar os olhos e vê-lo como candidato a presidente no lugar de Dilma, nos debates. Iria arrasar. Fico muito triste por não ser ele o candidato. E veja, estou falando de opções petistas, nem estou citando o candidato mais natural e correto, que seria Ciro Gomes. Mas Lula escolheu Dilma, que sucessivamente me decepciona. É uma pena, uma pena para o futuro do PT.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

A escola

Outro dia, com alguns amigos, Mario, Gaucho e Jimmy, surge o tema e eles me perguntam: afinal, por que eu, tão inteligente, abandonei os estudos? Desconversei. Ainda é um tema com o qual não verso muito bem, mas me sinto feliz em já poder falar sobre ele. Freud diz que a libertação está em poder falar. Eu concordo inteiramente. Quando entrei na faculdade, isso era algo que eu escondia e demorou muito para que eu falasse a respeito com alguém. Sentia vergonha disso. Não que agora tenha orgulho disso, mas, hoje, falo de certa forma abertamente, e até já escrevi sobre isso aqui no blog, um espaço público. De fato, a libertação está em poder falar. Fico feliz em poder falar sobre isso. Mas por que, afinal, eu abandonei a escola? Para quem não sabe, eu parei de estudar entre a 4ª e a 5ª série (completei uma, mas nem começei a outra). Bem, houve uma série de razões, destacadamente duas. Sobre a possivelmente mais importante, é pessoal, e conto para os amigos que me perguntarem tranquilamente, mas não cabe ser mote de escrita aqui. Mas uma das razões (não a principal) que me levaram a abandonar a escola foi minha insatisfação com ela. Frequentei boas escolas, particulares. Mesmo assim, eram uma droga. Não gostava de ir para a aula. Quando abandonei em definitivo, já havia reprovado de ano três vezes. Hahaha. Sim, é verdade. Em todas, por falta. Eu era uma espécie de versão mirim do meu amigo Carlos e de como trata a faculdade. E não estou brincando. Eu era exatamente assim, muito inteligente, bom em conhecimentos escolares e extremamente desisteressado em frequentar as aulas. Desde cedo, sempre amei filmes. Mas nos idos dos anos 90 não existia internet, para baixar filmes e assistir a hora que quisesse. Me lembro quando lançaram o intercine, em que você podia escolher o filme que passaria no dia seguinte, era incrivel! E mesmo antes... Sempre adorei ficar as madrugadas acordado para assistir filmes. Resultado, nunca acordava de manhã para as aulas. Quando acordava e ia (sempre, sempre atrasado), odiava. Era insuportável aguentar as professoras passarem em um mês aquilo que podia ser dado em alguns minutos. Era insuportável. Não quero me achar, mas também não dá para negar. Uma das coisas mais insuportáveis que me lembro é do "ou seja". Foi na quarta série, se não me engano. A professora era meio que obcecada por essa expressão, eu acho, pois usava a absolutamente todo momento, ao escrever no quadro negro, ao ensinar. Enchia o quadro de ou sejas. Ficava indignado. Como disse, não quero parecer arrogante, mas com aquela idade, acho já escrevia melhor do que aquela professora. E questionava ela durante as aulas, sobre não ter sentido em usar tantas vezes essa expressão. Ela dizia que era para explicar melhor o que você estava tentando dizer. Me lembro que dizia algo como "Se você tem que explicar melhor depois é por que não explicou certo da primeira vez. É melhor você se expressar certo de uma vez, aí não precisa usar o ou seja". E assim foi indo. Repeti a segunda série uma vez, antes de passar. Repeti a terceira também, antes de passar. E repeti a quarta. Hahaa. E esta eu só passei por um chuncho da minha mãe com as professoras. Elas, em virtude da minha inteligencia, aceitaram, se eu fosse no último bimestre, e fizesse a última prova, alterar minhas presenças do resto do ano e repetir nos outros bimestres a nota que eu tirasse no último bimestre. Só por isso passei na quarta série. Haha. Ou seja, na prática mesmo, só fiz até a terceira, pois a quarta só frequentei no último bimestre. Então vieram outras questões, depressão, que funcionaram como referendo e reforço à essa tendencia e abandonei a escola definitivamente. Hoje, olhando para trás, me arrependo muito. São experiencias que não tive. Por isso (entre muitas outras coisas, claro) estou realmente adorando a faculdade. Ela é para mim o convivio escolar que nunca tive.

domingo, 15 de agosto de 2010

Sobre mulheres vulgares e outras brasilinidades

Cléo Pires saiu na Playboy desse mês. Isso me assusta e me entristece. Nosso país ainda não é sério. Nosso país não é sério pois não nos valorizamos. Cléo Pires, ao contrário das prostitutas (como bem definiu Marcelo Tás) que tipicamente estampam essas revistas, é um boa atriz. Não gosto de ser etnocentrico e acho essa prática tenebrosa. Me causa nojo ver pessoas que falam "ah, mas no exterior...". Infelizmente, há momentos que isso é inevitável. No exterior... Não vemos as grandes atrizes americanas ou européias nas capas de revistas masculinas. Apenas no Brasil nossas grandes atrizes se sujeitam a sair na Playboy como se fosse uma grande coisa. Playboy, nos Estados Unidos, é para prostitutas, não tem prestigio nenhum, quanto mais o prestigio que tem no Brasil. Inclusive, nos Estados Unidos, as mulheres são frescas até demais com essa coisa de nudez. Na Europa, as atrizes são bem mais desinibidas em relação à nudez, mas nas obras  de "arte" (filmes, tv, etc). É normal explorar a nudez no cinema europeu, pois aí a atriz se entrega à arte, ao personagem; elas não saem nuas em revistas masculinas por dinheiro apenas. Quando vejo putas como qualquer dessas mulheres frutas, que estão na moda, posarem para essas revistas, acho normal, pois é, para usar uma expressão cara a meus amigos, sua função social. Mas me entristeço quando atrizes boas, de gabarito, se sujeitam a isso, se rebaixam a essa vulgaridade. Então percebo que, infelizmente, nosso povo ainda não se leva a sério. 
Existe outro exemplo, desse modo de nos encarar a nós mesmos. Outro dia, vendo tv, assisti uma dessas "propagandas institucionais". Acho que era do SBT, mas não tenho certeza. Falava do nosso país, exaltava e tal, para no fim falar sobre o voto consciente. Objetivava passar a mensagem que nossa atitudes individuais são as atitudes também coletivas. Tinha passagens como "a todos mataram o filho; todos nós furamos o sinal" Ou seja, é problema de todos. Até aí, só piegas, mas tudo bem. A coisa pega quando começa a exaltação das coisas boas do país e fala, basicamente, apenas sobre mulheres e esportes. Outros trecho "temos as mulheres mais bonitas do mundo, ganhamos cinco copas do mundo". Fiquei indignado com esse trecho e gritei com minha tv: e daí, porra?! Há outros trechos igualmente revoltantes, como quando fala "daqueles que jamais serão esquecidos" e a imagem que ilustra é a de Pelé, como se o ápice fosse o esporte. Fiquei indignado e revoltado como essa propaganda trata nosso país. Sério, o melhor que temos a falar sobre nosso país é que temos mulheres e esportes?!?! Algumas semanas atrás todos ficaram indignados com uma brincadeira de Stallone que ridicularizava o Brasil mas o que fazemos é passar justamente a mesma imagem e referendar o que ele disse. 
É revoltante, principalmente por que não é verdade. Se me perguntarem qual meu herói, tenho dois exemplos a dar. Um, claro, quem me conhece já pode adivinhar, é merecidamente Lula. O outro é Miguel Nicolelis. Sabe o que é triste? A maioria dos próprios brasileiros (e talvez até mesmo meus leitores) não sabem quem é ele. Indicado em 2008 ao Nobel de Medicina, é um dos mais brilhantes cientistas do mundo atualmente, e desenvolvedor da tecnologia que permite o controle de um esqueleto mecânico a partir de ondas cerebrais. Nos Estados Unidos, onde comanda um grupo de pesquisas de uma das maiores universidades do país, é considerado um gênio, mas no Brasil, é um desconhecido. Triste a desvalorização que o brasileiro inflige a si mesmo. Se queremos ser grandes, que os outros nos reconheçamos como tal, então temos que começar por nós mesmos. Creio que seja necessária uma mudança de mentalidade, gradual, que infelizmente não se faz do dia para a noite. Tenho a esperança que, um dia, verei isso. Mas não podemos sentar e esperar, temos que começar a nos mudar, hoje. O mais breve possível, por favor.

sábado, 14 de agosto de 2010

Minha mãe

Meu relacionamento com minha mãe é um tanto complicado, por assim dizer. Difícil explicar, e não irei me deter nisso aqui, hoje. Apenas um pensamento me ocorreu hoje. Ela entrou aqui no meu quarto e eu estava com a página de rascunhos do blog aberta, escrevendo. Ela se deteve por um instante, olhando o que era que estava fazendo. Não costumamos conversar muito, e por incrível que pareça eu nunca comentei com ela que tenho um blog. Ela não sabe da existência deste blog. Não por segredo, nem nada, afinal, isso aqui é público, mas por pura falta de abertura, ensejo ou propósito para dizer algo assim. Aí me ocorreu: este blog sabe mais de mim do que ela. Ou seja, já escrevi aqui, sobre minhas opiniões (que, no limiar, dizem quem sou), mais do que já disse a ela. Quem me lê e quem ler o blog conhece minha opiniões mais do que ela. Estranho isso, não? Enfim, apenas um comentário.

Em tempo: sobre a definição acima (somos nossas opiniões), penso que precisa ser relativizada, pois é perigosa. Já dei opiniões aqui que são puramente teóricas ou já fiz provocações que são apenas isso, o contraditório, a antítese. Acho que somos muitos mais do que apenas nossas opiniões e, pensando bem, não acho que este blog consiga expressar em sua totalidade a complexidade de minha opiniões.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Sobre questões profissionais levantadas em sala

Havia um outro post programado para ir ao ar, mas o adiei para escrever esta tarde sobre uma coisa que realmente me impressionou. Esta manhã tivemos a primeira aula de uma coisa chamada "sistemas e processos integrados", seja lá o que isso signifique. O professor é um administrador, com toda sua formação em administração, graduação, mestrado e doutorado, tal como um burro de viseira que não consegue olhar para os lados. Começou a falar da relação entre administração e relações públicas. Fez um desenho no quadro em que colocava RP de um lado, ADM de outro, e a Comunicação Institucional no meio. Me opus à toda aquela bobagem que ele estava falando. Mas o que me impressionou e assustou não foi o professor falar merda, pois isso todos podem fazer, mas a reação de vários de meus colegas. O único que se opos junto comigo foi um veterano que agora entrou para nossa turma, o Rone. E um pouco a Sissa. Os outros, até meio que concordaram com ele. Uma grande bobagem. E é isso que me impressiona. Eu, assumidamente, não retirei tudo que podia da matéria de RP. Apesar de minha boa nota (e daí digo que nota não é necessariamente significa algo) não absorvi completamente o conteúdo. Mas ainda ficou algumas boas partes. No entanto, as outras pessoas pareciam saber menos do que eu. Isso realmente me assustou. Enquanto eu falava, todos ensaiando seus "não, não..", concordando com o professor. Me pergunto: será que não se lembram nada de RP, não entendem nada? Por que isso é essêncial ao nosso curso. Nosso curso é, em essência, RP. O professor claramente demonstrou nunca ter ouvido falar disso na vida, mas nós já ouvimos, já tivemos aulas com a Valéria. E aí tem uma questão que é mais do que simples vontade ou querer pessoal. É uma bobagem querer, como o professor tentou, colocar RP na comunicação e Comunicação Institucional entre RP e a administração. Em verdade, e muitos autores concordam (e eu também), a Comunicação Institucional é uma área, um braço, das RP. É "natural" que nós queiramos, para nosso ego, dizer "não, não, Comunicação Institucional está acima, nós estamos acima..." ou algo assim. Normal, não queremos dizer que somos um braço de RP, mas é isso. Com muitas, muitas diferenças, como a perspectiva socio-critica que é empregada pela universidade, mas que não tão tão profundas para se constituirem como um novo curso. E a RP está sim, associada diretamente à administração, apesar do professor tentar dizer que não. Inclusive, acho que é a Kunsch que diz isso (não tenho certeza), a administração deve tomar suas decisões após consulta à RP e atendendo suas orientações. Então o professor tenta dizer: isso é teoria, não acontece na prática. Uma grande babaquice. Ora, os autores de RP também previram essa crítica que ele fez e a resposta é simples. De fato, ainda não é feito assim, hoje, na maioria das empresas, o que não significa que não seja o correto. O comunicador mediocre vai aceitar sua posição de subordinado à administração. O grande comunicador, que terá alguma relevancia, vai batalhar para implementar um modelo de gestão que contemple aquilo que é mais eficiente. Me lembro da mensagem passada pela Valéria, essa sim, grande professora, algo como (palavras minhas, não dela): temos a missão que ir às empresas e mostrar a eles isso, ou seja, mudar o modelo e fazermos diferença. Eu realmente não consigo entender pessoas que não defendem sua profissão. A passividade que vi hoje foi impressionante. Se me perguntassem o que achava de RP quando entrei na faculdade, diria que não gostava (afinal, não conhecia bem). Mas hoje estou dentro desse curso, que é a essência de nosso curso. Acho que frente a uma situação dessas há duas alternativas: ou se adota uma postura crítica aos fundamentos do curso, como a Peruzzo faz, o que é totalmente válido, e gosto muito. Ou se veste a camisa e defende ele. O que não entendo é pessoas ouvirem merda de alguém que não sabe nada de nosso curso e ficarem passivas, ouvindo e aceitando. Eu procuro ter a criticidade de Peruzzo e criticar (todos sabem que sou critico até demais). Mas criticar sobre o real, não sobre o irreal. Sabe o que é engraçado? Geralmente "brigo", me oponho aos professores, defendendo posturas contra o mercado e talz, por questões ideológicas, mas dessa vez não foi isso. Estava defendendo o que é o meu curso. Me lembro duma ocasião, lá na Litoral, em que alguem em algum momento, não sei por que disse: "estamos sendo apenas os relações públicas deles". Respondi "alto lá. não fale do que você não sabe e respeito com meu curso". Eu "detesto" RP. Acho que Peruzzo está certissima em tudo, e todos RPs são uns filhos da puta. Mas se somos alguma coisa, então que assumamos isso. Desculpem a todos se alguém se ofendeu, foi só um desabafo.
*
P.S. (edição posterior): Creio que isso seja um pressupoto sempre presente, mas é bom avisar: tudo isso é só minha opinião, tá? Eu não preciso avisar que é "na minha opinião" em tudo que eu escrever, pois tudo que alguém fala é sempre opinião. Então mesmo quando invoco que alguém "acredite" em mim, estou me filiando a uma tentativa (válida, diga-se) de construir um efeito de verdade. É o que todos fazemos todo o tempo, portanto, não há motivos para me chamar de "dono da verdade" ou se sentirem ofendidos. É só minha opinião. Ah, e quando falo sobre as reações, estou falando de modo genérico; o texto não é absolutamente para ninguém em específico.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Aos leitores (ou: Sugestões?)

Aproveitando o ensejo do meu último post, em que falo sobre o CTCOM, que está entrando em seu último semestre presencial e chegando ao fim, também percebo que está chegando ao fim este blog. Quando decidi criá-lo foi a partir de uma noção da ciência política de que toda instituição é finita, ou seja, tem data para acabar. Batizei-o de Cadernos da Graciosa e creio que no primeiro post (ou um dos primeiros) disse que serviria para registrar meu pensamento durante este tempo que é caracterizado por viagens diárias no trajeto Curitiba-Matinhos. Pois bem. Tal tempo tinha e tem data para acabar. Junto, este blog encerrará atividades. Afinal de contas, não faria sentido manter um blog nomeado Cadernos da Graciosa em um outro contexto, seja qual for, em que isso não tivesse significado. No entanto, quando comecei, não sabia em que daria isso, essa experiência. Gostei. Bem mais do que esperava. Pretendo continuar escrevendo, blogando. Precisarei de um novo blog. Desta vez, sem a proposta da finitude. Um que possa ser, de certa forma, perene. O meu blog, realmente. Começarei a pensar desde já, mas para títulos sou péssimo, ainda mais o título de algo tão importante assim. Peço, ao eventual leitor, dicas, ajudas, sugestões. Alguma idéia para o meu novo blog? Comente, ainda que seja para dizer que não tem idéias. Rsrss. Peço, aqui, sua sugestão e participação. E (acho que nunca disse isso) obrigado aos meus leitores. 

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Dois Anos

Faz dois anos. Dois anos de aulas, na faculdade. Poxa, como passou rápido, hein?! O que tirar desse tempo? Difícil dar conta disso, nesse espaço. Um dia ainda sento para escrever um belo texto sobre isso. Hoje, é apenas um ensaio. Dois anos, e prestes a acabar. O tempo passou muito rápido. Tem sido um grande aprendizado. Não falo de conteúdos acadêmicos, mas da vida, das relações. Quantas confusões eu arrumei, hein? Em alguns momentos uni (quase) todos, opostos, contra mim. Rsrss. Não deixa de ser engraçado. Mas não é isso que vai ficar. O que fica são bons momentos. Momentos muito bons, e crescimento. Na literatura, umas das características de uma boa narrativa é a mudança de estado dos personagens (saem de A e chegam a B). Mais do que apenas na faculdade, mas na vida, essa mudança de estado é fundamental. Creio que seja, hoje, uma pessoa diferente de quando entrei na faculdade. Em muito permaneço igual, mas muita coisa mudou em mim. Para mim, que não fiz ensino médio e cuja última experiência em um ambiente escolar havia sido quando abandonei os estudos na 5ª série (afora o cursinho pré-vestibular, claro), a experiência na faculdade foi uma coisa nova, da qual tenho gostado. Às vezes, mal ambientado a isso, tive alguns problemas com interações em grupos ou relações sociais. Como tudo na vida é aprendizado, estou bem mais apto nessas questões hoje em dia. A faculdade é para mim o ensino médio que nunca fiz. É uma grande experiência. 
Sabe, me lembro da primeira vez que entrei na UTFPR. Foi quando fui fazer o vestibular. Até o pré-vestibular, confesso que não sabia da existência da UTFPR. Alguns colegas do cursinho tinham o (como chamavam) CEFET como meta e assunto predominante. Para me integrar melhor ao grupo, resolvi também fazer o vestibular do CEFET. Entrei no site, para escolher algum curso e fiquei em dúvida entre os dois que, aparentemente, não eram ligados a matemática (que detesto). Escolhi Comunicação por ser uma área que sempre gostei. A primeira vez que entrei na UTFPR foi pela porta da Westphalen, única aberta no dia do vestibular. Passei pelo pátio central. Subi a rampa dos blocos A, depois desci aquela rampa coberta que conecta o bloco A à entrada do bloco E. Finalmente subi as rampas do bloco E, que se tornaria a casa do CTCOM. Não lembro quantos andares. Para mim, que nunca havia entrado ali, aquilo me pareceu complexo e gigantesco. Fiquei maravilhado. Me lembro de pensar, naquele momento, caminhando por aquele mundo de corredores e voltas, que eu gostaria de estudar naquele lugar, que eu me sentiria orgulhoso de estudar naquele lugar. Foi o momento em que passei a desejar a UTFPR. Entrei e hoje me sinto orgulhoso de estudar naquele lugar. Interessante como algumas escolhas mudam nossa vida, não é mesmo? Minha intenção, quando no cursinho, era fazer o vestibular de fim de ano para a UFPR. Querendo ficar mais próximo de uma garota, por quem tinha uma quedinha, resolvi fazer um vestibular duma faculdade que não conhecia, mas pelo que falavam era boa e difícil de entrar. Passei e aqui estou eu. O que seria se fosse diferente? Não sei, mas sei que amo o CTCOM. Por algum entroncamento da vida, todos nós fomos parar na mesma sala, juntos, e todos podemos parar para refletir sobre os caminhos da vida que nos trouxeram a este momento. E juntos vivenciamos muitos momentos, em sala e fora dela. Temos desavenças e ninguém nunca concorda, mas no fim até que a gente se gosta. Rsrss. Tem sido um bom tempo, que agora está entrando em sua fase final.
Tenho medo, sabe. Sendo sincero. Algum tempo atrás me perguntaram sobre meu maior medo. Nem lembro o que respondi. Talvez um dos maiores seja crescer. Não lembro quem definiu que ser adulto é ter responsabilidades. Nesse sentido, não as tenho. Não apenas eu, muitos de nós não as temos ainda. E chega esse momento de crescermos, assumir responsabilidades. São etapas na vida, claro. Não haverá mais CTCOM. Virão outras coisas. Pós-graduação, mestrado, trabalho... E a vida segue sua seqüencia, seqüencia quase que pré-determinada, contra a qual não conseguimos lutar, mesmo que sejamos muito teimosos. Faltam seis meses para acabar, e então acabou. É uma etapa da vida que formalmente se encerra, e outra que começa. O que fazer agora? Vamos deixar isso de lado e falar do que está se encerrando.
Este que agora começa é o último semestre presencial. Já sou tomado, desde já, por um sentimento de nostalgia, saudades. Está chegando o fim. Acho que é um sentimento que, em maior ou menor gradação, há em todos nós. Mesmo para quem ainda tem matérias em dependência para cumprir, este é o último semestre na prática, pois as pessoas podem até ainda vir alguns dias para uma ou outra matéria, mas não haverá mais o vínculo de turma. A turma acaba agora. A minha rotina de viagens diárias é um tanto estafante, mas já estou acostumado a ela. No inicio pensei seriamente em desistir por causa do cansaço; não estava mais aguentando. Hoje, gosto dessa loucura de viagens. Não imagino como será, quando acordar, primeiro semestre de 2011, e não tiver mais que viajar às 5:00 da manhã. Mais do que isso. Não encontrar mais diariamente tantos rostos familiares na sala, nos corredores. Conversas às vezes (apenas aparentemente) inúteis, mas indispensáveis. Correria para preparar trabalhos e seminários, sempre, sempre, na véspera. Ou abrir o e-mail e ter 30 novos e-mails não lidos, alguns inúteis, outros profundos, e muitos trabalhos compartilhados. O e-mail da sala, hoje, já não é tão movimentado quanto no passado, e aí percebemos que as coisas já estão mudadas, acabando... Tantos momentos. Há coisas, claro, das quais não sentirei saudades. Mas estas deixemos para lá, pois não valem ser citadas.
Mas sabe, disse que não haverá mais CTCOM. Estou errado. Sempre haverá o CTCOM. Não haverão mais aulas apenas. Mas pertencer ao CTCOM é mais do que apenas aulas. É quase como um estado de espírito. Você tem que estar imbuído dele. Você pode, sim, ser aluno, mas não gostar do curso, não pertencer realmente ao CTCOM. Ou você pode estar imbuído de seu espírito, e sempre pertencerá ao CTCOM. São relações que não se desfazem, e ainda que se desfaçam, permanecem em você. É algo que você vivenciou e que não te abandona. Algo que carregaremos para sempre. Posso parecer talvez um tanto dramático, mas são nossas relações e experiências que nos definem, que dizem quem somos. O CTCOM faz parte dessa experiência. Ele sempre estará em nós.

domingo, 8 de agosto de 2010

Sobre problemas dos outros

É um saco acompanhar na mídia o caso da tal iraniana condenada a ser apedrejada por infidelidade. Usam isso para atacar o Lula, dizer que o Brasil mantém relações com um país que não respeita direitos humanos, isso e aquilo. Pura bobagem. Lula, por incrível que pareça, aconselhado ou não por seus competentes assessores, tem demonstrado uma sabedoria de ciência política muito avançada, quando diz, por exemplo, que o Brasil não pode interferir nos assuntos de outros países. E a mídia grita: tem que impor sanções! Têm que romper relações! Infelizmente Lula cedeu à pressão popular e ofereceu abrigo à mulher condenada. Foi apenas um jogo de cena, importante para o momento eleitoral, pois ele sabia que não poderia ser concedido o asilo, mas agora ele pode falar: eu tentei. Ora, deixe-me explicar o que aprendi nas aulas de ciência política. Uma noção básica, simples, mas que as pessoas custam a entender. Cada país é absolutamente soberano dentro de seu território, e pode estabelecer as leis conforme queira. Conforme queira. Me lembro de um case, um exemplo extremo, usado para ilustrar isso. A Alemanha nazista tinha o direito, legal e legítimo, de determinar que dentro de seu território os judeus não mais teriam direitos civis. O "erro" da Alemanha foi invadir a Polônia, pois aí excedeu seus limites e direitos, e a partir dai começou a guerra. Mas enquanto a questão se restringia a seu território era seu direito fazê-lo. Chocante? Pode até ser, mas são as regras da política internacional. Os países são soberanos e podem estabelecer as leis conforme queiram. Ah, mas e o que os Estados Unidos e a ONU fazem?, perguntarão alguns. Não é limitar a soberania dos países? Sim, até fazem isso, com os mais fracos, tentando impor seu estilo de vida, sua mentalidade. Não quer dizer que estão corretos. E não digo que estão errados em fazer isso por causa de qualquer moralismo, mas por que para a ciência política, para a filosofia (e é sobre estas que se construíram as nações), cada país é absolutamente soberano dentro de seu território. Ponto. Por isso, estou esperando o apedrejamento da iraniana. Será o exercício de soberania das leis de um país soberano. Obviamente, não estou falando como cristão (como cristão, condeno a atitude, claro), mas como alguém que respeita o outro e o direito do outro país de estabelecer suas leis. Agora pondo em prática as lições das aulas de antropologia, é preciso nos relativizarmos. Só por que consideramos adultério normal, queremos impor esse pensamento a todos? Quem disse que nós estamos certos? Então acho certo matar por adultério?, poderão me perguntar. Aí que está a questão que as pessoas não entendem. Não há certos e errados. É uma questão cultural que deve ser respeitada. Respeitada não apenas (mas também) por princípios antropológicos, mas por que é direito soberano do país estabelecer suas leis conforme os preceitos que queira.

Em tempo: Vale ressaltar que a lei já existe já tempos e a mulher tinha conhecimento dela. Infringiu conscientemente.
Em tempo 2: Estão condenando o método, o apedrejamento. Ora, não é mais desumano que cadeira elétrica, que provoca sofrimento análogo.
Em tempo 3:. Não está sendo divulgado, mas ela foi condenado não apenas por adultério, mas por que seu amante (já executado) assassinou seu marido. Ela tem, portanto, parte de culpa nessa morte. E por isso morrerá.

sábado, 7 de agosto de 2010

A importância das pesquisas nesse momento (Ou: o momento de manipular)

Nos últimos dias, uma série de pesquisas foram divulgadas acerca das eleições presidenciais desse ano. O que chama atenção, muitas vezes, é a discrepância de dados entre as pesquisas de um ou outro instituto. Último dia 23, Vox Populi apontou 8 pontos de vantagem de Dilma na frente de Serra. No dia seguinte, 24, DataFolha divulgou pesquisa em que ambos estão empatados, com Serra numericamente um ponto à frente. Dia 30, Ibope seguiu similar à Vox, com 5 pontos a favor de Dilma. Ontem, 05, Sensus dá a maior vantagem para Dilma, 10 pontos. Três das pesquisas apontam, de certa forma, o mesmo fenômeno, a liderança de Dilma. Apenas o DataFolha é discrepante. A proximidade das datas, a meu ver, rebaixa a hipótese de reais mudanças do cenário. 
Muitos acham que as pesquisas eleitorais são manipuladas nas vésperas da eleição ou ao longo da campanha. Na verdade, salvo em disputas acirradas,  a tendência é que próximo ao resultado os institutos tendam a calibrar seus númeoros mais próximos da realidade, afinal, têm um nome a zelar. O verdadeiro momento de manipulação das pesquisas é este em que vivemos, por que: a) é o momento que realmente influencia no voto dos eleitores; e b) se provocar mudanças no cenário, o instituto pode dizer que capturou os números antes; se não as provocar, os "erros" podem ser corrigidos durante o tempo e atribuídos a outros fatores.
A despeito de qual instituto está certo ou errado, se é problema metodológico ou má-fé, proposital, o que não pode ser negado é a importância fundamental dessas pesquisas nesse momento, no inicio da corrida eleitoral (nas vésperas de entrar no ar o horário eleitoral). E por quê? Peço licença para ser acadêmico e resumir uma teoria que, certamente de conhecimento dos marketeiros, ajuda a explicar a importância dada a esse momento.
Uma intersecção entre os campos da comunicação e da psicologia, que explica a influência da televisão nas opiniões pessoais, é a Teoria da Espiral do Silêncio, de Elisabeth Noelle-Neumann. O pressuposto inicial dessa teoria é aquilo que também está presente em Bion de que o indivíduo se faz para o outro, se constrói a partir das expectativas depositadas nele. O individuo sempre busca, inconscientemente,  a integração à cultura do grupo a que pertence e para isso adequa e forma suas opiniões baseado nas opiniões de seu grupo cultural. Ou seja, as pessoas são influenciadas pelas outras pessoas, de seu grupo social, mas também (e principalmente) pelo que elas imaginam que as outras pessoas pensam e esperam dela. Diante de opiniões majoritárias, as pessoas se calam, evitando manifestar opinião contrária, e se adaptam à opinião dominante. Assim, uma opinião que não seja majoritária, se vendida como tal, pode se transformar em majoritária.
Essa teoria explica o tão afamado "voto útil". Mais do que não "perder" o voto, ele busca seguir ao desejo manifesto da socieadade, para, insconscientemente, se integrar a ela. É interessante nós olharmos esse fenômeno não com olhos críticos, de algo que deveria ser mudado, mas algo psicológicamente intrinseco às pessoas. Assim nós podemos entender melhor seus comportamentos. Por isso é importante estar atento às manipulações de pesquisas nesse momento e é importante para a campanha de Dilma vender, nesse momento, a imagem de que ela está na liderança. Pode ser isso que falta para lhe dar a vitória ainda no primeiro turno.

Em tempo: o artigo "A espiral do silêncio em dois episódios referenciais", de Antonio Hohlfeldt (publicado no livro "Comunicação na Pólis", organizado por Clóvis de Barros Filho) é uma excelente introdução dessa teoria à luz de casos da política brasileira.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Sobre leis

Essas semana ouvi algumas críticas ao Estatuto do Torcedor, recém-aprovado. Várias, na verdade, como algumas coisas esdrúxulas. Me deterei apenas sobre alguns pontos que me chamaram a atenção. O primeiro é que, tudo que o Estatuto diz, o código de defesa do consumidor e outras leis já davam conta. Me retorna à mente um velho tema,que gosto: leis redundantes. Há uma certa mania (não é nacional, pois existe o mesmo em outros países) de fazer o que chamo de leis redundantes. Ou seja, fazer uma nova lei para algo especifico que uma lei mais ampla e abstrata já dava conta. Em se tratando de leis, eu sou bem liberal (no sentido do liberalismo político, mesmo). Penso que a Constituição deve ser mínima e perene, tal qual a dos Estados Unidos. Sim, estou elogiando os Estados Unidos. Apesar de geralmente criticá-los, naquilo que julgo que têm que ser criticado, também sei elogiar. Considero a Constituição norte-americana um exemplo: não é alterada desde sua assinatura. Cumpre aquilo que a palavra diz: constitui princípios fundantes. A Constituição Brasileira é uma aberração. Tenta versar sobre tudo. Até os impostos que o país cobra está na constituição! Veja, os impostos, algo que muda frequentemente. Uma Constituição que nada constitui ou funda, pois é alterada todo ano. Isso, para mim, não é Constituição. Retomando o raciocínio. Leis têm que ser abstratas e dar conta de um grande número de questões. Ora, é uma tolice querer fazer uma lei para cada situação especifica. Por exemplo, os negros e os gays vivem reivindicando leis contra preconceito, para protegê-los. Mas ora, já há leis contra o preconceito no Brasil. As que existem já dão conta disso. Por que é necessário algo específico? Não é. Em algumas questões sim. Por exemplo, a imprensa. O Supremo, ano passado, derrubou a lei de imprensa pois alegara que o código civil e penal já dava conta das questões. Em parte apenas, mas penso que para uma questão assim seria necessário uma lei especifica, como a que havia. 
Então, retornando ao Estatuto do Torcedor. Também há algumas coisas estranhas, um tanto esdrúxulas, como já disse. Diz, por exemplo, que o torcedor não pode mais xingar no estádio. Questão fundamental: ora, como se vai controlar isso? Há um velho ditado, muito bonito e sábio, que já usei na vida diversas vezes em outras situações, que diz: "se quer que uma lei não seja cumprida, faça-a rígida demais". Este é, também, um dos princípios fundamentais do Direito. As leis têm que ser aplicáveis e cumpríveis. E devem poder ser fiscalizadas. Por exemplo, não adianta fazer uma lei dizendo que todo carro tem que sair de fábrica capaz de voar (exemplo tosco, que pensei agora) pois isso não existe, é impossível. A lei tem que versar sobre o real, e deve poder ser cumprida, não pode exigir demais do cidadão. E, ao mesmo tempo, o Estado (cujo representante é a polícia) deve poder fiscalizar e punir. O que acontece com leis que não são cumpriveis ou fiscalizáveis? Simplesmente desaparecem, caem em descrédito. E não são cumpridas em seu todo. Sintetizando o pensamento: leis devem ser moderadas, pois aí serão cumpridas. Leis rígidas demais não são cumpridas nem nos seus pontos rígidos, nem nos seus pontos moderados; ela cai como um todo. Veja, não estou inventando a roda, esse é um pensamento clássico do direito e da ciência política.
Outra questão que vejo com maus olhos, e que remete diretamente à questão anterior, é esse sentimento politicamente correto que reina hoje em dia. Querer disciplinar xingamentos ou não que são feitos é uma coisa que, sinceramente, não compete ao Estado. Mas não é só nessa questão. No vestibular e congêneres (dos regulados pelos entes federais) há toda uma preocupação com Direitos Humanos, não ferir, ofender, bla-bla-bla. Há, de fato, esse sentimento do politicamente correto em nosso tempo. Isso se vê refletido, por exemplo, que na Federal Litoral, não podemos fazer trotes com os calouros, pois "ofende os direitos humanos". Ora, acho isso uma grande palhaçada. Alguns pontos desse Estatuto refletem esse sentimento contemporâneo. 
Como lei, é uma grande perda de tempo, uma vez que as questões já estavam contempladas. Mas aqui há uma característica importante, que é a noção de Estatuto, e por isso acho que essa lei valeu a pena. O Estatuto não é apenas mais uma lei apenas. Ele funciona como um tratado, uma carta de princípios para dizer àquele "público": estes são seus deveres e direitos, aqui estão as regras. Serve para constituir aquele grupo. (Parênteses; uma observação, apenas para deixar claro. No rigor do direito, lei e estatuto são rigorosamente a mesma coisa, têm o mesmo peso. Digo isso, sobre o Estatuto, a partir de uma lógica "filosófica"). O Estatuto do Idoso é um belo exemplo disso. Questões que também já estariam contempladas por outras leis, mas que passaram a ter um novo enfoque e um novo olhar a partir da constituição dessa carta de princípios. Ora, quem sabe, não vale a tentativa, não é mesmo?

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Oscar Wilde e a mediocridade

Ok, este é um post que havia começado a escrever há algum tempo. Deixei sem terminar, por alguma tolice, provavelmente. Acabei agora. Fiz algumas adaptações para o tempo soar coerente com o hoje, ainda assim, talvez pareça destoante. Era o último nessa situação (rascunhos não finalizados). 
Alguns posts atrás (bastantes, na verdade.. rsrss) escrevi sobre o equilíbrio e Jung. Isso me lembrou (sempre lembro) Oscar Wilde, e uma frase que gosto muito, e que está em completa consonância com o pensamento anterior. A frase é “Só os medíocres dão o melhor de si todo o tempo”. Lembro dela, quando vejo amigos se preocupando demais com algum trabalho para a faculdade que não era tão importante assim; lembrei ao fazer “nas coxas” um outro trabalho de importância igual. Semestre passado, comentei com o Mario, parceiro nesse trabalho desimportante “Está uma merda, mas a merda possível de ser feita”. E não é que a merda possível de ser feita foi aceita como excelente pelo professor? Retornando à frase. O que ela significa? Significa que quem é ruim, ou medíocre, sempre dá o melhor de si, pois o melhor de si sempre é medíocre. Quem é "grande", ou significativo, não dá sempre o melhor de si. Ele sabe distinguir os momentos que merecem o melhor, e então ele pode ser grande, e os momentos que não merecem que ele dê seu melhor, e portanto ele pode dar seu pior, e talvez até seja considerado bom pelos outros. A sabedoria está em saber distinguir o que cada momento pede e mereçe, saber dar seu pior e seu melhor, mas não sempre o melhor, pois ninguém é sempre grande. No inicio da faculdade eu estava sempre preocupado com todas as matérias, já semestre passado, apenas uma, talvez duas, levei a sério. Acho que aprendi a distinguir. E espero continuar não dando o meu melhor. Só às vezes.

Carência

Minha amiga Sissa, algum tempo atrás, numa mesa do shopping estação, comentou sobre certas atitudes minhas "você é muito carente social". Concordei com ela, na mesma hora. Continuou: "você faz muita coisa pela aceitação social. Assim você não vive". Retocaria um pouco sua frase: diria integração, não aceitação. Mas enfim, de certa forma, é verdade. Me recordo de outro momento, dessa vez no jucs. Sentado na platéia, ao lado das meninas, alguem pergunta: "Você está carente?" Respondi: "Eu sou carente". De fato, como disse a Sissa, sou muito carente social, embora esse sentimento vá e volte, intermitente. Mas busco não sê-lo. Uma dessas atitudes em busca de integração são as figurinhas da copa, semestre passado. Instado por amigos, que estavam colecionando as figurinhas do album da copa, começei a colecionar também. Isso trouxe de volta boas recordações de minha infância; há muito tempo não fazia isso. Gostei de colecionar, em parte pelo ato em si, mas pelo ato de trocar as figurinhas, momento social propiciado pelo album da copa. A copa passou e acabou. O album está jogado num canto, em meio ao caos que é meu quarto. Incompleto. Provevelmente assim permanecerá.

Sobre lugares

Cada pessoa tem um lugar no mundo. Por lugar, entende-se aquele onde diga "esse sou eu". Onde se sinta por completo. Esse é um pensamento comum, que já ouvi em algum lugar mas não me recordo onde. É um pensamento que acho bonito, do ponto de vista filosófico. Mas não sei se tenho um lugar. Dia desses saí com amigos. Não gosto desses lugares, tradicionalmente considerados de "homens". Sabe, essa coisa um tanto vulgar, popular, em que homens tentam "pegar" mulheres, só falam a respeito dessas, como se fossem objetos, como se fosse o único propósito da vida. Não gosto dessas coisas populares. Não quero ser preconceituoso, talvez seja, mas apenas não gosto. Aqui em Matinhos tenho alguns amigos da turma GLS, que por sinal faz tempo com os quais não falo. São mais interessantes que a primeira categoria, como pessoas, mais abrangentes. Mas também não é quem sou. Talvez o mais próximo que já tenha chego desse sentimento de completude, de estar totalmente adequado com seu ambiente, foi conversando sobre educação com Giovanna e Flávia, no Intercom. Bons momentos. Não pertenço a um lugar, uma categoria, por assim dizer. Não sou imbuído completamente de nenhum pressuposto, seja isso bom ou ruim. Como já disse Bion, quando o individuo não se integra completamente a uma cultura, aceitando seus pressupostos de forma inquestionável, ele nunca está totalmente integrado ao grupo. Acho que essa é a questão. Sou questionador demais, e não me integro a nenhuma cultura ou grupo. Dessa vez, é Bion quem explica. Podemos chamar do que quiser, cultura, grupo, ou lugar, como estou chamando. Gosto desse termo. Não consigo lembrar de onde é. Empreguei um tom meio triste nesse texto, mas não é isso. Apenas não me sinto pertecente ou completo em nenhum desses lugares. Um dia ainda acharei.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Sobre mentiras e verdades

Faz tempo que esse tema está na fila dos rascunhos para ser escrito. Época de eleições e sempre pululam as mentiras. O uso da mentira como arma político-eleitoral não é novo. A frase de Goebbels sobre a mentira tornar-se verdade já é mais do que senso comum. Sem falso moralismo, a apesar de sua desumanidade, gosto de Goebbels e de suas teorizações sobre a comunicação. Sabe, eu sou um pouco contraditório. Sou o cara que ama o "dever ser", quer lutar e quer acreditar num modelo político ideal e moralmente justo e ético. Amo o jornalismo por, não somente mas em boa parte, seu lema, um tanto utópico: "em busca da verdade". Mas também acredito na mentira. O que quero dizer? Bom, serei breve, pois o tema já esfriou. Existem mentiras dos dois lados, mas, sem partidarismos, a direita sempre foi bem melhor nisso. Ou sempre usou mais isso. Até por que sempre teve a imprensa a seu lado, o que ajuda a tornar a mentira verdade. Agora a esquerda também passa a usar a mentira. Um case bem interessante é esse aqui (infelizmente, já removida, averiguo). Fala sobre, supostamente, um pedido do PSDB de proibição da música Últraje a Rigor em que tem uma verso que diz "mulher pra presidente" por que eles acharam que era propaganda favorável à Dilma. A notícia circulou por um tempinho, mês passado. Infelizmente, agora acabou, esfriou. Era mentira, o PSDB não fez tal pedido. Se me importo com a mentira se propagar? É claro que não! Eles usaram a tática durante tanto tempo, vamos usar também.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Por que as pessoas não gostam de responder aos porquês?

Interessante quando estamos no onibus ou andando pela rua ou em qualquer lugar público e cruzamos com as pessoas ou paramos ao seu lado por um momento e ouvimos trechos de suas conversas. Eu, pelo menos, gosto muito desse exercicio de capturar pequenos recortes de suas vidas cotidianas. Outro dia, na rua, passei por dois homens conversando. Capturei uma frase, de um deles, que disse: "essa fase do porquê do Rafael está foda". Presumo, um tanto evidentemente, que Rafael é o filho pequeno daquele homem e está na fase do por quê, que toda criança tem em seu desenvolvimento. Fiquei pensando: por que as pessoas não gostam de responder aos porquês? Eu rio de mim mesmo, pois tenho ainda esse lado bem forte. Sempre desejo saber o por que das coisas, entendê-las, desvendá-las. Acho um movimento normal, coerente, de tentar racionalizar as coisas, entender os porquês do mundo. Uma vez que o porque do outro é sempre subjetivo, não tenho como adivinhar, prever, deduzir. Pergunto. E as pessoas se incomodam em responder. Se incomodam com um adulto lhes perguntando, e se incomodam, como o pai desse exemplo, mesmo com crianças, que é ainda mais natural. Penso que vai ser uma situação um tanto engraçada, quando tiver meus filhos. Bom, talvez eu mude meu jeito de ser, até lá. Mas se eu for como sou hoje, acho que questionado sobre o porque de algo, sentarei diante de meu filho e tentarei analisar todas as implicações da questão. Depois lhe explicarei, em pormenores. Afinal, por que não conversar racionalmente com uma criança? Bom, ou enlouqueço o garoto ou ele crescerá e se tornará muito inteligente. Rsrs. Estou, claro, construindo aqui um esteriótipo de mim mesmo. Mas tem algo que nunca desejo fazer, que é reprimir seus questionamentos do mundo. Quero que meu filho, assim como eu, se pergunte por toda a vida: por quê?

domingo, 1 de agosto de 2010

Um elogio à Mérie (Ou: Sobre histórias universais)

Minha amiga Mérie tem escrito uma série de cartas e publicado em seu blog. 30 cartas em 30 dias, é o projeto. Belíssima sacada, que pode ser conferida aqui. Já escrevi aqui o quanto aprecio as velhas cartas trocadas entre amigos que tornam-se peças arqueológicas e partir das quais se resgata(m) a(s) história(s), recurso muito comum aos escritores, mas não só; são famosas as cartas entre Marx e Engells, em que o primeiro vivia lhe pedindo dinheiro para o sustento, ou as cartas de Churchill sobre os subterraneos do gabinete de guerra. Mas não é sobre isso que quero tratar hoje. Quero ressaltar um aspecto que gosto muito na escrita da Mérie, que é a não-nominação dos personagens. A maioria das cartas que tem escrito são nomidadas, para alguém especifico. Mas há outras em que a menção ao destinatário se faz ausente. Não significa que não é destinada a alguém, apenas que esse alguém não está identificado no texto, como se dissesse: a pessoa saberá que é para ela. Isso gera um outro fenômeno, que é a identificação do público, como um todo.
Deixa eu contar uma história que exemplifica isso. Quando Fernando Meirelles estava começando a filmar seu "Blindness", adaptação para o cinema do "Ensaio sobre a Cegueira" de José Saramago, o cotado para o papel principal era Sean Penn. As conversas tinham progredido, e estava quase tudo certo, mas Sean Penn desistiu do papel pois ele, como ator, não conseguia construir um personagem sem nome nem passado. Para quem não sabe, todos os personagens no livro de Saramago (e no filme de Meirelles) não tem nomes e são identificados de outras formas, como "o médico", "a mulher do médico", "o ladrão", e assim vai. Também nenhum deles tem uma história ou um drama pessoal prévio. Então adentramos finalmente a uma grande controvérsia nos estudos da narrativa, seja literatura ou cinema. Existem duas perspectivas que se opõem, em certa medida. Uma diz que o personagem precisa de uma história prévia, para gerar empatia com o público. O público só se sentirá envolvido com o personagem a partir de sua história e seu drama pessoal, por suas características. Esse pressuposto, da história prévia do personagem, é imprenscindível para a catarse. Catarse, a grosso modo, é quando o público se projeta no personagem, sofre junto com ele e se realiza junto com seu final feliz (ou realiza, e virtualmente expurga, seus desejos macabros, como em filmes de serial killers, e por aí afora). Contudo, há uma outra postura possível, que diz que os personagens não precisam de uma história prévia para gerar empatia no público e mesmo conquistar suas "projeções". Quanto mais aberto o personagem, com menos história pessoal, mais chances haverá do público se identificar e se projetar nele. Segundo essa postura, o público se envolve com a história a ser contada e que se dará no decorrer da narrativa, não com as histórias prévias. Informações extras, quando não modificam a narrativa, pelo contrário, atrapalham o publico a se envolver com a história (isso nos remete à comunicação: nem sempre mais informação, é melhor). Por essa postura, os personagens devem ser mínimos, propiciando que o público se enlaçe à história, na narrativa. O que eu penso é que, na verdade, as duas posturas estão corretas. Tudo depende do momento e da intenção do autor. Histórias prévias são importantes em determinadas histórias, quando se está reconstruindo a história das gerações de uma familia, por exemplo, para se criar a catarse. Personagens abertos são bons em outras, mais intimistas, em que se busca a identificação do público com (aspectos psicológicos do) o personagem. Personagens abertos, sem história, sem nome. Nesse tocante, e finalmente chego à Mérie, gosto muito desse recurso, dessa segunda perspectiva. Alguns de meus filmes preferidos usam esse recurso. "Blindness" é um exemplo. "Cães de aluguel" é outro. Certamente há mais, mas reconheço que é bem pouco usado. Penso o seguinte: o que importa, para o público de "Blindness" se o médico chama-se José ou João, se vem de família nobre ou emergente, se era bem sucedido ou frustrado, e demais informações? Sean Penn precisa delas, tudo bem, mas para mim, são completamente inúteis. Quanto mais você define, mais você limita. Se o personagem chama-se "o médico" é uma história universal e pode ser contada em qualquer lugar do mundo, tocar a todos. Se o personagem se chama "João", então é uma história de lingua portuguesa, e falantes de outras linguas já terão uma limitação na identificação (o mesmo vale para em que lingua for). Se o personagem é rico ou pobre, outra limitaçao na identificação. E assim vai. A história de Saramago é genial pois é absolutamente universal, mas não é de Saramago que estou falando, é da Mérie.
E por que estou falando isso tudo? A Mérie usa, muito bem, esse recurso de identificação. Em algumas de suas cartas fala diretamente com seu interlocutor, sem nomeá-lo: "você" isso e aquilo. O leitor transeunte pára e lê a carta, como se fosse para ele. Uma vez que não há identificação do destinatário, poderá se projetar facilmente em seu lugar. Mas isso é um exemplo menor. O mais interessante, e já disse isso para Mérie, é a protagonista usual de suas histórias. Definida apenas como "ela". Mas quem é "ela"? É ela, ué. A personagem não tem nome. É uma personagem, ficção, ou está escrevendo sobre isso mesma? Um pouco de cada, já disse Mérie. E aí está a grande sacada. As histórias são narradas na terceira pessoa, mas não há o narrador onisciente; elas são contatas a partir do ponto de vista da personagem. Há duas grandes vantagens nisso. Primeiro, a narração em terceira pessoa seguindo um personagem único propicia o aprofundamento psicológico da obra no personagem. Torna-se pessoal, como se fosse em primeira pessoa, mas o narrador pode dizer coisas sobre ele que o próprio eventualmente não teria "consciencia" de fazê-lo. Nesse sentido, do uso desse recurso e guardadas as devidas proporções, me ocorre agora, lembra "A estória de Lélio e Lina", de Guimarães Rosa, que li semestre passado. A segunda vantagem nessa narrativa é que ela evita o uso do "eu", que dependedo de como utilizado pode gerar antipatia no público, passar a idéia de arrogancia ou sentimentalismo excessivo, gerando afastamento no público, embora esse recurso também possa ser muito bem usado, como nos textos da Thai. Esse evitamento, abre margem para uma saudável dubiedade de interpretações. Haverão os que acreditem que ela fala sobre si própria. Se for assim, genial, pois pode contar coisas sobre seus sentimentos sem se expor; não é ela, autora, mas ela, personagem. E enquanto personagem, um personagem muito bom para conquistar a identificação de seu público. Se ela tivesse um nome, Maria, Joaquina, Josefina, ou seja qual for, se trataria de um personagem, devidamente caracterizado. Mas ela, personagem não-nominado, pode ser qualquer uma, inclusive o leitor(a). O estilo das coisas que são escritas, predominantemente sentimentos, também compõe o cenário que faz do texto um bom texto. Esse recurso, em si, nada significa se o texto dela, autora, não fosse bom. Então, tratando-se de sentimentos, emoções, que todos temos, e sendo ela, personagem, um personagem não-nominado, o leitor lê, e poderá dizer: sou eu. Um personagem universal. Tão universal como a história de Saramago.