domingo, 28 de fevereiro de 2010

Vale a pena ler de novo

Amanhã voltarei às aulas (nas duas faculdades, coincidentemente) e meu ritmo volta a ser uma loucura, viajando todo dia. Nas férias, tive tempo para produzir bastante. Nos próximos dias, provavelmente vou diminuir o ritmo, mas não me abandone, pois não vou te abandonar. Vou continuar escrevendo. Enquanto isso, caso tenha perdido algum dos posts por causa da super-produção (coisa boa no meio de coisa não tão boa), fique à vontade para ler ou reler alguns posts dessas férias. Ia colocar alguns dos links de minhas postagens preferidas, mas acabei deixando a idéia de lado. O que é legal para mim, pode não ser para você, e vice-versa. Gostei de alguns posts, acho que consegui expressar mais ou menos bem alguma coisa, e acho que valeria a pena ser lido. Outros nem tanto. Diga você o que achou. E lembre-se, em breve, eu volto. Em outro ritmo, mas estou aqui. Não me abandone. Beijos e abraços e carinhos sem ter fim. ;)

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Do direito ao preconceito

Eu tenho um tese. Mais uma de minhas polêmicas teses. Na verdade, nem é minha, no sentido de ser uma construção própria. É um ponto de vista existente, ao qual me alinho, e defendo. Acredito que o ser humano tem o direito a ser preconceituoso. Por favor, deixe-me concluir até o fim, antes que tire conclusões precipitadas. No sentido societal (referente à organização da sociedade, aos modos de agir) sou um liberal. Acredito que o individuo é livre para agir como bem lhe parecer, e ninguem tem nada a ver com isso. Sou tolerante, e aberto a a quaisquer formas de pensamento. Na UTF, por exemplo, alguns até fazem piada, pelos amigos gays que tenho, da Litoral. Não é por que não compartilho de seus pressupostos ou de seus signos, que não posso conviver e ser amigo. Mas assim como há liberdade para fazer e pensar o que quiser, essa mesma liberdade vai no sentido contrário também. É uma via de mão dupla. Não se pode obrigar o outro à forma de pensamento dominante, não se pode obrigar o outro à aceitar o que não lhe parece correto, pois também o outro tem o direito do livre pensar e livre julgar. Sei que as posições que adoto são de ultra-liberalismo (até um pouco opostas ao meu pensamento político), mas o ser humano é assim mesmo, complexo e contraditório.
Me lembro de uma discussão (no bom sentido, saudável, acadêmica) que tive na Litoral sobre os direitos humanos. Ah, os direitos humanos. Que palhaçada, penso eu. Não gosto dos direitos humanos, tal como estão/são postos. Veja, os direitos humanos dizem que sou obrigado a respeitar o outro, a reconhecer o outro. Mas eu não sou! Eu tenho, e devo ter, o livre pensamento para não respeitar o outro. É como a questão ética - a partir do momento que vira regra, não é mais ética, mas sim regra; ela só existe na ausência de regras. Se sou obrigado a respeitar o outro, isso não é respeito, é regra, norma, imposição. Me lembro de uma crítica que um palhaço da Veja (prefiro não citar seu nome para não conspurcar esse ambiente) fez às redações do enem, que exigiriam que o aluno respeitasse os direitos humanos. Ele argumentava que o aluno, ainda que escrevesse bem, estaria impedido de adotar um ponto de vista "egoista". Passaria-se a se julgar a pessoa e suas idéias, e não sua escrita. Apesar de detestar esse crápula, concordo em boa parte com o que ele diz nesse quesito. Defendo a bondade, a fraternidade, etc e tal (quem me lê com frequencia não duvida disso) mas esta deve ser espontânea, autência, não ditada por regras. Retornando à discussão sobre os direitos humanos que tive, me lembro de expôr que o indivíduo era livre para pensar, e livre para pensar o que quisesse de seu semelhante. Diante do argumento que esses direitos humanos serviam para proteger o próprio homem, a nós próprios, e que não poderiamos atentar contra nós, lembro que argumentei que sim, nós eramos livres para, eventualmente, defender a auto-extinção, se chegassemos à conclusão que assim queremos. A professora me replicou perguntando "sim, pode até ser, mas baseado em que argumentos? me pergunto que argumento teria alguém para negar a própria raça humana?" Na hora não tive resposta, e a coisa acabou por ali. Depois pensei. Ora, não há absolutamente que se ter motivos. Eu não preciso estar baseado em nenhuma argumentação. Simples assim. Se o alemão quer considerar que o judeu é uma raça inferior, ele não precisa ter motivos ou argumentos para isso. Se o europeu quer considerar o negro também como uma raça inferior, também não precisa de argumentos para isso. Estão apenas na esfera de sua liberdade de pensamento. Por esse sentido, não se pode falar de "aceitar o outro", pois é um direito de cada um não aceitar o outro. Quando se faz campanhas "contra a discriminação", querendo acabar com o racismo, querendo acabar com isso e aquilo, é uma violência terrivel contra a liberdade de pensamento de quem pensa daquela maneira. É um verdadeiro atentado ao cidadão que têm por direito ser preconceituoso. Campanhas que tentam impor sua visão dominante de mundo (considerada apropriada em determinada época) estão fazendo justamente isso: impondo uma visão de mundo sobre o outro. Sobrepondo o pensamento hegemonico-dominante sobre o pensamento discordante. Ora, é meu direito de livre pensamento acreditar piamente, cegamente, com toda fé de meu coração, no que eu bem quiser acreditar. Alguns acreditam em Deus, outros em alienigenas, e outros em raças inferiores e superiores. É Direito deles pensarem dessa forma. Por isso acho estranho quando vejo discursos contra a homofobia, por exemplo, de pessoas acusando o outro de ser homofóbico. Ora, é direito do individuo ser homofóbico, e acusá-lo disso, é tentar violar seu livre pensamento, impondo o pensamento considerado "correto". Não existe nem existirá certo e errado. Por isso, a cada um deve ser dado o direito do livre pensar, para julgar e chegar à sua conclusão subjetiva. 
Mas veja, existem limites. Estou tratando a questão enquanto esfera de pensamento. Uma vez que o pensamento materialize-se, em forma de palavras ou atitudes, as coisas mudam de figura. Todos são iguais perante a lei, e esse principio deve ordenar as ações de cada individuo. O principio legal da igualdade está acima da liberdade de agir. A liberdade de pensamento está acima de tudo, mas a liberdade de agir é restringida pelos principios legais. Posso pensar que o assassinato não deveria ser crime, posso pensar em matar alguém, posso até defender no parlamento uma mudança constitucional que permita o assassinato. Mas uma vez que cometa um assassinato, serei um assassino, punivel conforme as leis. Qualquer um pode pensar que brancos sejam melhores que negros (e deferendo realmente que cada um tem o direito a pensar isso, se assim lhe parecer - a mim, não parece, que fique claro) mas no momento que esse pensamento se materializa como ação - quando se discrimina um negro na fila do banco, numa entrevista de emprego, onde for - então há um crime, punivel de acordo com as leis. Veja, eu sou absolutamento contra qualquer tipo de discriminação - acho um pensamento rude, para dizer o mínimo, que se não existisse teriamos um mundo certamente muito melhor. Deixei claro meu ponto de vista? Não defendo, em absoluto, a discriminação enquanto ação. Mas acho que todas as formas de livre pensar são por direito do homem.
Me lembro de ter logo no primeiro semestre, se não me engano, uma conversa na Lan do Nei (também conhecido como laboratório) com uma amiga do CTCOM, sobre uma outra amiga do CTCOM. Contava ela que se considerava preconceituosa, pois essa outra amiga era meio lésbica, comentava as coisas e tal, e ela considerava aquilo errado. Ela disse que respeitava, que tratava igual, nem comentava nada, mas que não conseguia considerar aquilo certo. Essa conversa de certa forma de marcou. Na hora não pensei numa resposta. Depois que fui raciocinar. (Já percebeu que às vezes as respostas me veem depois, né? Preciso de tempo para processar o pensamento.. rsrss.). Não disse para ela, mas gostaria de ter respondido: ora, você não é preconceituosa, não se julgue assim. Pelo contrário, o que você faz e pratica é o oposto ao preconceito. Você tem sua fé, no que considera certo e errado, e mesmo assim, trata indistintamente sua amiga. Ora, não ter preconceito não é aceitar o que o outro faz como correto. Pelo contrário, pois aí você só estará concordo com seu próprio ponto de vista. Não ter preconceito é, mesmo considerando errado, não o discriminar por isso. Justamente aí está a beleza que é não ter preconceito, e você não o têm.
Conviver com e nas diferenças. É o que tento, pessoalmente, sempre fazer. E isso, não se conquista por imposição do pensamento hegemonico, nem ditando regras. Só pode existir a partir da liberdade de pensamento, pois está numa esfera que jamais poderá ser controlada (assim espero) que é a do pensamento humano. Por isso defendo que o preconceito é um direito fundamental do ser humano, pois assenta-se fundamentalmente no direito de livre pensamento.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

140


Vi a imagem acima já faz meses, desde o ano passado, e me impressionou. Não necessariamente pela qualidade da publicidade (apesar de ser muito boa) mas por uma questão mais profunda. Trata-se de uma campanha do Governo Federal, "Memórias Reveladas", em busca dos corpos de desaparecidos políticos durante o regime militar. Suei para conseguir essa imagem, dessa propaganda, e sequer é a mesma que eu vi (nesse aspecto, da divulgação na internet, é falho, mas não quero tratar disso). Diz o texto na parte inferior "Existem mais de 140 familias de desaparecidos políticos que, mesmo depois de o Brasil conquistar a democracia plena, ainda não conseguiram enterrar seus mortos. Encontrar esses corpos não é só respeitar o direito sagrado de seus familiares, é também um forma do Brasil impedir que erros do passado se repitam no futuro". Me emocionei, e não necessariamente pela campanha em si, ou pelo tema. O tema, quem me conhece, sabe que é muito tocante para mim. Mas a minha reflexão hoje é no sentido de que quero frisar o trecho "mais de 140 familias". Veja, 140 familias. 140 desaparecidos, ainda não encontrados. Não concordo de forma alguma com a tese da "ditabranda" da Folha, ou quem diz que nossa ditadura foi amena, comparada aos nossos vizinhos da América Latina, que mataram muitos mais, milhares. Uma ditadura é uma ditadura, e deixa marcas indeléveis da alma de sua nação, não importa o número de mortos. Mas há que se reconhecer que 140 desaparecidos não é um numero gigantesco. Poderia se considerar que não justificasse uma campanha nacional do porte que está havendo. E é nesse momento que fico feliz por meu país, e me sinto orgulhoso. Nesse momento, podemos perceber que estamos em um país sério, que leva suas questões à sério. 140 desaparecidos, poderiam argumentar alguns, não é um grande número, e não vale a pena para se fazer uma campanha massiva de comunicação por isso. Seja pelos motivos que forem, pressão dos grupos de direitos humanos, interesses políticos, não importa, se está fazendo. Por 140 desaparecidos. É como a imagem que se passa dos Estados Unidos, através do cinema (não sei é só imagem ou não), e de sua filosofia de "nenhum homem para trás". Quando há um desastre, as buscas nunca cessam, até que todos corpos sejam encontrados, pois cada um importa, e suas familias tem o direito a esses corpos. É isso que o Brasil está fazendo, e me sinto orgulhoso de viver em um país onde, por mais que se enfrente graves problemas sociais, por mais que as ditaduras vizinhas tenham milhares de desaparecidos, se diga "são só 140, mas iremos encontrar esses 140, pois cada um importa". Cada cidadão importa, e essa é uma bela mensagem que se passa. De um país realmente comprometido com sua história e seus cidadãos.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Exemplo

Ontem de manhã, indo para Curitiba, vi uma cena que me emocionei. Um bonito exemplo que o mundo pode ser solidário e fraterno.
O onibus da 5:45 da manhã é o chamado "pinga-pinga", que vai parando em determinados pontos, pegando gente pelo caminho. Em certo momento na estrada, acena um senhor, e o onibus pára. O senhor deve ter uns sessenta ou setenta anos. Usa um daqueles chapéus antigos, estilo Indiana Jones, como era elegante se usar no passado. Mas ele é uma pessoa humilde, simples. Dá a passagem ao motorista. O motorista confere a passagem e avisa ao senhor "o seu onibus não é esse, é o das 7:45". O homem, que deduzi talvez nem soubesse ler direito (uma vez que não viu qual era o horario), demora um pouco a compreender, e pergunta, voz humilde, palavras simples: "Ah, então tem que esperar mais um pouco, né?". O mais um pouco seria pelo menos mais duas horas, esperando. O homem já descera do onibus, e o motorista o chama: "O senhor não quer ir até praia de leste? Aí lá, se tiver passagem, o senhor pode ir nesse." (se não tivesse, ao menos poderia esperar o das sete por lá). O homem novamente demorou para processar a informação dada pelo motorista, mas aceitou e subiu no onibus. Sentou numa potrona qualquer, sem saber qual a sua. Nem dormi, para ficar observando o desenrolar da história. Pouco a frente, chegando em praia de leste, o motorista foi até o guichê, trocou a passagem do senhor, do horário das sete para aquele horário, das cinco, e levou a passagem para o senhor, dentro do onibus. 
Uma ação que, se você for ver, talvez seja simples, mas que achei belissima. O motorista não tinha nenhum dever de pensar pelos passageiros, se o passageiro comprou passagem para outro horário, não é problema dele, ele está ali para dirigir o onibus, mesmo assim, pensou numa alternativa para que aquele senhor não precisasse ficar esperando mais duas horas, e a propôs. Ele poderia, deveria, no momento que o senhor entrou no onibus, ter cobrado a diferença entre aquele ponto e praia de leste. Pensei que iria fazer isso, mas apenas mandou o senhor se sentar. Chegando na parada, poderia ter orientado o senhor para que fosse ao guichê, mas sendo solícito, foi ele mesmo fazer a troca. Ações assim, simples, no nosso dia-a-dia, fazem desse lugarzinho em que nós vivemos um mundo melhor e mais fraterno.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Do capitalismo

No meu penúltimo post, acho que pareci bem radical contra o capitalismo. Pois bem, vamos às explicações. Não gosto de algumas lógicas do capitalismo, como a que valoriza umas pessoas mais que outras, baseadas no que elas têm; como a lógica que diz que você tem que, obrigatoriamente, ser alguém, e isso está ligado a possuir bens e dinheiro. Mas, apesar de construir essa imagem de ser a antitese ao Renan, não critico totalmente o capitalismo. Acho que o capítalismo tem boas coisas, sinceramente. Não sou radical, apesar que minha imagem eventualmente possa ser transmitida assim. Acho que a coisa que mais desgosto no capitalismo, nem faz parte do capitalismo em essência, mas do liberalismo. É o afastamento do Estado da vida das pessoas, e deixar tudo para as leis de mercado, o livre comércio, a "mão invisivel" do Adam Smith. Acho que essa lógica não funciona, e realmente a rejeito. Acho que o Estado deve intervir para ajudar as pessoas que, por um motivo ou outro, estão desfavorecidas nesse regime. Também prefiro, pessoalmente, um regime de cooperação, e não de competição. Não lembro se já escrevi isso aqui no blog, mas acho que já num dos e-mail's que mandava em massa. Há dois modos de enxergar e viver a vida: em competição, encarando os outros como adversários, ou como cooperação, em que, juntos e ajudando-se mutuamente, todo podem sair vitoriosos. Esse é o meu modo de ver a vida, em cooperação. Mas reconheço que a competição ajudou ao desenvolvimento técnico que temos hoje. Não nego isso, e admito, como uma coisa boa. Me lembro de uma professora da Litoral (não vou citar o nome, pois não é apropriado, né?) comentando comigo, inicio do semestre passado, que não dava valor à publicações, artigos, etc, pois isso era apenas a lógica capitalista de produção, em que, concorrendo, os academicos sempre tinham que produzir e publicar. (era um assunto geral, foi bem antes de meu artigo ser aceito - só esclarecendo). Com todo respeito, mas discordo dela. Ora, a publicação é a efetivação de algum estudo. A avaliação pelo numero de publicações pode não ser o melhor dos méritos, mas teriamos outros? De certa forma, reflete alguma coisa. Essa professora é bem radical, critica absolutamente o capitalismo. Perto dela, me sinto o Renan. Hahaa. Nada contra radicalismo, afinal, cada um tem sua posição de vida. Mas como dizia Tarso Genro, é preciso ter "unidade na mensagem". E por que digo isso? Chega ela, toda faceira, contando das férias, do fim de semana, que passou em seu sitiozinho. Conta as histórias do sitio, das coisas que tem por lá. Muita coisa, não lembro os detalhes. Ora, é no minimo incoerente, criticar o capitalismo, e os capitalistas, e usufruir tal qual um capitalista. Em certo momento, faz uma reclamação qualquer do salário, como se fosse pouco. Ora, se ela considera os cerca de 10 mil que ganha pouco...  bem, melhor não falar nada. Ela não reconhece sua situação de classe, se coloca como proletária, quando não o é. Não se reconhece como burguesa, e isso faz dela, no mínimo, hipócrita. Reconheço minha situação. Eu reconheço que sou um burgues. Não tanto quanto ela - não tenho sitio, nem ganho 10 mil - mas burgues. Somente burgueses, por exemplo, podem se dar ao luxo de estudar. E por isso defendo que o Estado intervenha, para que também o filho do catador de lixo possa se dar a esse luxo. Critico aspectos do capitalismo, mas reconheço os beneficios que trouxe. Apenas acho que o capitalismo pode - e deve - ser (muito) aprimorado.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Legitimação do discurso

Outro dia vi um vídeo no YouTube absolutamente hilário, intitulado "Pílulas de sabedoria sobre o futuro" (está aqui). Uma moça, falando a um programa da MTV, simplesmente constrói um raciocinio aparentemente incoerente e absurdo, de onde vem o feito de humor. Mas aí, revendo, pensei: sabe que, interpretando direito, o que ela diz pode até fazer sentido? Então, para exercitar os atributos da análise do discurso (na verdade isso nem é exatamente análise do discurso), resolvi fazer um exercicio de legitimação do discurso, e "provar", demonstrar, como ele é coerente e racional (modo missão impossivel on).
Eis o texto, transcrito:

Eu queria chorar por que eu não tenho a condição de prever meu futuro além do ponto final se tornando uma outra lingua brasileira. Por que eu acho que o futuro a Deus pertence.. e a Aton. Então o futuro pertence ao ponto Aton. Por que eu acho que nosso futuro é muito reluzente. No futuro a gente pira. Não vai mais ter a quem se reportar. Então as réplicas, elas são constantes. Você não pode adequar que a sua réplica um dia foi uma inocencia, né? Então, os treplicantes são aquelas crianças que irão defender o futuro Aton. Aí eu vou explicar o por que Aton. Por que você nunca sabe de onde vem a morte. Às vezes você pode estar na cozinha de um cara e achar que aquele lugar não existe mais, por que você não pode voltar, mas o lugar existe, ninguem vai derruba-lo. Então você nunca sabe de onde vem a morte, e o futuro reside em relutar. Em fazer uma revolução interna e conduzir até as urnas todo esse sacolejo dos anos que vêm. Por enquanto à decadencia digo nada. Adeus.

Ufa (sem fôlego)! Então lá vamos nós.

"Eu queria chorar" Ela mostra que tem consciencia de sua situação perante o mundo, e devido ao racionalismo, desejaria chorar, mas é incapaz, ela não consegue chorar, pois as emoções já estão esgotadas.

"eu não tenho a condição de prever meu futuro além do ponto final se tornando uma outra lingua brasileira." Ela reconhece sua situação de desconhecimento em relação ao próprio futuro, mas começa a mostrar que algumas coisas são previsiveis. Ao falar sobre "ponto final se tornando uma outra lingua brasileira." ela tece uma critica ao lingujar contemporaneo e ao modo como a linguagem é tratada pela juventude. É uma critica às abreviações tipicas da esfera virtual da internet; devido a isso, ainda que o futuro seja nebuloso, é previsivel que as simplicações da lingua evoluição progressivamente até o momento que apenas pontos poderão ser considerados uma forma paralera de linguagem, uma outra lingua brasileira. É uma critica, por exemplo, aos emoctions usados na internet, que se formam por pontos e caracteres especiais. Note-se a deferencia à lingua brasileira, ao que ela localiza o fenomeno como caracteristica nacional, não necessariamente universal.

"Por que eu acho que o futuro a Deus pertence.. e a Aton. Então o futuro pertence ao ponto Aton." Aqui as coisas começam a se complicar um pouco. Ela localiza o ponto Aton como um paralelo de Deus. Na sociedade comtemporanea, abandona-se a noção de divindade em busca de novos referênciais. Esse novo referencial, em que Aton é uma ilustração, representa o homem em si e por si. Veja, trata-se de um "ponto". Fazendo um palalero com a questão linguistica do "ponto final", trata-se de uma questão, assim como a lingua, criada pelos homens, pelos seres humanos. Ou seja, o futuro pertence aos homens, deuses de si mesmos, é a mensagem que ela quer passar.

"Por que eu acho que nosso futuro é muito reluzente. No futuro a gente pira. Não vai mais ter a quem se reportar." A partir daqui, ela faz reflexões muito interessantes sobre política e sociedade. O futuro é considerado glorioso, pois uma vez que o homem é deus de si mesmo, é livre para fazer o que quiser. Ela prevê a prevalencia do regime do liberalismo, mas também também de uma ordem social anarquica. Todos são livres para "pirar", ou seja, fazerem o que quiser, e também não existe Estado ou controle social, uma vez que não há mais a quem se reportar. 

"Então as réplicas, elas são constantes. Você não pode adequar que a sua réplica um dia foi uma inocencia, né? Então, os treplicantes são aquelas crianças que irão defender o futuro Aton." Aqui, ela fala sobre o desenvolvimento tecnológico. Ela refere-se à reprodução humana em laboratório, e ao processo de clonagem. Constantemente, as pessoas farão réplicas de si mesmas, abandonando a concepção de filhos. Mas ela se alinha ao disurso religioso e diz que o pecado continua existindo, mesmo sem haver o toque da carne. Não se pode alegar que sua réplica foi uma inocencia. Não existe a inocencia, e também esse tipo de reprodução consiste em pecado, é o que ela diz. As tréplicas, que seriam a terceira geração de réplicas, ou as réplicas das réplicas, são a geração que melhor vai se alinhar ao discurso dominante, e passará a defender o futuro Aton, ou seja, o homem como Deus de si mesmo.

"Aí eu vou explicar o por que Aton. Por que você nunca sabe de onde vem a morte. Às vezes você pode estar na cozinha de um cara e achar que aquele lugar não existe mais, por que você não pode voltar, mas o lugar existe, ninguem vai derruba-lo." Nunca se sabe de onde vem a morte, e devido a isso, a filosofia Aton propõe a se alinhar à concepção de réplicas, ou clones, artificiais. É o homem vencendo a morte, vencendo Deus, e se tornando Deus de si mesmo, conforme já exposto. Ela fala sobre a concepção da própria realidade. A ilustração sobre a cozinha significa que ainda que você não possa voltar a determinados lugares, ele continua existindo em sua mente, em suas memórias, e ali, ninguem pode derrubá-lo ou apagá-lo.

"Então você nunca sabe de onde vem a morte, e o futuro reside em relutar. Em fazer uma revolução interna e conduzir até as urnas todo esse sacolejo dos anos que vêm. Por enquanto à decadencia digo nada. Adeus." Em sua conclusão, ela apresenta concepções sobre o que seria o futuro para o futuro previsto. Apesar que a morte  é uma constante humana, devemos relutar. Nisso, existem duas interpretação, Relutar, enquanto resistir, guardar temores, que também fazem parte do que é o ser humano. O que ela está querendo sinalizar é que, uma vez clonados e com vida eterna, os homens deixaram de ter medo, e o medo também é importante para a vida. A segunda interpretação é que ela fala em "re-lutar", ou seja, fazer novamente uma luta que já havia sido travada, não abandonar os ideais e não desistir. Lutar novamente, e fazer uma revolução contra o sistema posto. A revolução começa internamente, em cada um, e deve-se conduzir até as urnas esse desejo interno, esse "sacolejo" que ainda está por vir. Quando fala em conduzir até as urnas, prega a volta do Estado e de um regime político de representação, ante o anarquismo do "não reportar-se". Ao findar, ela alega não ter nada a dizer para a decadencia, ou seja, a decadencia estaria superada, o que indica um futuro de ascensão.

Hahaa. Divertiu-se tanto quanto eu? Viu, todo discurso pode ser legitimado e, de uma forma ou outra, fazer sentido. Hahahaa.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Sucesso

Hoje serei breve pois estou com preguiça de escrever.
Estava domingo eu no onibus, voltando de Curitiba para Matinhos, e, na poltrona sentada ao meu lado, havia uma senhora e uma menina, que deduzi, pelas aparencias, serem ou avó e neta, ou tia e sobrinha (a senhora não mostrava postura de ser mãe dela, mas nunca se sabe). A menina deveria ter uns 10 anos, mas sou péssimo para essas definições, logo, devo estar errado, mas isso não importa. Ouvi a conversa, e foi interessante, pois me gerou algumas reflexões. A senhora dizia para menina "Você tem que estudar, pra conquistar seu dinheiro, comprar seu apartamento, seu carro. Pode até ajudar as amigas, mas aí é você que vai colocar elas dentro da sua casa, e não você na casa delas. Você deve mandar o pau, e não ser o pau mandado. [...] Mas também tem que ver certinho o que você quer ser...  não adianta fazer veterinária se quer ser ginecologista, não adianta fazer medicina se quer ser arquiteta. Igual a ... (nesse momento falou um nome feminino - não lembro qual, e também não importa, né?). Ela fez seis faculdades (acho que o número era um exagero, uma hipérbole da senhora) e tá fazendo o que? Cuidando de uma lan house. Não adianta estudar para não fazer nada com isso. Tem que ser alguém na vida"
Pois bem, lá vamos nós.
A exposição fala por si, acho que nem preciso comentar muito, né? A gente tem que fazer sucesso, tem que progredir. Por quê??? Qual o problema de fazer seis faculdade e cuidar duma lan house? Por que incutir na cabeça de uma criança uma mentalidade tão predominante? Por que ser alguém na vida está ligado a ter seu carro e seu apartamento? Que tipo de lógica é essa? Me lembro da Hilda, professora de Empreendedorismo, dizendo que "tem gente que nasceu pra ser mandado, que diz: prefiro ser mandado. Se você é assim, nenhum problemas, mas se você quer progredir, quer fazer alguma coisa, você tem que inovar, empreender, bla-bla-bla". Ela falava em tom pejorativo, como se essas pessoas fossem menos que as outras. Que merda de raciocinio é esse? Tudo bem que independencia, todos de certa forma queremos. Sem independencia financeira, não pode-se excercer a liberdade, e por isso acho que o estado deve ter papel interventor nese sentido, como por exemplo, a proposta da renda básica de cidadania, projeto do Senador Eduardo Suplicy parado há mais de 10 anos, que garante um mínimo de renda, pago pelo governo à todos os cidadãos brasileiros, para que possam exercer sua liberdade e sua cidadania. Idéias como essa opõem-se frontalmente ao sistema capitalista. E por que essa mentalidade predadora do capitalismo prevalece? Quero dizer, que tipo de mentalidade é essa?

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Aprimoramentos

Curioso ver o Big Brother e pensar que seria um modelo que, se aprimorado, poderia ser realmente muito, muito bom. E como poderia ser bom? Seria extremamente interessante se fosse uma experiencia que forçasse ao convivio social entre aqueles indivíduos, isolados do resto do mundo, mas sem compromissos de "jogo". Seria algo tal qual um national geografic com seres humanos. Tenho um modelo que considero perfeito, muito melhor do que o posto. Primeiro, não deveria existir prêmio. O prêmio deveria ser dado na entrada, como um "cachê", subtancial e igual para todos. O prêmio atual é um milhão e meio, isso né? Divide-se isso e uma cachê de cerca de 100 a 300 mil para cada um seria motivador o suficiente para o individuo se sujeitar à experiencia. Segundo, não deveria existir eliminação, nem contato externo com o público ou o apresentador. Deveriam ser deixados à sua sorte e só. Terceiro, o tempo de duração deveria ser bem maior que os três meses atuais, suficiente para criar tensões reais. No mínimo seis meses, sendo ideal um ano. Não haveria um vencedor ao final, nem um eliminado a cada semana. Todos deixariam o programa só no final do programa. E qual a intenção de um programa assim? Observar as relações humanas, como são constituidas, como são agravadas por tensões, como os processos de rejeição e afeição se constroem e desconstroem, em um ambiente sem interferencias externas. Também seria interessante observar o sentimento de isolamento e solidão, ante o apartamento do mundo real. Adiante, poderia se criar regras que diminuisse a provisão de comida, ou que os fizesse brigar por esta, como incentivo para o estabelecimento das relações afeto x necessidades básicas, mas não do modo em que é feito, com provas semanais, bobinhas e bancadas por patrocinadores. Penso em algo mais selvagem, próximo do estado de natureza do homem. Algo assim, mais ou menos. Seria interessante. Eu assistiria. Se alguém copiar, quero meus direitos autorais, viu?

A beleza da mulher

Eu tenho que confessar uma coisa. Não é uma coisa bonita de se falar, nem agradável. Não me orgulha. Mas devo confessá-la. Vez por outra, eu assisto ao Big Brother. Sim, isso mesmo. Não que fique acompanhando, mas na terça, às vezes, ligo para saber o eliminado. Curioso que todas as demais versões, não acompanhei. Esta, me atraiu a atenção principalmente pela participante Elenita. Nem sabia de sua existencia até meu amigo Werlich comentar certo dia, no twitter. Ela é doutora em linguistica, e dá, entre outras coisas, aulas de análise do discurso. Me interessei por isso. Depois, também achei interessante o jeito rude e bruto sem meio-termos que o participante Dourado lida com os outros na casa. Vi poucos, pouquissimos episódios, e agora que Elenita foi eliminada, minha atração pelo programa também foi junto. Mas algo me chama a atenção para a Elenita. Todos (as pessoas, de uma forma geral) estão fazendo piada, por, supostamente, considerarem ela gorda e tal. Nem vou entrar no mérito do abalo emocional que é ter essa alcunha nos trendding topics (tópicos elevados, palavras mais citadas) no twitter. Quero falar sobre o conceito de beleza da mulher.
Ora, por que a necessidade de se incutir um padrão de beleza? Quem decidiu o que é belo, e o que não é? A Elenita não é magra como o padrão impõe, mas também está longe de ser gorda. Ao sair, fez uma piada que a playboy nem deveria perder tempo a procurando, e isso foi motivo de piada de várias pessoas, de que a playboy não iria mesmo procurá-la. Lembrei de Fernanda Young ano passado, que, fugindo do padrão de beleza reinante, teve coragem de posar nua. Aí vem esse povo racalcado falar mal da Fernanda Young na playboy, assim como falam mal da Elenita. Pois digo que é nessas mulheres, imperfeitas, que está a verdadeira beleza da mulher. Me lembro de falar isso para alguns amigos, no ano passado, em um comentário qualquer à época do lançamento dessa revista, e riram de mim. Ora, não sabem o que é a verdadeira beleza feminina. Esta, não está na perfeição tão perseguida pelas mulheres. Perfeição não existe, e a beleza estéril, seja retocada por photoshop, seja conquistada por cirurgias e dietas e congeneres, é exatamente isso, estéril. Nada significa. Não me atrai de forma alguma. A verdadeira beleza da mulher está  justamente em sua imperfeição, que demonstra sua humanidade. Está em Fernanda Young, e nos ditos quilinhos a mais de Elenita. Lembro que, semestre passado, nas rodas de conversa no mercadorama, meus amigos admiravam-se da beleza de Carol, professora de editoração gráfica, e quando disse que, para mim, a professora mais atraente (ou pelo menos uma das mais atraentes) era a Adriana, viram-se indignados, senão abismados. Ora, uma, ao menos aparentemente, não tem sal, apesar de ser bela fisicamente, enquanto a outra tem alma.  (será essa uma constante em todas as professoras de análise do discurso? haha). Não consigo dissociar a alma da mulher, quando adimiro alguma, e por isso é dificil para mim julgar  apenas fisicamente, como todos fazem. A beleza da mulher está em mais do que apenas seus aspectos fisicos (todos relativizáveis, enquanto conceito subjetivo de beleza) mas em seu jeito de portar-se, de agir, de pensar, em sua personalidade e em sua alma. Por isso acho Elenita muito mais bonita que todas as outras perfeitas e estéreis figuras daquela casa, por isso acho Fernanda Young muito mais bonita que qualquer outra beleza estéril que tenha posado para a Playboy. A beleza da mulher está em sua alma.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Escolhas e estilos

Um dos pontos mais curiosos da filosofia existencialista, defendida por Sartre, é de que as pessoas poderiam exercer seu livre arbítrio até nas doenças. Estando em um barco, por exemplo, enquanto havia pessoas que passavam mal, enjoavam, Sartre dizia que isso não acontecia com ele, simplesmente porque "ele" havia decidido não adoecer.
Tirei daqui, é interessante.

Viu? Isso para quem acha engraçado e discorda de mim quando estou bêbado e digo que não faz meu estilo vomitar. Estava baseado no existencialismo e nem sabia. Huahahaa. E não faz mesmo meu estilo. Hehee.

Continuando a listar idéias

Continuando a listar temas. Meus parcos leitores, me avisem se estiver chato, mas gostei da experiência de transformar isso numa espécie de diário de tcc. É um tema aflitivo. Continuando a listar temas possíveis.

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Jornalismo corabolativo. É só um tema. Acho que é o futuro do jornalismo. Se fizesse jornalismo, teria grandes chances de ser meu tema, mas faço uma quase RP. Só pra ficar registrado. Azenha (2008) aponta "quando escrevo algo aqui, minutos depois alguém que sabe mais do tema do que eu, um médico, um engenheiro, um especialista, posta um comentário, e minha escrita original já se transformou e foi acrescentada pela participação dos leitores. Quebra-se o poder hegemonico do jornalista como Deus que vem comunicar e trazer luz aos leitores. O processo passa a ser contínuo e comunitário." (referência: segunda parte do livro dele).

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Twitter: revolução positiva ou reprodução do sistema?
Pró: tese marxista de reprodução dos sistemas (internet apenas reproduz esferas sociais postas, não as altera) contra a tese da revolução das novas mídias (Levy, etc).
Contra: focar numa ferramenta só (twitter).
E oque isso tem a ver com Comunicação Insititucional?

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Márcio, a menos que queria fazer algo de Relações Públicas, desista dessa idéia de foco no curso. É difícil achar algo realmente a ver com Comunicação Institucional. Talvez algo a ver com partidos políticos. O processo comunicacional de partidos políticos. Não sei. Muitas dúvidas. Escrever faz bem. Vou fazer mais isso.

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Edição posterior: gostei semestre passado da crítica feita pela Valéria, já no final da disciplina de Cultura Organizacional, aos gerencialistas. Aquele último texto, de uma mulher (não lembro o nome da autora). Lembro que na prova citei o Roberto Schwartz e as idéias fora do lugar (vistos no Mário, se não me engano) para corroborar que não pode ser transposto o cenário. O cenário organizacional brasileiro é marcado pela prática patrimonialista, segundo Faoro. Nenhum desses autores trabalha ou se baseia em Faoro, é um espaço aberto. Dá um bom caldo tentar construir o que seria o cenário organizacional brasileiro, baseado não nos gerencialistas, mas nos autores clássicos nacionais, sobretudo Faoro, mas também Sérgio Buarque, Florestan, etc. Pode ser, mas não sei se tenho tanto interesse para isso ser meu TCC.
PS. No caso, seria o ambiente organizacional brasileiro, com foco no setor público, ou algo similar. Enfim...

Mais idéias

Ainda sobre a questão da mídia nas eleições de 2006, algo que me atrai muito é a teoria da pedra no lago, do Franklin Martins. Segundo Martins (2006), até então a classe média-alta funcionava como uma pedra no lago. A mídia conquistava sua opinião, e esta, considerada os formadores de opinião, reperticuia a opinião e propagava ela, como uma pedra no lago, que vai quicando. Para a mídia bastava se focar nesse público. Nas eleições de 2006 o processo mudou. A classe média-alta se alinhou à opinião da mídia, mas não conseguiu repercutir essa opinião. Ouve uma ruptura no processo, em que a classe C passou a ter mais "autonomia" de consciencia para decidir o voto.O fenomeno da formação de opinião mudou totalmente, a partir (ou ao menos) da eleição de 2006.

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Mais um tema que gosto é a reprodução dos sistemas. É a pergunta básica da obra de Marx: como os sistemas nascem e como são alterados? E, em consequencia, como eles se mantém, se reproduzem? Nisso, há espaço para estudar a importancia da comunicação na reprodução dos sistemas. Mas, de novo, já foi feito, e muito bem feito. Tem genios, como Althusser, que falam sobre isso.

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Interesses eu tenho, falta uma tese. Não adianta teoria, se você não aplicá-la sobre um objeto de estudo com uma proposição. Proposição, Márcio, eis a palavra.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Outras idéias (abandonadas)

Voltando ao TCC, tema do último post. Já tive alguns temas, e tive a certeza de que aquele era o tema certo, escolhido. Durante quase um ano fui fascinado pelo papel da imprensa nas eleições de 2006. Ainda sou fascinado por esse tema. A mídia apoiou descaradamente Alckmin, manipulando semióticamente de todas as formas (a foto do dinheiro tirada de baixo pra cima, dando impressão de ser uma "montanha", guardada para ser exibida na véspera do 1º turmo, é apenas um exemplo, mais evidente...  não vou falar de tudo por que não é este o objetivo aqui) mas, ao contrário de 1989 quando elegeu Collor com as mesmas ferramentas, a mídia foi derrotada, pelo povo que deu se ombros para ela e reelegeu Lula. Tinha certeza que era sobre isso que queria escrever. Foi um tema marcante em minha vida. O fascinio em ler alguns poucos jornalistas que se dedicavam à verdadeira causa do jornalismo, nessa época, denunciando a mídia, fez com que eu construisse em boa parte meu encanto pelo jornalismo e pela comunicação. Sem eles, provavelmente não estaria no CTCOM. Luiz Carlos Azenha, depois de uma carreira de mais de 10 anos na globo, inclusive como correspondente internacional em Nova York, se demitiu após as eleições por não conseguir conviver com as manipulações realizadas. Foi ele que, ainda trabalhando na globo, denunciou o caso do conluio da direção global com o delegado Edmilson Bruno. Mas então, descobri um livro perfeito, que já diz tudo (e mais) que eu queria dizer. Chama-se "A mídia nas eleições de 2006", a organização é de Venício de Lima, e é composto por vários artigos de verdadeiros jornalistas, com Luis Nassif e o próprio Azenha. Eu não conseguiria fazer melhor. Não existe restrição, nas regras do TCC, para temas já existentes. TCC não é doutorado, que é obrigatório um tema inédito. Mas eu tenho essa coisa, sabe? Não vejo sentido ou propósito em fazer algo que já existe, que já foi dito e bem dito. 
Então, surgiu um outro tema, com o qual me envolvi muito. Gosto muito de cinema. Uns dois anos atrás, o ator Pedro Cardoso fez um manifesto contra a nudez no cinema. Gerou certa repercussão à época. Ora, taí um bom tema. A nudez na história do cinema. Também gosto de sociologia, e daí, nem sei de onde, tirei a minha tese. A nudez na história do cinema pode ser encarada como um reflexo dos valores da sociedade a cada geração, e da mudança desses valores, ao longo das décadas. Seria algo como "a nudez na história do cinema como representação da mudança de valores societais das gerações". Uma análise do discurso, semióticamente. Como a nudez era tratada nos anos 10, 20..  (a ausencia de nudez também significa algo). Depois como passou a ser tratada nos anos 40, 50. A mudança da estética. A explosão do erotismo nos anos 70, não por coincidencia um reflexo da liberação sexual daqueles anos de revolta juvenil. Nos anos 90, o recrudescimento ao moralismo. E assim por diante. Comentei com a Adriana, professora de análise do discurso. Primeiro, ficou reticente, depois, gostou, gostou muito. Até me indicou, que lesse nas férias a história da sexualidade, do Foucault, que seria adequado à tese. Quando disse que eu estava em dúvida, ela disse que quanto a ela, eu já havia convencido. Rsrss. O grande ponto positivo dessa tese é justamente o que me faz desistir do trabalho sobre as eleições de 2006. Material prévio. É inacreditável, mas já procurei exaustivamente, e não existe nada, nada, nada escrito ou publicado a respeito do tema. Quero algo inédito, e isso cairia como uma luva. Inclusive, sendo abrangente o suficiente para, posteriormente, caso faça um bom trabalho, publicar, em forma de livro. É um tema inédito, e passível de atrair atenção de editoras para publicação. Pois bem. Fiquei com ele meio assim, na balança, até há pouco. O ponto fraco nessa tese é: não é essencialmente de comunicação. É de comunicação, sim, claro. Afinal, grandes teóricos da comunicação, como Lasswell e Benjamin, trabalharam sobre o cinema. Mas é comunicação em sentido latu, amplo. Diz a Adriana que poderia ser feito, que passaria pela banca. Mas eu faço Comunicação Institucional, e só tenho uma chance na vida de fazer um TCC tratando dessa área, então seria interesante que trabalhasse com isso: Comunicação Institucional. Como penso, desejo, fazer uma pós em cinema (ou "comunicação audiovisual", o nome oficial), acho que seria um tema interessante para a pós. Decidi deixar para a pós, ou para algum outro momento.
E então, o que fazer na área de comunicação institucional? Gosto de política, e gostaria de fazer algo nessa linha. Algo como estratégias eleitorais. Ou comunicação governamental. O governo Chavez é bem interessante, na relação que tem com a comunicação institucional de seu governo. Poderia ser um bom mote, mas não tenho nenhuma tese ou hipótese a respeito. Ainda permanece interessante. Algo na área de comunicação pública, seria muito interessante. As relações de tecnologia, das chamadas novas TICs (tecnologia da informação e comunicação) é algo que me atrai muito; a relação entre sociedade e tecnologia. Gosto dos teóricos que falam sobre isso, como Baudrillard, Levy, Virilio, e Langdon Winner, mas novamente é uma área de interesse, não tenho uma proposta, uma tese. Quero fazer algo propositivo.
Ano passado o Carlos definiu de forma muito bonita, que gostei muito, o que é um TCC. Segundo Pegurski (2009), o TCC é o momento em que você compila o seu conhecimento até aquele momento e propõe um novo conhecimento. Gostei muito da visão, pois vai ao encontro da perspectiva que já tinha, do desejo de fazer algo "novo". Não desmerecendo quem queira apenas fazer uma revisão, mais "simples", ou coisa do gênero, como, a bem dizer da verdade, muitos trabalhos o são. Mas para mim, pessoalmente, quero propor algum novo conhecimento. Quero contribuir para o conhecimento, de alguma forma. TCC é uma coisa séria, pois você vai lidar com isso durante um ano e meio. Seis meses durante o pré-projeto, que começa em duas semanas. E depois de aprovado o pré, mais um ano até a banca final. É essencial que o tema te agrade, te dê prazer. Isso para qualquer um. Para mim, que gosto muito da área acadêmica, que depois quero realizar mestrado e tal, escrever obras, sabe Deus mais o quê, o TCC é ainda mais importante. É algo que vai para o seu curriculo. Ficará lá, no seu Lattes. É algo muito importante mesmo. E eu ainda não tenho um tema. 10 dias, e contando.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Nota

Idéias para TCC.
Estou com medo deste TCC, não tenho um tema. Já tive muitos, confiantes, abandonei-os pelo caminho e hoje não tenho nenhum mais. Hoje (17/02) vi uma noticia no jornal nacional: morreu o russo que segurava a bandeira soviética na célebre foto em cima do parlamento alemão, na tomada de Berlim na segunda guerra mundial. A globo fez questão de frisar, para desmerecer o regime soviético, que historiadores dizem que a foto foi encenada dias depois da tomada. Agora, cerca de uma hora depois, penso. Ora, a celebre foto dos soldados americanos segurando uma bandeira americana na tomada de não-sei-qual-cidade do Japão também foi forjada (foi tema inclusive daquele filme de guerra do Clint Eastwood – esqueci o nome, aquele que faz par e antecede Cartas de Iwo Jima). Então me vem à mente algo como a construção da verdade através do “forjamento” das imagens. A forja de imagens para construção da verdade. Algo assim. Explico. Através da história, sempre se procurou forjar, manipular imagens, as duas fotos já mencionadas são exemplo disso, tudo que Goebbels falava também, e assim por diante. As imagens são forjadas para passar a imagem do herói, da elevação da pátria. Para criar a verdade que quer ser passada. Manipulação da imagem para criação da História. A História criada a partir da forja de imagens. Acho que renderia um bom trabalho semiótico. Englobaria analise de fotografias/imagens famosas, história, contexto histórico, analise do discurso... e definitivamente é comunicação. Haha. Não sei, não sei, ainda é muito recente. Estou escrevendo aqui por que..  sei lá. Acho que é por que meus arquivos do word são uma bagunça só e eu perderia esse arquivo. Isso é só um rascunho. Nota mental: pensar no assunto. Estou com medo do TCC. Não tenho um tema.

Canções

Fim de carnaval. Nada melhor do que celebrar com boa música. Amo o álbum Tommy, do The Who, uma ópera rock. Duas, das muitas canções marcantes da obra.

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1921

Sinto que vinte e um vai ser um bom ano,
Especialmente se você e eu estivermos juntos.

Então você acha que vinte e um vai ser um bom ano?
Pode ser para eu e ela, mas você e ela, não nunca!


Eu não tenho nenhuma razão para ser otimista demais,
Mas de algum modo quando você sorri
Eu posso suportar o mau tempo.


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Christmas


Você já viu o rosto das crianças?
Elas ficam tão excitadas
Acordando numa manhã de Natal
Horas antes do sol de inverno surgir
Elas acreditam em sonhos
e todos seus significados
Inclusive generosidades celestiais
Espiando pela porta
Para ver quais pacotes são de graça
Com curiosidade

E Tommy não sabe que dia é hoje
Não sabe quem foi Jesus
Ou o que seja rezar
Como ele pode ser salvo
Do túmulo eterno?

Cercado pelos amigos,
ele se senta silenciosamente
E desavisado de tudo
Jogando proxy pin ball
Coloca o dedo no nariz e sorri e
Mostra a língua para tudo
Eu acredito em amor
Mas como pode homens que nunca viram
A luz serem iluminados?
Somente se ele estiver curado
O seu espírito no futuro se elevará.

E Tommy não sabe que dia é hoje
Não sabe quem foi Jesus
Ou o que seja rezar
Como ele pode ser salvo
Do túmulo eterno?
Tommy, você pode me ouvir?
Tommy, você pode me ouvir?
Tommy, você pode me ouvir?
Como ele pode ser salvo?

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Carnavais

Os carnavais sempre foram marcantes em minha vida, de uma forma ou outra, por mais curioso que isso seja. Sempre gostei do carnaval em si, nem sei direito bem por quê. O carnaval teve uma grande importancia em meu reestabelecimento de um elo com o mundo real. Acredito que, boa parte, gostava do carnaval (e acredito que é o por que as pessoas, ao menos em parte, gostam) por ser uma espécie de catarse. A expiação dos sentimentos, a realização temporária dos desejos não manisfestos da vida. Este ano, como diria o sábio Akira, "num tô nas pira". Ou seja, não estou ensejado no movimento para curitr o carnaval. Nem é por tristeza, desentusiasmo ou algo assim, apenas não senti vontade, gosto. Acho que estou aproveitando melhor meu tempo, fazendo as outras coisas que tenho feito esses dias. Acho que existem duas explicações para isso. Primeiro, acredito que para o carnaval se constituir como catarse, a distancia geográfica do lugar que você conhece é fundamental. No passado, a cidade era como que uma visita para mim, nada e ninguem conhecia. Apesar das referencias de ruas e lugares continuarem sendo uma grande incógnita (apenas por falta de locabilidade; nunca sei onde é o que, em qualquer parte) cruzo com pessoas nas ruas, que são meus conhecidos. Não que eu seja falso (acho que isso não se constitui como uma falsidade) mas não agirei em minha cidade, apenas por ser carnaval, de modo que não agiria fora dele. Tenho muito pudor e senso de responsabilidade para isso. Acho que isso, em parte, explica por que as pessoas viajaram para longe, no carnaval. Podem curtir, fazer o que quiserem, e depois abandonam o passado por lá, sem precisar conviver com ele. Em segundo lugar, penso que o carnaval só era tão atrativo para mim, durante uma época, por ser o momento da vida, por assim dizer, onde se podia experimentar viver, de certa forma como todos demais. Agora já vivo, e se vivo a vida que desejo todos os dias, que importa essa vida no carnaval? Já vivo as coisas que quero todos os dias, logo não preciso mais do carnaval para expiar o que quer que seja. Mas ainda há uma série de considerações a serem feitas sobre o carnaval. Semana passada, vi pelo twitter, um amigo do ctcom anunciar que ficaria bebado ao extremo, que não se lembraria de nada e pedindo (em tom jocoso) para que as pessoas depois lhe contém o que aconteceu. Não consigo entender as pessoas que ficam bebadas para privação de consciencia. Já fiz isso, mas ainda assim não consigo entender. Desde sempre olhei para as pessoas na rua, no carnaval, interrogando-me sobre a beleza que deveria ser os motivos pessoais que trouxeram cada pessoa àquele momento, para estarem reunidas naquele lugar. Em geral, pode-se generalizar certos motivos, e é a partir disso que se constrói a sociologia, como estudo das motivações sociais das atitudes dos individuos. Podem falar que a psicologia também cuida disso, mas com todo respeito ao Zama, foda-se a psicologia, o que importa mesmo é a sociologia. A psicologia pode até determinar como reagimos de uma forma ou outra, mas o que determina os motivos para as ações são questões essencialmente sociais. Ou seja, desde sempre fui um chato metido a sociólogo. Hahaa. Acredito que deve existir estudos sobre ambos, carnaval e bebida, mas nunca procurei a respeito - qualquer dia, ainda faço isso. Apesar da beleza de pensar sobre os motivos que trouxeram cada um àquele ponto, não consigo entender a bebida. Mas isso, eu já disse. Voltando ao carnaval. Já tive bons, excelentes carnavais. Curti muito, tal qual todos. Outros nem tanto, nem tanto. Mas sempre saí, e talz. Ano passado não me recordo, mas acredito que não. Estava ainda em recuperação do acidente que sofrera no final de 2008. Me lembro de desejar sair para ficar no sol, o que não podia fazer, e pensar que no ano seguinte faria tudo aquilo, diferente, aproveitaria. Sabe o que é engraçado? Esse ano posso sair para aproveitar o carnaval, mas não o faço. Não quero. Acho que esta é um fase que, de certo modo, já superei. E sabe qual a direferença deste para o ano passado? Dessa vez eu que escolhi, não sair. Claro que, se ano que vem, existir uma oportunidade para confraternizar junto com amigos, irei, mas aí está aquela coisa que a companhia é o que importa, não o lugar em si. O carnaval, ao menos nesse momento, já não me atrai mais, ainda que seja um belo mote de estudo social.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Manias e outras coisas

Meus ultimos posts tiveram um tom tão amargo, não? Meio autoritário, fascista, sei lá. Só quero dizer que não é esse meu sentimento para com a humanidade. Acredito no Amor, como Agostinho acreditava e Hanna Arendt também.
Engraçado que temos manias que, às vezes, nem percebemos. Uma mania que percebi minha é que sempre começo os posts explicando como cheguei àquele tema. Geralmente é o primeiro parágrafo, que é grande, e muitas vezes não tem nada a ver com o tema em si.
Percebi que quantidade não é igual qualidade. Vou dar um tempo nos posts diários, e vou tentar reduzir seus tamanhos.
Já este post não tem lé-com-cré, com cada parágrafo uma coisa diferente, né? Assim é a vida, nem sempre tem uma coesão interna.
Enfim...

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Esboço de algumas idéias revolucionárias. Ou não.

Nem sei se deveria estar escrevendo isso aqui, mas lá vamos nós. Me inspirei pelo post sobre liberdade. É um tema longo, que poderia escrever muito a respeito, mas paradoxalmente, vou ir direto ao ponto e ser o mais sucinto possível.
Durante muito tempo, todo um ano, desde que entrei na faculdade, até metade do ano passado (quando começei a me interessar por antropologia e cogitar essa alternativa) esta foi minha idéia quase certa para minha tese de mestrado em filosofia política, para uma nova teoria do estado.. Hoje já, minhas idéias já não são definidas, e penso sobstancialmente diferente, mas vamos lá.
Eu defendo que a idéia de moral e mesmo de bondade só pode ser socialmente referendada por uma entidade superior, que, onisciente e onipotente, garante a punição absoluta. Em última instancia, apenas a punição garante a retidão. Pois bem, enquanto a Igreja e o estado eram a mesma coisa, tudo caminhava muito bem, em se tratando de retidão moral (é claro que não era bem assim, mas vamos em frente). Veio Montesquieu, separou Etsado e religião. Mas e agora, o que dá legitimidade ao Estado? Então veio o contrato social. Não vou explicar isso aqui. Mas ora, contratos são quebráveis, podem ser rompidos. É isso que faz o criminoso ao cometer um crime, apenas rompe um contrato, não reconhece o Estado, pois não há mais entidade superior. Defendo (e isso sou eu, nenhum sociólogo, até onde sei) que apenas uma entidade superior pode dar legitimidade inquestionável ao Estado. O que fazer agora, então? Defendo um conceito que chamo de Estado-Deus. Veja, Montesquieu tirou Deus da equação, mas não colocou nada no lugar; agora são só homens. E como um homem, igual a mim, pode ter dominio sobre mim?, é a pergunta que se faz quem quebra o contrato social. Há que se pôr algo no lugar de Deus, que saiu da equação. Defendo que o Estado não deve ser encarado como simples união, contrato, ou representação. Não apenas como regulação da sociedade, mas criação, controle e punição. O Estado deve ser encarado como Deus. Para isso, é necessário as três características que caracterizam esse ente. Onipresença. O Estado deve estar em todos os lugares - função que já está começando a se viabilizar com as novas tecnologias que surgem. Onisciencia. O estado deve saber de tudo. Consequencia da onipresença, como já expus, o estado tem direito, por exemplo, de fazer escutas telefonicas, para garantir a paz e a punição dos que sairem da reta. E o terceiro ponto, mais polêmico, Onipotência. A essa, acho necessário impor limites, os limires da previsão legal. Assim como Deus também tem os mesmo limites, que são os limites da previsão legal de suas escrituras. Penso, em síntese, que o Estado deve ter poder e influencia direta sobre a vida das pessoas, regulando não somente a economia, mas sendo encarado realmente como o ente superior. Os problemas de regulação social, ao menos relativo à segurança pública, seriam resolvidos num estalar de dedos. "Paz não é somente ausencia de guerras, mas segurança social", essa é uma das freses que mais me marcaram (é de Alberto Dines). O Estado deve prover essa segurança social, mas também reprimir violentamente não sair das regras. Se o Estado é aquele que detém o monopólio legitimo da violencia (essa é a definição sociológico do estado, para Weber, por exemplo) qual o problema de usá-la? E as idéias vão mais longe, mas como disse, serei breve hoje.
É apenas um esboço por enquanto, e eu sei que são idéias mais do que perigosas. São idéias bem, bem próxias do fascismo. Mas primeiro, que discordo do fascismo em relação a perseguição a pessoas ou grupos de pessoas. O Estado deve ser neutro nesse ponto. Eu não sou fascista, ok? Mas não nego tudo que foi o fascismo, acho que existem coisas aproveitáveis. Confesso que ainda não estudei em profundidade, e posso estar falando uma bobagem. Mas o controle da economia, por exemplo, parece interessante.
Enfim...

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós (ou Da relatividade da liberdade)

Li outro dia desses um artigo no blog do Fred (Fred Vasconcelos, não o professor Fred...  haha) na Folha sobre a mudança da jurisprudência a respeito das escutas policiais e os limites do direito à privacidade. Coincidentemente, no mesmo dia, leio um babaca de extrema direita na Veja, que gosto de ler só para rir de suas babaquices, citar distorcidamente Lenin, que teria dito "Liberdade para quê?" (não sei se é verdadeira a citação, mas acredito que sim). Então me retorna à mente um tema sobre o qual queria escrever a muito, e se a memória não me engana, ainda não escrevi aqui no blog. Liberdade.
Antes que eu comece, já vou prever as criticas. São idéias totalitárias, fascistas, ditatorial, comunista, sei lá mais o que. Sei que as piores criticas virão de mim mesmo, daqui a algum tempo (provavelmente não muito), quando mudar de opinião. Mas sendo esta a minha posição de hoje, lá vamos.
Todo o sistema do assim chamado Estado de Direito (ou seria de Direita?) baseia-se na liberdade. Liberdade individual, liberdade de comércio, liberdade de imprensa, liberdades liberdades. E quem foi que disse que a liberdade é natural? Ok, Locke e Hobbes disseram. Mas e daí? Quero dizer, adota-se a perspectiva que a liberdade é um dom “natural” do ser humano, mas isso é uma perspectiva cultural; cultural e sobretudo ocidental. Não quero viver em um regime totalitário, sem liberdade alguma; creio que a liberdade essencial, que essa sim não pode ser tocada, é a liberdade de pensamento e expressão, mas penso que a liberdade total em que vivemos, e que certas correntes defendem, não é algo intocável. Vamos colocar assim: não vejo problemas em pequenas restrições à liberdade, se estas favorecerem a promoção da igualdade. Igualdade, assim como liberdade, é um conceito cultural, antropologicamente falando. Ambos os conceitos foram construídos socialmente e pertencem a um processo histórico. Inclusive, se pensarmos bem sobre o “natural”, a liberdade estaria mais perto de ser natural do que a própria igualdade, apesar de nenhuma das duas o ser, para mim. Então, por que promover igualdade, se ela é tão culturalmente construída quanto a liberdade?
Não sei se é possivel construir um argumento baseado na Razão, assim como não é possivel defender a liberdade. Minha fé na igualdade tem muito a ver com minhas crenças, e por isso, por se tratar de vontade e fé, não é essencialmente razão, esta inquestionável lógicamente, se é que existe tal coisa. Sou cristão, apesar de não frequentar nenhuma igreja especifica. Ironicamente, acredito na Igreja Católica, apesar de não frequentar (geralmente as pessoas fazem o inverso, frequentam mas não acreditam). Minha confiança na igreja católica como a representante do cristianismo na terra tem muito a ver com o que Weber definiu como o poder vindo da tradição, mas não é sobre isso esse texto. As pessoas enxergam - e quando tento argumentar com elas continuam insistindo em seu ponto de vista inicial - uma dicotomia entre fé/religião e Marx. Marx criticou duramente a religião, o "ópio do povo", assim como também criticou o próprio sentido de ideologia, a falsa consciencia, ao mesmo tempo que construia uma nova ideologia. É contraditório se você pensar, mas faz seu sentido. Ele criticou a religião por entender esta como um instrumento da classe dominante para alienar o povo. Muito provavelmente estava certo, dentro de seu contexto. Ele não critica, até onde sei, a fé em si, o objeto no qual se acredita, a saber o paraíso, propagado pela igreja católica, por exemplo. Analisando Marx, suas propostas parecem utópicas exatamente por propor qual um paraiso na terra. Ou seja, as coisas que Marx defende tem muita semelhança, com as coisas que a fé cristã defende, como harmonia entre os homens, fraternidade, etc. Diferenciam-se pela igreja chamar isso de paraíso enquanto Marx chama de comunismo. Poderia tentar expor mais longamente e melhor meus argumentos, mas como Marx não é o objeto central desse texto, acho que está suficiente. A igualdade entre os homens é o sonho último, tanto do marxismo, quanto do cristianismo. Acredito que nunca (pelo menos não em plano terreno) chegaremos a igualdade plena, mas isso não nos impede de caminhar em sua direção.
O Estado é o ente que instituimos para "controlar" a sociedade, nos "regular". Então acho sim, que o Estado tem o direito que intervir em certos aspectos sociais, inclusive diminuindo a liberdade, em beneficio dessa regulação, desse controle. Tanto para promover igualdade, mas sobretudo em outro aspecto, que é o trabalho polícial (definição esta do que é o Estado - aquele que tem o monopólio da violência legítima). Já ouvi criticas, do fato de que na Ingleterra, por exemplo, existe um sistema de vigilancia por câmeras muito incisivo. "Estão tirando minha liberdade; estão me olhando", é o que dizem. Mas é preciso vigiar mesmo! Claro que nos sentimos menos à vontade sob o olhar de uma camera, mas essa é a intenção. Que você não faça, sob o olhar de uma camera, o que não faria fora do olhar dela. Controle social. Esse é o termo, e acho que é fundamental. Veja, existem limites. O Estado não pode colocar um satélite e olhar dentro da casa de uma pessoa, em uma esfera estritamente particular. Mas desde que exista, nessa casa hipotética, uma janela aberta, e a camera olhe pela janela, é justo. O Estado está em toda parte. Só não há policiais em cada esquina por pura questão logistica, mas ainda que o policial não esteja lá, o Estado está. Minha tese é: se, parado no local onde existe uma camera "espionando" as pessoas, houvesse um policial, e este policial fosse capaz de enxergar por uma janela, o interior de uma casa, então a camera (que é o olho eletronico do policial) também tem o direito de olhar por ela. O lugar público é público, meu bem. Deve sim, ser vigiado. E nisso a tecnologia é um grande bem, pois propicia que o Estado torne-se, na prática, o que ele era até então somente em filosofia e teoria: onipresente.
Claro que devemos ter cuidado com a onipresença do Estado, sobretudo em regimes autoritários. O poder de controle e repressão aumenta. Mas não vejo o Estado como inimigo (como Hobbes, que se pergunta como o individuo deve se defender do Estado). Não acho que o cidadão reto deve temer o Estado, ou ter que se defender dele. Uma outra correlação que faço agora é com os "pardais" (terminais de fiscalização) eletronicos, tão criticados por aqueles que gostam de infringir a lei do limite de velocidade no transito. A lei não deve ser cumprida apenas pois haverá punição, ele deve ser cumprida por ser lei. Ou seja, não importa se existe ou não o pardal, escondido, para fiscalizar, a lei deve ser cumprida. Por isso, defendo que exista "pardais" em absolutamente todos as ruas da cidade, assim como exista cameras em absolutamente todo e qualquer lugar que um policial poderia estar. Nesse sentido, não se trata de privação da liberdade, ainda que alguns achem que sim. No entanto, vou mais longe.
Não gosto do ex-governo de George W. Bush, mas também não o odeio, como muitos. Acredito que americanos são todos iguais, Bush e Obama, quando se trata da relação imperialista com o sul. Mas não discordo, e pelo contrário, gosto, de uma das medidas mais criticadas de Bush, o Ato Patriótico, que dava uma série de permissões especiais ao Estado em relação ao cidadão, como prisão preventiva e escutas telefonicas sem  necessidade de mandato judicial. Quanto à prisão preventiva, até concordo com as criticas, mas as escutas telefonicas, é, a meu ver, um direito do Estado em relação ao cidadão, com a finalidade de proteger a sociedade. Afinal, odeio ditados, mas vou recorrer a um "quem não deve não teme". Tudo bem, sei que essa minha opinião é o que há de mais retrógado e conservador que existe - me lembro do professor Rodrigo, quando disse isso certa vez, fazer um paralelo, ironico, que no regime militar também, o governo dizia que "o cidadão de bem não tem o que temer". É claro que deve haver controle ridigo a respeito do uso pessoal, politico ou partidário de um sistema como esse. No Brasil, por exemplo (e sem querer bancar aquela gente que acha que tudo que é estrangeiro é melhor - não sou assim), seria complicado pois cada governo nomeia os cargos da polícia federal, por exemplo, a seu gosto. Não apenas o governo do PT, como a mídia gosta de ressaltar, mas do PSDB também, e de qualquer um. Uma coisa que admiro no sistema americano é uma "burocratização" do serviço de inteligencia. Os chefes militares são aqueles, o diretor do FBI é aquele, o diretor da CIA é aquele, há decadas! E não vai mjudar a política ou as ações, independentemente do presidente que houver. O sistema está acima dos governos, e os transpoem., os perpassam. Em um sistema assim, estável, é possivel instituir um serviço de escutas telefonicas que sirva aos interesses do país. Diminui-se a liberdade. Não em nome da igualdade, mas da segurança, do fortalecimento do Estado. Claro que existem limites.
O que quero mostrar é que já hoje, vemos nossa liberdade diminuir. que então façamos algum proveito, que seja por uma boa causa. Por fim, apenas para não deixar a impressão errada, quero dizer que acho sim, que a liberdade é um bem fundamental da nossa civilização. O que caracteriza o ser humano é o livre arbitrio para a escolha. Liberdade. "Essa palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda", como disse nossa poeta Cecilia Meirelles. É tudo questão de achar o ponto de equilibrio. Nem tanto lá, nem tanto cá.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Coisas abrangentes

Lembrei-me de Star Trek. A nova versão, feita ano passado. Inclusive, sobre este filme, gostei muito quando o vi na lista de possíveis cotados ao Oscar - uma pena que a cotação não se efetivou, mas continua sendo muito bom mesmo assim. O filme tem grandes qualidades, mas acredito que talvez a melhor seja sua "polissemia", por assim dizer. Tentarei explicar. Geralmente os filmes tais quais Star Trek, que já vêm de uma longa tradição cinematrográfica (e além) seguem um dos dois caminhos: ou são continuações, assumidamente para os fãs, para quem já conhece e está familizariado com aquele universo, ou, na segunda alternativa, negam o passado, ignoram os filmes anteriores, e tentam se re-inventar para as novas gerações, seja em refilmagens tradicionais, seguindo a linha do que já foi posto, seja mesmo recriando as histórias. Em qualquer uma das opções, desgrada-se um publico em potencial e o perde, seja os já fãs, seja as novas gerações. O grande mérito do novo Star Trek, que está essencialmente na sacada genial de seu roteiro, é que com uma complexa (mas de fácil assimilação) história sobre viagens no tempo e universos paralelos consegue o talvez inédito feito de agradar aos dois públicos (sem ser condescendente). O filme não nega todo o passado que já existiu, nos mais de dez filmes feitos até hoje da versão clássica. Este passado existiu, e está presente no filme. Mas ao mesmo tempo, dá um re-start na série, começando do principio da história classica dos personagens, mas alterando-a, sem ser uma mera refilmagem. O maior fã de Star Trek vai adorar o filme; quem (literalmente) nunca na vida ouviu falar de Capitao Kirk ou Spock também vai adorar o filme. É sobre este tão raro fator abrangente que quero falar hoje.
É raro ver isso, e, eu, na minha humildade linguistica, não sem bem como nomeá-lo. Agradar a gregos e troianos às vezes é possível. Mas o risco maior quando se tenta fazer isso, creio, é tornar-se apenas algo morno, nem quente, nem frio. Ficar em cima do muro é fácil. Mas ficar em cima do muro não é agradar a ambos os lados, é não agradar a nenhum. Por isso realmente admiro obras que conseguem dizer alguma coisa, e ainda assim ter uma visão ampla, que possa agradar (senão a todos) a muitos. E por que estou falando sobre isso agora? Começei a ler hoje o livro "Cartas entre amigos: sobre medos contemporaneos". Começei hoje, mas já li muito, como não devorava um livro desde que devorei o livro do Palocci, alguns meses atrás (geralmente leio muito devagar, deglutindo cada palavra). 
Estou gostando muito, muito mesmo. São cartas trocadas entre o Padre Fábio de Melo, um dos grandes representantes da corrente carismática da igreja, e o político paulista Gabriel Chalita (ex-tucano, até ano passado - o que me fez pensar treze vezes antes de comprar o livro - hoje candidato ao Senado pelo PSB). Como o título já sugere, o tema são os medos contemporaneos, amor, morte, solidão, fé, e por aí vai. Sempre gostei do registro através de cartas - coisa muito, muito comum na literatura classica, na filosofia, em todas áreas de pensamento, até a metade do século XX, e hoje já esquecida. O livro está me agradando muito, e uma das causas esse limiar abrabrangente que tentei definir sem saber direito como. Ambos são intelectuais, e transparecem isso -  as cartas contém recortes de poesia, de filosofia, não apenas opiniões, e não restritas a uma visão de mundo apenas (como poderia se supor, pelo fato de um dos autores ser padre). Mas a filosofia e a poesia amplamente citada não está lá como ostentação intelectual que se percebe em trabalhos academicos - ela sustenta e dá sentido ao pensamento, e responde aos questionamentos. Questiona-se, mas não é um manual de auto-ajuda barato. Estes, tentam vender respostas milagrosas e prontas, para como se tornar um gerente de sucesso, como ter uma familia feliz, etc e etc. O livro é um questionamento filosófico sobre a vida, mas não necessariamente se obriga a oferecer respostas. Não as oferece. Apenas propõe uma reflexão. Está me agradando, acredito que agradaria um academico, assim como agradaria igualmente um "mortal" não-iniciado. Estou impressionado.
P.S. Só a capa que é horrivel - parece coisa de dupla sertaneja, e não a reflexão filosófica que é.

O papel da universidade

No post anterior recorri à universidade para exemplificar o que queria dizer sobre méritos e condições sociais, e então me lembrei de um tema que acho muito interessante, e que co-habita um outro fato que ocorreu esses dias: qual o papel social da universidade?
Bom, nem sei se esta é a pergunta certa para o que quero dizer, pois abre margem para muitas interpretações, mas vamos lá. Como a universidade deve se comportar em relação ao acesso a ela?
Saiu esses dias os resultados do vestibular do CTCOM, da UTFPR: meus futuros calourinhos. Comemorou-se que a nota de corte foi alta (algo em torno de 700, coisa assim) e a concorrencia havia subido, para 14 por vaga, se não me engano. Bom, não sei por que se comemorou, mas não vejo como algo necessariamente bom. Já vou explicar.
Na verdade, entendo sim por que se comemorou, afinal, mais concorrencia no curso, significa que o curso é mais valorizado no mercado, o que dá mais valor pros nossos curriculos, pro curso, etc e tal. Mas que tipo de lógica é essa?
Me lembro da Maurini, comentando em algum momento do semestre passado, do seu plano/proposta para divulgar a UTFPR em cartazes por Curitiba, para fazer propaganda. Assim como acho que o governo não deve fazer propaganda, muito menos uma instituição pública de ensino deve fazer propaganda. "A UTF concorre com as outras universidades", me lembro dessa frase dela. Discordei no dia, e continuo discordando. É uma lógica mercadológica. A UTF não está no mercado (é pública, e seu aval deve ser qualidade, não propaganda), e não precisa de grande concorrencia.
Concorrencia de 14 por vaga, significa que a cada um que entre, 13 terão frustados seus planos. Mostra que sistema educacional brasileiro ainda tem um grande gargalo, e não dá conta de todos dos alunos que desejam estudar. O vestibular só é necessário por que não há vagas suficientes, mas poderia muito bem haver. Universalizou-se a educação básica e média, e sua continuidade, a educação superior também deveria ser universalizada. Se houvessem vagas para todos, claro que ainda haveria concorrencia pelas melhores universidades, pelos cursos mais desejados, mas esta seria bem mais baixa. Menos concorrencia, significa melhor distribuição e ampliação do acesso. Uma vaga, para cada um, deveria ser garantida. 
"Ah, Márcio, isso é 'se'.." pode-se argumentar. Ora, se não nos indagarmos com os "se" e os "dever ser" permaneceremos sempre na reprodução do estado de "ser" atual da coisas. Quero mudar, criar, não reproduzir. 
Então é este o questionamento principal que me lembrei e que quero refletir. Criticou-se, à epoca, que o ProUni iria patrocinar, com dinheiro público, vagas em universidades sem qualidade, ou de baixa qualidade. O principal argumento contra o Reuni do governo federal, que amplia os investimentos em universidades públicas condicionado à ampliação de vagas, é que, ao ampliar as vagas perderá-se a qualidade do ensino. Então chega-se ao dilema: ensino de qualidade para poucos, ou ensino sem qualidade para muitos? O ideal, claro, seria ensino de qualidade para muitos, mas devemos reconhecer que a realidade não é igual aos ideais. Devemos perseguir os ideais, claro, mas também nos atentando para a realidade. O que fazer, então? qual a solução? Me lembro de uma discussão (no bom sentido, academica, de troca de idéias) sobre esse tema da educação com o Prof. Rodrigo, logo no inicio que entrei na federal, e ele argumentou a favor da "banalização do estudo", baseado em um ponto especifico que me convenceu. Todos os países do mundo, que tornaram-se grandes, só o fizeram a partir da vulgarizção do ensino; ele deve se tornar acessivel a qualquer um, e não ser aquela coisa restritiva,  "dos melhores". Nisso, ele fez uma critica justamente a o sistema que considera quanto mais dificil de entrar melhor, quanto maior a concorrencia, melhor, quanto maior a reprovação durante o curso, melhor. O ensino não é para os melhores, mas para todos. Perde-se qualidade? Sim, perde-se. Mas salvo profissões de risco (engenheiro, médico, etc, que devem ser resguardadas) não há problemas em formar um mau profissional. Um profissional incompetente, mal graduado, é "melhor" do que um não-graduado. E, em meio a mil profissionais ruins, vai sair um que se destacará, um que será um novo gênio, que irá promover grandes mudanças. Um, que se o ensino não estivesse vulgarizado, jamais teria a oportunidade de chegar lá. Não aceitei o argumento na hora, demorei alguns dias pensando, e hoje penso que realmente concordo, em partes. Digo em partes pois tendo a uma visão mais centrista, ou dialética. Não devemos ter o estudo elitizado, apenas para poucos, mas também não podemos ter o ensino totalmente "banalizado", e sem qualidade. Penso que deve haver instituições e instituições. Deve haver a universidade abrangente, que esteja aberta a todos. Como de certa forma é a Litoral, atendendo ao povo dessa região, como outras universidades que estão surgindo. Mas também deve haver aquelas universidades que são centros de excelencia, e, por centros de excelencia, sejam de dificil acesso. Deve haver a Unila, que vai atender aos povos da fronteira, uma universidade de promoção social, como a Litoral também é (mas cuja qualidade do ensino não será comparável com a UFPR, por exemplo). Mas também deve existir os ITA's da vida, impossiveis de entrar; as Unicamp, desenvolvendo tecnologia. Isso que digo pode ser criticado como uma divisão de classe, como se propusesse que a qualidade deve ser para o ricos e aos pobres nada. Não é isso. Acho que devemos lutar em duas fronteiras. Ampliar a participação e o acesso ao ensino, mas também manter os centros de excelencia e inovação. Correntes políticas brigam para tentar provar qual está certo, quando as duas são necessárias e eficazes. Seja de que forma for, uma coisa é indiscutível. A grandeza de um país passa pelo fortalecimento da educação. Mais do que um discurso político, isso deve se traduzir em sentimento da população, que reinvidique quantidade e qualidade.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Sobre méritos

Outro dia, uma amiga escreveu no twitter uma frase, à qual constestei, e me gerou algumas reflexões. Como preciso mais que 140 caracteres para expor meu pensamento, acredito que o tema rende um post. Não vou nomeá-la aqui pois aprendi com a história do "Lembre-se de Pedro" que não deve-se nomear as pessoas, se elas puderem se sentir ofendidas. Sinceramente, de coração mesmo, não estou criticando ela, nem acharia problemático escrever sua identidade (só não o faço, por que não sei o que ela acha a respeito). Ela sabe que a amo (no bom sentido, claro. fraternalmente). Mas vamos ao que interessa.
A síntese do comentário era algo como "Alguém me explica como uma empregada doméstica pode ganhar mais que um estudante de graduação? Injustiça!". Aí me veio à mente toda uma série de questões sobre "mérito". Por que alguém que se dedica a um tipo de trabalho "merece" mais do que outra que se dedica a outro tipo? Por que se têm isso como definição de justiça e assim constrói-se uma escala hierarquica do trabalho? Engraçado que frequentemente eu me posiciono contra meus próprios "interesses", mas não é por que sou universitário que devo indiscriminadamente defender os universitários. É preciso ter senso critico de auto-análise, e defender pontos que possam prejudicar a si próprio. Modéstia à parte, acho que seria um excelente parlamentar nesse sentido, pois a última coisa que penso são meus próprios interesses. Ou talvez fosse um péssimo parlamentar, justamente por isso. Hahaa. Mas retomando o tema. Não acho que um estudante, ou um comunicador, ou um administrador, ou quem for, dos trabalhos mais "elevados", seja mais "digno", ou mereça mais do que pessoas que exercem profissões humildes. Nós já tiramos tanto delas (pessoas pobres), e ainda reclamamos pelo pouco que elas têm? Nossa vida, vida de classe média, é muito mais do que privilegiada. Só de estar em uma universidade, e uma universidade pública, já demonstra que viemos de um estrato cuja vida é mais confortável. Penso que todos devem ser valorizados, e recompensados igualmente (ansia igualitária de socialista recalcado é fogo, né?). Não existe um trabalho melhor do que o outro, então por que um deve ganhar melhor do que o outro? E pior, quando alguém humilde ganha melhor do que alguém da classe média, enxergamos isso como uma aberração, uma injustiça do estado natural da coisas. Esse é um pensamento comum à nós, classe média. Mas ora, igualdade verdadeira - mais, equidade - não é tratar todos igualmente, mas tratar de forma desigual aqueles que são desiguais, na medida de sua desigualdade. Por causa desse sentido se fazem as cotas sociais nas universidades - uma medida muito elogiada de minha parte (diferentemente das cotas raciais). E por causa disso penso que, fosse para promover a justiça, os mais pobres deveriam ganhar realmente mais. Sim, uma empregada doméstica precisa mais de salário do que um estudante universitário. Então é justo que ela ganhe mais do que o estudante universitário. "A cada um na medida de sua necessidade", era o lema comunista. Reconheço que igualdade plena jamais alcançaremos, mas não custa rumar em sua direção, e defender seus principios. Veja, há um perigo maior em estabelecer que uns são melhores que outros. Pois se começarmos assim, dizendo que o universitário é melhor que a empregada, acabaremos dizendo que a raça ariana é melhor do que os judeus. Há que se ter noção que somos todos iguais.
Mas e a especialização do trabalho? Um estudante de engenharia dedica anos para aprender a construir pontes, enquanto uma empregada doméstica leva semanas, que seja meses, para aprender a limpar e cozinhar. Diante desse argumento há duas perspectivas. A primeira é que, independentemente do tempo de estudo, os dois exercem a função de igual modo, com a mesma dedicação, e o mesmo suor do corpo. Ambos tem 24 horas de vida por dia, e dedicam um xis desse tempo de suas vidas ao trabalho, que deve sustentá-los, mantê-los. Mas há outra perspectiva (que não é oposta à primeira, pelo contrário, vejo como complementar) da responsabilidade de cada um. Não podemos ir a extremos. Ambos são seres humanos que dedicam parte de sua vida ao trabalho, e portanto, devem ser recompensados, mas têm responsabilidades diversas. Enquanto uma empregada é responsável por uma casa, o engenheiro desse exemplo constrói a ponte que vai beneficiar a sociedade como um todo - e se falhar, pode projudicar muita gente. Acredito que, em certa medida, não há como deixar de atribuir certos graus. Mas nessa atribuição de graus, existe um limite tênue. Uma coisa é o profissional, outra o ser humano (sobre este, são todos iguais, independente da profissão). A linha tênue à qual me refiro é incorrer no erro, que já considero exemplar, quase clássico, de Bóris Casoy. Para quem não sabe, enquanto este apresentava o Jornal da Band o áudio "vazou" em um momento que não devia e ouvimos ele tecendo comentários sobre dois garis que apareciam no vídeo "Dois lixeiros opinando do alto de suas vassouras. O mais baixo da escala do trabalho", foi o que ele disse. O vídeo, para quem quiser ver, está aqui.
A escala do trabalho. Durkheim escreveu sobre a divisão social do trabalho, mas eu não li nem a obra, nem sobre a obra. Se tivesse lido, talvez tivesse ainda mais argumentos para fundamentar minha opinião, ou outros horizontes a debater, como não é o caso, vale o registro que já existe um pensamento classico a respeito,  muito respeitado. Em sintese o que penso é que às vezes não temos como não atribuir responsabilidades, e inevitavelmente valorizar mais uns profissionais que outros, mas acho que devemos resistir ao máximo possível quanto à hierarquização de uns serem melhores que outros ou merecerem mais que outros. Primeiro, por que todos somos seres humanos, e nossa vida é determinada pelas condições que nos são dadas. Segundo, por que não existe "mérito", isso é apenas uma classificação criada socialmente, para atrubuir valor, para separar e selecionar. Às vezes, recorremos a isso - afinal, como fazer uma seleção de candidatos (a um emprego, a qualquer coisa) sem implicar um critério que inevitavelmente leve a "mérito"? Mas uns não merecem ganhar mais que outros. Fico realmente feliz de saber que uma empregada doméstica está ganhando bem. Acho que o comunicador também deveria ganhar bem, claro! Ambos merecem ganhar bem. Mas se nós passamos numa universidade e estamos nela, não foi de forma alguma por mérito. Não suamos, não estudamos, e não merecemos estar nela. As condições que nos foram dadas simplesmente foram diferentes, bem diferentes, das condições dadas à empregada doméstica. "É fácil estudar, quando não se passa fome" não me lembro quem disse essa frase, acho que foi o Lula ou o Cristóvam Buarque, mas não tenho certeza. Eu mesmo, dois anos atrás, era muito diferente, me achava "merecedor", mas hoje percebo isso. Nenhum de nós "merece" estar na universidade (esta é um exemplo, que pode ser generalizado para trabalho, posição social, etc e etc). Mas uma vez que estamos, devemos dar valor a isso, e olhar pelos outros, que não tiveram a mesma "sorte" que nós. Não por que merecem menos, por que se dedicaram menos, por que são menos capazes, esforçados ou inteligentes, mas por que as condições que lhes foram dadas foram, simplesmente, diferentes. "Os homens fazem histórias, mas somente dentro das condições que lhes são dadas", Karl Marx.
Mas então pode-se incorrer no pensamento de que "eu não me importo que os outros não tiveram as mesmas condições; quero saber de mim". Bom, pra isso, não tenho muitos argumentos, só acho que alguns dos principios do cristianismo perpassam a tudo. Somos irmãos, e responsáveis pelos nossos irmãos. Para quem tiver um pensamento como o que pressupus, apenas acho que devemos ser menos egoistas. Não digo que todos devemos nos libertar dos interesses pessoais e materiais, afinal, nem todos podemos ser figuras como Madre Teresa, mas a vida não é feita de extremos. Podemos rumar em direção à solidariedade, e isso começa olhando ao nosso redor.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Por que não gosto da teologia da prosperidade

Eu não gosto da teologia da prosperidade. Procuro respeitar, acredito que cada um tem sua fé, e enquanto fé individual, diz respeito apenas àquela pessoa. Procuro ser o menos etnocentrico possivel. Mas não gosto da teologia da prosperidade, enquanto principio filosófico de fé.
A teologia da prosperidade, para quem não sabe, é o principio no qual se assenta as igrejas neo-pentecostais, tal como a Igreja Universal, do bispo Edir Macedo, e a igreja do R.R.Soares, que sinceramente não lembro o nome. Em sintese, e cito de cabeça pelo que sei, com minhas palavras (provavelmente no papel, na teoria, deve ter nuances diferentes), essa teologia defende que o ser humano, o crente em Deus, deverá ser recompensado em terra pela sua bondade. Recompensado materialmente. Deus é o senhor do mundo, de todas as riquezas, e nós, como seus filhos, temos o direito a usufruir essa riqueza, em vida. Os homens bons e retos de Deus terão sua recompensa (saúde, riqueza, etc) em vida. Não gosto, essencialmente, por corromper toda a idéia básica do cristianismo (não só da igreja católica, mas do cristianismo) de humildade. As pessoas que vão as essas igrejas adotam uma postura "utilitalista" (estou usando a palavra no sentido geral; não o conceito sociológico de utilitalismo, que reconheço não conhecer bem). O que quero dizer: elas esperam uma recompensa. Vão à igreja para fazer pedidos, e esperam ser recompensadas por sua fé. Se devotam à Deus para ter casa, carro, saúde... Chega a ser engraçado ver esses cultos, baseados inteiramente em "pedidos", para que Deus mude suas vidas, etc e tal... raro ver a louvação pela louvação. Então, surge os testemunhos, pessoas que passam pelo palco (palco, é esse mesmo o termo que quero usar) dizendo que Deus mudou suas vidas, que antes não tinham nada, mas agora a empresa está prosperando, o casamento está dando certo, o filho saiu das drogas, conseguiu emprego... Chega a ser uma palhaçada (com todo respeito a quem acredita). Fé verdadeira independe de provas materias e concretas (por que aí é ciencia), e independe de recompensas (por que aí é interesse). Fé, é quando tudo está dando errado e você ainda acredita. E também tem a questão da riqueza material. Não sou teólogo, nem especialista em religião, mas no meu entender, o cristianismo se baseia na humildade, na devoção, e na pobreza. Se em algum momento da biblia (não sei exatamente onde) Deus diz que é mais fácil o camelo passar pelo buraco da agulha do que um rico entrar no céu, e por mais que isso seja uma metáfora, uma parábola, como podem todos os "verdadeiros crentes" querer ser ricos? Raramente citaria um filme para embasar alguma tese minha, mas gosto de "A Última Cruzada", do Spielberg. Lá no final, quando devem adivinhar qual é o cálice sagrado de Jesus, o nazista escolhe o cálice de ouro, cheio de diamantes, que diz ser "digno do filho de Deus", toma e morre. Indiana Jones escolhe o cálice de barro, aburdamente simples, e nele está contida a salvação e a vida eterna. Ou seja, Jesus é humilde, porra!
Outra coisa que não gosto dessas igrejas neopentecostais (procuro deixar no genérico, para não dizer que é preconceito, mas a Universal é a representante-mór dessa corrente que critico) é o espaço que abre para enganações. Enganação dos fiéis, por parte da igreja. Coação psicológica, para que doem dinheiro. Sempre o dinheiro, sempre o material. Minha amiga Julhy fez uma excelente etnografia no ano passado a respeito do tema, para a disciplina de antropologia da Valéria. É um tema muito fértil. Me lembro de que um tempo atrás tinha que fazer hora, para um compromisso, e não tinha o que fazer. Estava passando em frente ali na avenida sete de setembro, e resolvi entrar e ver parte de um culto na igreja Universal, para fazer hora. Me impressionou a desonestidade intelectual (ou pode-se chamar de mentira, mesmo) do pastor lá na frente. Ele estava fazendo campanha política, literalmente. Ah, se a justiça eleitoral soubesse e fizesse algo... Dizia que o senador não-sei-quem era "nosso representante" lá no congresso, que estava lutando pelos interesses da fé de Deus. Em certo momento disse "Ou algum de vocês gostaria de ver o pastor aqui realizando casamento de duas pessoas do mesmo sexo?" E a platéia em unissono "Não!". E começeu a dizer que era para defender a posição da igreja q o senador estava lá em Brasília, por que "eles estão querendo aprovar isso aí, casamento de duas pessoas do mesmo sexo, e se for aprovado, o pastor aqui não vai poder se negar a realizar, por que senão é discriminação (em tom ironico)". Afora o preconceito contido na frase (sobre esse nem vou falar nada, por que um dia ainda vou escrever a respeito do que eu penso sobre o preconceito em si), é intelectualmente desonesto, ou seja, mentiroso. A proposta de lei diz respeito a isso: leis. Se um dia for aprovada essa lei, dirá respeito ao casamento civil. Nenhuma lei pode versar sobre principios de fé ou sobre doutrinas religiosas. Nunca que uma igreja seria obrigada a realizar casamentos gays, se não quisesse, se fosse contra sua doutrina. Provavelmente o pastor sabe disso, mas manipula as palavras, mente, para iludir os fiés, que provavelmente não tem conhecimento sobre leis.
Mais uma coisa que não gosto nessas novas igrejas (já estou falando contra as igrejas em si, não somente contra a doutrina de fé - faço muito isso, me desviar do assunto principal) é sua indefinição quanto à história e personagens e fatos da história. Por exemplo, outro dia estava dando uma lida num livro de Agostinho, sim, Santo Agostinho. Aí pensei, o que diria a respeito a igreja Universal? Elas negam tudo que é próprio da igreja católica, mas existem certos personagens da história que estão intimamente ligados à igreja católica. Santo Agostinho, por exemplo, é apenas mais um. Santo da igreja católica, mas também de extraordinária importancia para a filosofia, construtor  de toda a interpretação biblicia que em parte se têm até hoje. Sinceramente, não sei a posição delas quanto à Agostinho, se é que existe essa posição. Mas você não pode ignorar a história, então acredito ser complicado o sentimento de "novo messias" que tentam criar, como se fossem os salvadores, e os outros todos estivessem errados.
Esses são só alguns dos principais argumentos; poderia escrever bem mais a respeito, mas sinceramente, acho que não vale a pena. Curioso que essa é a única corrente religiosa com a qual tenho certo ressabiamento. Mas que fique bem claro, não gosto do pensamento nem da prática adotada pela igreja, mas nada tenho contra os fiéis. Se você é um deles, respeito plenamente você e seu direito em crer no que quiser. O que é outro ponto contra essas igrejas: estão sempre em luta contra alguém, querendo ser os "certos", negando e criticando outras religiões, como a católica ou a espírita, como se fossem "erradas". Talvez , além de respeito com o outro, lhes falte ler um pouco de Foucault: não existe verdade, apenas discursos de verdade.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Sobre Ciro Gomes

Outro dia o Leandro Fortes, jornalista que mantém o blog "Brasília, eu vi" (aqui) e escreve para a Carta Capítal, escreveu em seu twitter: "Definitivamente, a imprensa não está preparada para o jeito franco de Ciro falar. Ainda mais na Câmara, onde tudo é teatro e hipocrisia" e em outro tweet: "Dá pena ver o nervosismo dos repórteres mais novos diante das marteladas de Ciro.". Me lembrei de um assunto que gosto muito: Ciro Gomes. 
Existem quatro homens que admiro no Brasil, acima de qualquer suspeita. Se eu, sozinho, pudesse escolher quem seria o próximo presidente da república, qualquer um deles seria um opção mais do que satisfatória. Dois, desses quatro homens, admiro essencialmente por sua liderança carismática, como definiu Weber. Um já é o presidente da república, induvidavelmente Lula, e outro é o Requião. Outro, admiro pela sua capacidade intelectual e seu senso de moral e correção, é Tarso Genro. O último desses quatro homens consegue ser uma sintese dos outros. Inteligentissimo, mas não acadêmico, humilde, apesar de não pobre, e sem medo de comprar brigas e dizer o que pensa. Uma pitada de Tarso, de Lula e de Requião. Trata-se de Ciro Gomes.
Já há muito o admiro, mas acredito que tudo se consolidou (ou se reforçou) no 2º semestre do ano passado, em uma entrevista ao Canal Livre. Considero essa entrevista uma das obras mais incriveis que já vi, é IM-PE-CÁ-VEL. Não há o que melhorar. Ciro mostra postura não de candidato, mas de Presidente. Não apenas de chefe de governo, mas de chefe de Estado. Não se deixa pressionar pelo time de perguntadores, quando um tenta atropelar a pergunta do outro, os controla, na palma da mão. Não deixa nada sem responder. Ele tem a humildade de Lula, sua solidariedade pelos mais pobres, a busca por olhar para as desigualdades sociais, ao mesmo tempo que demonstra a inteligencia digna de quem fez pós-graduação em economia em Havard (formado em Direito, na universidade do Ceará), e para responder uma pergunta cita Gramsci! Um político, citando Gramsci, num programa de TV! É incrivel! E não tem receio de dar respostas "desaforadas" a um dos jornalistas, sobre uma questão qualquer, dizendo para ele: "Vá pesquisar, é o seu trabalho".
O melhor de tudo, é que não é um raro momento numa rara entrevista. Ele é assim, sempre. Desbocado, inteligente, humano. Quer Presidente melhor? Ah, e o pacote ainda acompanha a Patricia Pilar como primeira dama. Hahaa. É uma pena que talvez ele nem saia mesmo candidato, é uma pena que caso saia, suas chances são pequenas. Acredito, sinceramente, e por muitos motivos, não apenas pelas qualidades que adimiro, que ele seria o sucessor perfeito para Lula.
Ciro Gomes seria o sucessor perfeito para Lula. Por que? O governo Lula é reconhecidamente bom, muito bom. Vamos partir desse pressuposto, que é o que os niveis de satisfação indicam como percepção da população, é o que os indices economicos indicam, é o que os niveis sociais indicam. Até aqui é a maldita estatística, não minha opinião. Partindo do pressuposto que o governo Lula é bom, e que o modelo de gestão da oposição (José Serra) baseia-se no oposto do modelo do Lula, pode-se dizer que a oposição é ruim, e que não se quer a volta da oposição ao poder. Explicando melhor. O PSDB defende posições liberais em relação ao Estado, o que significa que o Estado deve abster-se, não fazer nada, ou o mínimo, e deixar as coisas por conta da iniciativa privada, das forças de livre mercado, pois estas gerariam o bem comum, na formulação de Adam Smith. A posição mais à esquerda acredita e defende um Estado forte, que assuma certas responsabilidades (como educação pública e auxilio aos pobres), e tenha posição de incentivador do mercado. Foi a posição do governo Lula de incentivador do mercado, com linhas de créditos, etc e tal, que fez com que a temida crise economica não passasse realmente de uma "marolinha". Qual está certo? Nenhum. Em Ciencias Sociais e Humanas, não existe Verdade. Apenas posicionamentos ideológicos e filosóficos. Cada um acredita no que quer (por isso amo as humanas!). Eu acredito que o modelo de Lula é melhor e mais eficiente, e como está dando certo, e ele é aprovado por 80% da população, vou partir do pressuposto que a população concorda comigo, até aqui. Então não é bom Serra ganhar. Então, tem Dilma, candidata de Lula. Ela é uma excelente ministra, acredito que seja competente, mas...  Mas como comentei um tempo atrás, com alguns amigos, não ficaria totalmente triste se o PT perdesse essa eleição. Deixa eu explicar! Gosto do PT, e numa eventual disputa DIlma x Serra, claro que prefiro a Dilma. Ficarei triste sim, se o PT perdesse para o Serra. Não pelo PT (e já vou explicar porque isso) mas pelo Brasil, pelo retrocesso que o país teria numa gestão tucana - sobretudo na política externa. E por que não ficaria triste pelo PT? É preciso refrescar o poder. A democracia pressupõe alternancia; não que governos seguidos façam algum mal à democracia (nos EUA, democratas já governaram por décadas seguidas). Mas para o próprio partido, para não ter sua imagem desgastada, é importante mudar os ares, refrescar-se, longe do poder, para no futuro retornar a ele. Manter-se muito tempo, ou indefinidamente, no poder não faz bem a um partido. Se Serra ganhar seria um desastre para o país, e se tb seria "bom" o PT refrescar-se do poder, qual a solução? Chama-se Ciro Gomes. Ele foi ministro da Integração Nacional no 1º governo Lula, e abertamente confessa sua adimiração pelo Presidente Lula. Mas ao mesmo tempo, sendo de outro partido (PSB), representa novas idéias, novos rumos. Ciro Gomes seria uma forma de dar continuidade ao governo Lula (pois certamente seria seu aliado) podendo refrescar o poder do PT, que iria para a base aliada no congresso. Refresca-se o poder, ao mesmo tempo que continua o governo, mas com novas idéias. Por isso acho que Ciro Gomes seria o próximo presidente perfeito. Ciro tem aquilo que Aécio Neves tentou se definir como "pós-Lula". Alguém que admitisse a importancia de Lula na história, mas olhasse para o futuro. Dilma é a "pró-Lula", sua continuidade. Serra é o "anti-Lula" (por mais que vá tentar parecer que não, no horário eleitoral), sua antitese e oposição, que acha que tudo está errado. Ciro teria condições de dar um passo à frente no debate. Poderia olhar para trás, dizer sobre a importancia de Lula, mas superar as rusgas partidárias e construir o futuro, sob as bases alicerçadas pelo PT. Ele também representaria a alternancia de partido dos últimos 16 anos dominados pela dupla PT-PSDB. O seu PSB poderia atrair, com propostas, até certa ala do PSDB. Amigo de longa data de Aécio Neves (com rara sinceridade que se vê na política - são realmente amigos!), Ciro como presidente poderia atrair tanto PT e PSDB, numa união por propostas para o país. Pareço um pouco utópico? Em certa medida, sim, com certeza. Mas o dia que não tivermos mais sonhos e utopias...