segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Epílogo e Prólogo

Este blog morreu. Viva! Finalmente, alguns dias antes do ano se findar, eu retorno a este espaço para formalizar algo que, na prática, já se constatava. As aulas de Comunicação Institucional acabaram, as viagens a Curitiba terminaram, e o propósito inicial deste blog, que o batizava, se encerrou. Como já anunciado, este aqui aqui se encerra. Não exatamente do modo como gostaria, talvez. Abandonado nos últimos tempos. Ficam textos nos rascunhos que jamais ganharão a vida. Mas assim é a vida, não avisa quando se encerrará e do nada se acaba. Este blog tinha dia para acabar desde seu nascedouro. Mas, como escreveu Shakespeare, numa de minhas passagens preferidas do bardo inglês, “o que passou é prólogo”. Foi bom ter sua companhia e sua leitura, caro leitor. Este blog se encerra, mas outro nasce. Ou nascerá, um dia. Com outra característica, ainda que eu não saiba bem qual ainda. Endereço registrado, mas nem previsão de quando comecará a ser usado. Convido você, meu leitor, a visitá-lo e descobrir junto comigo: www.amaquinadeescrever.wordpress.com Até lá.

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Edição posterior (fevereiro de 2011): o blog citado anterioremente nunca foi posto em prática. No entanto, tenho sim um novo blog: www.viajares.wordpress.com Visite. Até mais.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Momentos que marcam a vida

Ontem foi dia das eleições no Brasil. Embora eu possa dizer, com orgulho, que elegi a primeira mulher presidente da república, tudo isso que se refere à política, para mim sempre tão importante, se relegou a um segundo plano, desde sexta. Há certos momentos que marcam nossa vida. Aqueles momentos decisivos, que você sabe que serão lembrados como marcos de mudança de rumos. Esse é um desses momentos. 
Havia me inscrito para o Intercâmbio, pela Federal, há alguns meses já. Faz umas duas semanas, saiu o resultado dos 100 selecionados (dos 5 mil inscritos) para o intercâmbio. Eu estava na lista. Fiquei feliz, pois estar naquela lista já era uma vitória, mas não comemorei, pois não poderia ir, bancando do próprio bolso os custos. A lista dos que ganhariam bolsa de estudos seria divulgada nas próximas semanas, sem data marcada. Por dias fiquei entrando no site em busca do resultado, e nada. Eram 20 bolsas por fragilidade econômica, para a qual nem me inscrivi, e apenas 10 bolsas por mérito acadêmico, que estava tentando. A esperança sempre é presente, mas a probabilidade numérica não era favorável. 
Sexta a tarde cheguei cerca de 10 minutos mais cedo no estágio, como tem sido costume. A sala estava vazia, os outros ainda não haviam chego. Fui abrindo os sites de costume, e-mail, etc. Resolvi dar uma olhada no site da ARI. E lá está, desde o dia anterior, edital de divulgação das bolsas. Frio na barriga. Clico no PDF e espero carregar. Hesito um pouco, antes de olhar. O documento abre e têm quatro páginas. Sei que os eventuais alunos do Setor Litoral estarão listados mais para o fim, nas últimas páginas (ordem cronológica de criação de campus), mas vou descendo aos poucos, linha a linha. Cada novo setor que aparece, um frio na barriga. Desço linha a linha, até encontrar o título da secção "setor litoral". Desço mais uma linha e encontro um outro nome que não o meu, Jhonantan. Outra linha, e há apenas o fim do cabeçalho, com os dados da universidade (rua, etc, aquelas coisas padrão de fim de página). Dou um suspiro, viro para lado e olho para baixo. Decepção. Penso "Tudo bem, deixa pra lá. Não deu, era difícil mesmo". Após uma pausa, volto ao computador. Rolo a página rapidamente e despreocupado para baixo. Vejo de relance que há, na página seguinte, mais informações do setor litoral. Apenas a página anterior havia acabado, não os dados. Subo a página, para conseguir visualizar. Encontro meu nome: M [removido] C [removido] C [removido]. Só consigo prender a respiração, quase sem acreditar, instantes depois da desilusão de acreditar ter perdido a chance. Com a sala vazia (e creio teria a mesma reação se não tivesse), ajoelho-me no chão e apenas sussurro: "Obrigado, Meu Deus". Obrigado, meu Deus. Volto ao monitor, para conferir, ler de volta. A partir daí, o resto é história. A sensação é similar a de passar no vestibular, mas um vestibular imensa e absurdamente mais concorrido. Estou imensamente feliz, e creio que ainda sem acreditar direito, sem cair a ficha, em pensar que em alguns meses estarei embarcando para a Europa, para estudar lá, com tudo pago pela Universidade. É uma oportunidade única na vida, e estou imensamente feliz por tê-la. 
A felicidade de uns, dizem, é a tristeza de outros. E é triste que para que existam vencedores tenham que existir derrotados. À tarde, no ônibus de volta para Matinhos, encontrei Rick. Alguém que é extremamente gente boa, que, assim como eu, havia passado na primeira etapa e esperava a bolsa. Não conseguiu a bolsa. Por coincidência, sentou-se justamente ao meu lado. Situação um pouco incômoda e conversa um pouco estranha, no inicio. Mas ele é de boa, e conversamos normalmente. Me desejou boa sorte e eu a ele, que não esmoreça. O inusitado e inesperado encontro me fez refletir sobre seu significado. Como não acredito em coincidências, só posso interpretar isso como algum sinal divino, que queira me mostrar algo. Não sei bem o que ainda, embora pense nisso. Talvez me mostrar a desigualdade e injustiça do mundo. Talvez um sinal para que eu não desperdiçe a oportunidade e a aproveite ao máximo (e é o que pretendo fazer), pois outros também queriam e não conseguiram. É para se refletir, embora não abandone minha alegria por ter essa oportunidade.
Começei o post dizendo que, diante de minha alegria pessoal, o resultado das eleições havia perdido a importância. Emocionalmente, sim, e nem poderia ser diferente. Mas na verdade é muito pelo contrário. O resultado das eleições só ganha importância. É por causa de medidas adotadas pelo governo Lula de incentivo à educação que hoje se concedem bolsas de estudo e sou um dos beneficiados. É por causa da política que estou tendo a oportunidade de estudar numa universidade pública e agora terei a oportunidade de fazer um intercâmbio no exterior. Posso agradecer a Lula, mas também fazer mais do que isso. Quero que se amplie o incentivo que já existe para que, um dia, não precise haver a situação de que uns precisem ficar pelo caminho e ter seus planos relegados. Que todos que desejarem estudar, no Brasil ou no exterior, possam. Dirão ser utópico, mas aos poucos vamos conseguindo isso. Um dia, e irei batalhar por isso. Por agora, só posso esperar cair a ficha, e desejar aproveitar ao máximo esse tempo e essa oportunidade. Obrigado.

domingo, 24 de outubro de 2010

Considerações quase finais

Certamente o eventual fantasma que por aqui transite haverá de ter notado que este ambiente está mais vazio e desértico do que o habitual. Pois é. Uma série de fatores concorrem para explicar esse fato. Mas é fato. Não estou extremamente atarefado, como já estive em outros tempos. Creio mesmo que seja uma questão de prioridades. Comecei a estagiar. Algum dia teria que fazê-lo, não é mesmo? Haha. E assim as prioridades vão mudando. Amo escrever e isso não abandonarei. Apenas não mais para este blog. Sim, meus caros, está chegando ao fim, como já era previsto. Aconteceu antes do que eu previa, mas foi bom, por ter sido de certa forma orgânico, natural, e não uma ruptura artificial em plena produção. Ainda não acabou. Tenho vários textos já rascunhados, que tanterei adaptar e publicar, nos próximos dias. Ou não. Alguns permaneceram para sempre o limbo dos rascunhos. Há muitas coisas em minha mente, burbulhando. Vocês perderam que vê-las escritas, mas tudo bem, fazer o que, não é mesmo? Creio que um fato que tenha colaborado para o decréscimo na produção desse blog foi a indefinição de sua natureza. Nasceu como algo pessoal, escrito para pouquissimas pessoas. Quase um diário em que falava demais sobre mim, me expunha demais, e criticava os outros. Depois percebi que não devemos ficar nos expondo em público assim. Parei um pouco. Agora me confesso com os poucos amigos verdadeiros. Continuo criticando os outros. Espero jamais perder meu olhar crítico. Mas isso também tem que ser limitado, no que diz respeito a publicação. Que sociedadezinha essa nossa, hein? Mas é bom, de certa forma, essas amarras sociais. Depois este ambiente transmutou-se de certa forma. Foi inserido num ambiente que não era o dele, embora também o fosse. Este blog nunca foi nem pessoal nem político, unicamente. Como já disse, em outro post, isso de certa forma, poderia ser uma coisa boa. Seus resultados, no entanto, não parecem ter sido tão promissores. Junte-se a isso um certo desanimo quanto aos leitores. Num dos primeiros posts desse blog, lembro que escrevi que escrevia por escrever, não necessariamente por leitores, mas que como só se publica para ser lido, também desejava tê-los. É isso. Mais um fato que concorre para explicar esse abandono é que essa é a passagem de um momento para outro, na vida. São momentos diferentes. Estou muito mais nas ruas agora, do que nesse ambiente virtual, embora realmente acredite que ambos são plenamente conciliáveis. E minha vida, acreditem, está muito boa, cada vez melhor. Enfim, muitos fatores. Esse não é ainda um texto de despedida. Ainda sentarei para escrever o epílogo. Antes, tentarei publicar os textos nos rascunhos, embora alguns parecerão realmente descontextualizados e anacrônicos. Aos eventualíssimos que gostem do que encontram por aqui, já registrei um outro domínio, que divulgarei quando começar a produzir. Lá, haverá o que aqui não houve, ou seja, uma “linha editorial” clara sobre seu conteúdo. Um blog mais de portfólio, que desejo fazer a algum tempo. Até breve, meus caros. Não desistam.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Justificando

Meio abandonado isso aqui, né?
Coisas a fazer.
Não abandonei. Ainda.
Eu volto. Um dia.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Pé na bunda

Chutados para fora do Senado. Um pequeno balanço das eleições de domingo, que deixaram um gostinho bom. (inspirado por post do Azenha).


Artur Virgílio (PSDB - Amazonas) – FORA
Heráclito Fortes (DEM - Piauí) – FORA
César Maia (DEM - Rio de Janeiro) – FORA
Tasso Jereissati (PSDB - Ceará) – FORA
Marco Maciel (DEM - Pernambuco) – FORA
José Carlos Aleluia (DEM - Bahia)– FORA
Mão Santa (PSC - Piauí)– FORA
Raul Jungmann (PPS - Pernambuco) – FORA
Antero Paes de Barros (PSDB - Mato Grosso) – FORA
César Borges (PR - Bahia)  – FORA
Efraim Morais (DEM - PB) — FORA

sábado, 2 de outubro de 2010

Em quem votarei e por que assim votarei

Vou começar esse texto contando uma história. Ocorreu em 2006. Apoiava totalmente Lula, mas gostava das pauta de reivindicações de Cristovam Buarque sobre a educação. Gostaria de votar em Cristovam Baurque. Um voto pela causa. Diante do impasse, nas vésperas do 1º, se haveria ou não 2º turno, e desejando ajudar na vitória de Lula já no 1º, fiquei extremamente indeciso. Na manhã de domingo, no dia das eleições, decidi meu voto. Votei em Lula. Posso dizer que, em parte somente, me arrependi. Não por Lula, que mereceu integralmente meu voto, mas por Cristovam, que teria também merecido meu voto, no 1º turno. Este ano, a história se repete. É extremamente irônico, mas logo eu, politizado que sou, nas vésperas do dias das eleições, ainda podia ser enquadrado no bolo dos indecisos. Mas este ano já houve um progresso. Consegui me decidir na véspera. 
Sou petista, mas votarei em Marina Silva e Beto Richa. Esta frase era para ser a abertura desse post, e também seu título original, mas tive que mudar. Primeiro, por que não é mais verdade. Segundo, por que não basta criar um slogan ao estilo “eu voto em...”, é necessária a dialética do debate, do argumento, da explicitação dos motivos, inclusive no título. Sou petista, mas voto em Marina Silva e Beto Richa. A frase é boa. A escrevi anteontem, quando comecei a rascunhar esse texto, mas não é verdade. Não mais. Acho realmente uma pena não existir na urna eletrônica uma maneira que eu justifique meu voto, aponte seus por quês. Temo que possam atribuir a outros fatores o meu voto, e não aos reais fatores. Mas ao menos posso esclarecer isso aqui. Vamos aos por quês.
Gostaria de votar em Marina Silva apesar de Marina Silva. Isso é muito importante de ser dito. Acho ecologia importante, mas não é o tema primordial. A célebre frase de James Carville, marketeiro de Bill Clinton (“É a economia, estúpido”), resume o que eu penso e o que muita gente como eu pensa. Quando falo de economia, não me refiro apenas ao nível micro da vida do sujeito, mas à soberania nacional conquistada com uma economia de mercado forte, que poderia ser ameaçada por empecilhos ambientais. Plínio de Arruda a acusa de ser eco-capitalista, e Marina tenta se defender disso. Para mim, acho que isso era um elogio. Mas falta a Marina um pouco de “capitalismo”, e sobre muito “eco”. Meio ambiente é essencial, mas ainda há outros temas que vêm a sua frente. Marina não parece achar isso e por isso digo que votaria nela apesar dela.
Como estudante de Comunicação, já escrevi aqui sobre os vários erros de sua campanha, entre eles bater apenas em uma tecla (ecologia) quando um presidente precisa mostrar que domina todas as áreas, e vender sua idéia de ecologia de forma errada, passando a mensagem de que “o consumo não pode ser desenfreado, tem limites”, que não conquista o eleitor, em vez que “com o desenvolvimento sustentável vocês poderão consumir ainda mais, para sempre”, que a teria mais chances de penetrar no eleitorado.
Então por que votaria em Marina? Primeiro, por que acredito ou quero acreditar em uma terceira via para o cenário político brasileiro. Alguém que pudesse ser capaz de unir PT e PSDB e governar com ambos. Ainda que essa seja uma visão um tanto romântica, quero acreditar nela. Sei que mais gente é seduzida por essa idéia e a campanha de Marina errou ao não reforçar essa mensagem. Marina, de uma forma ou outra, representa essa esperança, ainda que eu achasse que o candidato perfeito para enfrentar a polarização PT-PSDB seria Ciro Gomes. Infelizmente, não tenho Ciro Gomes para votar neste pleito.
Segundo, por sua trajetória de vida. Eu amo Lula. E Marina é o que há de mais próximo que existe de Lula. Mais um erro de sua campanha, ao não reforçar isso enquanto só falava de meio-ambiente (note-se uma contradição: os eleitores de classe média que são preconceituosos com Lula ser “analfabeto” votam em Marina, mesmo que ambos tenham histórias de vida similares. Não dá para entender). A luta e a garra da mulher adoentada, que saiu do interior da selva, e só aprendeu a ler e a escrever aos 16 anos. E depois nunca mais parou de estudar. Formou-se professora, e lutou a vida inteira. Essa história renderia lindos comerciais e pontes, para tratar do tema educação, mas ela nunca fala de educação, só de ecologia, infelizmente.
Votaria em Marina Silva por uma questão de foro íntimo. Me identifico com os aspectos já citados. Também sua trajetória dentro do PT. Ela sim, deveria ser a candidata do PT a liderar as pesquisas. Seria lindo ver Lula e Marina juntos. Os marqueteiros fariam miséria, nos comerciais. Seria emocionante. Infelizmente não é assim. Votaria em Marina mas não recomendo nem recomendei em nenhum momento o voto em Marina. Como disse, votaria em Marina por uma coerência pessoal, e também por acreditar que sua causa merecesse meu voto, uma vez que ele não faria falta ao PT. Desejo que Dilma vença, e vença no primeiro turno. Se em um sonho Marina pudesse ir ao segundo turno, seria algo realmente novo e impressionante. Teria que avaliar bem, mas poderia votar nela também no segundo turno. Mas ela não irá. Sendo assim, recomendo o voto em Dilma. Andei a semana inteira vestindo minhas camisetas do PT e de Dilma. No dia da eleição, irei vestindo minha camisa vermelha do PT. Meus amigos já brincaram comigo por causa disso, que sou bem estranho por causa disso, quero que uma candidata ganhe mas iria votar em outra. Pois é. Iria votar e votaria. Mas não mais.
Notem os tempos verbais do texto: “votaria”. O texto já estava rascunhado. No original, estava escrito “voto” e “votarei”. Era minha tendência, não consolidada. Tive que mudar o meu rascunho, já que mudei de idéia. Como disse, amo a história de vida de Marina Silva e tudo o que ela representa. Por que mudei de idéia? Até então, o argumento que estava posto para mim era aquele mesmo que havia me convencido a votar em Lula e não Cristovam em 2006, evitar o segundo turno e consolidar a vitória já no primeiro. Mas se o argumento fosse apenas este, existem saídas a ele, pois poderia votar em Dilma no segundo turno. Mas algo mais emblemático surgiu, hoje, que representa muita coisa, e me ajudou a decidir o voto. Leio na Folha noticia, de que o PV já se organiza e tende a dar o apoio a José Serra no segundo turno. Então se coloca algumas perguntas fundamentais. Como, Senadora, a senhora pretende se colocar como uma terceira via, quando já tende a dar apoio a uma das outras vias? Como, Senadora, a senhora quer fazer política limpa, quando o presidente do PV justifica o apoio a Serra com um “não desperdiçar o capital político obtido” (leia-se poder de barganha)? Ainda respeito tudo que Marina Silva simboliza, sobretudo sua linda história de vida em paralelo com Lula, mas ela desmanchou sua candidatura, em uma notícia.
Votarei Dilma Rousseff para presidência, amanhã. Não apenas para evitar o segundo turno, mas por que acredito ser o melhor para o Brasil. Por que penso isso? Poderia escrever muitas páginas a respeito, mas vou resumir em alguns pontos, simples. Não gosto de Dilma em si, nem acho que seria a pessoa mais preparada. Penso que o próprio PT teria alternativas muito, muito melhores, como Tarso Genro ou Aloizio Mercadante. Mas qualquer pessoa com um conhecimento mínimo de política e funcionamento de governo sabe que o governante não governa sozinho, mas com sua equipe (aí se encontra o problema de Serra, um intelectual inteligente, mas cercado da escória da política brasileira, como os “demos”). E na equipe de Dilma, que é a equipe de Lula, confio plenamente. Trata-se daquilo que José Dirceu falou, numa palestra em Salvador, se não me engano, e foi repercutido de forma negativa pela imprensa: esta não é a eleição de alguém por sua fama, por seu caráter personalista, mas a eleição de um projeto político, e por isso é ainda mais importante que a eleição de Lula. Eu voto no projeto político do PT. Me lembro de uma peça publicitária do PSDB veiculada somente na internet, e muito bem produzida por sinal, em que se acusa que Dilma não irá conseguir controlar os petistas. O argumento de acusação da peça para mim é mais um motivo para que eu vote a favor de Dilma. Ou melhor, no projeto político do PT.
Para o governo do Paraná, votarei em Beto Richa, do PSDB. Embora seja petista, não sou sectário. Não acho que as pessoas são boas ou más, a priori, por serem petistas ou tucanos. Assim como não gosto da direita raivosa que considera que todo petista é ruim, também não posso considerar que todo tucano é ruim. Abro uma exceção ao DEM, estes sim, todos ruins.
Já ouvi dizer, em forma de troça, que no Brasil não se vota a favor de um candidato, mas contra o outro. Em boa parte, trata-se da situação aqui. Não voto a favor de Richa, mas contra Osmar Dias. Não consigo suportar o que considero seu cinismo, chorando ao lado de Lula, sendo que há literalmente seis meses atrás era seu adversário e oposição no senado. Curso também Gestão Pública, e sei que os acordos políticos são assim mesmo. Estou hoje já longe na inocência do senso comum que crítica certas alianças. Alianças são essenciais para a política. Não critico a aliança de Lula com Collor ou Sarney, pois desde quando eram adversários até quando passaram a aliados passou-se 20 anos. Mudou o mundo e mudaram as pessoas. É perfeitamente plausível essas alianças. Mas a aliança com Osmar me parece por demais forçada, espúria. Além do fato que Osmar não está nem próximo ao pensamento ideológico de Lula ou da esquerda, ainda que tente se vender como. Osmar Dias é irmão de Álvaro Dias, que liderou a oposição raivosa e inescrupulosa contra Lula. Alguém tem a mínima dúvida que Osmar vai apoiar seu irmão para sua re-eleição ao senado, daqui a quatro anos? Escrevam o que digo, Osmar vai pular fora do barco governista, em algum momento, caso se eleja. Não vou, definitivamente não vou, votar em alguém que irá apoiar Álvaro Dias daqui a quatro anos para o senado. E Richa, que é do mesmo partido, acaso não vai? Vai sim, mas isso está claro. Ele não está fingindo uma coisa que não é, está sendo claro. Em última análise, pode-se dizer que prefiro os liberais convictos daquilo em que acreditam (ainda que eu discorde) àqueles que se transmutam de tempos em tempos, conforme as conveniências.
Gosto de pessoas com sonhos altos, talvez por minhas próprias características. Osmar está em fim de carreira. O que mais será, depois de governador? Richa, pelo contrário, está apenas no inicio e sonha alto, em chegar até a presidência. Pessoas com sonhos pequenos realizam obras pequenas; pessoas com sonhos grandes, realizam grandes obras. Não votaria, hoje, em Richa para presidente, pois os tucanos na economia e em relações externas são um fracasso. Mas no governo do estado ele não terá os poderes para interferir de modo negativo como seria na governo federal. Para minha percepção pessoal, o governo Richa na prefeitura de Curitiba não foi bom ou ruim, logo, não tenho nada contra ou a favor dele. Não sou contra dar a ele uma chance. Não creio, realmente, que Richa vá privatizar qualquer coisa. Ainda que quisesse, exatamente por seus planos maiores, ele não o fará, por saber que isso prejudicaria seus planos. Nesse sentido, é mais fácil Osmar Dias privatizar alguma coisa, por não ter perspectiva de futuro e poder fazer qualquer coisa que queira. Richa fará um governo extremamente bom no Paraná pois sabe que precisa ter o que mostrar para a campanha presidencial.
Para os legislativos, não há sombra de dúvida. Votarei na esquerda. Requião e Gleisi, para o senado. Dr. Rosinha, do PT, para deputado federal, por sua trajetória e por suas posturas adotadas no congresso nacional. E para deputado estadual, após alguma (muita) indecisão, na legenda do PSOL, por acreditar que a assembléia paranaense precisa de um radical, no momento em que se encontra. Um radical, ainda que despreparado, que seja oposição a Beto ou Osmar, quem quer que se elega. Votarei no PSOL, ainda que eu saiba que o partido não conseguirá eleger um deputado, infelizmente. 
Estou tranqüilo com minhas escolhas e realmente creio que são as melhores, para as diversas instâncias a que se referem. Seja quem forem os vencedores, o que importa é que façam o melhor pelo Brasil. E que assim seja.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Richa, Pesquisas e a Espiral do Silêncio

Beto Richa censurou a divulgação das pesquisas de opinião de intenção de voto para o governo do estado. Apesar de ser censura (não é bem isso, uma vez que foi uma decisão judicial), ele está certíssimo em fazê-lo, do ponto de vista de estratégia eleitoral. Se fosse eu, no lugar dele, com as mesmas influencias para se obter os resultados desejados, faria exatamente a mesma coisa. 
Dá pra analisar esse caso sob a ótica da influencia da espiral do silêncio. Já escrevi aqui no blog sobre a espiral do silêncio e vale a pena ser lido, aqui. A teoria da espiral do silêncio, de Elizabeth Noelle-Neumann, é uma teoria da psicologia que explica, entre outras coisas, o voto útil e a importância das pesquisas na definição desse voto. Em resumo, as pessoas são constituídas socialmente. Suas opiniões não são individuais, mas sociais. As pessoas, quando têm uma opinião contrária à opinião dominante no grupo em que estão inseridas, tendem, num primeiro momento, a ser calar (por isso, silêncio), e não se manifestar contrário ao grupo. Num segundo momento, elas tendem a mudar efetivamente de opinião, para adequar sua opinião à opinião de seu grupo. Pode parecer estranho, e o senso comum pode até chamar essas pessoas de sem opinião ou Maria vai-com-as-outras, ou coisas do gênero, mas a teoria já foi comprovada e diversos campos do saber, como a antropologia, corroboram com ela. Outro ponto muito importante da teoria é que as pessoas não se calam e mudam de opinião somente pelas opiniões manifestas de seu grupo, mas pelo que elas pressupõem, deduzem, que seja a opinião dominante. Se alguém achar que seu grupo pensa de certa forma, ainda que, na prática, ele não pense assim, ela se adequará a essa opinião. Daí a espiral. Portanto, espiral do silencio. Deu pra entender? Isso mostra a importância da chamada opinião pública (ou opinião publicada, referindo-se à imprensa) e das pesquisas de opinião de intenção de voto. Se uma pesquisa vender (com credibilidade) que determinado candidato está na frente, ele pode vir a tornar-se por efeito das pesquisas, a partir da espiral do silencio. 
É manipulação. E o pessoal do Osmar Dias sabe disso. Quer manipular tanto quanto Beto. Ele quer tanto divulgar as pesquisas que supostamente mostram ele na frente para aplicar o efeito de espiral do silencio no público e consolidar sua vitória. Afinal, qual o problema de se "votar no escuro"? Não deixa de ser até bonito: as pessoas vão votar em quem realmente querem, sem o efeito psicológico da espiral. Principalmente em eleições apertadas, o efeito de espiral do silencio das pesquisas certamente pode definir as eleições. E Beto, sem moralismo, foi genial em conseguir evitar esse efeito. Se sair vencedor das eleições, é para entrar na história dos cases de comunicação bem-sucedidas. Há, claro, um efeito colateral que é a imagem negativa gerada a partir da divulgação da censura, das acusações de ser censurador, etc e tal. Portanto, é necessário fazer um balanço entre bônus e ônus, custo e beneficio. O processo está em pleno vapor. Ainda é impossível saber qual será o resultado de domingo. Vai ser emocionate.