sábado, 7 de agosto de 2010

A importância das pesquisas nesse momento (Ou: o momento de manipular)

Nos últimos dias, uma série de pesquisas foram divulgadas acerca das eleições presidenciais desse ano. O que chama atenção, muitas vezes, é a discrepância de dados entre as pesquisas de um ou outro instituto. Último dia 23, Vox Populi apontou 8 pontos de vantagem de Dilma na frente de Serra. No dia seguinte, 24, DataFolha divulgou pesquisa em que ambos estão empatados, com Serra numericamente um ponto à frente. Dia 30, Ibope seguiu similar à Vox, com 5 pontos a favor de Dilma. Ontem, 05, Sensus dá a maior vantagem para Dilma, 10 pontos. Três das pesquisas apontam, de certa forma, o mesmo fenômeno, a liderança de Dilma. Apenas o DataFolha é discrepante. A proximidade das datas, a meu ver, rebaixa a hipótese de reais mudanças do cenário. 
Muitos acham que as pesquisas eleitorais são manipuladas nas vésperas da eleição ou ao longo da campanha. Na verdade, salvo em disputas acirradas,  a tendência é que próximo ao resultado os institutos tendam a calibrar seus númeoros mais próximos da realidade, afinal, têm um nome a zelar. O verdadeiro momento de manipulação das pesquisas é este em que vivemos, por que: a) é o momento que realmente influencia no voto dos eleitores; e b) se provocar mudanças no cenário, o instituto pode dizer que capturou os números antes; se não as provocar, os "erros" podem ser corrigidos durante o tempo e atribuídos a outros fatores.
A despeito de qual instituto está certo ou errado, se é problema metodológico ou má-fé, proposital, o que não pode ser negado é a importância fundamental dessas pesquisas nesse momento, no inicio da corrida eleitoral (nas vésperas de entrar no ar o horário eleitoral). E por quê? Peço licença para ser acadêmico e resumir uma teoria que, certamente de conhecimento dos marketeiros, ajuda a explicar a importância dada a esse momento.
Uma intersecção entre os campos da comunicação e da psicologia, que explica a influência da televisão nas opiniões pessoais, é a Teoria da Espiral do Silêncio, de Elisabeth Noelle-Neumann. O pressuposto inicial dessa teoria é aquilo que também está presente em Bion de que o indivíduo se faz para o outro, se constrói a partir das expectativas depositadas nele. O individuo sempre busca, inconscientemente,  a integração à cultura do grupo a que pertence e para isso adequa e forma suas opiniões baseado nas opiniões de seu grupo cultural. Ou seja, as pessoas são influenciadas pelas outras pessoas, de seu grupo social, mas também (e principalmente) pelo que elas imaginam que as outras pessoas pensam e esperam dela. Diante de opiniões majoritárias, as pessoas se calam, evitando manifestar opinião contrária, e se adaptam à opinião dominante. Assim, uma opinião que não seja majoritária, se vendida como tal, pode se transformar em majoritária.
Essa teoria explica o tão afamado "voto útil". Mais do que não "perder" o voto, ele busca seguir ao desejo manifesto da socieadade, para, insconscientemente, se integrar a ela. É interessante nós olharmos esse fenômeno não com olhos críticos, de algo que deveria ser mudado, mas algo psicológicamente intrinseco às pessoas. Assim nós podemos entender melhor seus comportamentos. Por isso é importante estar atento às manipulações de pesquisas nesse momento e é importante para a campanha de Dilma vender, nesse momento, a imagem de que ela está na liderança. Pode ser isso que falta para lhe dar a vitória ainda no primeiro turno.

Em tempo: o artigo "A espiral do silêncio em dois episódios referenciais", de Antonio Hohlfeldt (publicado no livro "Comunicação na Pólis", organizado por Clóvis de Barros Filho) é uma excelente introdução dessa teoria à luz de casos da política brasileira.

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