domingo, 15 de agosto de 2010

Sobre mulheres vulgares e outras brasilinidades

Cléo Pires saiu na Playboy desse mês. Isso me assusta e me entristece. Nosso país ainda não é sério. Nosso país não é sério pois não nos valorizamos. Cléo Pires, ao contrário das prostitutas (como bem definiu Marcelo Tás) que tipicamente estampam essas revistas, é um boa atriz. Não gosto de ser etnocentrico e acho essa prática tenebrosa. Me causa nojo ver pessoas que falam "ah, mas no exterior...". Infelizmente, há momentos que isso é inevitável. No exterior... Não vemos as grandes atrizes americanas ou européias nas capas de revistas masculinas. Apenas no Brasil nossas grandes atrizes se sujeitam a sair na Playboy como se fosse uma grande coisa. Playboy, nos Estados Unidos, é para prostitutas, não tem prestigio nenhum, quanto mais o prestigio que tem no Brasil. Inclusive, nos Estados Unidos, as mulheres são frescas até demais com essa coisa de nudez. Na Europa, as atrizes são bem mais desinibidas em relação à nudez, mas nas obras  de "arte" (filmes, tv, etc). É normal explorar a nudez no cinema europeu, pois aí a atriz se entrega à arte, ao personagem; elas não saem nuas em revistas masculinas por dinheiro apenas. Quando vejo putas como qualquer dessas mulheres frutas, que estão na moda, posarem para essas revistas, acho normal, pois é, para usar uma expressão cara a meus amigos, sua função social. Mas me entristeço quando atrizes boas, de gabarito, se sujeitam a isso, se rebaixam a essa vulgaridade. Então percebo que, infelizmente, nosso povo ainda não se leva a sério. 
Existe outro exemplo, desse modo de nos encarar a nós mesmos. Outro dia, vendo tv, assisti uma dessas "propagandas institucionais". Acho que era do SBT, mas não tenho certeza. Falava do nosso país, exaltava e tal, para no fim falar sobre o voto consciente. Objetivava passar a mensagem que nossa atitudes individuais são as atitudes também coletivas. Tinha passagens como "a todos mataram o filho; todos nós furamos o sinal" Ou seja, é problema de todos. Até aí, só piegas, mas tudo bem. A coisa pega quando começa a exaltação das coisas boas do país e fala, basicamente, apenas sobre mulheres e esportes. Outros trecho "temos as mulheres mais bonitas do mundo, ganhamos cinco copas do mundo". Fiquei indignado com esse trecho e gritei com minha tv: e daí, porra?! Há outros trechos igualmente revoltantes, como quando fala "daqueles que jamais serão esquecidos" e a imagem que ilustra é a de Pelé, como se o ápice fosse o esporte. Fiquei indignado e revoltado como essa propaganda trata nosso país. Sério, o melhor que temos a falar sobre nosso país é que temos mulheres e esportes?!?! Algumas semanas atrás todos ficaram indignados com uma brincadeira de Stallone que ridicularizava o Brasil mas o que fazemos é passar justamente a mesma imagem e referendar o que ele disse. 
É revoltante, principalmente por que não é verdade. Se me perguntarem qual meu herói, tenho dois exemplos a dar. Um, claro, quem me conhece já pode adivinhar, é merecidamente Lula. O outro é Miguel Nicolelis. Sabe o que é triste? A maioria dos próprios brasileiros (e talvez até mesmo meus leitores) não sabem quem é ele. Indicado em 2008 ao Nobel de Medicina, é um dos mais brilhantes cientistas do mundo atualmente, e desenvolvedor da tecnologia que permite o controle de um esqueleto mecânico a partir de ondas cerebrais. Nos Estados Unidos, onde comanda um grupo de pesquisas de uma das maiores universidades do país, é considerado um gênio, mas no Brasil, é um desconhecido. Triste a desvalorização que o brasileiro inflige a si mesmo. Se queremos ser grandes, que os outros nos reconheçamos como tal, então temos que começar por nós mesmos. Creio que seja necessária uma mudança de mentalidade, gradual, que infelizmente não se faz do dia para a noite. Tenho a esperança que, um dia, verei isso. Mas não podemos sentar e esperar, temos que começar a nos mudar, hoje. O mais breve possível, por favor.

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