terça-feira, 17 de agosto de 2010

A escola

Outro dia, com alguns amigos, Mario, Gaucho e Jimmy, surge o tema e eles me perguntam: afinal, por que eu, tão inteligente, abandonei os estudos? Desconversei. Ainda é um tema com o qual não verso muito bem, mas me sinto feliz em já poder falar sobre ele. Freud diz que a libertação está em poder falar. Eu concordo inteiramente. Quando entrei na faculdade, isso era algo que eu escondia e demorou muito para que eu falasse a respeito com alguém. Sentia vergonha disso. Não que agora tenha orgulho disso, mas, hoje, falo de certa forma abertamente, e até já escrevi sobre isso aqui no blog, um espaço público. De fato, a libertação está em poder falar. Fico feliz em poder falar sobre isso. Mas por que, afinal, eu abandonei a escola? Para quem não sabe, eu parei de estudar entre a 4ª e a 5ª série (completei uma, mas nem começei a outra). Bem, houve uma série de razões, destacadamente duas. Sobre a possivelmente mais importante, é pessoal, e conto para os amigos que me perguntarem tranquilamente, mas não cabe ser mote de escrita aqui. Mas uma das razões (não a principal) que me levaram a abandonar a escola foi minha insatisfação com ela. Frequentei boas escolas, particulares. Mesmo assim, eram uma droga. Não gostava de ir para a aula. Quando abandonei em definitivo, já havia reprovado de ano três vezes. Hahaha. Sim, é verdade. Em todas, por falta. Eu era uma espécie de versão mirim do meu amigo Carlos e de como trata a faculdade. E não estou brincando. Eu era exatamente assim, muito inteligente, bom em conhecimentos escolares e extremamente desisteressado em frequentar as aulas. Desde cedo, sempre amei filmes. Mas nos idos dos anos 90 não existia internet, para baixar filmes e assistir a hora que quisesse. Me lembro quando lançaram o intercine, em que você podia escolher o filme que passaria no dia seguinte, era incrivel! E mesmo antes... Sempre adorei ficar as madrugadas acordado para assistir filmes. Resultado, nunca acordava de manhã para as aulas. Quando acordava e ia (sempre, sempre atrasado), odiava. Era insuportável aguentar as professoras passarem em um mês aquilo que podia ser dado em alguns minutos. Era insuportável. Não quero me achar, mas também não dá para negar. Uma das coisas mais insuportáveis que me lembro é do "ou seja". Foi na quarta série, se não me engano. A professora era meio que obcecada por essa expressão, eu acho, pois usava a absolutamente todo momento, ao escrever no quadro negro, ao ensinar. Enchia o quadro de ou sejas. Ficava indignado. Como disse, não quero parecer arrogante, mas com aquela idade, acho já escrevia melhor do que aquela professora. E questionava ela durante as aulas, sobre não ter sentido em usar tantas vezes essa expressão. Ela dizia que era para explicar melhor o que você estava tentando dizer. Me lembro que dizia algo como "Se você tem que explicar melhor depois é por que não explicou certo da primeira vez. É melhor você se expressar certo de uma vez, aí não precisa usar o ou seja". E assim foi indo. Repeti a segunda série uma vez, antes de passar. Repeti a terceira também, antes de passar. E repeti a quarta. Hahaa. E esta eu só passei por um chuncho da minha mãe com as professoras. Elas, em virtude da minha inteligencia, aceitaram, se eu fosse no último bimestre, e fizesse a última prova, alterar minhas presenças do resto do ano e repetir nos outros bimestres a nota que eu tirasse no último bimestre. Só por isso passei na quarta série. Haha. Ou seja, na prática mesmo, só fiz até a terceira, pois a quarta só frequentei no último bimestre. Então vieram outras questões, depressão, que funcionaram como referendo e reforço à essa tendencia e abandonei a escola definitivamente. Hoje, olhando para trás, me arrependo muito. São experiencias que não tive. Por isso (entre muitas outras coisas, claro) estou realmente adorando a faculdade. Ela é para mim o convivio escolar que nunca tive.

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