domingo, 8 de agosto de 2010

Sobre problemas dos outros

É um saco acompanhar na mídia o caso da tal iraniana condenada a ser apedrejada por infidelidade. Usam isso para atacar o Lula, dizer que o Brasil mantém relações com um país que não respeita direitos humanos, isso e aquilo. Pura bobagem. Lula, por incrível que pareça, aconselhado ou não por seus competentes assessores, tem demonstrado uma sabedoria de ciência política muito avançada, quando diz, por exemplo, que o Brasil não pode interferir nos assuntos de outros países. E a mídia grita: tem que impor sanções! Têm que romper relações! Infelizmente Lula cedeu à pressão popular e ofereceu abrigo à mulher condenada. Foi apenas um jogo de cena, importante para o momento eleitoral, pois ele sabia que não poderia ser concedido o asilo, mas agora ele pode falar: eu tentei. Ora, deixe-me explicar o que aprendi nas aulas de ciência política. Uma noção básica, simples, mas que as pessoas custam a entender. Cada país é absolutamente soberano dentro de seu território, e pode estabelecer as leis conforme queira. Conforme queira. Me lembro de um case, um exemplo extremo, usado para ilustrar isso. A Alemanha nazista tinha o direito, legal e legítimo, de determinar que dentro de seu território os judeus não mais teriam direitos civis. O "erro" da Alemanha foi invadir a Polônia, pois aí excedeu seus limites e direitos, e a partir dai começou a guerra. Mas enquanto a questão se restringia a seu território era seu direito fazê-lo. Chocante? Pode até ser, mas são as regras da política internacional. Os países são soberanos e podem estabelecer as leis conforme queiram. Ah, mas e o que os Estados Unidos e a ONU fazem?, perguntarão alguns. Não é limitar a soberania dos países? Sim, até fazem isso, com os mais fracos, tentando impor seu estilo de vida, sua mentalidade. Não quer dizer que estão corretos. E não digo que estão errados em fazer isso por causa de qualquer moralismo, mas por que para a ciência política, para a filosofia (e é sobre estas que se construíram as nações), cada país é absolutamente soberano dentro de seu território. Ponto. Por isso, estou esperando o apedrejamento da iraniana. Será o exercício de soberania das leis de um país soberano. Obviamente, não estou falando como cristão (como cristão, condeno a atitude, claro), mas como alguém que respeita o outro e o direito do outro país de estabelecer suas leis. Agora pondo em prática as lições das aulas de antropologia, é preciso nos relativizarmos. Só por que consideramos adultério normal, queremos impor esse pensamento a todos? Quem disse que nós estamos certos? Então acho certo matar por adultério?, poderão me perguntar. Aí que está a questão que as pessoas não entendem. Não há certos e errados. É uma questão cultural que deve ser respeitada. Respeitada não apenas (mas também) por princípios antropológicos, mas por que é direito soberano do país estabelecer suas leis conforme os preceitos que queira.

Em tempo: Vale ressaltar que a lei já existe já tempos e a mulher tinha conhecimento dela. Infringiu conscientemente.
Em tempo 2: Estão condenando o método, o apedrejamento. Ora, não é mais desumano que cadeira elétrica, que provoca sofrimento análogo.
Em tempo 3:. Não está sendo divulgado, mas ela foi condenado não apenas por adultério, mas por que seu amante (já executado) assassinou seu marido. Ela tem, portanto, parte de culpa nessa morte. E por isso morrerá.

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