quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Humor e pseudo-censura

Dizem que o CQC é de direita. Discordo. Não vejo isso no programa. Vez em quando transparecem suas opiniões, é verdade, mas isso não importa. Ainda que sejam, o que importa que é são talentosos. Gosto de assisti-los e (a maior parte) acho engraçado. Mas discordo veementemente de uma postura que têem adotado. Diz respeito à proibição do humor com candidatos durante as eleições. Já faz semanas esses vem numa reiterada campanha contra a decisão do TSE de proibir programas humorísticos de fazer graça com candidatos. Em parte, é compreensível a reação, pois estão defendendo o seu ganha-pão. O ruim disso é defender interesses próprios como se fossem coletivos, sob a bandeira da liberdade de expressão ou de opinião, ou mesmo da democracia. Não é nada disso e dizê-lo depõe contra eles. O CQC (mas não somente) faz questão de repetir o erro, de chamar a decisão judicial de lei. São coisas absolutamente diferentes. Chamar de lei, joga a responsabilidade sobre o executivo e o legislativo. A proibição, embora (como tudo num estado de direito) baseada em leis, partiu do judiciário, por medida suprema de um colegiado, o do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Passa-me a impressão de que querem criticar o governo indiretamente, quando este nada teve a ver com a decisão. Mas vamos logo ao cerne da questão em si. Defendo a decisão do TSE por alguns motivos bem evidentes. Primeiro, direito de expressão não deve se confundir com direito de chacota. Os candidatos tem direito a resguardar sua imagem pública. Segundo, o argumento de que o humor ajuda a democracia, o povo a conhecer os candidatos é falso. Ajuda, tão somente, a esteriotipá-los e transformá-los em humor. Não é isso que se espera de um momento solene como uma eleição. E, creio, talvez o mais importante argumento, é que o humor pode ser usado políticamente. Ele pode, sim, ser usado por grandes humoristas com intenções nada mais do que fazer graça. Mas se deixarmos o humor livre, todos poderão, com a desculpa de fazer humor, criar peças negativas contra seus adversários, atacar posicionamentos opostos aos seus. É uma questão perigosa. Ainda mais sendo que o humor é uma questão subjetiva. Mesmo que se aplicasse algum principio de igualdade (se faz piada com um candidato, tem que fazer com o outro), não há absoluta garantia de real igualdade. Por exemplo, um humorista tem preferencias pelo PT. Ele faz piadas leves com Dilma, para que não digam que a poupou, mas ao fazer com Serra, realmente cpricha na acidez. O humor com o adversário teria maior capacidade de denegrir sua imagem, e ninguém poderia comprovar que ele fez intencional. No limite, esse humorista hipotético diria "trabalhei no limite de minha capacidade criativa"; e quem vai conseguir argumentar contra isso? O humor pode ser perigoso, se usado políticamente, para fins político-partidários, e deve sim, ser proibido em momentos tão delicados e importantes como as eleições. Isso não se aplica, evidentemente, a todos demais momentos de nossa democracia, onde todos, inclusive humoristas, têm o direito de se expressar livremente, inclusive através do humor, sobre o que quer que seja. Mas nas eleições deve-se assegurar um duelo justo, limpo, e igual. Trata-se de uma questão maior, que é a democracia, e pelao bem da democracia deve-se impor limites à certas liberdades.

Em tempo: infelizmente, tal decisão que proibia o humor nas eleições foi suspensa hoje, por coincidencia, algumas horas após a publicação desse post. É triste ver a vontade da mídia manipulando a opinião pública e até nosso judiciário.

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