sábado, 2 de outubro de 2010

Em quem votarei e por que assim votarei

Vou começar esse texto contando uma história. Ocorreu em 2006. Apoiava totalmente Lula, mas gostava das pauta de reivindicações de Cristovam Buarque sobre a educação. Gostaria de votar em Cristovam Baurque. Um voto pela causa. Diante do impasse, nas vésperas do 1º, se haveria ou não 2º turno, e desejando ajudar na vitória de Lula já no 1º, fiquei extremamente indeciso. Na manhã de domingo, no dia das eleições, decidi meu voto. Votei em Lula. Posso dizer que, em parte somente, me arrependi. Não por Lula, que mereceu integralmente meu voto, mas por Cristovam, que teria também merecido meu voto, no 1º turno. Este ano, a história se repete. É extremamente irônico, mas logo eu, politizado que sou, nas vésperas do dias das eleições, ainda podia ser enquadrado no bolo dos indecisos. Mas este ano já houve um progresso. Consegui me decidir na véspera. 
Sou petista, mas votarei em Marina Silva e Beto Richa. Esta frase era para ser a abertura desse post, e também seu título original, mas tive que mudar. Primeiro, por que não é mais verdade. Segundo, por que não basta criar um slogan ao estilo “eu voto em...”, é necessária a dialética do debate, do argumento, da explicitação dos motivos, inclusive no título. Sou petista, mas voto em Marina Silva e Beto Richa. A frase é boa. A escrevi anteontem, quando comecei a rascunhar esse texto, mas não é verdade. Não mais. Acho realmente uma pena não existir na urna eletrônica uma maneira que eu justifique meu voto, aponte seus por quês. Temo que possam atribuir a outros fatores o meu voto, e não aos reais fatores. Mas ao menos posso esclarecer isso aqui. Vamos aos por quês.
Gostaria de votar em Marina Silva apesar de Marina Silva. Isso é muito importante de ser dito. Acho ecologia importante, mas não é o tema primordial. A célebre frase de James Carville, marketeiro de Bill Clinton (“É a economia, estúpido”), resume o que eu penso e o que muita gente como eu pensa. Quando falo de economia, não me refiro apenas ao nível micro da vida do sujeito, mas à soberania nacional conquistada com uma economia de mercado forte, que poderia ser ameaçada por empecilhos ambientais. Plínio de Arruda a acusa de ser eco-capitalista, e Marina tenta se defender disso. Para mim, acho que isso era um elogio. Mas falta a Marina um pouco de “capitalismo”, e sobre muito “eco”. Meio ambiente é essencial, mas ainda há outros temas que vêm a sua frente. Marina não parece achar isso e por isso digo que votaria nela apesar dela.
Como estudante de Comunicação, já escrevi aqui sobre os vários erros de sua campanha, entre eles bater apenas em uma tecla (ecologia) quando um presidente precisa mostrar que domina todas as áreas, e vender sua idéia de ecologia de forma errada, passando a mensagem de que “o consumo não pode ser desenfreado, tem limites”, que não conquista o eleitor, em vez que “com o desenvolvimento sustentável vocês poderão consumir ainda mais, para sempre”, que a teria mais chances de penetrar no eleitorado.
Então por que votaria em Marina? Primeiro, por que acredito ou quero acreditar em uma terceira via para o cenário político brasileiro. Alguém que pudesse ser capaz de unir PT e PSDB e governar com ambos. Ainda que essa seja uma visão um tanto romântica, quero acreditar nela. Sei que mais gente é seduzida por essa idéia e a campanha de Marina errou ao não reforçar essa mensagem. Marina, de uma forma ou outra, representa essa esperança, ainda que eu achasse que o candidato perfeito para enfrentar a polarização PT-PSDB seria Ciro Gomes. Infelizmente, não tenho Ciro Gomes para votar neste pleito.
Segundo, por sua trajetória de vida. Eu amo Lula. E Marina é o que há de mais próximo que existe de Lula. Mais um erro de sua campanha, ao não reforçar isso enquanto só falava de meio-ambiente (note-se uma contradição: os eleitores de classe média que são preconceituosos com Lula ser “analfabeto” votam em Marina, mesmo que ambos tenham histórias de vida similares. Não dá para entender). A luta e a garra da mulher adoentada, que saiu do interior da selva, e só aprendeu a ler e a escrever aos 16 anos. E depois nunca mais parou de estudar. Formou-se professora, e lutou a vida inteira. Essa história renderia lindos comerciais e pontes, para tratar do tema educação, mas ela nunca fala de educação, só de ecologia, infelizmente.
Votaria em Marina Silva por uma questão de foro íntimo. Me identifico com os aspectos já citados. Também sua trajetória dentro do PT. Ela sim, deveria ser a candidata do PT a liderar as pesquisas. Seria lindo ver Lula e Marina juntos. Os marqueteiros fariam miséria, nos comerciais. Seria emocionante. Infelizmente não é assim. Votaria em Marina mas não recomendo nem recomendei em nenhum momento o voto em Marina. Como disse, votaria em Marina por uma coerência pessoal, e também por acreditar que sua causa merecesse meu voto, uma vez que ele não faria falta ao PT. Desejo que Dilma vença, e vença no primeiro turno. Se em um sonho Marina pudesse ir ao segundo turno, seria algo realmente novo e impressionante. Teria que avaliar bem, mas poderia votar nela também no segundo turno. Mas ela não irá. Sendo assim, recomendo o voto em Dilma. Andei a semana inteira vestindo minhas camisetas do PT e de Dilma. No dia da eleição, irei vestindo minha camisa vermelha do PT. Meus amigos já brincaram comigo por causa disso, que sou bem estranho por causa disso, quero que uma candidata ganhe mas iria votar em outra. Pois é. Iria votar e votaria. Mas não mais.
Notem os tempos verbais do texto: “votaria”. O texto já estava rascunhado. No original, estava escrito “voto” e “votarei”. Era minha tendência, não consolidada. Tive que mudar o meu rascunho, já que mudei de idéia. Como disse, amo a história de vida de Marina Silva e tudo o que ela representa. Por que mudei de idéia? Até então, o argumento que estava posto para mim era aquele mesmo que havia me convencido a votar em Lula e não Cristovam em 2006, evitar o segundo turno e consolidar a vitória já no primeiro. Mas se o argumento fosse apenas este, existem saídas a ele, pois poderia votar em Dilma no segundo turno. Mas algo mais emblemático surgiu, hoje, que representa muita coisa, e me ajudou a decidir o voto. Leio na Folha noticia, de que o PV já se organiza e tende a dar o apoio a José Serra no segundo turno. Então se coloca algumas perguntas fundamentais. Como, Senadora, a senhora pretende se colocar como uma terceira via, quando já tende a dar apoio a uma das outras vias? Como, Senadora, a senhora quer fazer política limpa, quando o presidente do PV justifica o apoio a Serra com um “não desperdiçar o capital político obtido” (leia-se poder de barganha)? Ainda respeito tudo que Marina Silva simboliza, sobretudo sua linda história de vida em paralelo com Lula, mas ela desmanchou sua candidatura, em uma notícia.
Votarei Dilma Rousseff para presidência, amanhã. Não apenas para evitar o segundo turno, mas por que acredito ser o melhor para o Brasil. Por que penso isso? Poderia escrever muitas páginas a respeito, mas vou resumir em alguns pontos, simples. Não gosto de Dilma em si, nem acho que seria a pessoa mais preparada. Penso que o próprio PT teria alternativas muito, muito melhores, como Tarso Genro ou Aloizio Mercadante. Mas qualquer pessoa com um conhecimento mínimo de política e funcionamento de governo sabe que o governante não governa sozinho, mas com sua equipe (aí se encontra o problema de Serra, um intelectual inteligente, mas cercado da escória da política brasileira, como os “demos”). E na equipe de Dilma, que é a equipe de Lula, confio plenamente. Trata-se daquilo que José Dirceu falou, numa palestra em Salvador, se não me engano, e foi repercutido de forma negativa pela imprensa: esta não é a eleição de alguém por sua fama, por seu caráter personalista, mas a eleição de um projeto político, e por isso é ainda mais importante que a eleição de Lula. Eu voto no projeto político do PT. Me lembro de uma peça publicitária do PSDB veiculada somente na internet, e muito bem produzida por sinal, em que se acusa que Dilma não irá conseguir controlar os petistas. O argumento de acusação da peça para mim é mais um motivo para que eu vote a favor de Dilma. Ou melhor, no projeto político do PT.
Para o governo do Paraná, votarei em Beto Richa, do PSDB. Embora seja petista, não sou sectário. Não acho que as pessoas são boas ou más, a priori, por serem petistas ou tucanos. Assim como não gosto da direita raivosa que considera que todo petista é ruim, também não posso considerar que todo tucano é ruim. Abro uma exceção ao DEM, estes sim, todos ruins.
Já ouvi dizer, em forma de troça, que no Brasil não se vota a favor de um candidato, mas contra o outro. Em boa parte, trata-se da situação aqui. Não voto a favor de Richa, mas contra Osmar Dias. Não consigo suportar o que considero seu cinismo, chorando ao lado de Lula, sendo que há literalmente seis meses atrás era seu adversário e oposição no senado. Curso também Gestão Pública, e sei que os acordos políticos são assim mesmo. Estou hoje já longe na inocência do senso comum que crítica certas alianças. Alianças são essenciais para a política. Não critico a aliança de Lula com Collor ou Sarney, pois desde quando eram adversários até quando passaram a aliados passou-se 20 anos. Mudou o mundo e mudaram as pessoas. É perfeitamente plausível essas alianças. Mas a aliança com Osmar me parece por demais forçada, espúria. Além do fato que Osmar não está nem próximo ao pensamento ideológico de Lula ou da esquerda, ainda que tente se vender como. Osmar Dias é irmão de Álvaro Dias, que liderou a oposição raivosa e inescrupulosa contra Lula. Alguém tem a mínima dúvida que Osmar vai apoiar seu irmão para sua re-eleição ao senado, daqui a quatro anos? Escrevam o que digo, Osmar vai pular fora do barco governista, em algum momento, caso se eleja. Não vou, definitivamente não vou, votar em alguém que irá apoiar Álvaro Dias daqui a quatro anos para o senado. E Richa, que é do mesmo partido, acaso não vai? Vai sim, mas isso está claro. Ele não está fingindo uma coisa que não é, está sendo claro. Em última análise, pode-se dizer que prefiro os liberais convictos daquilo em que acreditam (ainda que eu discorde) àqueles que se transmutam de tempos em tempos, conforme as conveniências.
Gosto de pessoas com sonhos altos, talvez por minhas próprias características. Osmar está em fim de carreira. O que mais será, depois de governador? Richa, pelo contrário, está apenas no inicio e sonha alto, em chegar até a presidência. Pessoas com sonhos pequenos realizam obras pequenas; pessoas com sonhos grandes, realizam grandes obras. Não votaria, hoje, em Richa para presidente, pois os tucanos na economia e em relações externas são um fracasso. Mas no governo do estado ele não terá os poderes para interferir de modo negativo como seria na governo federal. Para minha percepção pessoal, o governo Richa na prefeitura de Curitiba não foi bom ou ruim, logo, não tenho nada contra ou a favor dele. Não sou contra dar a ele uma chance. Não creio, realmente, que Richa vá privatizar qualquer coisa. Ainda que quisesse, exatamente por seus planos maiores, ele não o fará, por saber que isso prejudicaria seus planos. Nesse sentido, é mais fácil Osmar Dias privatizar alguma coisa, por não ter perspectiva de futuro e poder fazer qualquer coisa que queira. Richa fará um governo extremamente bom no Paraná pois sabe que precisa ter o que mostrar para a campanha presidencial.
Para os legislativos, não há sombra de dúvida. Votarei na esquerda. Requião e Gleisi, para o senado. Dr. Rosinha, do PT, para deputado federal, por sua trajetória e por suas posturas adotadas no congresso nacional. E para deputado estadual, após alguma (muita) indecisão, na legenda do PSOL, por acreditar que a assembléia paranaense precisa de um radical, no momento em que se encontra. Um radical, ainda que despreparado, que seja oposição a Beto ou Osmar, quem quer que se elega. Votarei no PSOL, ainda que eu saiba que o partido não conseguirá eleger um deputado, infelizmente. 
Estou tranqüilo com minhas escolhas e realmente creio que são as melhores, para as diversas instâncias a que se referem. Seja quem forem os vencedores, o que importa é que façam o melhor pelo Brasil. E que assim seja.

Nenhum comentário: