terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O papel da universidade

No post anterior recorri à universidade para exemplificar o que queria dizer sobre méritos e condições sociais, e então me lembrei de um tema que acho muito interessante, e que co-habita um outro fato que ocorreu esses dias: qual o papel social da universidade?
Bom, nem sei se esta é a pergunta certa para o que quero dizer, pois abre margem para muitas interpretações, mas vamos lá. Como a universidade deve se comportar em relação ao acesso a ela?
Saiu esses dias os resultados do vestibular do CTCOM, da UTFPR: meus futuros calourinhos. Comemorou-se que a nota de corte foi alta (algo em torno de 700, coisa assim) e a concorrencia havia subido, para 14 por vaga, se não me engano. Bom, não sei por que se comemorou, mas não vejo como algo necessariamente bom. Já vou explicar.
Na verdade, entendo sim por que se comemorou, afinal, mais concorrencia no curso, significa que o curso é mais valorizado no mercado, o que dá mais valor pros nossos curriculos, pro curso, etc e tal. Mas que tipo de lógica é essa?
Me lembro da Maurini, comentando em algum momento do semestre passado, do seu plano/proposta para divulgar a UTFPR em cartazes por Curitiba, para fazer propaganda. Assim como acho que o governo não deve fazer propaganda, muito menos uma instituição pública de ensino deve fazer propaganda. "A UTF concorre com as outras universidades", me lembro dessa frase dela. Discordei no dia, e continuo discordando. É uma lógica mercadológica. A UTF não está no mercado (é pública, e seu aval deve ser qualidade, não propaganda), e não precisa de grande concorrencia.
Concorrencia de 14 por vaga, significa que a cada um que entre, 13 terão frustados seus planos. Mostra que sistema educacional brasileiro ainda tem um grande gargalo, e não dá conta de todos dos alunos que desejam estudar. O vestibular só é necessário por que não há vagas suficientes, mas poderia muito bem haver. Universalizou-se a educação básica e média, e sua continuidade, a educação superior também deveria ser universalizada. Se houvessem vagas para todos, claro que ainda haveria concorrencia pelas melhores universidades, pelos cursos mais desejados, mas esta seria bem mais baixa. Menos concorrencia, significa melhor distribuição e ampliação do acesso. Uma vaga, para cada um, deveria ser garantida. 
"Ah, Márcio, isso é 'se'.." pode-se argumentar. Ora, se não nos indagarmos com os "se" e os "dever ser" permaneceremos sempre na reprodução do estado de "ser" atual da coisas. Quero mudar, criar, não reproduzir. 
Então é este o questionamento principal que me lembrei e que quero refletir. Criticou-se, à epoca, que o ProUni iria patrocinar, com dinheiro público, vagas em universidades sem qualidade, ou de baixa qualidade. O principal argumento contra o Reuni do governo federal, que amplia os investimentos em universidades públicas condicionado à ampliação de vagas, é que, ao ampliar as vagas perderá-se a qualidade do ensino. Então chega-se ao dilema: ensino de qualidade para poucos, ou ensino sem qualidade para muitos? O ideal, claro, seria ensino de qualidade para muitos, mas devemos reconhecer que a realidade não é igual aos ideais. Devemos perseguir os ideais, claro, mas também nos atentando para a realidade. O que fazer, então? qual a solução? Me lembro de uma discussão (no bom sentido, academica, de troca de idéias) sobre esse tema da educação com o Prof. Rodrigo, logo no inicio que entrei na federal, e ele argumentou a favor da "banalização do estudo", baseado em um ponto especifico que me convenceu. Todos os países do mundo, que tornaram-se grandes, só o fizeram a partir da vulgarizção do ensino; ele deve se tornar acessivel a qualquer um, e não ser aquela coisa restritiva,  "dos melhores". Nisso, ele fez uma critica justamente a o sistema que considera quanto mais dificil de entrar melhor, quanto maior a concorrencia, melhor, quanto maior a reprovação durante o curso, melhor. O ensino não é para os melhores, mas para todos. Perde-se qualidade? Sim, perde-se. Mas salvo profissões de risco (engenheiro, médico, etc, que devem ser resguardadas) não há problemas em formar um mau profissional. Um profissional incompetente, mal graduado, é "melhor" do que um não-graduado. E, em meio a mil profissionais ruins, vai sair um que se destacará, um que será um novo gênio, que irá promover grandes mudanças. Um, que se o ensino não estivesse vulgarizado, jamais teria a oportunidade de chegar lá. Não aceitei o argumento na hora, demorei alguns dias pensando, e hoje penso que realmente concordo, em partes. Digo em partes pois tendo a uma visão mais centrista, ou dialética. Não devemos ter o estudo elitizado, apenas para poucos, mas também não podemos ter o ensino totalmente "banalizado", e sem qualidade. Penso que deve haver instituições e instituições. Deve haver a universidade abrangente, que esteja aberta a todos. Como de certa forma é a Litoral, atendendo ao povo dessa região, como outras universidades que estão surgindo. Mas também deve haver aquelas universidades que são centros de excelencia, e, por centros de excelencia, sejam de dificil acesso. Deve haver a Unila, que vai atender aos povos da fronteira, uma universidade de promoção social, como a Litoral também é (mas cuja qualidade do ensino não será comparável com a UFPR, por exemplo). Mas também deve existir os ITA's da vida, impossiveis de entrar; as Unicamp, desenvolvendo tecnologia. Isso que digo pode ser criticado como uma divisão de classe, como se propusesse que a qualidade deve ser para o ricos e aos pobres nada. Não é isso. Acho que devemos lutar em duas fronteiras. Ampliar a participação e o acesso ao ensino, mas também manter os centros de excelencia e inovação. Correntes políticas brigam para tentar provar qual está certo, quando as duas são necessárias e eficazes. Seja de que forma for, uma coisa é indiscutível. A grandeza de um país passa pelo fortalecimento da educação. Mais do que um discurso político, isso deve se traduzir em sentimento da população, que reinvidique quantidade e qualidade.

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