sábado, 27 de fevereiro de 2010

Do direito ao preconceito

Eu tenho um tese. Mais uma de minhas polêmicas teses. Na verdade, nem é minha, no sentido de ser uma construção própria. É um ponto de vista existente, ao qual me alinho, e defendo. Acredito que o ser humano tem o direito a ser preconceituoso. Por favor, deixe-me concluir até o fim, antes que tire conclusões precipitadas. No sentido societal (referente à organização da sociedade, aos modos de agir) sou um liberal. Acredito que o individuo é livre para agir como bem lhe parecer, e ninguem tem nada a ver com isso. Sou tolerante, e aberto a a quaisquer formas de pensamento. Na UTF, por exemplo, alguns até fazem piada, pelos amigos gays que tenho, da Litoral. Não é por que não compartilho de seus pressupostos ou de seus signos, que não posso conviver e ser amigo. Mas assim como há liberdade para fazer e pensar o que quiser, essa mesma liberdade vai no sentido contrário também. É uma via de mão dupla. Não se pode obrigar o outro à forma de pensamento dominante, não se pode obrigar o outro à aceitar o que não lhe parece correto, pois também o outro tem o direito do livre pensar e livre julgar. Sei que as posições que adoto são de ultra-liberalismo (até um pouco opostas ao meu pensamento político), mas o ser humano é assim mesmo, complexo e contraditório.
Me lembro de uma discussão (no bom sentido, saudável, acadêmica) que tive na Litoral sobre os direitos humanos. Ah, os direitos humanos. Que palhaçada, penso eu. Não gosto dos direitos humanos, tal como estão/são postos. Veja, os direitos humanos dizem que sou obrigado a respeitar o outro, a reconhecer o outro. Mas eu não sou! Eu tenho, e devo ter, o livre pensamento para não respeitar o outro. É como a questão ética - a partir do momento que vira regra, não é mais ética, mas sim regra; ela só existe na ausência de regras. Se sou obrigado a respeitar o outro, isso não é respeito, é regra, norma, imposição. Me lembro de uma crítica que um palhaço da Veja (prefiro não citar seu nome para não conspurcar esse ambiente) fez às redações do enem, que exigiriam que o aluno respeitasse os direitos humanos. Ele argumentava que o aluno, ainda que escrevesse bem, estaria impedido de adotar um ponto de vista "egoista". Passaria-se a se julgar a pessoa e suas idéias, e não sua escrita. Apesar de detestar esse crápula, concordo em boa parte com o que ele diz nesse quesito. Defendo a bondade, a fraternidade, etc e tal (quem me lê com frequencia não duvida disso) mas esta deve ser espontânea, autência, não ditada por regras. Retornando à discussão sobre os direitos humanos que tive, me lembro de expôr que o indivíduo era livre para pensar, e livre para pensar o que quisesse de seu semelhante. Diante do argumento que esses direitos humanos serviam para proteger o próprio homem, a nós próprios, e que não poderiamos atentar contra nós, lembro que argumentei que sim, nós eramos livres para, eventualmente, defender a auto-extinção, se chegassemos à conclusão que assim queremos. A professora me replicou perguntando "sim, pode até ser, mas baseado em que argumentos? me pergunto que argumento teria alguém para negar a própria raça humana?" Na hora não tive resposta, e a coisa acabou por ali. Depois pensei. Ora, não há absolutamente que se ter motivos. Eu não preciso estar baseado em nenhuma argumentação. Simples assim. Se o alemão quer considerar que o judeu é uma raça inferior, ele não precisa ter motivos ou argumentos para isso. Se o europeu quer considerar o negro também como uma raça inferior, também não precisa de argumentos para isso. Estão apenas na esfera de sua liberdade de pensamento. Por esse sentido, não se pode falar de "aceitar o outro", pois é um direito de cada um não aceitar o outro. Quando se faz campanhas "contra a discriminação", querendo acabar com o racismo, querendo acabar com isso e aquilo, é uma violência terrivel contra a liberdade de pensamento de quem pensa daquela maneira. É um verdadeiro atentado ao cidadão que têm por direito ser preconceituoso. Campanhas que tentam impor sua visão dominante de mundo (considerada apropriada em determinada época) estão fazendo justamente isso: impondo uma visão de mundo sobre o outro. Sobrepondo o pensamento hegemonico-dominante sobre o pensamento discordante. Ora, é meu direito de livre pensamento acreditar piamente, cegamente, com toda fé de meu coração, no que eu bem quiser acreditar. Alguns acreditam em Deus, outros em alienigenas, e outros em raças inferiores e superiores. É Direito deles pensarem dessa forma. Por isso acho estranho quando vejo discursos contra a homofobia, por exemplo, de pessoas acusando o outro de ser homofóbico. Ora, é direito do individuo ser homofóbico, e acusá-lo disso, é tentar violar seu livre pensamento, impondo o pensamento considerado "correto". Não existe nem existirá certo e errado. Por isso, a cada um deve ser dado o direito do livre pensar, para julgar e chegar à sua conclusão subjetiva. 
Mas veja, existem limites. Estou tratando a questão enquanto esfera de pensamento. Uma vez que o pensamento materialize-se, em forma de palavras ou atitudes, as coisas mudam de figura. Todos são iguais perante a lei, e esse principio deve ordenar as ações de cada individuo. O principio legal da igualdade está acima da liberdade de agir. A liberdade de pensamento está acima de tudo, mas a liberdade de agir é restringida pelos principios legais. Posso pensar que o assassinato não deveria ser crime, posso pensar em matar alguém, posso até defender no parlamento uma mudança constitucional que permita o assassinato. Mas uma vez que cometa um assassinato, serei um assassino, punivel conforme as leis. Qualquer um pode pensar que brancos sejam melhores que negros (e deferendo realmente que cada um tem o direito a pensar isso, se assim lhe parecer - a mim, não parece, que fique claro) mas no momento que esse pensamento se materializa como ação - quando se discrimina um negro na fila do banco, numa entrevista de emprego, onde for - então há um crime, punivel de acordo com as leis. Veja, eu sou absolutamento contra qualquer tipo de discriminação - acho um pensamento rude, para dizer o mínimo, que se não existisse teriamos um mundo certamente muito melhor. Deixei claro meu ponto de vista? Não defendo, em absoluto, a discriminação enquanto ação. Mas acho que todas as formas de livre pensar são por direito do homem.
Me lembro de ter logo no primeiro semestre, se não me engano, uma conversa na Lan do Nei (também conhecido como laboratório) com uma amiga do CTCOM, sobre uma outra amiga do CTCOM. Contava ela que se considerava preconceituosa, pois essa outra amiga era meio lésbica, comentava as coisas e tal, e ela considerava aquilo errado. Ela disse que respeitava, que tratava igual, nem comentava nada, mas que não conseguia considerar aquilo certo. Essa conversa de certa forma de marcou. Na hora não pensei numa resposta. Depois que fui raciocinar. (Já percebeu que às vezes as respostas me veem depois, né? Preciso de tempo para processar o pensamento.. rsrss.). Não disse para ela, mas gostaria de ter respondido: ora, você não é preconceituosa, não se julgue assim. Pelo contrário, o que você faz e pratica é o oposto ao preconceito. Você tem sua fé, no que considera certo e errado, e mesmo assim, trata indistintamente sua amiga. Ora, não ter preconceito não é aceitar o que o outro faz como correto. Pelo contrário, pois aí você só estará concordo com seu próprio ponto de vista. Não ter preconceito é, mesmo considerando errado, não o discriminar por isso. Justamente aí está a beleza que é não ter preconceito, e você não o têm.
Conviver com e nas diferenças. É o que tento, pessoalmente, sempre fazer. E isso, não se conquista por imposição do pensamento hegemonico, nem ditando regras. Só pode existir a partir da liberdade de pensamento, pois está numa esfera que jamais poderá ser controlada (assim espero) que é a do pensamento humano. Por isso defendo que o preconceito é um direito fundamental do ser humano, pois assenta-se fundamentalmente no direito de livre pensamento.

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