domingo, 10 de janeiro de 2010

Sobre Lula, cinema, e outras coisas

Outro dia, ontem na verdade, li uma péssima, péssima critica, de uma tal Mariane não sei das quantas (nem me interessa), na Preview (nova revista brasileira de cinema, muito ruim, por sinal. Todas revistas do genero, atualmente, são ruins) sobre o filme do presidente, Lula, o Filho do Brasil. A critica é ruim não por que eu discordo (e eu discordo) mas por ser mal formulada mesmo. Meu amigo Carlos fez uma critica melhor do filme (aqui), da qual eu também discordo em partes, mas bem construida. Não sei como gente assim (a tal Marianne) pode ser contratada e escrever pra algum veiculo qualquer publicável. Enfim...  Não ia tratar desse filme aqui no blog, mas como estou numa fase cinema, e essa critica despertou meus instintos mais profundos, como dizia o Bob Jefferson, vou falar dele.
Concordo que seja dificil separar a ideologia do cinema; nosso olhar é ideológico, queiramos ou não, e nossa visão de um filme assim, é maculada por nossas opiniões prévias. Até podemos tentar fazer o exercício de resistir, de analisar o filme fora de nossas concepções, mas diria mesmo que é quase impossivel. Quem gosta do Lula, já vai assistir com uma idéia pré-concebida, quem não gosta, igualmente. A discussão deixa de ser sobre cinema e passa a ser sobre política. O problema é quando pessoas pagas para escrever sobre cinema (não sobre política) em uma revista de cinema, fazem isso também. Mas tudo bem, vamos ao filme.
Tenho que analisar em duas perspectivas, enquanto Márcio, ser que é fã de Lula, e portanto com a visão afetada por seus pressupostos, e em uma tentativa de exercicio de neutralidade cinematográfica. Enquanto eu mesmo, Márcio, amei o filme. Raramente choro no cinema, e nesse filme, chorei o tempo todo. Foi incrivel, uma experiencia novissima. Não nego, e sem dúvidas, toda essa emoção foi pela minha admiração pelo Lula, não pelo filme em si. Chorei até quando ele recebe o diploma do curso técnico de torneiro mecanico, por exemplo, apenas uma das muitas passagens em que me emocionei. Cinematograficamente, não é emocionante (essa cena). Para mim, foi. Isso fora todas as outras cenas, emocionantes mesmo. Agora já partindo para uma análise mais cinematográfica. A qualidade técnica do filme é excelente, a estética com que os vários ambiente são retratados, propiciando uma diferenciação entre eles (a sutileza da mudança quase imperceptível de cor, nas lentes usadas pelo fotógrafo), a maquiagem que envelheceu Glória Pires, enfim... os 12 milhões foram bem investidos, e acho um filme de qualidade internacional. Certamente tem cacife (técnico e de enredo) para concorrer a premios internacionais. A questão do enredo. A tal (babaca) Mariane fala que o filme "tenta dar conta de todos acontecimentos"; é o oposto do que pensa o Carlos, que criticou a falta de alguns elementos, como o PT. Pendo muito mais para o lado da opinião do Carlos. Mas veja, o cinema é reducionismo, infelizmente. Uma coisa que não gostei, e que demonstra esse reducionismo, é quando Lula perde o dedo na prensa. Na realidade, o culpado pelo erro, por fechar a prensa em seu dedo, não foi ele próprio, mas seu colega, que trabalhava a seu lado (que fechou a prensa sobre sua mão). Sim, é verdade. Todos pensamos que a história foi ele mesmo que fechou, mas não foi. O filme reforça essa idéia do senso comum (para não dizer que imortaliza essa idéia), mas, por ser um reducionismo, faz sentido. É uma simplificação da realidade. Ele fechar a prensa é muito mais simples (para fazer a cena, e para essa cena ser inteligível ao público) do que complexificar com mais um personagem. Existisse outro personagem, a cena seria maior, precisaria mais apuro para passar a mensagem ao público, ser entendida, talvez até exigisse uma cena adicional, explicando ao público quem era o sujeito, como ficou a relação deles depois, etc. Assim, o cinema simplifica, reduz. O filme acaba bem, em um fato que o próprio Lula reconhece como marcante em sua vida, um divisor de águas, que foi quando saiu da prisão (auxiliado pelo então delegado Romeu Tuma, hoje senador da base aliada do presidente; outra simplificação que o filme não tem mesmo o dever de mostrar) para o enterro da mãe. Eu teria algumas correções estilisticas. A cena final, do carro da polícia saindo do cemitério cercado de manifestantes, foi "pequena" pro meu gosto. Criticar é fácil, claro, fazer é outra história. Mas uma grua mais alta, e mais algumas dezenas de figurantes, não teriam custado muito mais caro, e dariam uma dimensão mais grandiosa à cena final. Eu teria colocado bem mais gente, cercando o carro, enquanto a câmera se afastava mais. O corte final, antes dos créditos, aconteceu muito rápido, mais 2 ou 3 segundos teria sido o ideal. Mas isso é só estilo, não que seja um demérito do filme. Outra questão estilistica minha vs. Barreto, que xinguei em voz alta dentro do cinema quando vi (todos olharam pra mim.. hehee) foi a questão do título. Não entendo por que faz parte da tradição brasileira um título, os brasileiros precisam de um título no inicio do filme. Já há muito tempo, o que se faz internacionalmente (não só nos EUA, mas na Europa) é o filme começar começando, direto, sem créditos, titulo, etc, para não enrolar, chatear o público, e colocar o título no final do filme. Tamanha é a tradição brasileira por títulos, que uma vez, em algum momento do ano passado, lembro de ligar a tv na globo, e estava começando o filme O Chamado, que é assim, começa direto, com o título no final. A Globo editou o filme, canhestramente, colocando o crédito final, com o título, no inicio, antes da primeira cena. Horroroso. O filme (do Lula) começa já numa cena, e tem uma sequencia de cenas. Gostei muito, pensei comigo que finalmente o Brasil havia se livrado da maldição do título, então, depois de uns 10 ou 15 minutos, quando a familia deixa o sertão, entra o maldito título. Foi a pior escolha possivel entre todas as imagináveis. Ou se coloca o titulo no final, ou no inicio, como é o jeito classico, que não é mais tão usado, mas ainda é o modo classico. Mas, depois de 10 minutos de filme, quebrar a emoção pra enfiar um título no meio? Você divide o filme, quebra a emoção, e faz com que tudo que foi visto antes, em vez de se constituir como parte do filme, seja um mero prólogo. É horrivel. Esse recurso do prólogo, uma longa cena antes do título, foi um recurso muito popular nos anos 80, graças a Deus abandonado e não mais usado. Desmerece-se toda a parte inicial, relegando aquilo à prólogo. É horrivel. Mas, novamente, é questão estilistica. O filme, como cinema, é muito bom.
Acho que com isso encerro o que tenho a fazer do filme em si, mas ainda tenho outras questões, de entorno. A babaca da Mariane (detestei essa mulher) diz "A tentativa de ser o novo Dois Filhos de Francisco, evidenciada até no título, fica só na tentativa". Não concordo em absoluto com esse raciocinio, que se mostra um raciocinio ignorante, principalmente de alguém que se diz jornalista. Ou é ignorante mesmo, ou age de má fé. O título, O Filho do Brasil, é o mesmo título do livro, Lula, O Filho do Brasil, da (essa sim, verdadeira) jornalista Denise Paraná, escrito nos anos 90, muito antes dos filhos de francisco sequer sonharem em ir para o cinema. E depois, a comparação, a meu ver, é sem proposito. Primeiro por que o filme dos sertanejos foi bancado e incentivado por eles mesmos, em um exercicio meio egocentrico de ver sua vida retratada no cinema, enquanto o filme do presidente, em nenhum momento teve seu envolvimento, ou seu incentivo; era um projeto dos Barreto. Depois, as ambições. Os filhos de francisco é um filme simplista, cinematograficamente falando. Um filme sem ambições academicas, que objetivava somente o grande público. Se o filho do brasil objetiva também, claro, o público, as intenções são muito, muito maiores. Não lembro onde eu li a "confissão" de Fábio Barreto, que comentou, em algum momento das filmagens "ano que vem, pode ter certeza que o Brasil finalmente vai trazer o Oscar para casa". Não acho que a fala seja pretenciosa, ou megalomaciana, e salvo algum percalço no caminho (alguma obra de arte europeia, inesperada, extrema e excepcional que seja feita esse ano, que se torne imbativel) acho que as chances são reais, realissimas. Isso, claro, vai ser no Oscar 2011, não na edição que acontece mês que vem, por questões evidentes (ano de lançamento). Comparar O Filho do Brasil aos Filhos de Franscisco é rebaixar o filme de Lula, cujas pretensões são muito maiores, até internacionais.
Então entra em pauta uma outra questão, que é a questão supostamente eleitoreira do filme. Dizem que o filme vai ajudar o Lula, bla-bla-bla. Tudo bem que sou fã do Lula, mas existem alguns fatos da realidade que não podemos ignorar ou fingir que não fazem diferença. Primeiro, o Lula tem aprovação recorde de 80% da população brasileira. Ele já é um astro, sem o filme. Como eu li outro dia, não lembro onde, numa dessas seções de opinião dos leitores, de uma mulher que havia visto o filme e dizia que o filme não vai ajudar o Lula, pois o Lula não precisa disso. Pelo contrário, é o Lula que vai ajudar o filme, pois quem o aprova vai assistir. Acho que o filme tem muita influencia, isso sim, na perpetuação do mito, na construção da imagem do Lula para as futuras gerações, que não estão presenciando o momento da história atual, e aprovando (ou não) seu governo. Mas em relação à politica eleitoral, acusam o filme de tentar ser eleitoreiro. Primeiro, o filme fala da trajetória de vida do Lula, não da história do PT, por exemplo. Logo, fortalece-se a imagem do Lula, o mito, não a do partido. Se fosse a história do partido, ainda poderia ser acusado de ser eleitoreiro, mas não é. E Lula não é mais candidato. Se ele vai (ou não) conseguir transferir seus votos para Dilma, sua candidata à sucessão, é uma questão muito mais política que cinematográfica. Afinal, Dilma não está no filme, nem o partido. Acho que uma questão importante é a construção da imagem. Nossa, que DejaVù tive agora, parece que já escrevi sobre isso, mas enfim, prosseguindo. O cinema, assim como a imprensa, e outros mecanismos, constroem (ou desconstroem) imagens. O cinema já foi inumeras vezes usado para este fim. A segunda guerra mundial que o diga. Não é à toa que o segundo homem do governo nazista, abaixo de Hitler, era o ministro da Propaganda, Goebbels. Mas o Lula, meus caros senhores que fingem que a questão não existe, já tem sua imagem formada há muito, muito tempo. Para o bem ou para o mal. Mesmo quem o odeia, há que reconhecer que a imagem pública do Lula já está construida e consolidada. Logo, acusar o filme de eleitoreiro só faria sentido se ele objetivasse construir uma imagem, mas estamos falando do Lula...  Ele não precisa disso, como disse a leitora não-lembro-de-qual-site.
E, ainda que fosse, acho uma tremenda hipocrisia, afinal, é válido usar esses mecanismos. Oliver Stone lançou sua nada elogiosa cinebiografia de George Bush, o filme "W" no ano das eleições que consagraram Obama. Michael Moore lançou seu documentário Fahrenheit 9/11, um ataque explicito e gritante à George Bush, no ano em que este concorria à re-eleição, em 2004. Esses são exemplos que lembro agora, de cabeça, outros ainda melhores existem, fartamente. E ninguém bancou o santo, acusando esses filmes de serem eleitoreiros. E eram sim, eleitoreiros. Michael Moore, ao menos, militante do partido democrata, confessadamente tinha a intenção de influenciar sobre a imagem de Bush. Mas faz parte do jogo, é o que não entende (ou finge não entender) quem critica e não aceita a jogada. Seria anti-ético se feito com dinheiro público, mas se trata do primeiro filme da história brasileira feito sem ajuda de leis de incentivo fiscal.
Isso me lembro uma outra questão, os financiadores. Acusam que os financiadores do filme têm relações com o governo federal. Cabe aqui, uma série de perguntas que vai desmontar as maldosas insinuações que são feitas a esse respeito. Primeiro, qual grande empresa (afinal, para investir em cinema, são apenas empresas grandes) no Brasil, não tem relações com o governo? Não importa a área, praticamente não existe uma grande empresa no Brasil que não tenha relações com o governo, dado seu tamanho, e as muitas áreas que abrange. O governo é um dos maiores investidores do País, não há como não se relacionar com ele. Segundo, e daí que existem essas relações? As relações são líticas. Até que se levante alguma suspeição, e se prove, ou ao menos se demonstre fortes indicios, ainda que não comprovados (não adianta apenas acusar) são relações estabelecidas por liticações, por leilões públicos, e diversos mecaniscos pelos quais o governo estabelece suas relações. Nenhuma dessas relações é estabelecida pelo gosto pessoal do governante. Existe muita corrupção, é verdade, reconheço plenamente. Mas pessoas corruptíveis e interessadas em corrupção, estão interessadas no seu próprio favorecimento, ou do partido, e não em algo tão subjetivo e indireto como um filme. Quisessem essas empresas corromper licitações, teriam meios muito mais discretos que patrocinar publicamente um filme sobre a vida do presidente. Pelo contrário, isso as desfavorece, pois as atenções da mídia que é contrária ao governo petista irão vasculhar cada contrato dessas empresas com o governo federal, em busca de falhas, para acusar e tentar estabelecer um relação. Ou seja, patrocinar o filme é ruim para as empresas, caso elas quisessem corromper o governo. Ou alguém dúvida/discorda que existiriam meios mais discretos e eficazes de corrupção? Isso é uma falácia, uma grande bobagem. Terceiro, só para demonstrar a naturalidade do investimento dessas empresas, são as mesmas que patrocinam uma série de outros eventos, como peças de teatro, shows musicais, etc, alguns até ligados a outros políticos, com envolvimento com outros governos, estaduais, tucanos... Não são únicamente patrocinadores do filme do Lula. Não estou dizendo que são desinteressadas, ou fazem isso por amor à arte, incentivo à cultura, ou essas mentiras que os relações públicas dessas empresas gostam de contar... Estão, obviamente, interessadas no lucro que iram conseguir com a bilheteria do filme. Assim como no prestigio social (muito importante hoje em dia) de patrocinar cultura. Pragmatismo e interesse, mas não relações expúrias.
Para finalizar esse texto, quero apenas refletir um pouco sobre o mito e a popularidade de Lula. Como disse, a imagem do Lula já está construida há tempos, e só vai ajudar o filme (e não o oposto). Como muito bem argumenta André Forastieri no editorial da Movie (outra revista de cinema, a melhor, atualmente) o Lula é o maior ídolo do país, e um filme sobre ele seria natural de ser feito. Atentei à frase "o maior ídolo do país". É uma dimensão na qual eu ainda não havia pensado, e creio ser muito, muito importante. Creio ser de importancia extrema. Qual o significado disso? Alguém pode até discordar, dizer que o maior ídolo do país é a Xuxa, o Willian Bonner ou o último BêBêBê, mas é inegável que ele está na lista dos Top-5 dos maiores ídolos nacionais. Refletindo agora, acredito mesmo ele ser o maior, mas como (até onde eu sei) não temos uma pesquisa ibope ou datafolha sobre os maiores ídolos nacionais, vamos aceitar a relativização. Novamente me pergunto: o que isso significa? Por que significa alguma coisa. Acusa-se o Brasil de ser um país despolitizado, que a população não tem senso de julgamento nas decisões políticas, e todo aquele discurso recorrente. Mas o que dizer de um país, cujo maior ídolo é um político? Poderiamos ter uma Madonna da vida. Os adolescentes norte-americanos culturam as Britiney Spears da vida. Não sei dados maiores sobre ásia ou europa, então não vou dar uma de sabichão e chutar, mas acho que é tendencia mundial idolatrar os artistas, atores e principalmente cantores. Não acho que seja diferente no resto do mundo, nem no Brasil, e os filhos de Francisco estão aí para comprovar. Há países em que se cultua os esportístas. Mas em nosso país, mesmo com a admiração pelos artistas, esportístas, e cantores, o idolo maior da nação é um político, o presidente da república. Podem falar em culto à personalidade, mas é mais, é maior que isso. O culto à personalidade não é pela personalidade em si (como acontece com artistas, ou essas celebridades instantâneas que desaparecem no dia seguinte), está intimamente ligado ao seu sucesso e eficiencia como político. Não necessariamente quer dizer que somos, que já somos, uma nação polítizada, mas acho que pode dizer muito sobre o futuro. Gosto muito da questão da inspiração. Um filme que gosto muito é A Dama na Água, que fala sobre uma ninfa cuja missão é inspirar um autor para que escreva um livro que irá inspirar, no futuro, um grande líder a fazer grandes mudanças sociais. A mensagem é que às vezes a missão maior é apenas inspirar o outro a fazer as coisas. Acho que talvez uma das maiores realizações de nosso presidente ainda não tenha sido notada mesmo pelas pessoas que o exaltam mais veementemente, que é a inspiração às novas gerações. Uma das lembranças mais antigas e marcantes que tenho de minha infancia é das eleições de 1994. Tinha uns 9 anos. Minha mãe discutia veementemente com minha avó, sobre política. Minha avó dizia que votar no Lula seria bom, que meu tio Fernando gostava muito dele, e que um trabalhador no poder talvez mudasse alguma coisa, que seria bom mudar. Minha mãe gritava que de jeito nenhum, o Lula acabaria com o país, era comunista e iria dar tudo aos sem terra. Tenho várias outras lembranças de infância, de discussões políticas semelhantes. Cresci num lar assim, em que se discutia política, ainda que de forma leiga, e talvez por isso goste tanto do tema. Agora penso nas milhares de crianças de hoje em dia, vivendo em lares que, apesar de gostarem dos big brothers da vida, existe uma discussão política, e uma admiração real à um político. Tento pensar na inspiração que pode gerar nessas milhares de crianças, que um dia serão nossos adultos. Podem se interessar por política, ver que política não é ruim, não é desinteressante. Podem querer discutir política, como que a política era boa, quando eram crianças e o presidente era bom. Irão querer discutir isso, brigar por isso. O regime militar formou toda uma geração despolítizada, que era criança durante a ditadura e hoje são nossos adultos. Lula, ainda que não intencionalmente, pode estar formando uma nova geração de cidadãos, muito mais agerrida aos seus direitos, que discuta os temas nacionais, lute por eles, enfim, uma geração politizada. E mais do que isso, pode inspirar alguém a fazer o mesmo, pois se ele conseguiu, outros também conseguem. Acho que essa é a mensagem do filme, e essa é a mensagem da vida de Lula, e nesse sentido os dois estão muito sintonizados. Esperança. Não por acaso ou por mero marketing, também escolhida para ser a mensagem da vitoriosa campanha de Lula em 2002. O retirante pobre e inculto, que chegou lá. Esperança, para toda uma geração, de que ela também pode. Pode parecer piegas, e talvez seja mesmo, mas para pessoas que vivem no extremo da miséria, que enfrentam a dor diariamente, a esperança que amanhã pode talvez, só talvez, ser diferente, mudar alguma coisa, às vezes é a única coisa que mantém a pessoa viva, para frente. Ainda que não possam fazer nada, acreditar que podem, que poderão, os mantém caminhando. Esperança, não somente para seus eleitores, mas para toda uma geração, que ainda virá.

2 comentários:

Carlos Pegurski disse...

Não concordo em tudo, mas gostei da sua crítica, Márcio. =)

Anônimo disse...

[sem folego] MeuDeusdoCéu Márcio! Você escreve muito [quantidade]! Trate de trabalhar esta capacidade de síntese! A gente também consegue dizer muito falando pouquinho! hehe Porém, gostei muito do seu texto e das suas reflexões! Acho maravilhoso esta possibilidade que temos de ter olhares tão diferentes sobre um mesmo objeto. Em vários momentos do filme eu achei que o Barreto, ao "exaltar a trajetória do nosso Presidente da República" diminuía a vida de milhões de brasileiros. Talvez eu veja assim por não achar o Lula propriamente um heroí. O que não significa que eu não o admire, mas simplesmente para mim ele não tem essa aura. Nas eleições de 1989 eu, com meus sete anos, ficava irritadíssima com meu pai dizendo que ia votar naquele Barbudo horrível [para mim ele tinha cara de bandido]. Quando ele ganhou, eu fui pra rua comemorar. Talvez isso seja "retrato de um país", não é? 2010, frustrações a parte. O filme é como se o Barreto, ao colocar a "lente de aumento" na história "quebrasse seu encanto". Essa coisa de tornar pessoa em personagem, sabe? Colocar um rótulo no pai malvado ou na mãe boazinha. Como eu te disse, não sou cineasta, não sei como fazer... mas acho que esta mesma história poderia ter sido contada de forma bem mais significativa. Parabéns pelo texto! Até logo! Patrícia M.