quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Madison, Haiti, e o Futuro

Estava outro dia lendo alguns textos d'O Federalista. Foi um jornal, escrito pelos chamados founding fathers (país fundadores, em tradução literal) da pátria estadunidense. Não sou anti-americano; tenho criticas ao modo como o sistema capitalista se produz hoje em dia, mas também reconheço os grandes pontos positivos que existem. Fico abismado, realmente impressionado, como 3 homens (Madison, Hamilton e Jay), escrevendo artigos para um jornal, puderam literalmente invetar todo um sistema de governo. Todo o sistema político que a maioria do mundo adota hoje, não existia até a criação d'O Federalista. Todos os alicerces em que se baseia a moderna ciencia política, nasceu da discussão de idéias entre Madison, que depois se tornaria o 4º presidente norte-americano, Hamilton e Jay, sobre como fazer a constituição americana, publicados em forma de artigos, no referido jornal. O sistema em que os poderes são independentes mas exercem fiscalização e controle um sobre o outro, chamado "freios e contrapesos"; como deveria normalitazada a jurisprudencia; como funcionariam os tribunais; as nomeações para juiz, assim como as eleições para a câmara. Incrivel que algo pensado há mais de dois séculos atrás é rigorosamente o mesmo modo como é feito até hoje, inclusive no Brasil.
Então leio artigo hoje falando que o Haiti precisa, mais do que ajuda financeira ou humanitária, soberania. Soberania para decidir seus próprios rumos. Penso que oportunidade extraordinária seria, para o Haiti, reinventar-se, recriar um sistema, a partir de suas bases, que pudesse atender a suas necessidades, sem importar modelos pré-estabelecidos. Os fundadores da pátria estadunidense "criaram" os alicerces da democracia moderna justamente em busca de um modelo que pudesse atender às suas demandas, sem importar outros modelos. Está certo que o modelo criado funciona razoavelmente bem para todos países, mas por que temos todos nós que adequar-se ao modelo construido para atender inicialmente às demandas norte-americanas? Ora, não estamos no fim da história como queria Fukuyama, e se o homem já inventou a democracia, por que não pode inventar coisa ainda melhor? Ou aperfeiçoar? Ou reinventar? Falta coragem, falta criatividade, e falta uma causa a ser defendida. O Haiti é uma grande causa. Triste pensar que, por mais que o ser humano seja grande e capaz de superar suas próprias criações, o Haiti não vai criar um novo regime de governo, não irá revolucionar a ciencia política. Não por que não sejam capazes, mas por que não tem mais soberania. Estão presos ao discurso norte-americano, que um dia lutou contra o império e hoje assumiu seu lugar, impedindo que outros sonhem com o mesmo que um dia sonharam.
Faltam em nosso tempo homens como Madison, Hamilton e Jay. Mas não há que perder as esperanças. Existem inovações, ainda que queiram nos esconder, ou nos mostrar pelo lado negativo. A democracia socialista (ou socialismo democrático) de Chavez na Venezuela traz auspiciosas inspirações para um novo modelo de regime. Quem sabe daqui a 100 anos não leiam Chavez como hoje lemos Madison.

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