terça-feira, 6 de abril de 2010

Sobre mediocridade

Cada vez mais tenho considerado meus professores ruins, muito ruins. Há três hipóteses para explicar isso. A primeira é que eu estou cada vez mais de mau humor. Isso até ocorre um dia ou outro (bem frequente, ultimamente), mas a impossibilidade disso ocorrer em modo permanente depõe contra essa tese. A segunda é que estou cada vez mais exigente. Pode até ser, em certo áspecto, mas também não se efetiva completamente pois também reconheço as grandes qualidades de alguns poucos professores. A terceira hipótese, e mais plausível, é que sim, há um esforço coletivo em direção à mediocridade. Cada vez mais meus professores são terríveis. 
Terças-feiras, a professora de gestão de finanças adora não dar aulas. Já perdi a conta de quantas aulas ela não deu. Ou inventa artificios. Outro dia, passou um filme, que nada a ver tinha com o tema. "A gente não pode ficar com a mentalidade só focada numa coisa, senão perde a perspectiva", foi algo assim o que ela disse, para se justificar. Achei um absurdo completo. Total.  Ridículo. Fosse uma aula que eu gostasse, reclamaria sem dúvida. Gritaria. Como não gosto, por mim tudo bem. Azar de quem gosta (e há quem goste!) e não reclama. Essa é uma das piores professoras que já conheci. Um dia, não deu aula, sei lá por quê, e, para não ficarmos ao léu, nos enviou para ver uma aula de um outro professor, junto com a turma de calouros. Ridiculo, não? Esse outro professor até é bom. Conversando com ele no corredor, ele faz muitas referências, e realmente mostra domínio sobre o conteúdo. Mas nessa aula, ao menos...  poxa, que coisa! O sujeito conseguiu dar quatro aulas seguidas sobre burocracia, expôr toda a história da coisa, seu surguimento e desenvolvimento na China, a etapa européia e tudo o mais, sem citar o nome de Weber. Mostrou toda a coisa (que já tinhamos tido um ano antes. Por que estavamos ali mesmo?), como se fosse uma verdade absoluta, trazida dos céus, e não uma teoria elaborada por um sujeito chamado Weber. Simplesmente odeio omissão de fontes. Odeio quando não citam o autor.
Segunda-feira, tem aula de editoração gráfica, na UTF. É uma das piores professoras que já conheci. E nem é pelo seu jeito, por que é bem simpática e tudo o mais. Mas essas talvez sejam as piores, pois enganam... E não estou falando por causa da piada interna que se construiu entre nosso grupo masculino de amigos de que ela não tem alma. Falo por que ela não sabe ensinar e não gosta de ensinar. Um dia, no fim da aula, sobraram uns poucos alunos e iamos conversando, enquanto cada um arrumava suas coisas. Expôs ela muito de seu pensamento naquele dia e revelou por que é uma professora tão ruim. Disse que considera essa disciplina secundária em nosso curso, e que devia ser optativa. Disse "você sabe topografia? sabe (isso e aquilo, uns exemplos idiotas de design)? Então como posso te cobrar alguma coisa?!" O que se revelou foi um sentimento de corporativismo como raras vezes vi na vida (e olha que acompanho de perto as noticias dos bastidores do judiciário!). Havia contado de minha entrevista no Ministério Público e que o rapaz lá elogiou justamente eu ter editoração no curriculo, como ponto extra. Ela ficou irritada, com ciumes, eu diria, como se dissesse "vocês não são nem podem ser designers, por que não fazem esse curso". Tive vontade de lhe responder que desing não é ciencia e qualquer idiota faz. E é verdade. Não se faz medicina ou engenharia sem estudo e fundamentação, assim como também não se faz sociologia sem isso (ela é só isso, se você notar bem...  hahaa). Mas mesmo a comunicação, não requer fundamentação para ser feita, assim como o desing. Todas as teorias que tivemos de comunicação serviram sim, e ajudam, como um lastro para a prática, mas alguém que nunca ouviu falar de Kunsh, Teobaldo, Adorno, Habermas, Barbero e tantos outros pode eventualmente fazer comunicação muito melhor. Assim como saber topografia (ou era tipografia? algo assim) é um lastro que ajuda, mas alguém criativo pode fazer design muito melhor do quem sabe isso, sem nunca sequer ter ouvido falar nisso. Se tivessemos uma professora interessada em ensinar, né? Mas não temos... Sabe aquele tipo de pessoa que é dona do conteúdo? Então... Hoje (ontem, dependendo do ponto de vista) ela diz algo assim "em questão gráfica, eu não posso avaliar vocês, pois vocês não têm esse domínio". Porra, se você não vai avaliar em questão gráfica vai avaliar em quê? Nós não temos o domínio por que você não ensina. Se ensinasse, talvez tivessemos. É seu dever ensinar e cobrar que tenhamos esse domínio. Mas ela é pretenciosa e corporativista e acha que só se pode fazer design os que cursam design. É como se o Zama dissesse que não pode nos avaliar em relação à psicologia pois nós não somos psicólogos. Pô, justamente por isso temos uma matéria de psicologia, para aprender o essencial dessa área à comunicação, senão não precisariamos dela. Fossemos designers não precisariamos disso também, mas ao contrário, ela não ensina o essencial de sua área à nós. O Zama (na verdade, os autores que o Zama trás) analisa isso muito bem, em Psicologia da Educação, disciplina extra-curricular que estou fazendo nas terdes de sexta junto com a turma de letras, por puro gosto (como se tivesse pouco o que fazer). Disse ele, certo dia, que o professor tem que ter tesão em dar aula. Se não tiver isso, não tem nada. Não há nada pior do que um professor sem tesão em dar aulas. Isso se nota claramente nessa professora de editoração. Além de não ter alma, ela também não tem tesão.
Mas como disse lá no começo do texto, também reconheço algumas honrosas e gratificantes exceções. O Zama é uma delas. Como é um elogio, posso citá-lo. Omiti os nomes dos professores criticados para respeitar essa pseudo-ética vigente. Discordo metodológicamente em alguns pontos do Zama, como na compartimentalização do conteúdo: se estamos estudando Freud, é Freud, nada de citar Weber. Penso que é justamente quando você consegue fazer essa ponte, confrontando autores, conectando onde se contrapoem e onde se completam, que você realmente mostra domínio sobre o conteúdo. Mas isso é de ordem metodológica. As aulas dele são extraordinárias. Raras vezes vi alguém tão bom. Há professores (muitos) que fazem a aula sobre o nada, alicerçado no nada, apenas explanam, expositivamente, como se estivessem ensinando verdades absolutas (não teorias e teses de autores) para o ensino médio, e há outros (como um, semestre passado) que simplesmente pegam um livro e vão trabalhá-lo inteiro durante o semestre, sem discernir o que é ou não importante. O Zama dá os textos, originais dos autores, não comentadores, longos, densos e gigantescos, e nas aulas vai selecionando trechos e explicando o mais importante. Ou seja, ele dá uma aula de resumo, como os outros fazem, mas sobre algo palpável (a Valéria tem metodologia semelhante, e é igualmente boa professora). Uma coisa que me admirei, que não consigo conceber nenhum outro professor que tivesse esse preciosismo, foi certo dia em que, numa aula sobre Freud, ele dividiu o quadro no meio, para deixar claro o que era a tese do autor ("isso pertence ao campo da psicologia"), e o que era sua interpretação do autor. Praticamente todos professores que conheço provavelmente se deixariam contaminar por sua interpretação e a ensinariam. Mas o Zama, mesmo num curso de tecnologia (voltado ao mercado, não à academia) mostra uma preocupação com o saber, para que os alunos não confundam o autor e a interpretação do autor. Foi uma coisa bonita como raras vezes vi na vida.
Há muita mediocridade, mas também há coisa boa. Pouca, mas que vale por muita.

3 comentários:

Carlos Pegurski disse...

1) Sim, o Zama tem alma.

2) Sim, você anda um pé no saco.

3) Mediocridade é uma palavra pesada.

4) A omissão por todos compreendida é uma citação covarde.

5) Espero resposta.

Márcio disse...

1)Não estava falando sobre alma, mas sobre tesão.

2)Igualmente vc.

3)Discordo. Refere-se à mediano, médio. Se pensar bem, é até um elogio, ante a minha critica.

4)Concordo, em parte. Não acho covarde, mas não é correta. Ia alterar o texto, mas não seria honesto. Na próxima, atentarei melhor pra isso.

5)Respondido.

Carlos Pegurski disse...
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