quinta-feira, 1 de abril de 2010

O Paciente 67

Por esses dias assisti “Ilha do Medo”, novo filme do Scorsese. Se você ainda não viu, pretende ver e não quer ter a surpresa estragada, pare de ler por aqui. Esse texto contém spoilers, ou seja, informações e comentários sobre elementos importantes da trama e sobre seu final. Não teria graça fazer um comentário sem isso, uma vez que não estou escrevendo uma critica isenta para um veiculo jornalístico. Se um dia estiver nessa posição, o farei muito bem, mas não é esta a intenção hoje. Aviso dado, lá vamos nós.
O filme é excelente. Me reconciliei com Scorsese, que havia passado a odiar depois da merda (pela qual ganhou um injusto Oscar) de Os Infiltrados. Ilha do Medo; o título em português é muito ruim. O original, Shutter Island, ou Ilha Shutter, é bem melhor. Mas ainda melhor, excelente mesmo, é o título do livro no qual o filme se baseou: “Paciente 67”. Parece picuinha com o título, mas às vezes ele revela e significa muito de sua trama. O filme, ao mesmo tempo, consegue surpreender em sua seqüência lógica, ao mesmo tempo que não se dá a invencionices. Vou explicar. Mas explicar em termos diretos.
O filme tem duas linhas, digamos assim. Começa com o DiCaprio como o detetive que vai investigar a ilha. Aos poucos, vai se inserindo a idéia do paciente 67, de que ele (DiCaprio) deveria fugir, de que ele foi atraido à ilha, de que ele pode ser ali aprisionado. Lá pelo fim do meio e começo do final (depois ainda tem um bom tempo de filme, uma meia hora), é revelado (ou inserido a hipótese) que ele na verdade é um paciente, não um detetive. Ok. Um filme que quisesse "inventar" procuraria uma nova revelação no final, de que ele era sim o detetive ou algo assim. Ele não "inventa". Não precisa inventar. E isso é genial. No fim, o que é é justamente o que já estava sendo sugerido desde o inicio, o filme não tenta "enganar" o público. O que o próprio título do livro já sugere. O que mesmo no trailer já passava a idéia. Ele é o paciente 67. Genial. 
Outro ponto que também gostei foi o final. Ele deixa a coisa meio que em aberto, apesar de apontar para uma solução. Depois de "assumir" ser o paciente 67, parece que lembrou sua identidade, e é isso. Na última cena, no diálogo final, ao lado de seu parceiro/médico, fala novamente como se fosse o detetive. Indica que a assunção de ser o paciente era fingida. Ele caminha para a lobotomia, e sua ultima frase é: "é melhor morrer como um homem bom do que viver como um monstro". O que se entende? Ele sim, era o paciente, e enquanto paciente, fingiu que achava que era o detetive, para ser morto, mas morrer, como um homem bom (o detetive) a viver com a consciencia de sua monstruosidade (o paciente). Isso foi o que entendi. É minha interpretação.
Gostei, pela interpretação que fiz, pelo resultado final, e pelo caminho percorrido naturalmente até chegar nesse resultado, natural e não forçado, como se vê em muitos suspenses. Gostei. Recomendo.

Um comentário:

Anônimo disse...

bem penssada essa hipótese mas,não sabemos na realidade qual é o real final.