segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O que eu faria

Dizem que é fácil ter a imagem completa após o jogo estar jogado. Em parte, é verdade. O jogo eleitoral está no meio. Já dá pra ter uma imagem parcial, mas ainda não completa. Portanto, vou escrever já sobre o que considero erros das campanhas presidenciais e como eu, como comunicador, teria trabalhado essas questões. Modéstia à parte (quem precisa disso, não é mesmo? rsrs) sei que sou um bom, excelente comunicador, e que faria algumas coisas muitos melhores do que aqueles que estão no comando das campanhas.
Vamos começar pelo que considero o maior fracasso, pois seria aquele que teria a maior perspectiva. Marina Silva. A campanha de Marina Silva é razoável. Começou mal, melhorou um pouco, mas poderia ser bem melhor. Tem alguns graves problemas. O principal é que a candidata fala o que pensa e o que quer. Isso é um grave problema. Quando ela se eleger, faz o que quiser no governo, mas tem que entender que para vencer é preciso se conformar, se adaptar, a um modelo vendível. E ela não faz isso. Minha principal crítica a ela é aquilo de que já escrevi aqui: ela só fala de ecologia. Lugar de discurso único é o parlamento, onde se faz lobby por isso ou aquilo e se defendem interesses. Nenhum candidato ao executivo se elege na base do discurso único. Marina tem um grande potencial de crescimento, mas não consegue obtê-lo pois não conquista todos os setores, e não o faz por não se demonstrar capaz. Todos, absolutamente todos, já sabem que ela é a candidata do verde, portanto, não precisa ficar repetindo isso. Ela tem sim que demonstrar que, além de ecologia, pode tratar de segurança, educação, saúde... Aí ela ganharia. Mas continua falando sobre ecologia. Como seu marqueteiro, a primeira coisa seria exigir que ela calasse a boca e parasse de falar sobre ecologia. Se alguém lhe perguntasse sobre isso, que dissesse que já falou demais nisso e quer demonstrar que domina outros assuntos, e falasse sobre outros assuntos. Ela não falaria na campanha, mas poderia fazer no governo. Infelizmente não estou lá, e ela prefere inverter a equação. Outro dia, chegou ao cúmulo de dizer que o consumo desenfreado não pode ferir o planeta e por isso é necessário o desenvolvimento sustentável. Esta é a mensagem errada, pois diz ao eleitor que irá consumir menos. A mensagem correta seria que, com o desenvolvimento sustentável, ele poderá consumir mais, pois será sustentável, e o consumo irá durar mais tempo, pra sempre. Não importa se é verdade ou não, essa seria a mensagem vencedora. Outro ponto. A campanha de Marina tem um "quê" de Lula de 1989, principalmente pelo uso das celebridades, o que é muito bom. Mas o uso dessas estrelas está errado. Em vez que aparecerem individualmente, falando sobre Marina, eu colocaria todos eles juntos, como uma cópia descarada mesmo do famoso comercial do PT de 1989. Acho que daria mais certo. Há muitos outros pequenos erros, como a cópia estilizada de sua imagem da imagem estilizada de Obama nas eleições americanas. Acho que a cópia passa uma imagem ruim. Mas também há muitos acertos. A campanha não é ruim. Um grande problema dela não é de comunicação, mas de organização da campanha: ela saiu sozinha, pelo PV, sem alianças. Deveria ter havido alianças, ainda que com outros nanicos, por tempo de tv. A organização foi feita sem pensar na campanha, bem diferente da campanha de Dilma e mesmo de Serra. O cenário poderia ser melhor, nesse sentido. Um bom coordenador de campanha poderia ter brigado por isso.
Já José Serra é um problema sério. Sinceramente, acho que não teria condições para ele vencer essa eleição e acho que ele sabia disso desde o inicio. Talvez, em algum momento, até o inicio do horário eleitoral, houvesse alguma ponta de esperança, mas pouca. Assim sendo, não haveria trabalho de comunicação que desse jeito. Como sempre digo, não adianta negar a realidade e dizer que "vamos vencer". O primeiro passo é aceitar a realidade (internamente, na coordenação de campanha; óbvio que ninguém vai sair por aí dizendo que vai perder) para fazer um trabalho para maximizar resultados. Veja, o trabalho para vencer uma eleição é diferente do trabalho para maximizar resultados. A tática de atacar o oponente, bem ou mau, é uma tática quando se há chances de vitória, como no caso de Alckmin e Lula, e a quase virada no final do 1º turno. Para o caso de Serra, os ataques massivos com as histórias de quebra do sigilo fiscal e corrupção na Casa Civíl não são uma boa estratégia. Seriam se ele estivesse brigando pela vitória, mas não está. O que então Serra e o PSDB deveriam fazer? Para mim, deveriam consolidar posição. Um pouco do que o PT fez durante muito tempo: consolidou posição para vencer futuramente. Mas o discurso do PSDB e de Serra não é um discurso que consolide posições; ele é pontual, apenas. O que eu faria? Primeiro, já que a eleição já está perdida mesmo, usar esta campanha para resgatar a imagem do partido. Esconder FHC colabora com a tática petista, então por quê fazer isso? Mostrar FHC traz prejuizos imediatos, mas pode reverter a imagem futuramente. É isso que deveria ser feito. Reconstruir a imagem do PSDB, como partido que nasce lutando pela democracia, que cria o Real, etc e tal. Isso, lógico, formando o paralelo com Serra, o candidato, mas com uma ênfase bem forte no partido. Enfim, um trabalho massivo para reconstrução da imagem do PSDB, que atualmente nem aparece na campanha de Serra. Fazer o termo tucano deixar de ser um palavrão. Sem isso, o PSDB vai continuar perdendo eleições, uma atrás da outra. Outro ponto. Abandonar de vez e para sempre imagens do populacho, que soam falsas para absolutamente todo mundo. Pra que mostrar Serra caminhando junto ao povo, e depoimentos do povo, o apoiando? Não tem efeitos. O que eu faria é trabalhar um ponto muito positivo que existe a favor do PSDB: a administração competente. Eu, particularmente, penso que esta não é real, não existe de fato. Mas se criou a imagem, em torno da direita, de que experientes na administração privada, eles são também muito bons na administração pública. Em síntese, administram melhor. Penso, repito, ser só uma imagem, mas ela existe para as pesssoas, e é isso que importa, a imagem. Trabalhar a questão de que são melhores e mais eficientes, poderiam fazer tudo que Lula fez muito melhor. E nisso, mostrar a administração paulista de Serra. Ora, só são apresentados números, mas nada que remeta à idéia de eficiencia, que pontue as ações que foram tomadas. Substituiria os depoimentos de populares por depoimentos gravados em escritórios, com relatos de ações eficazes que o candidato tomou, na hora certa. Então, aí sim, faria a ponte, com o narrador dizendo que, aquilo que o Serra fez lá no escritório, veio fazer bem aqui para o povo pobre. Então mostrar os números do povo melhorando, mas sem depoimentos. O que essa mensagem passa? Que Serra está afastado da população, lá dentro do escritório, mas de lá, está fazendo bem ao povo. É uma mensagem mais condizente com a realidade, que soaria mais coerente, e portanto, geraria melhores resultados. Afinal, como li outro dia, quem disse que precisa ser popular para se eleger? Lula usa essa tática, mas ela não é a única; FHC se elegeu duas vezes longe do povo. Ah, mais uma coisa. Que história foi aquela do "Zé"? A mesma idiotice que quando mudaram o Alckmin pra "Geraldo", em 2006. Essa é uma noção básica da comunicação: imagem construida, não se modifica, apenas se trabalha pra melhorar. Como eu disse, seria uma campanha para (re)construir imagem e trabalhar terreno para o futuro. Algum dia terão que se dar conta disso e fazer isso. E acho que poderia ter melhores resultados do que a atual campanha.
Agora Dilma. Ai, ai. Bom, Dilma está ganhando, e acho que não há muito para se comentar. João Santana é um excelente marqueteiro e sabe o que faz. Os vídeos da campanha são espetáculares. Apenas tenho que confessar que, antes de começar a campanha, fiquei muito receoso quanto ao slogan e mote escolhido para a campanha "para o Brasil continuar mudando". Confesso que considerei um erro, em certa medida. Achei que a mensagem da mudança poderia gerar uma certa dubiedade no eleitor no sentido de que, afinal, está se pregando a continuidade ou a mudança? Eu não usaria isso. Mas Dilma está vencendo, o que mostra que está dando certo. Não sei se por causa disso ou apesar disso. A mensagem da mudança tem seu lado positivo, pois rouba essa bandeira da oposição e reaviva na memória os sentimentos de mudança que elegegam Lula em 2002. Ainda assim, acho uma mensagem dúbia. No mais, só elogios.
Para terminar, só é bom lembrar aos desavisados: fiz uma análise como profissional, do que eu faria em cada campanha. Não significa que estou torcendo por este ou aquele. Longe de querer que os tucanos se reconstruam, mas eu faria um trabalho melhor do que aqueles que estão lá. Quem sabe, se me contratarem, tenham alguma chance algum dia, né? Rsrs.

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