sábado, 18 de setembro de 2010

A arte de dizer sem palavras



Estava comentando outro dia com minha amiga Karla sobre as estratégias de campanha do Serra à presidencia. A campanha dele começou muito mal, e recentemente deu uma melhorada. As pessoas, às vezes, não entendem como que eu, simpatizante do PT, posso elogiar a campanha do Serra. Simples. Não estou cegado pelo partidarismo e não analiso aqui quem é o melhor candidato. Como comunicador, faço uma análise das estratégias de comunicação. 
Como argumentei nessa conversa, comunicar é, em boa medida, a arte de dizer sem palavras, sem precisar dizer (e nisso, questões teóricas como Análise do Discurso que muitas vezes são relegadas ajudam muito - entender e criticar, para depois colocar em prática). Excelente exemplo disso é o comercial levado ao ar recentemente pela campanha de Serra. Como não encontrei na internet, enviei ao YouTube. Encontra-se disponível, acima. 
Reparem na semiótica da peça publicitária. É genial. "Dirceu veio primeiro; afastado por corrupção" Imagem de Dirceu. "Dilma veio depois" Imagem de Dilma à direita de Dirceu. "Com ela, Erencie Guerra, afastada por corrupção" Imagem de Erenice à direita de Dilma. Da esquerda para direita, Dirceu, Dilma e Erenice. Dirceu e Erenice afastados por corrupção, Dilma entre eles. Qual a mensagem, semióticamente? Dilma está no meio da corrupção. Karla, minha amiga, respondeu "Pra mim eles estão dizendo muito claramente". Aí encontra-se a grande jogada. Ao receptor, a mensagem foi clara, foi entendida, mas não precisou ser dita.
Isso tem dois pontos positivos. Primeiro, evita processos. Se o narrador acusasse Dilma de corrupta seria passível de penas, mas a peça faz isso de modo semiótico, e quem vai usar semiótica num tribunal? Segundo, como não foi dito literalmente, leva o telespectador a achar que foi ele que tirou a conclusão de que Dilma está no meio de tudo. Claro que não foi ele; a mensagem está ali, mas o sujeito achando que foi ele próprio que tirou tal conclusão, tende a acreditar ainda mais, afinal, está acreditando em si próprio. 
Uma grande sacada da campanha de Serra, e uma ótima peça publicitária, principalmente pelo lado semiótico. Se a estratégia do ataque pessoal é boa ou não, e se vai ou não gerar dividendos, é outra história. Particularmente, acho que o caminho seria outro. No comando da campanha, faria algumas coisas bem diferentes. Mas esse já é tema para outro post.

Nenhum comentário: