terça-feira, 7 de setembro de 2010

Considerações sobre o comício de Osmar Dias

Hoje, dia 06 de setembro, houve aqui em Matinhos um comício de Osmar Dias, que incluiu Gleisi Hoffmann, Orlando Pessutti, entre outros. Requião, cuja agenda no site oficial marcava comparecimento, não apareceu. Como estudante de comunicação e com olhos analíticos, tenho algumas considerações a tecer. 
Interessante observar algumas estratégias de comunicação. Uma delas, o fato de ter muitas, muitas pessoas, devidamente identificadas, portanto e agitando bandeiras. Realmente muitas, até ostensivamente. Há duas interpretações possíveis, que variam conforme a pessoa. Uma positiva, de fortalecer a marca, que a campanha estaria forte. Outra negativa, que passaria a imagem da necessidade de fazer campanha ostensiva. É variável. Pude observar algumas pessoas que estavam à paisana, mas se dedicavam a também agitar bandeiras. Creio que também eram contratadas, mas estavam à paisana. Se isso for fato, é uma estratégia muito boa, pois passa a imagem que as pessoas também estão engajadas, pegando e agitando bandeiras. Isso leva outras pessoas, realmente público, a também aderir à prática. Psicologia básica. Ponto positivo.
Por falar em marca, me lembro de falar da marca de Osmar. É seu nome, Osmar, escrito em laranja e verde, com uma divisória em linha horizontal, coisa mais do que básica feita no photoshop. O fundo varia, às vezes branco, mas quase sempre também num outro tom de laranja. O laranja predomina. Agora entro numa seara da qual me interesso mas não tenho domínio pleno (alguns amigos o têm): a semiótica. Minha análise: o predomínio da cor laranja remete à agricultura, às plantações. Osmar é notoriamente ligado ao setor agrícola. Aqui, minha crítica à Osmar é a mesma que faço a Marina Silva. Quando o candidato jé é identificado a determinado setor, não há absolutamente nenhuma necessidade de se reforçar essa imagem. O que o candidato precisa é mostrar que domina também outros assuntos e, até em certa medida, dissociar-se daquela imagem para não ter cara de candidato de discurso único (estou falando do executivo; para o legislativo, o discurso único funciona). Portanto, assim como não faz sentido Marina Silva falar sobre ecologia (todo mundo sabe que ela é a candidata da ecologia), não faz sentido Osmar falar sobre agricultura (todo mundo sabe que ele é da agricultura). Ele tem sim que exaltar seu curriculo. Não há demérito nisso. Mas não se prender a somente um discurso, até mesmo em sua logo.
Por falar em discurso, vamos entrar numa seara que gosto, análise do discurso. Discurso, não da fala, mas dos atos e atitudes (estes também são discursos). O comício foi realizado aqui em Matinhos na segunda-feira, dia 06, véspera do feriado de 7 de setembro. O que isso diz? Qual a mensagem que passa? Ora, que o povo do litoral não importa. O comício só é realizado na véspera do feriado, quando a cidade está lotada de turistas. É a esse público, conjuntamente, que se quer atingir. Se eu fosse o coordenador de comunicação da campanha não faria diferente, afinal, tem-se que garantir público no comício e se puder matar dois coelhos de uma vez, melhor. Mas que esta é a mensagem que passa, é. Mas, sejamos sinceros, o grande povo não compreende isso. Então sigamos em frente. 
Outra ferramenta de comunicação muito interessante é algo que já havia visto antes, mas nunca comentei. Não sei exatamente como se chama, mas existe "posters" em tamanho real, do Lula, feitos em um papelão duro. Daqueles que existem com famosos. As pessoas podem se achegar a eles e tirar fotos, tal como se fosse o sujeito real. E por que isso é uma ótima ferramenta de comunicação? Nada a ver com Osmar, mas reifica a imagem de Lula como um astro, um ser superior, um mito. Ótima ferramenta para esses objetivos.
Mas vamos ao ato em si. Carros de som passavam pelas ruas, anunciando o troço para as 6 da tarde. Na agenda dos candidatos na internet, marcava 8 e 8:30. Coitado de quem não tem internet e acreditou no carro de som, né? Ficou esperando... Tudo bem que existe o pressuposto do atraso, mas... O ato foi montado em parte da praça central, que dá para a avenida Maringá. Na praça, em si, existiam um monte de barraquinhas e talz, das comemorações do feriado de 7 de setembro, creio eu (se não isso, alguma festa local). Uma coisa se imiscuiu na outra. Não é lá muito ético, mas uma boa jogada. Fui às 8:00, e tinha pouca gente. Voltei pra casa, visto que moro a cerca de quatro quadras apenas (uns 8 minutos, a pé).
Retornei próximo de 9:00. Um deputado qualquer falava, anunciando os demais. Cheguei na hora certa. Gente, um pouco mais que antes, mas nem tanto. Não há muito o que comentar nesse quesito. Ou melhor, há. O nome de Requião não foi citado uma vez sequer. Osmar, Pessutti, todos, falavam "nossa coligação, Dilma, Gleisi e Osmar." Ignoravam solenemente Requião. Osmar, ao dizer que continuaria com o programa do leite (para os pobres, algo assim, não sei direito), referiu-se ao "governo do Pessutti". Requião não foi sequer citado, uma vez sequer. Ele não está na campanha, e isso me deixa ainda mais leve e livre, quanto aos presentos compromissos que haveriam. Achei uma postura muito ruim.
Osmar, em si, detém uma postura ruim. Quando disse que Dilma se elegeria e que "nós somos a única candidatura que pode entrar pela porta da cozinha, para trazer recursos ao Paraná" filiou-se a uma idéia de malandragem, de corrupção. Ainda que a realidade seja assim, penso que certas (com)posturas devem ser mantidas. Negou, naquele instante, todas as vias institucionais que garantem a relação união-estado, quaisquer que sejam os governantes. Política pequena, essa que ele propõe.
Meu voto vai se consolidando. Ou melhor, meu não-voto vai se consolidando. Em Osmar, definitivamente não votarei. Ele não consegue dizer uma frase sem que, para mim, soe falsa ou hipócrita. Como já escrevi, a união de Lula com Sarney e Collor é justificável, pois dos outros tempos para hoje, mudou o mundo e muitos rios já correram pelas pontes, mas a união com Osmar Dias, para mim, não é justificável, ainda que eu saiba que política se faz com pragmatismo e alianças. Mas pense bem, eleger um Dias novamente para o Paraná é colocar o Paraná no atraso. É o mesmo pessoal que está aí, desde há tempos. Richa, bem ou mal, é algo novo. Não que o novo, em si, seja bom. Rodrigo Maia e ACM Neto são "novos" mas jamais sonharia em votar neles. Richa, no entanto, representa algo mais ou menos novo, que ainda não se demonstrou, efetivamente, nem ruim nem bom. É justo lhe dar uma chance. Desculpe-me meu amigo Carlos, e seu parentesco êmedebista, desculpem-me meus amigos socialistas, que querem derrotar o tucano só por ser tucano (não consigo pensar assim), mas, apesar de ser petista, em Osmar não voto.

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