quarta-feira, 28 de julho de 2010

Sobre o casamento gay

Semana passada foi aprovada na Argentina a lei que permite o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. O tema foi matéria de vários jornais e no Brasil movimentos lutam por lei semelhante. Não entendo, realmente, por que tanta polêmica a respeito disso. O que penso sobre o assunto, para mim, parece tão claro, que mesmo sempre procurando me relativizar, não posso deixar de dizer que é a posição correta, verdadeira. O que todos deviam enxergar. E o que penso a respeito? 
Se me perguntagem, respondei com a pergunta "Para quem você está perguntando?". Veja, existem muitos eus, existem muitos Márcios. Faço sempre o esforço de tentar separá-los. Me lembro de uma aula sobre Festinger em psicologia da comunicação em que, analisando o case da "petrobrax", defendi para o Zama, o professor, que a opinião do Fernando Henrique intelectual não afetava a opinião do Fernando Henrique presidente. Ele discordou da minha metodologia de dividi-lo em duas pessoas, mas sei de correntes teóricas que refedendam isso que digo, ainda que não saiba fundamentar isso hoje. Penso que não somos uma massa única de opinião. Nós somos cidadãos, somos trabalhadores, somos filhos, pais, conjunges, somos fiéis, somos amigos, somos consumidores e produtores, entre tantas outras esferas de nossas vidas. Em cada um desses momentos nós temos determinada opinião, e, creio, elas podem ser, sim, contraditórias. O que quero dizer com isso e onde quero chegar? Ora, o exercicio de relativizar-se exige que enxergemos pela ótica do outro. Sejamos objetivos, para não perder o foco. Acredito no catolicismo, apesar de não sê-lo (longa história, fica para outro dia). Sou cristão. Ainda que não fosse, teria a mesma opinião. 
Penso que as igrejas não devem aceitar o casamento gay. Elas têm esse direito. Faz parte de sua epistemologia e de sua crença. Qualquer crença tem o direito de estabelecer seus critérios internos de fé. No Islã, o homem pode ter até quatro esposas. No ocidente, apenas uma. Acaso as religiões ocidentais estão sendo preconceituosas com os homens que querem mais de uma esposa? Claro que não. Elas estabeleceram que, para elas, um homem pode ter apenas uma esposa. Elas têm esse direito, assim como o Islãmismo tem o direito de estabelecer suas regras de crença. Portanto, as religiões tem o absoluto e intocável direito de estabelecer que uma união correta é entre um homem e uma mulher, ou entre um homem e quatro mulheres, no caso do islamismo, e não entre homens e homens ou mulheres e mulheres. É direito deles. Intocável e inquestionável. Argumenta-se que as igrejas deviam se adequar aos novos tempos, modernizar-se. Ora, Igreja e fé não são o Estado. O Estado, sim, têm que modernizar-se, acompanhar as mudanças da sociedade. Não a Igreja. A fé não muda. As igrejas que cairem nessa armadilha estarão dando um passo adiante em direção à sua extinção. A fé é perene. Ou vamos querer adaptar as palavras de nossos Deuses (seja Jeová, seja Alá) para os dias atuais? Isso não faz sentido algum, pois se estaria abrindo mão de principios, distorcendo questões estabelecidas e criando, na prática, religiões diferentes daquelas que o são, em essência. Para mim, as religiões já estão modernas demais. Por isso acredito e defendo que as igrejas não devem permitir, nunca, o casamento gay.
Então eu sou contra o casamento gay? De forma alguma. Sou absolutamente a favor. Veja, até agora estava tratando sobre igrejas e seu direito inalielável de ter seus próprios preconceitos e exclusões. É um direito. Mas defendo plenamente o casamento gay (ou homo-afetivo, ou seja qual for a nomenclatura politicamente correta a ser usada) civil. E é nesse ponto que a coisa, para mim, parece tão clara que não vejo como alguém pode discordar ou pensar diferente. Desde há muito, em Montesquieu, Estado e Igreja são separados. Reconheçamos que, mesmo depois, a Igreja ainda influenciou muito as decisões de Estado, até o inicio do século XX. No entanto, hoje, isso já está superado. O Estado brasileiro, como a maioria dos Estados ocidentais, é laico, ou seja, não têm nem se filia a nenhuma religião. Portanto, os pressupostos teológicos de quaisquer religião não podem interferir nas diretrizes do Estado. Assim sendo, o que impediria o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo? Absolutamente nada. Mas quando digo isso, que se frise, absolutamente nada mesmo. Todos podemos ter nossas opiniões pessoais, gostar ou não, mas quando falamos de Estado, estamos falando do ente maior de nossas vidas, que deve regular nossos comportamentos. Para o Estado, todos somos cidadãos, não importa de que sexo, e o casamento é a união de dois cidadãos que assim desejam fazê-lo, não importa, para o Estado, se um homem com uma mulher, dois homens ou duas mulheres. Simples assim. Não há argumento contra. Então pergunto: por que já não é assim? Ora, não sei. Sei que deveria ser. E por isso acredito que eu seria um bom político, pois sei me relativizar, colocar de lado minhas crenças, me separar em vários eus. Ainda que meu eu religioso seja contra, meu eu estatal reconhece que este é um direito dos cidadãos, simples assim. Eu votaria a favor do casamento civil para pessoas do mesmo sexo. É seu direito, como cidadãos. Por isso, eu apoio esta causa.

Um comentário:

Merini disse...

Não sei se eu concordo com tudo o que você disse, Márcio. E no mais, é um bom texto e uma discussão boa. =]