domingo, 11 de julho de 2010

Bruno, o goleiro


Muito se tem explorado na mídia esses dias o caso do goleiro Bruno, do Flamengo, que supostamente (mas provavelmente) teria matado a ex-amante. Apesar do caso já estar se tornando batido, há dois aspectos que quero discutir, deixando um pouco a noção de moral de lado. Haverão aqueles que me interpretarão mal o que direi, e me julgarão, mas enfim...
O primeiro ponto é sobre a criatividade do caso. Ok, foi uma tragédia, o que ele fez foi errado, bla-bla-bla. Agora que superamos isso, vamos ao que interessa. Poxa, esquartejar e dar o corpo para 11 cães rottweilers comerem foi algo muito inteligente. Se não há corpo, não há provas, não há caso. Cadê o corpo? Provem onde está o corpo! Entenderam meu ponto de vista? Tá, ele é um monstro, tem sangue-frio, bla-bla-bla todo de novo. Disse que iria deixar a moral de lado. Foi inteligente dar a garota para ser comida pelos cães. Me lembrou um episódio dessa temporada da série Medium, em que o criminoso dá o corpo de uma moça, que havia sido assassinada, para os porcos comerem, assim livrando-se da acusação. Na verdade, é parecido até demais. No episódio, a linha de defesa é dizer que ela está desaparecida e não há provas que esteja morta, exatamente o mesmo que a defesa do goleiro fez, no princípio. Como o episódio é recente (alguns meses apenas), cabe perguntar: será que ele assistiu a série e se inspirou? Bom, ele não foi tão inteligente assim, pois foi mal feito, não foi eficiente ou eficaz. Principalmente ao livrar-se dos ossos. Concretou-os. Tipo coisa da máfia. Isso dava certo no passado, mas não mais. A grande desvantagem de concretar os ossos é que eles ficam ali, paradinhos, esperando alguém os descobrir. Tolice. Melhor teria sido outro lugar, em que, numa situação de contigenciamento, pudessem ser removidos para que a polícia não achasse. Tudo bem, não foi uma péssima idéia, mas também não foi das mais brilhantes, como o aspecto do corpo e dos cães. O que fodeu com tudo foi a fragilidade emocional desses merdinhas de comparsas, que já vão confessando tudo, por medinho. São uns retardados, pois se incriminaram pela promessa de vantagens posteriores no tribunal. Se não tivessem confessado (inclusive onde os ossos estavam concretados, numa casa) simplesmente teriam escapado, sem punição, sem provas.
O segundo ponto que quero discutir é a velha questão, que já tratei superficialmente aqui, que não sou eu quem levanta, mas a filosofia, de o quanto o belo compensa o feio, ou a arte compensa a monstruosidade, ou, inversalmente, a "monstruosidade" contamina o "belo". Nesse último sentido um ótimo exemplo, e já escrevi sobre isso, é sobre como algumas idéias de Goebbels e Hitler, muito boas e proveitosas para os campos da ciência política e sobretudo da comunicação, são simplesmente abominadas pois foram proferidas por Goebbels e Hitler. No outro sentido, há dois belos exemplos que me lembro agora. Elia Kazam, grande cineasta, mas que na guerra fria colaborou com o macarthismo, entregando companheiros e amigos, tornando-se um traidor. Apesar disso, recebeu um Oscar honorário, em 2004, em reconhecimento de sua arte, apesar de sua pessoa. Muitos entendem que a arte compensa desvios de caráter. A biografia de grandes compositores está marcada por graves falhas de caráter, mas nos esquecemos disso, em virtude de suas obras. Wagner era um veemente anti-semita, o que gera até hoje especulações sobre sua estreita relação com o nazismo. O mesmo vale para Richard Strauss. Outro célebre anti-semita foi John Nash, matemático brilhante criador da teoria dos jogos e do dilema do prisioneiro. Ele ganhou uma cine-biografia, estrelada por Russell Crowe (o filme, mediano, chama-se "Uma Mente Brilhante" e ganhou o Oscar de melhor filme, injustamente), cujos aspectos negativos foram todos simplesmente limados, ignorados ou apagados. Não pega bem, né? As pessoas não aceitam que as pessoas são boas e más ao mesmo tempo; exigem uma tomada de posição unilateral, e nisso há essa contaminação entre aspectos positivos e negativos, em que um prevalece sobre o outro. Mas onde quero chegar? O belo às vezes, tão belo, faz desaparecer o feio. Não sabia e soube recentemente que Bruno não era apenas um jogador, mas um excelente jogador. Pelo que soube, tem um recorde impressionante de defesa de penaltis, e estava sendo sondado para ser comprado pelo Milan. Ora, o Brasil precisará em breve de renovação de goleiro na seleção. Bruno é um excelente goleiro. É fato, goste-se ou não, que, para o Brasil, o futebol é como a música instrumental para a Alemanha. Essa é nossa arte. Não estou dizendo que seja a única, mas é algo valorizado por nosso povo. Sendo Bruno um artista de nosso povo, por que não deixar que sua arte supere seu lado monstruoso? Não estou defendendo isso ou aquilo, apenas levantando uma hipótese perfeitamente plausível, baseado em casos históricos. Como dizem, a arte compensa tudo. Será?
Apenas alguns pontos de reflexão sobre o caso, e por fim, deixo acima uma charge que achei realmente muito boa. Os ícones representacionais dos assassinos. A máscara de Jason, assassino dos filmes "Sexta-Feira 13", a focinheira de Hannibal Lecter, o canibal de "O Silencio dos Inocentes", e as luvas do goleiro Bruno, manchadas de sangue. Rsrss. Muito engraçado. Isso, já pra finalizar, me traz a mente outras duas questões. A primeira é que a luva, representando o goleiro, indica que este já está entrando para os ícones dos assassinos, já está virando um signo. Interessante, não? Ele já foi julgado culpado, e não há mais volta. A segunda coisa que me vem à mente, lembrada pela presença na charge de Hannibal Lecter, é a possibilidade de ele ter dado outros usos para partes do corpo da moça. Tendo a oportunidade, já que estava esquartejando mesmo, será que nem lhe passou pela mente (ou mesmo o fez) provar um pedaço, tal como Hannibal, o canibal? Afinal, ele já era mesmo um criminoso e pecador (se acreditar nisso), experimentar de nada acarretaria algo a mais... Não cru, obviamente. Mas depois de tanta literatura a respeito, na situação dele, eu experimentaria um pouco de carne humana bem preparada. Com vinho Chianti, como nos ensinou Hannibal.

P.S. Leiam todo este post como um relativismo de mim mesmo. Não são necessariamente minhas opiniões pessoais, mas provocações. Provocações filosóficas, sobre o ser e a sociedade. Se não entenderem isso, bem, vocês não entenderam nada...

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