segunda-feira, 12 de julho de 2010

Ingenuidade

O Cardeal Dom Odilio Scherer escreveu, no último sábado, um artigo, publicado no Estadão e disponível aqui, muito interessante do ponto de vista do resgate histórico que faz a respeito de Tomás Morus, santo protetor dos governantes e políticos e tomado pelo autor como exemplo de ética. Concordo com o ponto de vista de Scherer sobre a importância e necessidade emergente de sermos mais éticos, não cedermos em nossos valores. Contudo, o que me chama atenção e desejo comentar são os primeiros parágrafos, dos quais discordo e apontarei o porquê. Cito:

A campanha em favor da ficha limpa mobilizou, em todo o Brasil, milhões de pessoas que acreditaram na possibilidade da decência e da ética na política. Em Brasília houve quem apostasse que seria mais fácil a vaca voar do que esse projeto de lei de iniciativa popular passar pelo Congresso Nacional.

Surpresa! A vaca não voou, mas o projeto passou, a lei já foi sancionada e está em vigor. Agora é vigiar e clamar pela sua aplicação correta. O País agradece a tantos cidadãos que se empenharam para barrar, antes das urnas, pretendentes a mandatos políticos que não podem ostentar idoneidade moral para governar ou legislar.

Será bom para o Brasil. Muito bom.
Eu acredito sim, em certa medida, na força do povo. Ela se manifestou, bem evidente, por exemplo, em 2006, quando este se opôs à opinião da mídia re-elegendo Lula. Mas não dessa vez. O que houve não foi povo, nesse caso não existe a força do povo. Simplesmente não existe. Acreditar que o projeto ficha limpa foi aprovado por causa do povo, sua força, sua mobilização, ou o que quer que seja é ser muito ingênuo, ao extremo, ou estar ao lado de uma corrente ideológica que deseja vender esta idéia, mesmo não sendo verdadeira. É uma tolice acreditar que esta lei foi aprovada pela pressão que os cidadãos exerceram. Fosse assim, e diversas outras leis também teriam sido aprovadas. O fato de ser uma lei de iniciativa popular nada quer dizer; há dezenas de outras que vão para as gavetas. O que ocorreu foi uma conjugação de interesses. Interesses políticos e interesses da mídia. Esta sim, ao adotar o projeto por seus próprios interesses (que nada tem a ver com o povo ou com sua preocupação por este), exerceu pressão e influencia. Devemos ser menos ingênuos.

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