segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Uma esquina

Sarah e Marcelo caminhavam tranquliamente em uma manhã de domingo por uma região do centro de Curitiba. Domingo pela manhã, naquele pedaço da cidade, as ruas estão desertas. Surge vindo a eles um homem. Jovem, por volta de seus 30 anos, bem vestido, parecia que acabara de tomar banho, e caminhando estavelmente. Não estava bebado, nem parecia um medingo, apesar das marcantes bolsas sob os olhos. Também não dava a impressão de ser perigoso, um criminoso. Chegou a eles numa esquina:
- Posso falar com vocês?
Os dois estavam sem pressa naquela manhã. Pararam. Pararam naquela esquina.
- Eu sou alcoolatra. - disse o homem.
Toda a conversa não demoraria mais que alguns minutos, mas marcaria.
Valdir é meu nome, disse, e pôs a contar sobre si. Como viera de longe, e estava sem rumo nessa cidade.
- Por causa da bebida perdi tudo, destrui meu casamento, minha mulher me abandonou.
Hoje ele conseguiu se livrar de um vicio, substituindo-o por outro. "Começei a usar crack para parar de beber". Era isso que ele estava indo fazer naquela manhã, nutrir seu vicio. Apontou para a outra esquina. Um homem, de boné, parado, o esperava para vender seu produto.
- Eu quero parar, e sei que só eu posso me ajudar, mas não consigo. Vou atravessar a rua, e vou continuar.
- Você ter essa noção, ter auto-conciencia de sua situação, é um passo importante já. - disse Sarah.
- Não adianta eu ter essa noção, e não conseguir dar o próximo passo.
O silêncio reinou por um breve momento, que, mesmo breve, pareceu longos minutos.
- Eu estou aqui hoje, falando com vocês, pois preciso saber se alguém ainda se importa comigo, se alguém ainda está escutando.
Sarah só pôde dar um reconfortante sorriso a ele, como quem diz sim, estou escutando.
- Quando eu estiver mal, posso pensar em vocês? Pensar, acreditar, que alguem nesse mundo ainda se importa comigo? - perguntou aquele homem, com os olhos marejados.
Sarah abraçou-o.
Ele ajeitou a camisa e disse que tinha que ir. Após uma profunda troca de olhares com Sarah virou-se e pôs-se a andar. Sarah e Marcelo ficaram por um instante parados, observando. Eles seguiram seu caminho, para nunca mais cruzarem novamente com aquele homem, enquanto Valdir seguia até a outra esquina, o destino que o aguardava.
Sarah sempre pensa em Valdir.

***

História contada por minha amiga Sarah. Triste, muito triste. Quase chorei. Mas bela, pelos simbolismos que carrega.

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