terça-feira, 10 de novembro de 2009

Sobre cartas e outras coisas

Outro dia mandei um e-mail para meu amigo Carlos, sobre algumas questões filosóficas referentes a moral e religião; ele me respondeu, com sua opinião, e publicou essa resposta no seu "blogue" (a expressão é dele, por isso as aspas). Comentou sobre Cartas. Assim como ele, sempre gostei de cartas antigas, que servem de registro de períodos historicos. Particularmente, gosto de cartas que registram processos de criação. Há grande tradição literaria nesse sentido; cartas entre escritores, durante o processo de criação de alguma obra que hoje já tomamos por classica. Acho incrivel o registro, o acompanhamento desse processo, pelas cartas. Mas não só da literatura; cartas de Marx, cartas de João. As cartas dos anônimos também são interessantes. Servem para registrar as percepções às mudanças de cada época, na população de fato. Voltando à nossa carta virtual. Já que ele publicou a resposta, aqui vai o questionamento, ainda somente um inicio de indagação. Quando tiver uma opinião mais consolidada sobre o tema, quero retornar a ele. A bela resposta de Carlos, pode ser encontrada aqui.

***

Oi, Carlos,
Vc acredita que possa existir moral, sem uma noção de divindade?
Ia comentar isso com vc no churras, hj, mas lembrei da história do tempo de cada coisa, e achei que o momento estava muito mais divertido com as distrações, jogando bola e etc.
Mas é o seguinte: ontem de madrugada estava assistindo uma série (inglesa, eu acho. pq será que todas as séries boas eu penso que são inglesas? hehee) sobre ateismo. É The Atheism Tapes (As Fitas do Ateismo). São seis episódios, cada um com uma entrevista com alguma assumidade (um dos epidódios inclusive é com Arthur Miller, o dramaturgo), sobre o por que do ateismo e por que são ateus. (se vc se interessar posso gravar pra vc). É bem panfletário, ao estilo dessas igrejas neopentecostais de "venha para cristo", mas é interessante pelo lado oposto ao que geralmente é mostrado.
Então, só vi o primeiro episódio até agora. Nele o entrevistado, um filósofo ingles (não lembro o nome) argumenta que a tese dos "crentes" é que não existe bem sem deus, mas que, para ele, pode sim existir noção de moral, de bem, mesmo sem um deus. Ele diz que não é Deus quem cria as noções de bem, mas isso já está dado na sociedade, e deus só serve para referendá-las. Assim, a sociedade já havia decidido que matar é ruim e roubar é ruim, e o mandamento cristão só serve para referendar essa decisão, ele não cria essa noção. Ele diz inclusive que, se Deus disesse hj que matar ou roubar é bom, que pode ser feito, diriamos "não, deus está errado" por que, para ele, o que importa não é Deus, mas as noções já formuladas na sociedade.
Bom, aí eu posso refutar ele com dois exemplos. Um, na própria biblia, a história de Abraão que, ordenado por Deus que o fizesse, estava disposto a sacrificar o próprio filho. Dois, algumas das correntes islâmicas, que acreditam que é correto matar em nome de Alá, e eles o fazem. Então, pra mim, Deus (ou a noção de Deus) pode sim mudar as concepções postas na sociedade.
Mas a questão essencial pra mim é: realmente não consigo conceber a noção de bem, de bondade, de moral, sem uma noção de Deus, ou equivalente, seja judaico, espirita, mulçumano, etc, enfim, de uma divindade. Mesmo a noção de comunismo, de socialismo (que as pessoas veem como oposição à religião), eu não consigo conceber sem essa noção de divindade superior. Por que? Ora, se pensarmos que, de fato, não existe um todo maior que nós, por que haveriamos de nos preocupar com o outro? Esse cara, desse episódio, diz bem isso: não existe nada mais. Mas veja, se não existe nada mais (uma jornada de aperfeiçoamento, seja o que for) por que vou me preocupar com o social, com a comunidade, com meus irmãos e vizinhos? Posso até não roubar e matar, por motivos apenas pragmáticos (o prejuizo que teria, prisão, etc, seria maior que os ganhos/benefinicios), mas uma vez que os beneficios fossem adequados, que a situação fosse boa para mim, eu mataria e roubaria sem problemas. Afinal, não há nada mais. (o "eu" aqui é figura de linguagem para designar as pessoas). Sabe, nesse cenário, a lógica liberal passa a fazer todo sentido, aquela coisa do eu agir apenas em meus próprios interesses e nada mais.
Sabe, tento pensar pela lógica deles, mas realmente não consigo conceber moral e bem sem uma divindade maior. O que vc acha, pensa, sobre isso?
Um grande e fraterno abraço...

Um comentário:

Anônimo disse...

Oba! Merchandising!