quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Alcorão?

Hoje entrei na Livraria Curitiba, no Shopping Estação. Após buscar com os olhos por um atendente, me encaminhei até ela. Jovem, aloirada, bonita, 20 e poucos anos.
Perguntei:
- Queria saber se vocês têm o alcorão.
- Alcorão? - Perguntou ela, de volta.
- Uhum, o alcorão - respondi, pensando que ela apenas não tinha compreendido a pronúncia e estava confirmando.
- Hum, não conheço esse - Respondeu ela, me causando estupefação.
- O livro sagrado do Islã? - Disse, com a entonação de "você não conhece?" - A bíblia deles - completei.
- Ah, então deve estar lá em religião. - Disse ela, tencionando o pescoço na direção indicada, como se tentasse ler de longe o nome da seção, enquanto esticava o braço e apontava com o dedo indicador.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Justiça e Direito

Certa vez, a convite de uma grande amiga, participei de uma palestra sobre direito criminal. O palestrante iniciou sua fala com uma frase que, na época, achei indignante, mas mais tarde descobriria se tratar de um mandamento informal nos cursos de direito. Disse “A justiça não importa. O que importa é o direito”. Aquilo ressou em minha cabeça por muito tempo. Pessoas mais ideológicas, como eu era então, podem não conseguir enxergar a diferença entre justiça e direito, ou se indignar que estes caminhos sejam por vezes distintos. A justiça é subjetiva. O que é justiça? Justiça moral, justiça social, tantas noções de justiça são possíveis. O direito não. Refere-se à lei, aos direitos individuais e sociais que são constituídos e não podem ser mudados. É a segurança que o individuo tem das regras do jogo. Por isso se diz que vivemos num Estado de Direito, constituído por regras e direitos, ao qual todos somos submetidos.
Lembrei-me dessa dicotomia ontem, debatendo no twitter sobre o argumento de Osmar Dias, candidato ao governo do estado, de revisar os contratos dos pedágios por terem “gordura de lucros”. Argumentou-se que o pedágio é injusto, os lucros exorbitantes, as tarifas são uma exploração, etc e tal. Concordo com absolutamente tudo. Não é justo as concessionárias explorarem o povo dessa forma. Mas argumentei que o argumento não seria juridicamente válido. A justiça não importa, mas o direito. O direito constituído, firmado num contrato, que dá direito a essa exploração. Definitivamente não é justo, mas é de direito deles. Assim como a lei Ficha Limpa pode até ser justa, mas não é legal. Seria mais do que justo punir políticos que renunciam para fugir da cassação, por exemplo, mas quando o fizeram era direito deles fazerem isso, sem sanções. E o direito não retroage. 
O direito muda, claro. E por isso penso que nós, o povo, cidadãos, agentes políticos, nunca devemos perder a noção de justiça como tristemente os agentes jurídicos são obrigados a abandonar. Mas também não adianta basearmos apenas em nossos pressupostos de justiça para tentar mudar o mundo. É preciso entender que o que importa é o direito para, entendendo isso, nossas ações possam ser ainda mais eficazes. Para que possamos mudar o direito.
O caminho ideal é quando direito e justiça convergem, trilhando juntos um mesmo caminho. Talvez seja o dever maior de todos nós colocar ambos nesse mesmo caminho. 

domingo, 26 de setembro de 2010

O Voto em Branco e o Voto Nulo

As eleições estão perto e um tema muito importante, permeado de lendas e equívocos, e que gera muita confusão para as pessoas é o voto em branco e o voto nulo. Vejo muitas, muitas pessoas (de todos meus círculos sociais), fazendo confusão entre os conceitos, do que significa ou representa cada um. Sem querer ser pretensioso, quero explicar isso hoje. Vou explicar o que significa isso para os diversos campos que podem ter implicação.
Primeiro, em termos práticos e legais, para os resultados das eleições. Voto em branco e voto nulo são rigorosamente a mesma coisa. Nenhum dos dois interfere em nada no resultado das eleições. 
Talvez o maior equívoco que existe é que os votos em branco vão para o candidato que está ganhando. Isso está completamente errado. O TSE ao apurar o resultado descarta os votos brancos e nulos, e trabalha somente com os votos válidos, ou seja, aqueles que foram dados a candidatos. Se em uma hipótese, 60% da população votar branco ou nulo, somente os 40% válidos serão levados em conta. O candidato que tiver mais que 50% dos votos válidos será o vencedor. Ao votar em branco ou nulo você está ajudando, claro, o candidato que está na frente, pois podia estar votando em algum outro mas não está. Essa é a única forma que seu voto branco/nulo influencia o resultado (você podia dá-lo a outro candidato, mas não fez isso), mas de forma alguma o voto branco é transferido ao candidato que está na frente.
Outra lenda: dizem que se o voto não-válido, branco ou nulo, vencer as eleições, terá uma nova eleição. Errado. Lenda. Existe um dispositivo no código eleitoral que trata da "nulidade das eleições", o que se fez criar essa lenda urbana. A nulidade que a lei trata se refere a quando determinada mesa, seção ou colégio eleitoral tem a votação anulada, pela justiça ou pelos fiscais, por motivo de fraude. Se mais da metade dos votos for anulado por motivo de fraude, aí sim teria uma nova eleição. Mas convenhamos, isso não vai acontecer, né? Por causa do seu voto nulo ou branco? Nem pensar. Ele é simplesmente descartado.
Agora, em termos simbólicos, por assim dizer. O que representa esses votos? O voto em branco não é recente. Existe desde que existe uma eleição. Em termos filosóficos, na história, o voto em branco sempre representou repúdio aos candidatos existentes. É como se o eleitor dissesse: se são estes os candidatos, votarei em branco. Em eleições que ainda seguem os preceitos tradicionais do que significa e representa o voto em branco, como da ABL (Academia Brasileira de Letras), o voto em branco conta como voto válido, e até pode impedir que um candidato se elega (caso o branco ganhe), como também impedir unanimidade. O voto em branco não é descaso ou “tanto faz”. A abstenção é que representa isso. Quando tanto faz o candidato, o eleitor se abstém de votar. Quando ele repudia os candidatos, então ele se dá ao trabalho de ir votar e vota em branco. O voto em branco é considerado uma coisa séria. Na ABL, são raros os casos de voto em branco (enquanto a abstenção é freqüente), pois isso representa uma ruptura. Repúdio é a palavra. Esse é o termo, preciso, do que significa do voto em branco. 
O TSE vai contra a postura clássica do voto em branco contar como voto válido, não considerando ele para as eleições, por questões práticas (não poderíamos ficar à mercê de não eleger representantes). Oficialmente, o TSE não esclarece a interpretação que dá a cada um dos votos, nem lhe caberia interpretar isso. Apenas identifica o que é considerado cada um. Segundo texto oficial, o voto em branco é aquele em que o eleitor não deseja votar em nenhum dos candidatos, enquanto o voto nulo é aquele dado a um numero/partido/candidato inexistente. 
E aqui entra uma questão muito importante. O voto nulo simplesmente não existe na história. O voto nulo não existe, legalmente. O voto nulo não existe, de nenhuma forma. O que é o voto nulo, então? É simplesmente um erro. Como diz o texto oficial do TSE, é o voto dado a um partido/candidato que não existe. Você queria teclar um numero, teclou errado e confirmou. É simplesmente contabilizado como um erro, tal qual os norte-americanos que não conseguem perfurar corretamente a cédula e cujos votos são anulados por isso. Erraram. Algumas pessoas reclamam que não existe uma tecla de nulo. Isso seria um absurdo. Seria como pedir que existisse uma tecla de “erro”. No entanto, reiteradamente pessoas insistem em acreditar que é o voto nulo que representaria repúdio. Mas por que se criou essa confusão, entre o que cada voto representa, e essa idéia no senso comum de que o voto nulo seria repúdio ou revolta? No Brasil temos algumas particularidades, que os próximos parágrafos explicam.
Por último, em termos sociológicos. Durante muito tempo no Brasil tivemos o voto manual, em cédula de papel. Analisando os comportamentos dos eleitores, durante este período de tempo, a sociologia passou a considerar que: o voto em branco representa aquele sujeito que não está nem aí, e decide simplesmente se abster, enquanto o voto nulo representa uma revolta contra os candidatos. Como se percebe, o oposto do que os votos brancos e nulos representaram na história. Mas isso é plenamente explicável. 
Até um passado recente no Brasil não existia urna eletrônica, que surgiu nos anos 2000. O voto era manual, em cédula de papel. As pessoas assinalavam um "xis" na cédula de votação. Com a possibilidade do voto manual, o sujeito revoltado escrevia, bem ao estio brasileiro, palavrões na cédula, a usava para expressar sua revolta, o que anulava o voto. O sujeito que não estava nem aí (mas era obrigado, pela lei brasileira, a comparecer para votar) simplesmente deixava em branco para ter o menor trabalho possível e largava a cédula dentro da urna. Daí a interpretação, plenamente correta, de que o voto branco representa descaso e o voto nulo representa revolta. 
Tal análise não faz mais sentido nos dias de hoje, digitais. O eleitor de qualquer forma tem que digitar, o que desfaz o argumento do "menor trabalho possível" que justificava o voto em branco como descaso. Para anular seu voto, o eleitor tem que inventar e digitar um número inexistente na urna. Mas é apenas um número, não palavras ou sentimentos. Isso não é expressão de revolta. Mas veja que engraçado. No passado, as pessoas escreviam sua revolta nas cédulas, o que anulava seu voto. A sociologia formulou um conceito para explicar e disse: voto nulo representa revolta. Hoje, as pessoas votam nulo não por que estejam realmente expressando a revolta (como ocorria no ato de escrevê-la), mas por que disseram isso, que voto nulo significa revolta. A sociologia, que visava explicar a conduta dos sujeitos, acaba sendo usada para determinar essa conduta. Repito. Hoje, não faz mais sentido algum se votar nulo, como era justificável nos tempos do papel.
Como escrevi no inicio do texto, há implicações e interpretações possíveis a diversos campos do saber. Quem defende uma posição ou outra, não está errado. Cada um está se alinhado a uma forma de pensar. Sociólogos, historiadores e juristas eventualmente discordarão e podem discutir muito sobre isso. E cada um interpreta de um jeito. Mas acho que uma coisa é importante se ressaltar. Seja sob que olhar você queira enxergar a questão, não existe uma interpretação oficial do TSE, sobre o que representa seu ato, seja o voto em branco ou voto nulo. Não importa se você vai votar branco, nulo ou em algum candidato, é importante saber e ter consciência do que representa cada ação, para que você a tome de forma consciente. O que eu acho? Lavar as mãos, tal qual Pilatus, não te livra de responsabilidade. Bom voto.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O que eu faria

Dizem que é fácil ter a imagem completa após o jogo estar jogado. Em parte, é verdade. O jogo eleitoral está no meio. Já dá pra ter uma imagem parcial, mas ainda não completa. Portanto, vou escrever já sobre o que considero erros das campanhas presidenciais e como eu, como comunicador, teria trabalhado essas questões. Modéstia à parte (quem precisa disso, não é mesmo? rsrs) sei que sou um bom, excelente comunicador, e que faria algumas coisas muitos melhores do que aqueles que estão no comando das campanhas.
Vamos começar pelo que considero o maior fracasso, pois seria aquele que teria a maior perspectiva. Marina Silva. A campanha de Marina Silva é razoável. Começou mal, melhorou um pouco, mas poderia ser bem melhor. Tem alguns graves problemas. O principal é que a candidata fala o que pensa e o que quer. Isso é um grave problema. Quando ela se eleger, faz o que quiser no governo, mas tem que entender que para vencer é preciso se conformar, se adaptar, a um modelo vendível. E ela não faz isso. Minha principal crítica a ela é aquilo de que já escrevi aqui: ela só fala de ecologia. Lugar de discurso único é o parlamento, onde se faz lobby por isso ou aquilo e se defendem interesses. Nenhum candidato ao executivo se elege na base do discurso único. Marina tem um grande potencial de crescimento, mas não consegue obtê-lo pois não conquista todos os setores, e não o faz por não se demonstrar capaz. Todos, absolutamente todos, já sabem que ela é a candidata do verde, portanto, não precisa ficar repetindo isso. Ela tem sim que demonstrar que, além de ecologia, pode tratar de segurança, educação, saúde... Aí ela ganharia. Mas continua falando sobre ecologia. Como seu marqueteiro, a primeira coisa seria exigir que ela calasse a boca e parasse de falar sobre ecologia. Se alguém lhe perguntasse sobre isso, que dissesse que já falou demais nisso e quer demonstrar que domina outros assuntos, e falasse sobre outros assuntos. Ela não falaria na campanha, mas poderia fazer no governo. Infelizmente não estou lá, e ela prefere inverter a equação. Outro dia, chegou ao cúmulo de dizer que o consumo desenfreado não pode ferir o planeta e por isso é necessário o desenvolvimento sustentável. Esta é a mensagem errada, pois diz ao eleitor que irá consumir menos. A mensagem correta seria que, com o desenvolvimento sustentável, ele poderá consumir mais, pois será sustentável, e o consumo irá durar mais tempo, pra sempre. Não importa se é verdade ou não, essa seria a mensagem vencedora. Outro ponto. A campanha de Marina tem um "quê" de Lula de 1989, principalmente pelo uso das celebridades, o que é muito bom. Mas o uso dessas estrelas está errado. Em vez que aparecerem individualmente, falando sobre Marina, eu colocaria todos eles juntos, como uma cópia descarada mesmo do famoso comercial do PT de 1989. Acho que daria mais certo. Há muitos outros pequenos erros, como a cópia estilizada de sua imagem da imagem estilizada de Obama nas eleições americanas. Acho que a cópia passa uma imagem ruim. Mas também há muitos acertos. A campanha não é ruim. Um grande problema dela não é de comunicação, mas de organização da campanha: ela saiu sozinha, pelo PV, sem alianças. Deveria ter havido alianças, ainda que com outros nanicos, por tempo de tv. A organização foi feita sem pensar na campanha, bem diferente da campanha de Dilma e mesmo de Serra. O cenário poderia ser melhor, nesse sentido. Um bom coordenador de campanha poderia ter brigado por isso.
Já José Serra é um problema sério. Sinceramente, acho que não teria condições para ele vencer essa eleição e acho que ele sabia disso desde o inicio. Talvez, em algum momento, até o inicio do horário eleitoral, houvesse alguma ponta de esperança, mas pouca. Assim sendo, não haveria trabalho de comunicação que desse jeito. Como sempre digo, não adianta negar a realidade e dizer que "vamos vencer". O primeiro passo é aceitar a realidade (internamente, na coordenação de campanha; óbvio que ninguém vai sair por aí dizendo que vai perder) para fazer um trabalho para maximizar resultados. Veja, o trabalho para vencer uma eleição é diferente do trabalho para maximizar resultados. A tática de atacar o oponente, bem ou mau, é uma tática quando se há chances de vitória, como no caso de Alckmin e Lula, e a quase virada no final do 1º turno. Para o caso de Serra, os ataques massivos com as histórias de quebra do sigilo fiscal e corrupção na Casa Civíl não são uma boa estratégia. Seriam se ele estivesse brigando pela vitória, mas não está. O que então Serra e o PSDB deveriam fazer? Para mim, deveriam consolidar posição. Um pouco do que o PT fez durante muito tempo: consolidou posição para vencer futuramente. Mas o discurso do PSDB e de Serra não é um discurso que consolide posições; ele é pontual, apenas. O que eu faria? Primeiro, já que a eleição já está perdida mesmo, usar esta campanha para resgatar a imagem do partido. Esconder FHC colabora com a tática petista, então por quê fazer isso? Mostrar FHC traz prejuizos imediatos, mas pode reverter a imagem futuramente. É isso que deveria ser feito. Reconstruir a imagem do PSDB, como partido que nasce lutando pela democracia, que cria o Real, etc e tal. Isso, lógico, formando o paralelo com Serra, o candidato, mas com uma ênfase bem forte no partido. Enfim, um trabalho massivo para reconstrução da imagem do PSDB, que atualmente nem aparece na campanha de Serra. Fazer o termo tucano deixar de ser um palavrão. Sem isso, o PSDB vai continuar perdendo eleições, uma atrás da outra. Outro ponto. Abandonar de vez e para sempre imagens do populacho, que soam falsas para absolutamente todo mundo. Pra que mostrar Serra caminhando junto ao povo, e depoimentos do povo, o apoiando? Não tem efeitos. O que eu faria é trabalhar um ponto muito positivo que existe a favor do PSDB: a administração competente. Eu, particularmente, penso que esta não é real, não existe de fato. Mas se criou a imagem, em torno da direita, de que experientes na administração privada, eles são também muito bons na administração pública. Em síntese, administram melhor. Penso, repito, ser só uma imagem, mas ela existe para as pesssoas, e é isso que importa, a imagem. Trabalhar a questão de que são melhores e mais eficientes, poderiam fazer tudo que Lula fez muito melhor. E nisso, mostrar a administração paulista de Serra. Ora, só são apresentados números, mas nada que remeta à idéia de eficiencia, que pontue as ações que foram tomadas. Substituiria os depoimentos de populares por depoimentos gravados em escritórios, com relatos de ações eficazes que o candidato tomou, na hora certa. Então, aí sim, faria a ponte, com o narrador dizendo que, aquilo que o Serra fez lá no escritório, veio fazer bem aqui para o povo pobre. Então mostrar os números do povo melhorando, mas sem depoimentos. O que essa mensagem passa? Que Serra está afastado da população, lá dentro do escritório, mas de lá, está fazendo bem ao povo. É uma mensagem mais condizente com a realidade, que soaria mais coerente, e portanto, geraria melhores resultados. Afinal, como li outro dia, quem disse que precisa ser popular para se eleger? Lula usa essa tática, mas ela não é a única; FHC se elegeu duas vezes longe do povo. Ah, mais uma coisa. Que história foi aquela do "Zé"? A mesma idiotice que quando mudaram o Alckmin pra "Geraldo", em 2006. Essa é uma noção básica da comunicação: imagem construida, não se modifica, apenas se trabalha pra melhorar. Como eu disse, seria uma campanha para (re)construir imagem e trabalhar terreno para o futuro. Algum dia terão que se dar conta disso e fazer isso. E acho que poderia ter melhores resultados do que a atual campanha.
Agora Dilma. Ai, ai. Bom, Dilma está ganhando, e acho que não há muito para se comentar. João Santana é um excelente marqueteiro e sabe o que faz. Os vídeos da campanha são espetáculares. Apenas tenho que confessar que, antes de começar a campanha, fiquei muito receoso quanto ao slogan e mote escolhido para a campanha "para o Brasil continuar mudando". Confesso que considerei um erro, em certa medida. Achei que a mensagem da mudança poderia gerar uma certa dubiedade no eleitor no sentido de que, afinal, está se pregando a continuidade ou a mudança? Eu não usaria isso. Mas Dilma está vencendo, o que mostra que está dando certo. Não sei se por causa disso ou apesar disso. A mensagem da mudança tem seu lado positivo, pois rouba essa bandeira da oposição e reaviva na memória os sentimentos de mudança que elegegam Lula em 2002. Ainda assim, acho uma mensagem dúbia. No mais, só elogios.
Para terminar, só é bom lembrar aos desavisados: fiz uma análise como profissional, do que eu faria em cada campanha. Não significa que estou torcendo por este ou aquele. Longe de querer que os tucanos se reconstruam, mas eu faria um trabalho melhor do que aqueles que estão lá. Quem sabe, se me contratarem, tenham alguma chance algum dia, né? Rsrs.

domingo, 19 de setembro de 2010

O novo (Ou: sentimentos)

Outro dia, conversando sobre política com Mario, um amigo que não é envolvido com política, ele sintetizou o que acredito ser o sentimento das ruas nesse momento. "Osmar já deu o que tinha que dar", disse ele. Como aprendemos que eleição não se vence nem com comunicação, nem com economia, nem com política e muito menos com argumentos ou racionalisdades, mas sim com sentimentos e emoções (essa é uma postura teórica à qual me filio; como sempre, existem outras, mas essa é boa, acreditem em mim), esse é um indicativo de que Beto Richa vencerá as eleições. Eu votarei nele mais ou menos pelo mesmo motivo. O novo. Como já disse, não é o novo pelo novo, por que jamais pensaria em eleger certos "novos" que andam por aí, mas o novo que pode realmente trazer algo de novo. Afinal, a outra opção é um Dias, que já comanda o Paraná há tempo demais. Como diz o slogan "Dias melhores virão". Sou contra Álvaro e também Osmar. Se você prestar atenção existe um interessante movimento de renovação na política brasileira. Gleisi, que deve se eleger para o senado, faz parte dessa renovação. Penso mesmo que ela só perdeu a eleição de Curitiba pois estavam competindo dois novos candidatos. E no Brasil como um todo, tem ocorrido isso, tanto na esquerda e até mesmo na direita. É um auspicioso movimento. E fica a dica para os partidos que quiserem continuar na luta: renovação.

sábado, 18 de setembro de 2010

A negação da parcialidade

Me incomoda muito, muito mesmo, a parcialidade posta como verdade, que não se reconhece como parcial. A parcialidade que critica a outra parcialidade tende a ser ainda mais parcial e tentar se colocar como verdade, não como mais um lado. Tudo bem que todos busquem consolidar seu discurso como verdade (como nos ensina Pechêux e a escola francesa da Análise do Discurso), mas acho que é importante reconhecermos que somos apenas mais um lado. No discurso da igualdade, dos direitos humanos e afins, esse discurso de verdade única pode ser percebido muito bem.
Fim de semana passado (só estou escrevendo agora, eu sei, mas pelo menos estou) pipocou na blogosfera, auto-denominada progressista (não gosto desse termo), como tema uma crítica aos religiosos que se organizaram para fazer lobby para suas propostas e para os candidatos de suas propostas, tais como serem contrários ao aborto e à união homosexual. Alguns desses posts podem ser vistos, aqui (o mais relevante para minha análise de hoje), aqui, aqui, e aqui. O que os evangélicos fizeram foi criticar o PT e pedir que seus fiéis não votassem no PT. Embora eu seja petista, vou aqui defender o lado dos que estão contra o PT.
Ora, é legitimo organizar interesses, e fazer grupos de pressão por esses interesses. É legitimo e em certa medida até positivo. Esta é a lógica do lobby. Melhor feito às claras do que de modos escusos. Se os metalúrgicos têm direito de reivindicar suas pautas, por que os evangélicos não teriam? Ok, vão dizer que a questão se trata do preconceito por detrás das propostas, etc. O que penso sobre isso já escrevi nesse blog. De qualquer forma, eles têm o direito de reinvidicar suas pautas. Se serão efetivadas ou não, é uma questão para se debater no congresso. Mas não podemos, de forma alguma, dizer que eles não tem a priori o direito de defender suas pautas. Ora, pode-se argumentar que eles apresentam os fatos distorcidos. De fato, concordo. Mas é a perspectiva deles. A extrema esquerda também apresenta uma perspectiva que, dizem os capitalistas, é distorcida do sistema. Retorno ao que eu digo: concordemos ou não, atrasadas e retrógadas ou não, eles têm o direito de se organizar para reivindicar suas pautas. Mas a crítica que se faz a esses grupos mostra um ensejo de verdade, como se eles não pudessem pensar de modo diferente. Podem. Afinal, a verdade não existe, não é mesmo? (nossa, sou mesmo um pós-modernista).
E nisso já aproveito para engatar uma crítica ao Lula, que essa semana disse querer "extirpar o DEM da política nacional". Minha crítica não é por quaisquer motivos que surgiram na imprensa, de que o presidente não poderia dizer algo do gênero. Acho que pode. Só não é inteligente desejar isso. Como nos ensina Foucault, quanto mais liberade maior a vigilância. Se você tem um inimigo, não queira o mandar para as sombras, onde não poderá enxergá-lo. Traga-o para a luz, onde possa vigiar. O que quero dizer é que também é legitimo que interesses de extrema-direita sejam representados no congresso e acho saudável que o sejam. Caso não sejam, não morrerão mas ficarão nas sombras, até resurguir com mais força. O correto, portanto, no caso de Lula, é desejar enfraquecê-los, não os destruir. Uma das grandes bobagens da lei brasileira (e em certa medida internacional) é criminalizar o nazismo e proibi-lo. As praticas nazistas, evidentemente, são crimes, mas não se deveria restringir a doutrina filosófica de pensamento nazista. E não digo isso (apenas) por um liberalismo do ato de pensar (no qual acredito e defendo), mas por que, em termos práticos, se o nazismo é proibido, ele vive nas sombras. Não deixa de existir. Ele continua aí, a cada esquina, onde não vemos. Fosse legalizado, se teria controle sobre quantos são e quem são essas pessoas. Mais liberdade, mais vigilância. O mesmo vale para o DEM, para os evangélicos e para quaisquer adversários.

Mais Lasswell

Outro dia escrevi uma crítica às pessoas que ainda vivem sob signos dos pensamentos do passado, como o de Lasswell, ao tratar da recepção. Hoje, tive mais uma amostra disso, que parece se tornar algo comum em nosso meio. Artigo de Merval Pereira, publicado n'O Globo e no blog do Noblat, trata sobre o escândalo de Erenice Guerra envolvendo Dilma, e num determinado trecho revela seu pensamento um tanto preconceituoso. Vai a citação, retirada daqui.
Mas o tema é de difícil entendimento para a média do eleitorado brasileiro, e sua repercussão ficaria restrita a um eleitor mais bem informado se não surgisse essa série de denúncias de lobby com objetivos financeiros dentro do Gabinete Civil da Presidência da República.
As pesquisas, que continuam dando a vitória de Dilma no primeiro turno, mostram que, entre os eleitores que se dizem bem informados sobre as denúncias, e entre os mais escolarizados e com renda mais alta, já há uma mudança de atitude em relação à candidatura oficial.
Talvez isso seja o por quê de a oposição e a direita continuarem a fracassar, pois não conseguem entender o eleitor, o cidadão. Pelo racionicio de Merval, basta ser bem informado para concordar com ele. Ou seja, se todos não concordam, não é por que eventualmente possam discordar ou ter outro entendimento, mas por que ainda não alcançaram o grau de elevação suficiente para compreender seus argumentos. Eu me senti ofendido. Sou de classe média, leio jornais diariamente, faço duas faculdades, e sou extremamente bem informado. Entendo todas as denúncias e suas implicações, e ainda assim, apoio Dilma. Qual o argumento agora, Lassweell, digo, Merval?

A arte de dizer sem palavras



Estava comentando outro dia com minha amiga Karla sobre as estratégias de campanha do Serra à presidencia. A campanha dele começou muito mal, e recentemente deu uma melhorada. As pessoas, às vezes, não entendem como que eu, simpatizante do PT, posso elogiar a campanha do Serra. Simples. Não estou cegado pelo partidarismo e não analiso aqui quem é o melhor candidato. Como comunicador, faço uma análise das estratégias de comunicação. 
Como argumentei nessa conversa, comunicar é, em boa medida, a arte de dizer sem palavras, sem precisar dizer (e nisso, questões teóricas como Análise do Discurso que muitas vezes são relegadas ajudam muito - entender e criticar, para depois colocar em prática). Excelente exemplo disso é o comercial levado ao ar recentemente pela campanha de Serra. Como não encontrei na internet, enviei ao YouTube. Encontra-se disponível, acima. 
Reparem na semiótica da peça publicitária. É genial. "Dirceu veio primeiro; afastado por corrupção" Imagem de Dirceu. "Dilma veio depois" Imagem de Dilma à direita de Dirceu. "Com ela, Erencie Guerra, afastada por corrupção" Imagem de Erenice à direita de Dilma. Da esquerda para direita, Dirceu, Dilma e Erenice. Dirceu e Erenice afastados por corrupção, Dilma entre eles. Qual a mensagem, semióticamente? Dilma está no meio da corrupção. Karla, minha amiga, respondeu "Pra mim eles estão dizendo muito claramente". Aí encontra-se a grande jogada. Ao receptor, a mensagem foi clara, foi entendida, mas não precisou ser dita.
Isso tem dois pontos positivos. Primeiro, evita processos. Se o narrador acusasse Dilma de corrupta seria passível de penas, mas a peça faz isso de modo semiótico, e quem vai usar semiótica num tribunal? Segundo, como não foi dito literalmente, leva o telespectador a achar que foi ele que tirou a conclusão de que Dilma está no meio de tudo. Claro que não foi ele; a mensagem está ali, mas o sujeito achando que foi ele próprio que tirou tal conclusão, tende a acreditar ainda mais, afinal, está acreditando em si próprio. 
Uma grande sacada da campanha de Serra, e uma ótima peça publicitária, principalmente pelo lado semiótico. Se a estratégia do ataque pessoal é boa ou não, e se vai ou não gerar dividendos, é outra história. Particularmente, acho que o caminho seria outro. No comando da campanha, faria algumas coisas bem diferentes. Mas esse já é tema para outro post.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Adestradores

Os candidatos a cargos eleitorais são adestrados, tais como cães. Essa foi a mensagem, em síntese, da aula de ontem de ciência política. Estão certos, aqueles que se adestram. Me fez refletir sobre uma questão que já havia levantado aqui, sobre Marina Silva. O seu problema é que não tem um marqueteiro que a conforme num modelo vendível. Ela não tem controle e não tem orientação. Algo que já disse e repeti: seu problema é falar só de ecologia. Falta alguém que a controle e lhe diga para parar de falar sobre ecologia, afinal, um presidente tem que dominar todos os assuntos, não somente um. Ela se sobrepõe aos seus marqueteiros e fala o que quer. Esse é seu problema. Precisa de alguém que lhe adestre, num modelo correto, a ser consumido pelo eleitor. Talvez seja essa uma boa definição da profissão de comunicador político. Adestrador. Rsrss.

Abandonai Toda Esperança

Quando Dante e Virgilio descem ao inferno, detém-se diante de seu portal. Encontram, gravada em fogo e brasas ardentes, sobre uma rocha negra, a mensagem, em latim: "lasciate ogni speranza, voi ch'entrare". A mensagem existente nos portões de entrada do inferno avisa "abandonai toda esperança, vós que entrais".
Mandei gravar uma placa, já faz bastante tempo, com a mensagem em latim. Encontra-se pendurada na porta de meu quarto. Serve para me lembrar que, enquanto aqui estiver, deverei abandonar todas as esperanças. Por vezes passo por ela, sem nem a perceber mais. Outras, como agora, lembro-me do seu significado e do por quê ela ali está.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Do túnel do tempo

Às vezes, muitas coisas podem acontecer e muitas pessoas encontrar em viagens de ônibus. Ou reencontrar. Hoje, vindo de Curitiba à Matinhos, re-encontrei no ônibus alguém que há muito não via. Por coincidência, minha poltrona era ao seu lado. Olhei, de forma estrranha, e percebi que a conhecia de algum lugar. Ela me reconheceu. “a gente se conhece de algum lugar”, eu disse. “estudamos juntos”, respondeu, “da quarta pra quinta série”. Minha memória, embora tenha percebido que a conhecia de algum lugar, é horrível. Não a havia reconhecido nem me lembrava dela. Inás, seu nome. Ela se lembrava, até demais, de mim. Foi um interessante reencontro. Constrangedor e engraçado, realmente hilário, pelas recordações de como eu era quando pré-adolescente. Como tenho sérios problemas de memória, ela me lembrou de muitos momentos do passado. Como disse, constrangedores e engraçados. Eu era obcecado por cinema e dizia que queria ser diretor de cinema. Viva falando de Spielberg e de Jurassic Park, meu filme preferido (na época). Era arisco com as pessoas. Hahaa. Parece que meu jeito anti-social já vem desde a muito. Diz ela, eu não lembrava mas acredito, eu sempre brigava com quem eu tinha que fazer trabalho junto. Eu era contrarário aos outros e dizia, em voz alta, que estavam errados. Parece que minha tendência a antítese também já vem há muito. Rsrss. Foi interessante lembrar. Triste, se for pensar em aspectos mais profundos. Mas no momento rendeu boas risadas. Constrangedor e engraçado.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Sobre o politicamente correto

Não gosto nada do politicamente correto. Acho que faz mais mal do que bem. Agora estão com mania de colocar "homem e mulher" nos textos. Ora, minha recomendação para essas pessoas é que aprendam a ler e escrever, aprendam portugues. A expressão "homem", no idioma de Camões, pode significar também humanidade ou o ser humano. Ponto. Não se trata de ser machista, mas é um dado da lingua. Estou longe de ser um sausseriano, que encara a lingua como um sistema fechado a mudanças. Pelo contrário, gosto de Bakhtin e da noção de construção social. Sim, a linguagem que usamos é fruto de um fruto histórico determinado pela nossa sociedade. A expressão homem como humanidade é fruto desse universo machista do nosso passado. E daí? Não importa tanto o passado da lingua, mas seu uso social. Hoje, ao se dizer "homem" todos entendem humanidade, então para que querer mudar a lingua? Igual o caso do "lado negro". Ah, faça-me o favor, viu?!

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Por que o lugar do PSDB não é no governo

O lugar do PSDB é na oposição. Não por que façam oposição responsável ou saudável, pois não o fazem.  Não faço apologia para que se vote na oposição para o legislativo, de forma alguma. Apenas digo que o lugar do PSDB é na oposição pois não pode ser no governo. O PSDB não pode, ou não deve, ser governo não apenas (embora também) por seu fracasso na administração econômica, mas por causa de um importante elemento da teoria democrática. A mídia, representada no Brasil ainda majoritariamente pela televisão, funciona como um guardião do que é público, visível. Apenas aquilo que está na mídia é visível, público. Como sabemos, Bobbio define a democracia como “o governo do poder público em público”, ou seja, do poder do que é de todos de forma visível. A mídia, no Brasil (não apenas as televisões mas as revistas de maior circulação, além de outros meios de comunicação), é majoritariamente ligado aos tucanos, aos grupos políticos, quando não aos próprios políticos, do PSDB. Não digo isso por achismo; existem diversos estudos científicos, acadêmicos, que demonstram objetivamente e com dados essa relação. São vastos, não é necessário citar. Como poderia, num governo tucano, a imprensa tucana, denunciar os tucanos? Não poderia. E não digo isso tentando adivinhar; basta olhar para o passado para averiguar isso. Por muitos anos, no governo tucano de FHC, todos, todos, os veículos de comunicação foram coniventes e esconderam do público o filho secreto e fora do casamento que o presidente tucano tivera com uma jornalista da rede Globo, assim como também o fato que ambos viviam, sustentados pelo presidente, na França, longe do alcance dos olhares. Hoje, está mostrado e reconhecido pelos próprios, todos sabiam, mas nunca a informação veio a público. Quando Carta Capital divulgou a informação, ninguém repercutiu, como se a noticia não existisse. Escandaloso. E completamente cotidiano. No atual governo, petista, a relação se inverte. Denuncia-se tudo, até o que não existe. A maior parte mentira, invenção. Mas também alguma coisa real. Cumpre-se, ainda que mal, a função básica do jornalismo. Apenas com um governo petista, tendo o PSDB na oposição, e a mídia junto, é que pode se completar o ciclo que constitui a democracia, com o jornalismo vigiando o governo. No Brasil, a mídia tem (ou é) um partido político, e ela deve ser mandada para a oposição para que possa cumprir seu verdadeiro papel. 

Verificando fontes

Meus amigos sempre se irritaram, e continuam se irritando, com uma mania que tenho: perguntar a mesma coisa para várias pessoas, para diferentes pessoas. Quando perco alguma aula, por exemplo, procuro saber o que foi dado e se há algo a ser feito não apenas com uma pessoa. É comum, pouco depois de ter obtido uma resposta, perguntar a outra pessoa, diferente. “Pô, você não confia na gente?”, dizem. Curioso que só algum tempo atrás que percebi por que faço isso, embora já faça há muito tempo. Trata-se do principio das fontes do jornalismo. Uma informação nunca deve surgir de uma única fonte, mas deve ser verificada com outras fontes, que podem fornecer outros aspectos da informação. Trata-se de uma coisa um tanto natural. As pessoas tendem a filtrar informações e dizem aquilo que julgam relevante, mas diferentes pessoas com diferentes filtros podem fornecer um quadro mais amplo, geral, e mais completo. Por causa, inconscientemente, do principoio de verificação da fonte que pergunto a mesma coisa para diferentes pessoas, para ter um quadro mais amplo. Não se trata de não confiar, mas de ter essa perspectiva geral. Emprego esse princípio não só na profissão, mas na vida. 

domingo, 12 de setembro de 2010

O passado presente

Tendemos, na academia, a tomar que, uma vez que algo é considerado ultrapassado, todos também assim o considerem. Não é, no entanto, o que ocorre. Podemos considerar coisas ultrapassadas e não mais as praticarmos, mas não significa que socialmente tais praticas e mentalidade também sejam abandonadas. Semana passada vivi dois exemplos que demonstram isso. Como aprendi (ou nem tanto) que não devo falar das pessoas que conheço, não falarei sobre o que vivi, mas contarei duas histórias ficticias, que não existiram, tá?
Laswell e seus amiguinhos, lá pelos anos 1920, formularam uma teoria da comunicação que hoje sabemos ultrapassada. Não levava em conta o receptor e sua vontade. Para Lasswell, se a mensagem que o meio de comunicação enviou não atingiu o alvo ou não gerou resultados teria sido por causa de algum "ruido na comunicação", expressão que se tornou célebre, e não por causa da eventual discordância sobre o conteúdo. Hoje, com Barbero e tantos outros, sabemos que não é bem assim; as pessoas têm vontade e podem discordar. Ano 2010. Pessoas se reúnem para organizar alguma coisa. Em um número médio de pessoas, eventualmente há divergências que são postas em discussão pelo grupo. Um sujeito, A, quer uma coisa. Os outros, um de cada vez, expõem seus argumentos contrários. Mas o sujeito A não se conforma, e explica denovo, tentando convencer. Novamente todos se pronunciam contrários. Mas o sujeito A não aceita, repetindo "Eu não consegui explicar direito. Vocês não entenderam". Lasswell na veia. Se os outros discordam, não é por que têm vontade e podem discordar, mas por que ele não conseguiu explicar bem, por que houve algum ruido na comunicação.
No século XVIII, Luis XIV disse "o estado sou eu". O rei era o Estado. O absolutismo também gerou coisas como o patrimonialismo, estudado em Portugal e no Brasil por Raymundo Faoro, em que as fronteiras entre público e privado eram nulas. O governo não existia separado da vontade do governante. O governante era o governo. Ano 2010. Uma pessoa, presidente de uma associação, diante de uma sugestão para fazer certa ação com a associação, responde "não faz meu estilo". Noutra ocasião, na organização de outra ação, que não a motiva, esqueçe e não se empenha, até que essa desande e fracasse, pois não lhe interessa. O governo é o governante.
Pois é. O passado, muitas vezes, está e é o presente.

sábado, 11 de setembro de 2010

Viva o 11 de Setembro!




"Primeiro, temos o fato de que o terrorismo funciona. Ele não falha. Ele funciona. Violência geralmente funciona. Essa é a história do mundo. Em segundo lugar, é um erro de análise muito sério dizer, como comumente é dito, que o terrorismo é a arma dos fracos. Como outros meios de violência, ela é, surpreendentemente e principalmente, na verdade uma arma dos fortes. Tem-se como verdade que o terrorismo é principalmente uma arma dos fracos porque os fortes também controlam os sistemas doutrinários e estes afirmam que o terror dos fortes não conta como terror. Agora, isso está perto de ser universal. Eu não consigo achar uma exceção histórica, mesmo os piores assassinos em massa viam o mundo desta maneira. Veja o caso dos nazistas. Eles não estavam a realizar terror quando estavam ocupando a Europa. Eles estavam a proteger a população local do terrorismo dos partisans. E, à semelhança de outros movimentos de resistência, o que existia era terrorismo. E o que os nazistas estavam a praticar era o contra-terrorismo"
Noam Chomsky

Te desafio, por um instante, a pensar: quem são os verdadeiros terroristas?

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Um cão

Esta manhã vi um cachorro ser atropelado pelo ônibus. Ao embarcar na minha jornada diária de Matinhos a Curitiba, sentei-me na poltrona numero 3, na frente, que tem uma visão ampla do painel do ônibus, em perspectiva semelhante à do motorista. Logo após me acomodar, e antes que tivesse tempo de fechar os olhos para embarcar em meu sono, vejo um vulto negro cruzando, do nada, em frente ao ônibus. Seguem dois sons, em seqüência e abafados. O corpo do animal batendo contra a frente do ônibus e depois no chão, recaindo por debaixo do ônibus enquanto este seguia. O motorista olhou rapidamente para o lado, pela janela, tentando ver algo, mas seguiu. Nada podia fazer, o animal cruzara do nada em sua frente. Não sei o que houve com o cão, mas só posso presumir que ficou estirado no chão. Não se ouviram grunhidos, gemidos ou latidos. Deve ter sido rápido. Vi no rosto do motorista a mesma expressão minha: triste, mas seguindo, afinal, nada podia ser feito. Assim ocorre na vida, muitas vezes. Seguimos, lamentando, que nada podemos fazer.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Democracia e internet (Ou: Sobre Tocqueville e a neutralidade da rede)

Quando Tocqueville chegou aos Estados Unidos encantou-se com a organização da democracia que encontrara. A democracia norte-americana do século XIX não é a mesma democracia de hoje. Como ocorre a alguns conceitos da sociologia e da filosofia, perdeu-se e distorceu-se através do tempo o que é a democracia. A democracia de que Tocqueville escreveu assentava-se essencialmente sobre a igualdade. Igualdade também é um conceito que foi distorcido. No novo mundo descrito por Tocqueville, todos tinham as mesmas condições de trabalho. Todos chegavam a partir do mesmo ponto, e tinham iguais condições de batalhar pelo trabalho, pela vida. Isso era a igualdade de Tocqueville: igualdade social, sem classes. Bem diferente da igualdade formal perante a lei, como é interpretado hoje o sentido de igualdade, não é mesmo? Aquilo que Tocqueville chamou igualdade é hoje chamada equidade, e é associada a ideais de esquerda, mais próximo do socialismo do que da democracia liberal (outro conceito distorcido com o tempo). Seja como se queira chamar, igualdade em Tocqueville ou equidade na modernidade, são as reais condições de igualdade social para lutar por algo que propiciam a verdadeira democracia. 
Contemporaneamente, é possível fazer um paralelo muito interessante com a internet e uma coisa chamada princípio de neutralidade da rede. Peço licença aos que já sabem do que se trata para explicar ao eventual leitor que não saiba. Grosso modo, o principio de neutralidade da rede refere-se ao fato que, na internet, não há distinção ou prioridades entre os pacotes de informação que circulam na rede. Ou seja, não há classes, como na democracia de Tocqueville. Quando um sujeito normal ou uma empresa multinacional enviam um pacote pela rede (desde o simples clique para abrir um site até o upload de bases de dados são pacotes de informação) não há distinção de prioridades. Ou seja, ambos são tratados de forma igual, tendo sua velocidade limitada apenas pelos eventuais planos de conexão que assinem. Também não há distinção quanto aos destinatários. Esta é talvez a principal bandeira, que começa a ser ameaçada. Quando alguém clica para abrir meu blog, este blog, um desconhecido, ele abre com a mesma velocidade se o sujeito tivesse clicado para abrir a página do UOL ou do Google, tendo, novamente, sua velocidade limitada somente pela sua conexão e eventualmente pelo peso do site (quanto mais informações, como gráficos, mais pesada é a página). Há, atualmente, uma onda no sentido de restringir essa chamada neutralidade, possibilitando às operadoras de serviço na internet vender pacotes de prioridades. Significa dizer que quem compre pacotes de prioridade terá seus sites abertos mais rapidamente que aqueles que não os tenham. O UOL passará a abrir mais rápido que meu blog. Algum desavisado poderá enxergar benefícios nisso. Não há, e por isso os militantes da internet lutam contra tais medidas. Recentemente, o Chile foi o primeiro país do mundo a garantir em lei a neutralidade da rede. A partir desse paralelo podemos dizer que a internet é, hoje, com essas condições, algo similar à democracia que Tocqueville encontrou ao chegar na América no século XIX. Um campo de iguais possibilidades para todos, sem classes. Querem fazer com a internet o que fizeram com a democracia. Criar desigualdades e mascará-las sob uma igualdade formal, que difere muito do conceito original. Perdemos no tempo o conceito do que é democracia. Ainda nos resta rasgos de igualdade virtual.

I Encontro de Blogueiros Progressistas no Paraná

Conforme já publicado, aqui, segue release sobre o I Encontro de Blogueiros Progressitas no Paraná, do qual este signatário faz parte da organização.

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A cidadania ativa na Internet : o caráter revolucionário dos blogs. O desafio do Paraná”

Os blogueiros residentes no Paraná presentes ao I Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, em 22 de agosto formaram um Comitê para organizar o I Encontro Estadual dos Blogueiros Progressistas no Paraná – EEBP-PR.
O I EEBP-PR “A cidadania ativa na Internet : o caráter revolucionário dos blogs. O desafio do Paraná” será realizado nos dias 26, 27 e 28 de novembro de 2010, em Curitiba. Será também a etapa estadual de preparação para o II Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas que acontecerá em 2011.
O Encontro Estadual tem como objetivos:
  • disseminar o fenômeno dos blogs no Paraná
  • ampliar o número de agentes ativos na blogosfera como forma de aprofundar o conteúdo de cidadania da internet.
O EEPB-PR é um espaço aberto destinado à aproximação de blogueiros, twitteiros e sites progressistas e independentes de todo estado, onde se buscará fortalecer a rede virtual e horizontal em criação no Paraná.
Assim como o Encontro Nacional realizado em São Paulo, o paranaense será um espaço supra-partidário, onde os blogueiros, twitteiros e sites independentes, os movimentos sociais, populares e sindical, jornalistas e ativistas das causas sociais, debaterão:
  • A liberdade de expressão, Internet e Aspectos Jurídicos;
  • A Internet, a Cidadania e os Movimentos Sociais;
  • Papel dos Blogs,Twitter e outras Ferramentas;
  • Estratégias de Formação de Cidadãos Ativos e Conectados na Internet, Alfabetização Digital e Adensamento das redes;
  • Blogs: conteúdo prioritário do Jornalismo, da Informação e da Opinião.
A Democratização das Comunicações, a Liberdade de Expressão, os Planos Estadual e Nacional de Banda Larga (PEBL e PNBL), a Neutralidade da Internet, são temas vitais para construção de um Paraná Autônomo, Livre, Plural e Democrático para todos os que aqui vivem.
O EEBP-PR ainda contará com Oficinas Práticas, com “aulas” de Blogosferização – orientação e suporte à criação e uso de blogs – para associações de moradores, movimentos populares e sindicatos.
Os Defensores da Liberdade de Expressão e da Democratização dos Meios de Comunicação no Paraná mostrarão a força da parceria entre movimentos sociais, sindicatos e blogueiros independentes.

Acesse nosso blog coletivo http://paranablogs.wordpress.com/, acompanhe as novidades e ajude a organizar o Primeiro Encontro Estadual de Blogueiros Progressistas no Paraná.

Fazem parte do Comitê Organizador do I Encontro de Blogueiros Progressistas no Paraná:
http://amigosdatvbrasil.blogspot.com/
http://cadernosdagraciosa.blogspot.com
http://engajarte-blog.blogspot.com/
http://maisdeumbilhaopassamfome.blogspot.com/
http://midiacrucis.wordpress.com/
http://mvtvcom.com.br/
http://www.tie-brasil.org/
http://tribunasetoreletrico.blogspot.com/
http://vivasamas.wordpress.com/

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Sobre questões locais (Ou: analisando dados)

Embora more aqui no litoral do Paraná e goste de política, não estou engajado na política local. No entanto, tenho amigos que estão. Ouço suas ponderações e comentários. Alguns geram boas reflexões, como a que pretendo fazer hoje. Na disputa para deputado estadual há dois candidatos, de Paranaguá, que reivindicam a bandeira de representar o litoral. São eles Roque e Alceuzinho. O que escrevo, é inspirado pelos comentários desses amigos. Como não há pesquisa de opinião para deputado, vou tomar seu feeling como termômetro mais ou menos correto do cenário eleitoral. Segundo dizem, Alceuzinho é bem mais forte que Roque. Roque, por sua vez, tem seu rincão eleitoral de votos. Paranaguá, dizem, tem “força” suficiente para eleger, sozinha, um deputado. São dados objetivos e o simples encadeamento de tais dados faz com que sejam tecidas análises de que Alceuzinho se elegerá. No entanto, fazer esse encadeamento lógico trata-se de um erro primário. Nas eleições legislativas, há que se levar em conta outros fatores. Fui buscar os dados para lastrear o ponto que quero demonstrar. 
Primeiro, entrei no site do TSE, aqui, para buscar dados sobre suas candidaturas. Alceuzinho, ou Alceu Maron, pertence ao PPS, que não tem coligação e vai ao pleito sozinho, concorrendo sob o número 23.333. Roque, ou Mario Roque, vai ao pleito filiado ao PMDB, que por sua vez compõe coligação junto com PT, PDT, PR e PC do B, e concorre sob o número 15.456. Também fui pesquisar dados sobre o estado do Paraná. Segundo consta, aqui, o Paraná conta com 54 cadeiras no legislativo estadual. Descubro também, aqui, dados (muito interessantes!) sobre o eleitorado paranaense. Pelos dados oficiais do TRE-PR, o Paraná conta com 7.601.553 (7 milhões e 600 mil) eleitores, dentre os quais 98.008 estão em Paranaguá. Parece que Paranaguá teria a tal força, não é mesmo? Vamos aguardar, que demonstrarei por que esse argumento está errado.
Abre um parênteses muito importante para explicar como funciona a eleição. No sistema eleitoral brasileiro, não basta ter uma boa votação ou ser o preferido do povo. Depende-se de outros fatores. Muitas vezes, quem tem menos votos, se elege. Como? Deixe-me explicar. Nem preciso dizer que tudo que estou falando é a respeito das eleições legislativas, né? Pois bem. A eleição não é majoritária (o mais votado vence), mas proporcional. Vou explicar em termos objetivos. Embora as pessoas acreditem que estão votando em candidatos, elas estão votando nos partidos. Lindo isso, não? Sério, é uma coisa realmente bonita. No Brasil, quem elege o deputado é o partido ou coligação (por isso, inclusive, o STF decidiu pela “implementação” da fidelidade partidária). Após apurados todos os votos, e se jogarem no lixo os brancos e nulos, que não servem para nada, obtém-se o quociente eleitoral, que é a divisão dos votos válidos pelo número de cadeiras em disputa. O quociente eleitoral é o número mágico. Os partidos que atingirem esse número têm direito a eleger um deputado. Vamos trabalhar com os dados puros (totais) do estado do Paraná. São 7.601.553 votos paranaenses, divididos pelas 54 cadeiras da assembléia legislativa, que totaliza 140.769 votos como quociente eleitoral. É evidente que, na prática, o quociente eleitoral é bem menor, dado o número de abstenções e de votos branco e nulo. Nesse exemplo hipotético, cada partido ou coligação que atingisse 140 mil votos elegeria um deputado; se o partido atingisse 280 mil votos, elegeria 2 deputados; se fizesse 420 mil votos, elegeria 3 deputados, e assim por diante... (a coisa complica quando "sobram" cadeiras, mas esse não é tema de hoje. Uma boa e didática explicação sobre isso pode ser encontrada aqui). A questão é: não é preciso o sujeito, em si, obter todos esses votos, mas sim o partido/coligação, e por isso é essencial estar num bom partido. Para se eleger, são fundamentais duas coisas: estar em um bom partido, que obtenha uma boa votação, para eleger vários deputados, e assegurar que o candidato se posicione bem dentro da lista do partido. Embora não usemos esses termos, o voto em lista aberta já existe no Brasil. É ele que praticamos a cada eleição. Votamos no partido, e o que fazemos, ao escolher algum candidato, é ordená-lo dentro da lista do partido, como seu preferido. Os candidatos ordenados acima, na lista do partido, são os que obtêm mandato. Salvo raras exceções, de candidatos que conseguem se eleger com votos próprios em qualquer partido que estejam, todos precisam dos votos do partido para conquistar o mandato. Por isso, eventualmente, um candidato A que teve menos votos que B pode se eleger enquanto B, que teve mais votos que A, não se elege. Depende de seu partido e coligação. Isso soa estranho? Acha que estou falando sobre exceções, um cenário possível matematicamente mas que nunca acontece? Se acha isso, se surpreenda, pois é algo que acontece em absolutamente toda, toda eleição para o legislativo brasileiro (aqui, uma tabela interessante, que mostra os eleitos para a assembléia em 2006 com menos votos do que muitos que não foram eleitos). É uma característica própria desse sistema. Ia dar um exemplo hipotético, mas acho que a ilustração vai ficar melhor com os candidatos reais. Para isso, antes, vamos voltar ao passado. 
Seguindo a tradição de que devemos olhar para o passado para enxergar o futuro, fui buscar dados sobre a última eleição para deputado estadual. No site do TRE-PR, a área sobre as eleições de 2006 está com o link quebrado, então tive que apelar a outras fontes. Através do Google, encontrei os dados que buscava no site do G1, portal de notícias da Rede Globo (taí um bom tema de debate: instituições privadas funcionando melhor do que instituições públicas). Segundos dados, aqui, em 2006, o PPS, coligado ao então PFL, conseguiu eleger 3 deputados estaduais (o companheiro de chapa elegeu 6). O PMDB, sem coligação, elegeu 17. A coligação encabeçada pelo PT elegeu 9, sendo 7 do partido. Se totalizarmos ambos, chegamos a 26. Também achei dados, aqui, das últimas eleições municipais em Paranaguá, em 2008, na qual, coincidentemente, Alceuzinho e Roque se enfrentaram. Resultado? Roque obteve 23.376 votos, enquanto Alceuzinho amealhou 15.930. O vencedor, Baka, teve 30.981 votos. 
Vamos trabalhar com essas bases, e algumas tendências já demonstradas pelas pesquisas de opinião, para analisar o cenário atual. Vamos partir do pressuposto que quem votou em Roque ou Alceuzinho para prefeito não mudará seu voto. Ainda que consideremos, uma hipótese um tanto utópica em termos práticos, que todos votos de Baka fossem tranferidos para Alceuzinho, ele iria a algo em torno de 45 mil votos. Mais do que Roque. Parece que poderia se eleger? Pois bem, e o coeficiente eleitoral, hein? O PPS está sozinho, não tem outros partidos para ajudar a amealhar votos, nem um "puxador de votos", como se chamam políticos célebres que elegem eles próprios e mais uns tantos só com seus votos. Alceuzinho teria todas condições de ser muito bem colocado dentro de seu partido, mas... mas seu partido não tem cacife eleitoral para eleger um deputado. Ainda que Alceuzinho esteja apoiando Beto Richa, o apoio é informal. Eles estão em coligações distintas, que contarão seus votos separadamente. Se o PPS estivesse na coligação de Richa, o cenário mudaria muito positivamente para Alceuzinho, lhe dando possibilidades de se eleger. Mas não é o caso. Agora vejamos o outro lado. Roque é mais fraco que Alceuzinho. Vamos assumir essa análise como verdadeira. Mesmo assim, tem mais chances de se eleger por causa de sua coligação. Os dados de 2006 já indicam uma predominância de PT e PMDB. Agora estão unidos, e ainda reforçados pelo PDT que tem o candidato ao governo. Sem dúvidas, a coligação estadual deste ano com perspectivas de eleger mais deputados. As pesquisas de intenção de voto ainda indicam que, afora os dados do passado, existe uma tendência de alta da ala governista. O PT deve bater seus próprios recordes. E, embora eu goste do PT, isso não é torcida; são dados. O desafio de Roque é posicionar-se bem dentro da concorrida lista do partido. Se conseguir isso, está eleito. Seu problema é o oposto ao de Alceu, que é bom dentro partido mas cujo partido não deve atingir o quociente eleitoral.
Vamos agora àquele exemplo que eu ia dar. Vamos imaginar um cenário, só pra se ter uma idéia do que pode, palpavelmente, acontecer. Digamos que Alceuzinho tenha os hipotéticos 45 mil votos que atribuímos a ele e Roque obtenha os mesmos 23 mil da última corrida pela prefeitura (esses números são puramente hipotéticos, para ilustração). Alceuzinho obteria, nessa hipótese, quase o dobro de Roque. Mas lembram-se que a eleição não é majoritária? Vamos imaginar que o PPS de Alceuzinho obteve, no total do partido, 100 mil votos. Para fins didáticos, estamos trabalhando com o quociente eleitoral do total do eleitorado paranaense, que é 140 mil votos. Logo, o PPS não teria direito a eleger nenhum deputado, a despeito da votação de Alceuzinho. Enquanto isso, vamos imaginar que a coligação de PMDB-PT-PDT, à qual Roque pertence, tenha obtido, após todas etapas da apuração e contagem das cadeiras, com aquele esquema complexo que está explicado no link anterior, obteve o direito às mesmas 26 cadeiras que conquistou na última eleição. Será realizado uma lista dos 26 candidatos mais votados dentro dessa coligação (e não nas eleições gerais), e serão este que terão o direito a assumir a vaga de deputado. Agora imaginemos uma situação muito comum. Desse recorde de votos que a coligação conquistou, mais da metade veio dos dois ou três primeiros, mais famosos. A partir do quinto, o percentual de votos dos candidatos vai caindo e se "banalizando". Se Roque tiver ido bem em comparação a seus adversários de chapa, pode perfeitamente ficar entre os 20 mais votados. Por causa do quociente partidário, estaria eleito, mesmo com metade dos votos de seu adversário. Interessante nosso sistema, não é mesmo?
Isso vai acontecer? Muitíssimo provavelmente não com esses números pois são apenas um exemplo, uma ilustração. Mas é essa tendência que o cenário aponta: Roque com bem mais chances de se eleger, ainda que mais fraco, devido a coligação, do que Alceuzinho, cujas chances de eleição são pequenas devido ao mesmo fator. Claro que posso estar errado, claro que Alceuzinho pode se eleger. Matematicamente, tudo pode acontecer, mas estou fazendo uma análise fria e não partidária dos dados (não tenho nada a ver com nenhum deles). Sei que o próprio Alceu deve ter alguém na campanha que já lhe deu consciência disso. Ao menos, espero que tenha, senão seria muito amadorismo. É obvio, também, que analises do gênero não são tornadas públicas, afinal, há que se passar a imagem de vitória, que mobilizar a militância. Mas penso que, estratégicamente, não adianta negar a realidade. Aceitar as limitações, como o fato de ter um partido/coligação ruim de votos, é o primeiro passo para construir estratégias para se contornar as limitações. Aí entra uma reflexão pessoal sobre meu ser. Não consigo ser o sujeito que nega a realidade e vai para as ruas dizer que "nosso candidato vai ganhar". Sem deméritos a quem o faz; esse é o papel dos militantes. Papel importante e fundamental numa campanha, mas que não o meu. Encaixo-me melhor em um papel estratégico, de quem analisa os cenários e, sem negar as limitações, traça as estratégias para contorná-las, dizendo para as pessoas se mobilizarem. Sem deméritos, apenas uma questão de papéis. Para encerrar, vale ressaltar o significado de uma candidatura. Não se candidata apenas para se eleger, isso é sabido. Candidaturas podem ter as mais diversas motivações, objetivos e resultados. O sucesso de uma candidatura, portanto, deve ser considerado levando em conta seus objetivos. Uma candidatura pode ser para preparar terreno, para futuras eleições. Pode ser para conquistar espaço, seja interno, no partido, seja junto ao eleitorado. Pode ser para depois reivindicar cargos, fisiologicamente. Ou pode ser para levantar e defender bandeiras, ideologicamente. Há muito por detrás de candidaturas e não somente a eleição. Esta é apenas a esfera aparente das relações estruturais de poder.

Considerações sobre o comício de Osmar Dias

Hoje, dia 06 de setembro, houve aqui em Matinhos um comício de Osmar Dias, que incluiu Gleisi Hoffmann, Orlando Pessutti, entre outros. Requião, cuja agenda no site oficial marcava comparecimento, não apareceu. Como estudante de comunicação e com olhos analíticos, tenho algumas considerações a tecer. 
Interessante observar algumas estratégias de comunicação. Uma delas, o fato de ter muitas, muitas pessoas, devidamente identificadas, portanto e agitando bandeiras. Realmente muitas, até ostensivamente. Há duas interpretações possíveis, que variam conforme a pessoa. Uma positiva, de fortalecer a marca, que a campanha estaria forte. Outra negativa, que passaria a imagem da necessidade de fazer campanha ostensiva. É variável. Pude observar algumas pessoas que estavam à paisana, mas se dedicavam a também agitar bandeiras. Creio que também eram contratadas, mas estavam à paisana. Se isso for fato, é uma estratégia muito boa, pois passa a imagem que as pessoas também estão engajadas, pegando e agitando bandeiras. Isso leva outras pessoas, realmente público, a também aderir à prática. Psicologia básica. Ponto positivo.
Por falar em marca, me lembro de falar da marca de Osmar. É seu nome, Osmar, escrito em laranja e verde, com uma divisória em linha horizontal, coisa mais do que básica feita no photoshop. O fundo varia, às vezes branco, mas quase sempre também num outro tom de laranja. O laranja predomina. Agora entro numa seara da qual me interesso mas não tenho domínio pleno (alguns amigos o têm): a semiótica. Minha análise: o predomínio da cor laranja remete à agricultura, às plantações. Osmar é notoriamente ligado ao setor agrícola. Aqui, minha crítica à Osmar é a mesma que faço a Marina Silva. Quando o candidato jé é identificado a determinado setor, não há absolutamente nenhuma necessidade de se reforçar essa imagem. O que o candidato precisa é mostrar que domina também outros assuntos e, até em certa medida, dissociar-se daquela imagem para não ter cara de candidato de discurso único (estou falando do executivo; para o legislativo, o discurso único funciona). Portanto, assim como não faz sentido Marina Silva falar sobre ecologia (todo mundo sabe que ela é a candidata da ecologia), não faz sentido Osmar falar sobre agricultura (todo mundo sabe que ele é da agricultura). Ele tem sim que exaltar seu curriculo. Não há demérito nisso. Mas não se prender a somente um discurso, até mesmo em sua logo.
Por falar em discurso, vamos entrar numa seara que gosto, análise do discurso. Discurso, não da fala, mas dos atos e atitudes (estes também são discursos). O comício foi realizado aqui em Matinhos na segunda-feira, dia 06, véspera do feriado de 7 de setembro. O que isso diz? Qual a mensagem que passa? Ora, que o povo do litoral não importa. O comício só é realizado na véspera do feriado, quando a cidade está lotada de turistas. É a esse público, conjuntamente, que se quer atingir. Se eu fosse o coordenador de comunicação da campanha não faria diferente, afinal, tem-se que garantir público no comício e se puder matar dois coelhos de uma vez, melhor. Mas que esta é a mensagem que passa, é. Mas, sejamos sinceros, o grande povo não compreende isso. Então sigamos em frente. 
Outra ferramenta de comunicação muito interessante é algo que já havia visto antes, mas nunca comentei. Não sei exatamente como se chama, mas existe "posters" em tamanho real, do Lula, feitos em um papelão duro. Daqueles que existem com famosos. As pessoas podem se achegar a eles e tirar fotos, tal como se fosse o sujeito real. E por que isso é uma ótima ferramenta de comunicação? Nada a ver com Osmar, mas reifica a imagem de Lula como um astro, um ser superior, um mito. Ótima ferramenta para esses objetivos.
Mas vamos ao ato em si. Carros de som passavam pelas ruas, anunciando o troço para as 6 da tarde. Na agenda dos candidatos na internet, marcava 8 e 8:30. Coitado de quem não tem internet e acreditou no carro de som, né? Ficou esperando... Tudo bem que existe o pressuposto do atraso, mas... O ato foi montado em parte da praça central, que dá para a avenida Maringá. Na praça, em si, existiam um monte de barraquinhas e talz, das comemorações do feriado de 7 de setembro, creio eu (se não isso, alguma festa local). Uma coisa se imiscuiu na outra. Não é lá muito ético, mas uma boa jogada. Fui às 8:00, e tinha pouca gente. Voltei pra casa, visto que moro a cerca de quatro quadras apenas (uns 8 minutos, a pé).
Retornei próximo de 9:00. Um deputado qualquer falava, anunciando os demais. Cheguei na hora certa. Gente, um pouco mais que antes, mas nem tanto. Não há muito o que comentar nesse quesito. Ou melhor, há. O nome de Requião não foi citado uma vez sequer. Osmar, Pessutti, todos, falavam "nossa coligação, Dilma, Gleisi e Osmar." Ignoravam solenemente Requião. Osmar, ao dizer que continuaria com o programa do leite (para os pobres, algo assim, não sei direito), referiu-se ao "governo do Pessutti". Requião não foi sequer citado, uma vez sequer. Ele não está na campanha, e isso me deixa ainda mais leve e livre, quanto aos presentos compromissos que haveriam. Achei uma postura muito ruim.
Osmar, em si, detém uma postura ruim. Quando disse que Dilma se elegeria e que "nós somos a única candidatura que pode entrar pela porta da cozinha, para trazer recursos ao Paraná" filiou-se a uma idéia de malandragem, de corrupção. Ainda que a realidade seja assim, penso que certas (com)posturas devem ser mantidas. Negou, naquele instante, todas as vias institucionais que garantem a relação união-estado, quaisquer que sejam os governantes. Política pequena, essa que ele propõe.
Meu voto vai se consolidando. Ou melhor, meu não-voto vai se consolidando. Em Osmar, definitivamente não votarei. Ele não consegue dizer uma frase sem que, para mim, soe falsa ou hipócrita. Como já escrevi, a união de Lula com Sarney e Collor é justificável, pois dos outros tempos para hoje, mudou o mundo e muitos rios já correram pelas pontes, mas a união com Osmar Dias, para mim, não é justificável, ainda que eu saiba que política se faz com pragmatismo e alianças. Mas pense bem, eleger um Dias novamente para o Paraná é colocar o Paraná no atraso. É o mesmo pessoal que está aí, desde há tempos. Richa, bem ou mal, é algo novo. Não que o novo, em si, seja bom. Rodrigo Maia e ACM Neto são "novos" mas jamais sonharia em votar neles. Richa, no entanto, representa algo mais ou menos novo, que ainda não se demonstrou, efetivamente, nem ruim nem bom. É justo lhe dar uma chance. Desculpe-me meu amigo Carlos, e seu parentesco êmedebista, desculpem-me meus amigos socialistas, que querem derrotar o tucano só por ser tucano (não consigo pensar assim), mas, apesar de ser petista, em Osmar não voto.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O Twitter

Ultimamente, tenho usado muito o twitter. Bem mais que antigamente, no começo. Aderi realmente a isso. É interessante usá-lo (também) como o que é em sua definição, ou seja, um micro-blog. Por vezes, comentários que não renderiam um post aqui, no blog, faço e registro no micro-blog. O twitter também tem outras funções e usos, além desse, claro. Mas o que penso a respeito do twitter não mudou, essencialmente, desde antes de começar a usá-lo. E o que penso a respeito? Um artigo que beira a perfeição sintetiza muito bem isso. Considero uma primorosa análise do que é o twitter. Não costumo aqui, nesse espaço, reproduzir conteúdo. Prezo pela quase exclusividade da produção própria, mas esse merece, pois eu concordo plenamente com ele. Foi escrito num contexto específico que envolvia Aloizio Mercadante e uma crítica ao PT e é necessário ao leitor entender esse contexto, ou, se não entender, relevá-lo, pois não é o principal, a essência da mensagem. Fica a pergunta, para o eventual leitor: o que você acha do twitter? Abaixo, o que é o twitter. Vale a pena ler.


*****

Por que o Twitter é de direita
Mauro Carrara

Raras vezes o revés se exibiu tão instrutivo. E o senador Mercadante, do partido mudo, merece gratidão por nos oferecer incrível lição de como torrar a própria imagem diante da opinião pública.
Depois da tarde das garrafadas invisíveis, em que a bancada do partido mudo quis converter-se em madame girondina, Mercadante utilizou-se do microblog Twitter para anunciar, em caráter irrevogável, sua renúncia à liderança do PM na Câmara Alta.
O sol deitou, voltou, deitou e Mercadante resolveu pisar atrás, anunciando, pelo mesmo Twitter, sua desistência de desistir.
E uma onda de indignação hipócrita e seletiva passou como tsunami sobre a praia governista. Foram muitas as vítimas. Estava posta a carniça aos abutres. Folha de S. Paulo e Estadão, por exemplo, lambuzaram-se das tripas do bigodudo parlamentar.
Do episódio neodantesco, ficaram três lições: 1) O partido mudo não sabe o que é o Twitter; 2) Os parlamentares do partido mudo utilizam essa e outras ferramentas de maneira imprópria e irresponsável; 3) A  direita nada de braçada nessa lagoa da comunicação interativa.
Deu pena do incauto Mercadante. O tal perfil da Juventude do DEM, a mesma que utilizou o Twitter para engrossar o coro de “Fora Sarney”, divertiu-se à vontade em cantigas de maldizer, levantando hordas de playboys para espezinhar o pobre líder mudista.

O meio é a mensagem
Assisti a uma palestra de Marshall McLuhan há uns 5 mil anos, na Universidade de Wisconsin, numa época em que meu Inglês não era lá essas coisas.
Mas peguei o básico, sem grandes problemas.
Neste momento, vem à memória o trecho da preleção em que o canadense falava sobre sua teoria de que “o meio é a mensagem”, conceito que na época eu não compreendia muito bem, e continuei sem compreender.
Agora, contudo, tudo faz muito sentido.
Mercadante e o partido mudo nem desconfiam do impacto sensorial das novas mídias. Presos à ideologia e ao conteudismo, não percebem que os meios de comunicação se constituem em extensões humanas, nas tais  próteses técnicas capazes de determinar padrões de comportamento e reconstruir discursos.
O Twitter é exemplo claro da importância do meio na conformação da conduta do usuário.
Mais do que o Orkut, por exemplo, que é sucesso entre os brasileiros de todas as classes sociais, o Twitter tem em sua engenharia interna a inspiração do modelo personalista.
Serve, portanto, de modo perfeito, à construção de púlpitos para gurus. É da pessoa e não do tema, estabelece uma hierarquização no tráfego de informação e copia os modelos verticais de gestão corporativa.
O Orkut, por exemplo, é campo aberto de batalha e debate. Ali, os famosos e poderosos têm medo de se expor. Equivale a se apresentarem no meio da multidão, em praça pública.
Por conta das características do meio orkutiano, as pequenas legiões leonídeas da esquerda organizada destroçam facilmente as gordas falanges do mainardismo virtual.
O Twitter, ao contrário, enfatiza o emissor e exclui o intercâmbio dinâmico de ideias. Não há corpo a corpo e, por conta das condições do campo de batalha, a quantidade pode vencer a qualidade.
Vale dizer que o Twitter funciona no campo da comunicação declaratória. Não trabalha com base na argumentação e na exposição racional do pensamento.
No Twitter, as personalidades têm o que o sistema chama de “seguidores”, característica que fortalece um padrão de falsa interação.

Um tema dromológico
Cada tweet (mensagem) tem que se limitar a 140 caracteres. Assim é a coisa.
É fácil pedir “Fora Sarney” nessa tecladas mínimas. Mas é difícil explicar que o presidente do Senado está por aí há 45 anos, que a bronca tucana é oportunista, que Arthur Virgílio é um bandalho e que o movimento midiático faz parte de um projeto de desestabilização do governo Lula.
O Twitter é ótimo para gritar e exigir cabeças. É péssima ferramenta para qualquer advogado.
Curiosamente, o Twitter no Brasil é utilizado majoritariamente por homens paulistas e cariocas, na faixa de 20 a 30 anos, a maior parte deles com ensino superior. A agência Bullet, que coletou os dados, mostra que 60% dos twitteiros são considerados formadores de opinião.
No total, 51% dos usuários valorizam os tais perfis corporativos.
Cabe destacar que o Twittter se casa perfeitamente com o modelo de comunicação veloz da juventude. É um SMS da Internet.
A informação é rala e muitas vezes codificada. O importante é estar “em contato”, integrado, saber um pouco, talvez quase nada, mas de muitos. Também é preciso mostrar-se vivo, disparando a mensagem, mesmo que irrefletida.
O Twitter faz parte do arsenal das bombas informáticas, às quais faz referência o filósofo Paul Virílio, pessimista mas sabido.
Como instrumento de controle e alienação, a ferramenta já se converteu em arma poderosa do que se convencionou chamar de “direita”, considerado aí o termo conforme a brilhante conceituação de Norberto Bobbio.
Em seus estudos, Virílio alerta para a supervalorização da velocidade na sociedade tecnológica contemporânea. Segundo ele, perdemos o valor mediador da ação em benefício da interação imediata.
O pensador, que bem avaliou os elementos simbólicos da guerra, afirma que a velocidade divinizada reduz drasticamente o poder de atuação racional e estabelece uma conduta de reação, muitas vezes automatizada.
Por isso, o Twitter tem menos interesse no pensamento estruturado que no jogo rápido das reações. Assim, vem sendo utilizado com sucesso no fortalecimento de marcas, agregando “seguidores” por categorias definidas pelos profissionais de marketing.
Razões éticas ou morais podem afastar as esquerdas do Twitter. A esquerda não se contenta (e não sabe se contentar) com 140 caracteres e historicamente não tem gosto pela velocidade.
Os esquerdistas de raiz libertária, em especial, valorizam a dialética e a comunicação multidirecional, em que a igualdade de direitos faz emissores e receptores trocarem de lugar a cada passo da valsa.
O partido mudo e alguns setores decrépitos da esquerda são casos à parte. Praticam, há tempos, certo neoludismo fanático e tolo. Noutras ocasiões, a inépcia marca o uso das novas armas-meio.
Como já estive por aqueles lados, posso assegurar que os vietnamitas não se valeram apenas de zarabatanas e armadilhas de caça para vencer a maior potência bélica do mundo.
O Twitter é de direita, hoje. Mas não precisa ser para sempre.


domingo, 5 de setembro de 2010

Prisão perpétua: ignorância ou má-fé

Ontem, assistindo ao horário eleitoral, vejo um sujeito chamado Delegado Braddock. Em seus rápidos segundos de televisão, diz defender a prisão perpétua para traficantes, pois são eles o mal da sociedade, que geram outros crimes, blábláblá. Lembrei-me de algumas das aulas de ciência política. Na Constituição Federal, existem certas cláusulas que são chamadas cláusulas pétreas. Pétrea, em latim, significa "de pedra". As cláusulas pétreas da Constituição não podem ser objeto de deliberação, ou seja, não podem ser modificadas sob nenhuma circunstância, nem se houver unanimidade do Congresso Nacional. As cláusulas pétreas só podem ser modificadas com outra Constituição, que por sua vez, só pode ser feita em momentos de ruptura institucional, tal qual uma revolução. Uma das cláusulas pétreas da nossa Constituição, é a que diz respeito à prisão. Vale citar:


Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XLVII - não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;

O item b, do inciso citado, deixa isso muito claro, não? Não se trata se gostar ou não, de achar que poderia ser bom ou não. O pessoal em 1988 fez assim, e não pode ser modificado, jamais. Ponto. Pelo menos até que ocorra uma revolução, um golpe, ou algo do gênero. Simples. Então pergunto-me: o que é um sujeito que defende algo que não pode ser feito? Ele exala um discurso de legalidade (defendendo leis contra criminosos, e até mesmo no "delegado" de seu nome), logo, não está defendendo um golpe ou uma revolução. Ou se trata de ignorância ou de má-fé. Em nenhuma das duas hipóteses, merece um voto sequer. Ou é um ignorante que não sabe o que fala ou quer iludir o eleitor para roubar votos daqueles que acreditem nele.
Então me surge um questionamento. Se nós, dentro da academia, muitas vezes não temos conhecimento de coisas assim, é evidente que o espectro geral da população também não sabe. E isso não é demérito. Eles não têm nenhuma obrigação em sabê-lo. A questão é: uma vez que é bem evidente que o referido sujeito prega uma mentira irrealizável (diz que irá defender essa proposta, mas ela não pode ser defendida), não deveria o Estado tutelar essas questões, para o bem do povo, impedindo que o mesmo seja enganado? Para mim, o Estado deveria impedir que se dissessem mentiras tais como essa, que podem levar o eleitor a erro. O Estado deve cuidar de seus cidadãos, inclusive em questões como essa.

Em tempo: para fundamentar minha escrita, fui pesquisar sobre o item constitucional que trata sobre a prisão. Encontrei um artigo que trata sobre a inconstitucionalidade da proposta de prisão perpétua. Vale ser lido, aqui.

sábado, 4 de setembro de 2010

Um pouco de ego (Ou: pessoas que falam de si)

Acho que de vez em quando um pouco de ego é bom e não faz mal algum. Alguns colegas já disseram que sou arrogante. Não acho que seja verdade, mas muitos acham. Uma vez ouvi um conselho que pregava: diga “tá, sou sim, e daí?”. Dizia este conselho que quem fala sobre arrogância é por que não tem outros argumentos. Ser ou não arrogante é uma questão subjetiva e, portanto, não poderá nunca ser comprovada nem negada; para quem te acha arrogante, nada há a fazer, o melhor é se assumir como tal e perguntar: que outros argumentos você tem? Acho essa tática muito boa para o debate político ou intelectual-acadêmico (contexto em que foi enunciado), mas nas relações pessoais as coisas funcionam de maneira diferente. Mas não é esse o tema de hoje. Geralmente não faço isso, hoje quero falar de mim e massagear meu ego. Ainda mais arrogante do que você já é, Márcio? Pois é. Embora passe essa imagem, por não ter problemas em assumir naquilo em que sou bom, sou humilde. Cristianamente humilde. Realmente creio na humildade cristã, como um dos fundamentos da fé, e a pratico, melhor do que muitos. Mas vejo a arrogância todo dia, nas pessoas. As pessoas que falam de si. Este é o tema de hoje. Em parte, talvez, seja por minhas dificuldades na construção de relacionamentos, mas não costumo falar sobre mim. Tenho exercitado isso, tentado falar mais, mas ainda não consigo, do nada, começar a contar algo a respeito de mim para exemplificar daquilo que se está falando. As pessoas fazem muito, muito isso. Muitas vezes não suporto. Quando vejo alguém começar a falar de si, sem parar, não consigo aguentar. Às vezes dá vontade de dizer o que considero, mas temos (e é saudável que tenhamos) posturas socialmente corretas, civilizadas. Acho arrogância o sujeito que, no meio de qualquer conversa, começa a contar de suas experiências pessoais sobre o assunto. Falar de suas opiniões, tudo bem, mas não de si. Parte-se do pressuposto que ninguém quer saber, certo? Eu exercito isso, mas não é isso que as pessoas fazem. Falando assim, até parece que não gosto de ouvir as pessoas. Isso não está correto. Não gosto de ouvir pessoas arrogantes, que falam de si para todo mundo, mas sou um ótimo ouvinte. Sou um ótimo ouvinte, e realmente gosto de escutar as pessoas, que tenham algo a dizer, para mim, não para todos. Algumas poucas pessoas podem comprovar o que digo, e não me importa se muitas não concordarão. Sou, nesse sentido, muito particularista, por assim dizer. Falo sobre mim quando as pessoas perguntam ou demonstram interesse. E por não agir como a maioria age, em suas arrogâncias, passo a imagem de ser fechado, o que também não é correto. Mas às vezes me ocorre de falar sobre mim. Quando falo, é engraçado, há sempre um movimento que se opõe a isso e me tacha com tais rótulos. Um exemplo disso foi cerca de três semanas atrás. Enviei um vídeo para o youtube, um recorte que satirizava José Serra a partir de um trocadilho dito por ele no horário eleitoral, que se tornou o mais visto do mundo por três dias, e passou da marca um milhão e meio de visualizações. (particularmente, não considero isso grande feito, mas há gente que leva isso em conta). Comentando com alguns colegas, demonstraram desinteresse em me ouvir falar. Quando falo, sou tomado por arrogante. Engraçado que posso visualizar a mesma situação com outros colegas e vejo reações diferentes. Acho que existe um certo argumentum ad homimen nisso, que pressupõe um imagem pré-concebida de que sou arrogante. Logo eu, que não sou. E ainda que fosse... Esta é uma questão interessante: em que momento formamos a imagem que vai definir e pré-conceber as futuras imagens e reações em nosso entorno? Pois sempre agimos baseado em pressupostos de imagens. Em certa medida, o argumento contra o sujeito é inevitável. Mas será que nunca podemos mudar? Bom, acho que já me perdi em algum momento desse post, que é só mais um daqueles, que não deviam ser publicados. Rsrs. Em essência, o processo de egocentrismo contemporâneo é fruto do processo de individualização da sociedade. Diálogos estão cada vez mais raros, mesmo quando duas pessoas conversam, cada um está preocupado com si, e não com o outro. Isso me incomoda. Não sou assim e tento sempre não agir assim.

Mais um post pessoal que não devia ser escrito

Minha amiga Débora aconselhou outro dia, já umas semanas, “você não deveria escrever sobre tudo que te acontece; só prejudica”. Outra questionou “o que você ganha falando mal dos outros?”. Ambas não se referiam aos posts políticos que foram tema dos escritos mais recentes, mas a outros escritos, mais antigos, em que critico algumas práticas (e) docentes. Não ganho nada falando mal dos outros, exceto o exercício, sempre embasado, de opinar. Gosto dele. Em verdade, não escrevo sobre tudo que ocorre comigo. Apenas algumas coisas que me inspiram posts, me inspiram a escrever. O tema colocado, indiretamente, é uma coisa que já questiono há algum tempo. Qual o campo e o objetivo desse blog? No Encontro de Blogueiros Progressistas, em São Paulo, sempre que passava o endereço de meu blog ia junto uma ressalva “é pessoal”. Depois que fui perceber que o “pessoal” soava como se fosse algo ruim, demeritório, tal como um caderno de confidencias. Sempre me esforcei, às vezes falhamente, para não torná-lo isso. Mas esse blog não se pretende neutro, puramente jornalístico ou político, nem apenas sobre assuntos gerais. Ultimamente têm pululado aqui esses assuntos, em virtude de uma série de fatores, como eles também fazerem parte de minha vida, mas o blog tem um autor e é sobre ele. Mas quais os limites? Também gosto de escrever, por assim dizer, textos jornalísticos. Creio que a indefinição de um público e um perfil exato para o blog pode ser tanto um aspecto negativo, que possa afastar pessoas ou não as conseguir atrair, quanto um aspecto positivo, que as possa atrair. Afinal, estou criando ou constituindo meu próprio estilo. Embora seja um caminho um tanto dúbio, no sentido de que trilho ao mesmo tempo duas estradas diferentes, creio que possa ser um caminho promissor.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Compromissos

Acho curioso ver algumas pessoas se engajando nas eleições, na luta, no eles contra nós. No estilo “vamos nos mobilizar”. Sou essencialmente um intelectual e é como intelectual que escrevo e atuo, não só na academia mas na vida. Um ser pensante. Por isso questiono a quem eu apoio. Dizem “não precisamos de fogo amigo”. Mas não acho que deva reservar as criticas somente aos adversários. Não estou lutando por um partido. Se estivesse, e por estar um dia, certamente adotaria essa posição discursiva. Não é o caso. Meu único compromisso é com o que penso.