Tendemos, na academia, a tomar que, uma vez que algo é considerado ultrapassado, todos também assim o considerem. Não é, no entanto, o que ocorre. Podemos considerar coisas ultrapassadas e não mais as praticarmos, mas não significa que socialmente tais praticas e mentalidade também sejam abandonadas. Semana passada vivi dois exemplos que demonstram isso. Como aprendi (ou nem tanto) que não devo falar das pessoas que conheço, não falarei sobre o que vivi, mas contarei duas histórias ficticias, que não existiram, tá?
Laswell e seus amiguinhos, lá pelos anos 1920, formularam uma teoria da comunicação que hoje sabemos ultrapassada. Não levava em conta o receptor e sua vontade. Para Lasswell, se a mensagem que o meio de comunicação enviou não atingiu o alvo ou não gerou resultados teria sido por causa de algum "ruido na comunicação", expressão que se tornou célebre, e não por causa da eventual discordância sobre o conteúdo. Hoje, com Barbero e tantos outros, sabemos que não é bem assim; as pessoas têm vontade e podem discordar. Ano 2010. Pessoas se reúnem para organizar alguma coisa. Em um número médio de pessoas, eventualmente há divergências que são postas em discussão pelo grupo. Um sujeito, A, quer uma coisa. Os outros, um de cada vez, expõem seus argumentos contrários. Mas o sujeito A não se conforma, e explica denovo, tentando convencer. Novamente todos se pronunciam contrários. Mas o sujeito A não aceita, repetindo "Eu não consegui explicar direito. Vocês não entenderam". Lasswell na veia. Se os outros discordam, não é por que têm vontade e podem discordar, mas por que ele não conseguiu explicar bem, por que houve algum ruido na comunicação.
No século XVIII, Luis XIV disse "o estado sou eu". O rei era o Estado. O absolutismo também gerou coisas como o patrimonialismo, estudado em Portugal e no Brasil por Raymundo Faoro, em que as fronteiras entre público e privado eram nulas. O governo não existia separado da vontade do governante. O governante era o governo. Ano 2010. Uma pessoa, presidente de uma associação, diante de uma sugestão para fazer certa ação com a associação, responde "não faz meu estilo". Noutra ocasião, na organização de outra ação, que não a motiva, esqueçe e não se empenha, até que essa desande e fracasse, pois não lhe interessa. O governo é o governante.
Pois é. O passado, muitas vezes, está e é o presente.
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