Outro dia, já faz tempo, vi na internet parte de uma entrevista de José Serra, em que ele se mostrou irritado e ríspido com a pergunta de Mirian Leitão sobre os rumos da economia (vi aqui, mas pelo jeito já saiu do ar. Achei outro aqui) . Em parte da resposta, disse uma frase que considerei emblemática. "Eu entendo da economia” e aí continuou, falando que sabia o que fazer blablabla. Estou fazendo como disciplina optativa Psicologia da Educação, do curso de Letras. O professor, Zama, sempre ressalta: o reconhecimento dos limites e da ignorância, de que não se sabe tudo, é pressuposto indispensável para o aprendizado, inclusive do próprio professor. O professor que passa os ares de que tudo sabe não dá abertura ao aluno e mata nele a vontade de conhecer. Não é através do Zama que conheci essa idéia; ela é uma idéia que já ouvi de outros professores, como o Ivan, da Litoral, e que permeia todo o fazer das ciências, sejam naturais ou sociais. Se você já sabe, e sabe tudo, não tem nada de novo a aprender. O conhecimento morreu.
Por isso considero que o presidente, quanto mais “leigo” for, melhor. Acho que já escrevi aqui, e já repeti esse pensamento, mas volto a ele. O presidente não é um técnico, ele não precisa entender de nada. Ele deve ser um homem justo e bom, que tenha consciência da bondade e da justeza, e se cerque de homens que entendam das coisas. Há um perigo fundamental no pressuposto do já saber: se eu já cheguei numa conclusão, e esta é a certa, não estarei aberto a outras. Aí reside o perigo. As ideias são plurais, e há muitos modos de ver, encarar e entender a economia. É uma coisa bem diferente das ciências exatas em que dois mais dois são quarto, em que se cortando a veia x, terá-se o resultado y. Uma vez que o presidente ache que sabe e se feche em sua visão, corre-se o risco de errar enormemente, pois se estará ignorando as outras possibilidades.
Nisso, Lula é um exemplo perfeito. "Analfabeto", como gostam de dizer os maliciosos, mas cercou-se dos mais notáveis economistas. Justamente por que não sabia, trouxe para sua equipe as mais diversas correntes, desde o ultra-ortodoxo Henrique Meirelles, o moderado Guido Mantega, o pragmático Antonio Palocci, e até o libertário Mangabeira Unger. Lula ouviu todas opiniões, e umas prevaleceram sobre as outras, é verdade, mas não totalmente. Houve, ainda que em certa medida, uma síntese.
Se o presidente fosse, por exemplo, Henrique Meirelles, não haveria tal síntese, pois se partiria de um pressuposto, uma visão já determinada do saber. José Serra não é Henrique Meirelles, mas há nele um pressuposto de saber. Afinal, ele entende da economia. Se já entende, não irá procurar outras opiniões. E nossa economia estará refém de uma única visão. O presidente não pode ser assim.
Um comentário:
apoiado. esclareço que continuo não mais votando no lula (mas psdb, please, ninguém merece)
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