Me impressiona ver as dicussões (discussões positivas, no bom sentido, de debate) do pessoal do Centro Acadêmico de Gestão Pública. Não são discussões acerca do movimento estudantil, ou questões macro. Todas as discussões giram em torno, essencialmente, de dinheiro. Na UFPR (não sei se na UTFPR também é assim) todo centro acadêmico recebe anualmente uma verba de cerca de 4 mil reais, para investimento, custeio, etc e tal. Tudo, tudo, tudo gira em torno do dinheiro. Inventar coisas a fazer com o dinheiro. O que fazer com o dinheiro? Pedir o dinheiro. Receber o dinheiro.
Não estou criticando as pessoas do C.A. de GP. Estou criticando a concepção política que gira em torno do fascinio pelo dinheiro. Também na gestão dos governos tudo (ou quase tudo) gira em torno do dinheiro, das verbas. "Ah, mas é com dinheiro que se faz as obras, que se materializam os projetos", dizem. Concordo. Em parte somente. É isso, de fato. Mas também é muito mais além do dinheiro. A principal questão de qualquer gestão (seja do CA, seja do país) na verdade não está no dinheiro ou nas verbas. está nas questões imateriais.
Acho que isso é sintetizado um pouco na célebre frase (que gosto muito) de Delfim Netto de que "Crescimento é estado de espírito". Não é uma questão economia, é uma questão "psicológica", por assim dizer. Cabe ao governo, portanto, ser o indutor (outro termo de Delfim que também gosto muito) desse estado de espírito. Para isso, não é necessário dinheiro. São necessárias outras coisas, como geração de confiança, credibilidade, crença pelos investidores no avanço da economia, etc e etc. Um governo não é apenas aquilo que fez materialmente, mas as diretrizes filosóficas que propôs, para onde olhou. Novamente, não é necessário dinheiro. Voltando à questão do centro academico, no caso específico, não é apenas o que fazer com o dinheiro, mas ainda que não houvesse nenhum, quais pontos de vista defender, quais ações incentivar, quais laços institucionais estabelecer, para onde olhar? Tudo é relegado e o dinheiro é que exerce o fascínio.
Guardados certos limites, evidentemente, podemos dizer que dinheiro não importa. O que importa é a vontade. Me lembro agora de uma frase do senso comum, popular, que diz algo como "só quem tem dinheiro não se preocupa com ele". Novamente repito que há que se preservar limites, mas proponho inverter a frase e a lógica da frase. Pensa, na verdade, que é "Só quem se preocupa com dinheiro, não tem dinheiro". É um pouco como no existencialismo: só quem concebe ficar doente e se preocupa com isso, que fica doente; se você não quer ficar doente, não ficará. Se você se preocupa em não ter dinheiro, não terá. Se você abstrai a situação, a relega a segundo plano, então terá dinheiro. Afinal, como estou sustentando, na gestão e não só, na própria vida, as questões que verdadeiramente importam são as questões imateriais.
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