quinta-feira, 24 de junho de 2010

Sobre Atitudes de Professor e Profecia Auto-Realizável

Outro dia estava conversando com alguns amigos sobre o que são ou não atitudes condizentes com o ser professor. Tenho muitos outros argumentos, e esse é um assunto que vai longe. Hoje vou me deter sobre um aspecto apenas: a profecia auto-realizável. O professor acredita que o aluno será ruim. Acreditando que o aluno será ruim, ele o torna ruim. Isso pode ser sentido, muito evidente, em dois exemplos opostos que seguem. Nas aulas da Carol, de editoração gráfica, ela sempre dá mais atenção a uns do que a outros. Sendo uma matéria prática, onde se tem que aprender a lidar com softwares de computador, isso é fundamental. Dá mais atenção aos que se interessam e se dedicam mais. Diz ela que o aluno deve mostrar interesse e se motivar. Uns gostam da área, outros não, e ela não pode fazer nada sobre isso. É exatamente o que diz. Uma visão torpe, liberalizante, do ensino. É dever dela motivar, mas não o faz. Reproduz a lógica que já está posta. Aqueles que gostam, ela dá atenção, ignorando aqueles que não gostam, a quem realmente deveria voltar suas atenções. Nas aulas do Zama, de psicologia, volta e meia ele faz perguntas na sala, para os alunos, sobre o conteúdo  que está sendo ensinado. Como o próprio Mario, um dos meus interlocures dessa conversa, observou, ele só pergunta para quem não está "ligado", interessado, na aula. Ele pergunta para quem não está interessado na aula justamente para suscitar o interesse. A pergunta tem esse objetivo: trazer o aluno para a aula, captar sua atenção. Não me lembro de ele ter dirigido perguntas a mim. Ele não precisa fazê-lo, pois sabe que minha atenção já está na aula. Percebe, caro leitor, como são duas atitudes opostas? Uma reproduz o que está posto, a outra tenta alterar isso.  Percebe como uma é a atitude de um verdadeiro professor e a outra não?
Isso me remete a um outro fato. Dia desses, após o ENCOM (evento semestral que é organizado pelo 2º período do curso na disciplina de cerimonial e protocolo de eventos) a Patricia, professora este ano da disciplina, fez um comentário, uma brincadeira, no twitter. Fui em busca, para não citar errado. Data do dia 14 de junho e diz: "Meu livro será: Como transformar um aluno em um mestre de cerimonias de sucesso... Um case de sucesso na UTFPR". Não conheço detalhes do caso, mas posso fazer algumas inferências a partir do que está escrito. Deduzo, por exemplo, que o aluno escolhido este ano para ser o mestre de cerimonias não teria sido o mais recomendado, mas com trabalho, ela conseguiu transformá-lo em um com sucesso, e este portanto é o "case de sucesso". Isso me remete ao meu primeiro período no CTCOM. Em certo momento, estávamos organizando um evento similar (mas menor) ao ENCOM com a Selma (não lembro mais o nome do evento), para apresentar os resultados de um trabalho feito para sua disciplina, laboratório de de textos empresariais. Ela solicitou que alguém teria que ser o mestre de cerimonias. Candidatei-me. Ela respondeu algo como "Ora, o orador precisa ser alguém de voz tranquila, controlada, que sabia falar..." e continuou com seu blá-blá-blá. Aquilo não foi, de forma alguma, uma atitude de professor. Não por que tenha me ofendido; de fato, minha voz não é das mais comuns (e por isso a considero muito boa!). Mas por que essa é a atitude fácil. Atitude que reproduz o que já está posto. Atitude que o mercado tomaria, mas que não deveria ser tomada em uma universidade. Também a Valéria, semestre seguinte, teve atitude semelhante, no sentido de escolher o fácil, o já posto. É o que geralmente ocorre nessas situações. Escolhe-se o já mais capacitado, o que de nada vai acrescentá-lo, e nega-se a oportunidade ao aprendizado a outro, que poderia ser um verdadeiramente benéfico aprendizado. Selma não teve uma atitude de professor, nem a Valéria nessa situação especifica, embora a admire imensamente e ressalte o quanto a considero uma das melhores professoras do curso. A Patricia sim, estando certa minha interpretação de sua palavras, teve essa atitude de professor, que é propiciar um novo aprendizado, e não apenas reproduzir as estruturas postas.

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