segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Tempos

Hoje estava eu relendo o Eclesiastes. Provavelmente um dos meus livros preferidos da Bíblia, junto com o Apocalipse. Para tudo na vida há um tempo, diz ele, tempo de matar, e tempo de curar. Conversava eu com Carlos, um grande amigo, outro dia sobre esses tempos. Dizia ele a mesma coisa do Eclesiastes, da noção que deve-se ter do tempo de cada coisa. Sei que hoje tenho essa noção melhor do que há um ano atrás, quando era muito mais monotemático, contudo ainda há o que se lapidar. Penso que uma palavra chave na vida é “Equilíbrio”. Equilíbrio entre as diversas coisas às quais dedicamos nosso tempo, que é, em essência, tudo aquilo que temos.
Outro dia, durante o estágio, disse à minha chefe, que reclamara que eu faltava para me dedicar à outros assuntos, que “não irei me dedicar totalmente nem ao trabalho, nem aos estudos, nem à diversão. Tem que existir um equilíbrio e uma harmonia entre todas essas coisas”. Evidentemente arranquei-lhe um olhar indignado e palavras estupefatas. Mas creio mesmo ser necessário esse equilíbrio, e que nele resida, talvez, algum sentido para a própria existência.
Se todo trabalho feito sob o sol é vaidade para o vento, e nada dele se tira; nem a sabedoria, nem o suor, nem o vinho, de nada aprovém, talvez há que se perguntar o por quê de toda manhã ainda levantarmo-nos. Não tenho uma resposta, mas, toda manhã, continuo levantando-me, em sua busca. Talvez a jornada em busca duma resposta seja o sentido da resposta buscada.
Mas falava eu sobre os tempos. Eles ocorrem constante e diariamente em nossas vidas, são os diferentes espaços sociais aos quais nos moldamos, aos quais moldamos nosso comportamento e atitudes. Uma atitude numa sala de aula é (e deve ser) diferente da atitude em um trabalho, que por sua vez é (e deve ser) diferente da atitude numa confraternização com amigos. Poderia-se chamar isso de máscara. Eu mesmo, no passado, já chamei assim. Mas a verdade é que não existe um individuo único, constituído de uma só esfera, igual em todos os espaços a que pertença. Não existe um “eu” único. O nosso eu é formado de vários outros “eus”, que são formados nos diversos espaços que ocupamos. A união dessas partes forma a totalidade do Eu.
Veja, estou falando baseado no senso comum, em minhas próprias reflexões, às quais estou inconscientemente alienado. Ainda não estudei Psicologia, nem me aprofundei na Antropologia, nem nenhuma outra “ia”. Talvez daqui a um tempo eu mude de perspectiva, talvez eu ache que isso que escrevo agora é uma grande tolice. Ou não. Esta é apenas a minha perspectiva atual.
Mas quando falo dos espaços sociais não defendo a multiplicidade de posições, o sujeito tomar uma atitude no espaço A, e fazer o oposto, ou nega-la, no espaço B; isso seria falsidade, o que já é outra coisa. Estou versando, na verdade, sobre a necessidade de adequação aos diversos tempos a que somos expostos, diariamente. Tempo de refletir, tempo de distrair. Claro que o individuo continua sendo o mesmo; se alguém tem um pensamento critico, ele não irá anula-lo assim que entra no trabalho ou num bar, mas a prioridade nesses espaços passa a ser outros temas, ainda que o pensamento critico, do nosso exemplo, continue a existir, em segundo plano.
E como reconhecer o tempo de cada coisa? Alguns são bem evidentes, outros, ainda permanecem insondáveis, ao menos para mim. Ter essa noção é mister. Assim, que se faça a cada coisa conforme seu espaço e tempo.

Um comentário:

Carlos Pegurski disse...

Seu blogue é um diagnóstico de que está quente.