segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Sobre trabalho participacionista

No dia em que saí (ou fui demitido, como preferirem) do estágio na UTFPR encontrei a prof.ª Valéria no corredor. Ela soubera do fato. Conversamos um pouco. Comentei que achava que uma instituição de ensino deveria ser flexivel de aceitar a falta de seus funcionários, quando para fins acadêmicos (faltava no estágio, por que sou representante discente na Câmara do Gestão Pública. A Câmara do Curso é, na Federal, o equivalente ao Colegiado da UTFPR, só muda o nome). A Valéria me respondeu que eu deveria me acostumar, pois dificilmente algum emprego iria ser tão compreensivo. Ela errou. Bom, ela acertou, ao falar sobre o resto do mundo, mas ela errou. Achei sim, um outro emprego, que é assim, que é muito mais.
Ganhei uma bolsa da UFPR. Provavelmente o Prof. Rodrigo pode ser considerado o melhor chefe do mundo. Aqui eu vou ter que fazer um parentesis, para falar sobre uma teoria, mas que tem a ver com o contexto. Nas Teorias da Democracia existe a teoria democratica participacionista, ou simplesmente corrente participacionista. Uns dos autores mais relevantes são Carole Pateman e Charles MacPherson. O mote maior de toda teoria participacinista é "o individuo deve participar de toda decisão que lhe afete". Essa teoria defende, entre outras coisas, a "democratização do ambiente de trabalho". A tese é: se um sujeito passa a vida inteira sendo mandado, obedecendo ordens, ele não "sabe" participar. Votar, uma vez a cada 4 anos, não significa nada para ele. Então, as pessoas tem que ser "empoderadas", devem passar a ter, no seu dia-a-dia, exercicios de participação, tomadas reais de decisão, como uma função "pedagógica" do ato de participar. Ou seja, o ambiente de trabalho não pode ser construido de cima para baixo, os empregados devem ter decisão sobre o próprio trabalho, sobre seus afazeres.
Agora sou bolsista da coordenação do curso de Gestão Pública. O prof. Rodrigo é o coordenador do curso. Perguntei, no primeiro dia: "O que eu faço agora? O que eu devo fazer, qual meu serviço?". "Faça o que você quiser, cara.", respondeu, tranquilamente. Ele, aparentemente, é adepto dessa teoria. Para ilustrar contou a história do filme "Mash". Robert Altman começou a filmar sem roteiro, os atores perguntavam pra ele o que fazer, e ele respondia "inventa". No fim, saiu um dos melhores filmes de guerra já feitos. Como eu disse, provavelmente poderia ser considerado o melhor chefe do mundo. O mais engraçado é que fui de um extremo a outro. Da Terezinha, autoritária-mór, ao Rodrigo, sem amarras ou compromissos.
E o que eu fiz? Devo reconhecer que muito pouco, por enquanto. Talvez a teoria esteja mesmo certa, e eu não saiba (ainda) participar, tomar as decisões que me afetam. É fato que funciono bem sobre pressão, as melhores coisas que faço, que produzo, são na véspera da entrega. Quase todas deixo para realizar na véspera da entrega. Sinceramente, me sinto um tanto estranho recebendo salário por isso. Não fiz nada até agora, praticamente, e lá se vai um mês. Não acho justo, mas também não vou dizer que quero deixar de receber. Ficar solto, sem pressão ou compromisso, para decidir eu mesmo o que quero fazer, foi (e está sendo) uma experiencia nova, estranha, mas, no fim, espero que produtiva.

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