Já faz cerca de duas semanas, desde que saí do meu estágio na UTFPR, que escrevi um texto a esse respeito. Não o havia publicado, pois queria palidá-lo um pouco, mas creio que está razoavel assim. Bem, talvez não esteja, mas mesmo a falta de qualidade quer dizer alguma coisa, reflete um momento. Não ficou bem o que eu queria dizer, mas... Apesar de estar umas semanas envelhecido, ainda é pertinente. Segue.
Reflexões sobre o emprego
Um tempo atrás escrevi sobre as expectativas de começar um emprego, que seria até então meu primeiro. Vários amigos me deram conselhos diversos sobre o que viria pela frente, o que me esperaria. Agora, dois meses e meio depois, aquele estágio na UTFPR se encerrou, e novamente volto aos teclados, agora para fazer um balanço do que tirei deste tempo.
É um balanço prematuro, de alguém que só está entrando no mundo do trabalho? Talvez o seja, mas ainda assim acredito que se faça necessário.
E o que você tirou desse tempo, Márcio? Há coisas e coisas. Tentarei passar por todas, em partes.
Estou estudando as políticas de mínimos sociais. O Senador Eduardo Suplicy, que ergue esta bandeira, defende que "alguém que tenha o dinheiro garantido à sua subsistencia não se submeterá a um trabalho qualquer, por sobrevivencia; poderá esperar aparecer coisa melhor". Este é o mesmo argumento de quem ataca essas políticas: as pessoas não mais trabalharão. De fato, sinto que talvez seja verdade, e por isso talvez tenha o pressentimento que tais políticas nunca serão implantadas efetivamente. Não nesse sistema. Mas não quero me desviar do assunto. Ah, sim, minimos sociais, dinheiro. E não é por isso que todos trabalham? Acho que consegui adquirir um pouco mais de noção, e valor, do dinheiro. Entendo melhor a razão deste ter a importancia que tem na sociedade, pois ele representa, em tese, o esforço e o suor que demos. Acho que dou mais valor ao dinheiro agora, do que antes; corolário, torno-me um pouco mais adeso ao sistema capitalismo. Não vejo isso com maus olhos. Acho que radicalismos não levam a nada, e fico feliz de inserir meu pensamento um pouco mais neste sistema. Fosse hoje, talvez não contestasse tão veementemente como fiz na primeira aula da Maurini, sobre a incompatibilidade entre ideologia marxista e mercado de capital. "Você se rende ao sistema; não há como não", disse ela, na oportunidade. Não vejo como rendenção, mas passado apenas dois meses compreendo muito melhor.
Mas tudo até agora foi um tanto quanto abstrato. Que mudança efetiva se sucedeu, Márcio? O que nos contará a respeito deste período? Bom, lá vamos nós.
Uma coisa que aprendi foi que a Escola de Relações Humanas, de Elton Mayo e companhia, que antes era ignorada por mim (nem contestava, nem gostava), tinha sim sua razão. Quando amigos, antes, reclamavam que seus chefes eram "monstros" (no sentido de ruins, etc) eu não concordava, baseado na premissa que o que existe ali é uma relação contratual. Meu pensamento anterior era que, se existe um contrato, com deveres, obrigações e limites, eu não preciso gostar do meu chefe, nem que ele goste de mim, sequer preciso que ele me trate bem, estou ali apenas para executar a relação contratual que firmei. Bom, essa era uma visão absolutamente (e absurdamente) teórica demais, sem a vivência prática da realidade. Esse meu pensamento, em pouco tempo, ruiu. Percebi como os teóricos das Relações Humanas tinham sim razão, absoluta razão. O ambiente em que se trabalha influencia sim, assim como os comportamentos, e todos demais fatores sociais. É impossível conviver com a inabilidade social e impaciencia constante. Isso me faz pensar sobre outras teorias que defendo e/ou contesto, ainda não vivenciadas na prática, que por ventura possam estar em desarcodo com meu pensamento atual. Mas isso só descobrirei com o tempo, com a vida.
Sobre a burocracia, teorizada por Weber, entendi o motivo desta teoria (importante, para a manutenção do sistema), e dessa própria palavra, se tornar sinonimo de morosidade. Vi o meio, o carimbo, tornar-se fim em si mesmo. Outra teoria de Weber, a impessoalidade no setor público em relação aos "públicos" atendidos, vi que não funciona e não é seguida na prática. Não vou entrar em detalhes profundos sobre nada, tentando manter essa pseudo-ética (pseudo, pois não concordo com os termos) que não devemos revelar detalhes ou falar mal de empregos anteriores, etc e tal. Não estou aqui falando mal, apenas fazendo uma reflexão teórica e filosófica sobre este período de minha vida. Esse direito eu tenho.
Também confirmei a importancia dos agentes tecnocráticos para manutenção dos sistema. Segundo Bobbio, são esses agentes, não ligados a governos e que os transpassem, que mantém a máquina pública em funcionamento.
Voltando a falar das relações humanas, creio que faltou aquilo que Bakhtin chamou de "escuta amorosa da voz do outro", estabelecendo-se assim o que Foucault chama de relação de violência, ou seja, onde exista uma imposição e não haja possibilidade de contestação.
Mas isso até agora está teórico demais, e não era essa minha proposta aqui. Bom fazer citações, bom corroborar ou refutar teorias, mas o que levarei para o meu ser, que o modifique?
Bom, não sei se posso falar de modificações, acho que não, pois ainda que tenha sido interessante, não foi nenhuma experiencia extracorpórea profunda. Contudo, somos nossas vivencias, então, o quem somos é formado por nossas experiencias. Nesse sentido, claro que ajuda a constituir aquilo que eu sou.
Com certeza sentirei falta dos muitos pãezinhos que comia no café dos estagiários. Se bem que agora que sei do esquema, sempre que estiver por perto no horário darei um pulo por lá. Mas o que realmente gostei foi do café dos estagiários, e não só pelos pães e chá. Sabia que gostaria desse ambiente antes mesmo que começar, e de fato a expectativa se concretizou.
Mas talvez tenha entendido nesse tempo que a formação de amizades não se restrige ao café, nem dele depende. Ocorre a todo momento.
Fora algumas normas sociais, e dicas de postura, que sequer fariam parte do estágio, em essência, não posso dizer que aprendi muita coisa. Mas aprendi a respitar mais os engenheiros, por exemplo. Nem todos têm a mentalidade fechada no mundo das exatas, e há muitos que realmente são boas pessoas. Não sei mais o que posso dizer, e nem como terminar esse texto.
Provavelmente, um jeito adequado de terminá-lo é como terminei o estágio, em busca de equilibrio, essencial à vida. Saí por que não gostaram de minhas raras faltas, queriam dedicação total. Nem o trabalho, nem o estudo, nem a diversão, nada vale dedicação total de nossas vidas. Devemos procurar o equilibrio, e quem sabe, encontrar a harmonia.
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
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