Hoje o dia não foi bom, por diversos motivos. No texto anterior, creio que não dei a devida dimensão para a experiencia que sofri ontem, de quase ser assaltado. Já havia sido roubado antes, há uns anos (levaram minha camera, no carnaval) mas havia sido soft, "na manha", apenas com as mãos e o jeitinho. Nunca estive perante uma arma física. Ontem vi um canivete sendo empunhado perante mim. Graças a uma conjuntura de fatores (ou a Deus) o assalto não se concretizou - nem fui espoliado, nem ferido. Mas a sensação permanece.
Me sinto como aquelas pessoas (por vezes criticadas por mim) da classe média, que vão para a televisão fazer discurso com medinho da violencia. Há muito exagero nesses discursos burgueses, é verdade, mas a sensação de estar diante de uma arma, é dificil de descrever. É um choque, sem dúvidas. O sentimento, o medo, que alguém sente diante de seu semelhante não é algo que deveria fazer parte das relações humanas. E o que leva o outro a fazer isso? Qual a sensação, o sentimento, que o outro tem, no outro lado de uma arma empunhada? Por que coagir e espoliar?
Nas últimas férias, em junho/julho, fui roubado também, porém não estava presente. Na natação, que eu estava frequentando nas férias. O clube aqui de Matinhos é pequeno, e não tem muitos alunos simultaneamente, dois ou três, sendo que muitas vezes ficava sozinho. Também não tem ármarios com chave, ou coisa do tipo. Deixava minha mochila num canto, no vestiário. Dentro, a carteira. Certo dia, sumiu (e eu só perceberia no dia seguinte) 50 reais de dentro da carteira. Posso ser criticado por deixar a carteira na mochila e tanto dinheiro na carteira (nem lembro por que ele estava lá, acho que ia viajar no dia seguinte, é isso). Hoje reconheço que não devia ter feito isso, e procuro ser mais prudente, mas para mim, um clube era um local seguro. Na oportunidade, refleti, e não conseguia (e ainda não consigo) entender como uma pessoa de classe média pra cima (afinal, não há pessoas de outras classes em um clube) pode roubar outro, teoricamente sem precisar. Não estou endeusando a classe média, como se ela fosse virtuosa (longe de mim ter essa visão), mas alguem que não precisa, que tem a vida mais ou menos bem constituida, não deveria, de forma alguma, seduzir-se e roubar o outro, ainda mais por uma quantia que, relativamente, nem é tão alta. (não estou dizendo que 50 reais é pouco, de forma alguma, tanto que fez falta, mas não é algo irresistivel, pelo qual todos fraquejariam, como uma fortuna gigantesca).
E nisso vem a questão da pobreza; até dá pra entender a pessoa que, morrendo de fome, rouba para se sustentar. Ou situações análogas, que remetem à pobreza, pois o pobre já começa espoliado, desde o ponto de partida. Não estou do lado dos que justificam o pobre ser bandido. Acho essa visão relativista demais, pois se adotarmos ela, contribuiremos para a pertetuação da situação, afinal, seria "natural" sua condição de criminoso. Não acho justificavel o pobre roubar, mas acho compreensivel. Acho que, ainda que seja compreensivel, deve ser sim punido. As caracteristicas fisicas do meio-ambiente contribuem em muito para nossa formação, mas sempre há escolha, sempre há saida, do contrário, estariamos adotando uma perspectiva determinista, própria do pensamento liberal, tipica de quem defende, por exemplo, que o aborto em pobres contribui para a diminuição do crime (vide "Freakonomics", de Levitt & Dubner).
Se o pobre roubar é compreensivel (mas não justificável) o que dizer de alguém de classe média? Até hoje, talvez por meus valores morais, por que eu (acredito que) nunca faria isso, não consigo conceber que as pessoas (que não precisam) façam isso; é algo que foge à inscrição na minha memória. Não sei quem era o sujeito de ontem, não sei dizer sua classe. Sei que, em meio à luta ideológica entre liberdade versus igualdade, falta alguém para defender a fraternidade, para nos lembrar que somos todos irmãos, e não deveriamos nos matar, nos roubar. Não sei como concluir esse texto, nem acho que tenha conseguido expressar muito bem, o choque, entre outras coisas... vou ficando por aqui.
Me sinto como aquelas pessoas (por vezes criticadas por mim) da classe média, que vão para a televisão fazer discurso com medinho da violencia. Há muito exagero nesses discursos burgueses, é verdade, mas a sensação de estar diante de uma arma, é dificil de descrever. É um choque, sem dúvidas. O sentimento, o medo, que alguém sente diante de seu semelhante não é algo que deveria fazer parte das relações humanas. E o que leva o outro a fazer isso? Qual a sensação, o sentimento, que o outro tem, no outro lado de uma arma empunhada? Por que coagir e espoliar?
Nas últimas férias, em junho/julho, fui roubado também, porém não estava presente. Na natação, que eu estava frequentando nas férias. O clube aqui de Matinhos é pequeno, e não tem muitos alunos simultaneamente, dois ou três, sendo que muitas vezes ficava sozinho. Também não tem ármarios com chave, ou coisa do tipo. Deixava minha mochila num canto, no vestiário. Dentro, a carteira. Certo dia, sumiu (e eu só perceberia no dia seguinte) 50 reais de dentro da carteira. Posso ser criticado por deixar a carteira na mochila e tanto dinheiro na carteira (nem lembro por que ele estava lá, acho que ia viajar no dia seguinte, é isso). Hoje reconheço que não devia ter feito isso, e procuro ser mais prudente, mas para mim, um clube era um local seguro. Na oportunidade, refleti, e não conseguia (e ainda não consigo) entender como uma pessoa de classe média pra cima (afinal, não há pessoas de outras classes em um clube) pode roubar outro, teoricamente sem precisar. Não estou endeusando a classe média, como se ela fosse virtuosa (longe de mim ter essa visão), mas alguem que não precisa, que tem a vida mais ou menos bem constituida, não deveria, de forma alguma, seduzir-se e roubar o outro, ainda mais por uma quantia que, relativamente, nem é tão alta. (não estou dizendo que 50 reais é pouco, de forma alguma, tanto que fez falta, mas não é algo irresistivel, pelo qual todos fraquejariam, como uma fortuna gigantesca).
E nisso vem a questão da pobreza; até dá pra entender a pessoa que, morrendo de fome, rouba para se sustentar. Ou situações análogas, que remetem à pobreza, pois o pobre já começa espoliado, desde o ponto de partida. Não estou do lado dos que justificam o pobre ser bandido. Acho essa visão relativista demais, pois se adotarmos ela, contribuiremos para a pertetuação da situação, afinal, seria "natural" sua condição de criminoso. Não acho justificavel o pobre roubar, mas acho compreensivel. Acho que, ainda que seja compreensivel, deve ser sim punido. As caracteristicas fisicas do meio-ambiente contribuem em muito para nossa formação, mas sempre há escolha, sempre há saida, do contrário, estariamos adotando uma perspectiva determinista, própria do pensamento liberal, tipica de quem defende, por exemplo, que o aborto em pobres contribui para a diminuição do crime (vide "Freakonomics", de Levitt & Dubner).
Se o pobre roubar é compreensivel (mas não justificável) o que dizer de alguém de classe média? Até hoje, talvez por meus valores morais, por que eu (acredito que) nunca faria isso, não consigo conceber que as pessoas (que não precisam) façam isso; é algo que foge à inscrição na minha memória. Não sei quem era o sujeito de ontem, não sei dizer sua classe. Sei que, em meio à luta ideológica entre liberdade versus igualdade, falta alguém para defender a fraternidade, para nos lembrar que somos todos irmãos, e não deveriamos nos matar, nos roubar. Não sei como concluir esse texto, nem acho que tenha conseguido expressar muito bem, o choque, entre outras coisas... vou ficando por aqui.
Um comentário:
Acho que concordo
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