quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Pequenos Prazeres (Detalhes)

Meu último post falei sobre a dor. Agora quero falar sobre um outro aspecto, que se não nos constitui, ao menos tornam a vida todo o esplendor que ela é. Os pequenos prazeres de nosso cotidiano.
Às vezes nem nos atentamos a eles, nem os percebemos. Um som, um cheiro, um sabor. Coisas sinestésicas, mas não só. Detalhes.
O modo como a luz do corredor entra pela porta entreaberta do meu quarto escuro, nesse exato momento, iluminando-o parcialmente. Fosse num filme, acharia lindo o jogo de luz e elogiaria a fotografia.
Nem percebemos toda a beleza que nos cerca. O cheiro do suco de laranja e do pão quentinho, pela manhã. Ou o som que o pão, estalando, faz, ao ser lentamente mordido. Aproximo meu olhar e observo de perto os fios do tecido de minha roupa, como se entrelaçam, como é belo. Sinto a sua textura. Essas são apenas algumas coisas, que nem reparamos, no dia a dia.
Há também aquilo que fazemos, nossas pequenas emoções e prazeres. Fechar os olhos e sentir o sol iluminando o seu rosto. Dormir na rede, na sacada, sob as estrelas. Tenho feito isso, esses dias.
O corpo, desacostumado com a rede, até reclama, mas então você sente a brisa leve da noite, te abanando. Deitado, apenas olha para o céu e vê as estrelas. Sente o balançar da rede, lento, preguiçoso, despreocupado.
Adormece ao som do silencio da noite e dos ruidos, que estão sempre lá, mas que você nunca ouve. Os passos de um carrocho na grama. O zunido produzido pelo poste de luz. O coachar constante dos sapos, em um terreno ao longe, distante. O grilo, que produz seu som, mas logo pára. Sente os sons da noite, te abraçando.
A claridade suave da manhã nascente te acorda. Outro dia, desses pequenos prazeres, que estão sempre aí, sempre aqui, ao nosso redor. Olhe ao seu redor e perceba os detalhes, as pequenas coisas que constituem seu mundo, sem as quais, talvez nada fosse diferente, mas tudo seria diferente.

Um comentário:

Carlos Pegurski disse...

Tem uma canção do Sá e Guarabyra, ainda o Rodrix, eu acho, chamada O Brilho das Pedras. Uma das mais bonitas. Além do arranjo impecável, a letra:

Todos os dias eu faço força pra lembrar coisas pequenas que eu nunca pude reparar direito. Onde será que andava o mato do jardim e os bichos da noite que eu nunca ouvi tão alto assim? Todos os dias levanto cedo pra sentir o que eu perdia por não saber que tinha um outro jeito. Preste atenção comigo e, quando o sol nascer, o brilho das pedras vai te doer nos olhos!