sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Invencíveis

Ontem eu vi "Invictus", novo filme de Clint Eastwood, em que Morgan Freeman interpreta Nelson Mandela. Tenho duas coisas a comentar, sobre o filme, e sobre algumas coisas que o filme me fez refletir. Primeiro, o filme. 
Não gostei. A critica gostou, concorrendo ao Oscar, monte de prêmios, mas não gostei. Curioso que ultimamente a regra tem sido eu não gostar muito dos filmes do Clint Eastwood, salvo raras e honrosas exceções. Não que tenha sido um filme ruim em si, daqueles que realmente não prestam, mas não conseguiu me tocar - talvez seja apenas questão de estilo/gosto, não qualidade em si. O filme tem qualidade, certamente é merecido os prêmios que ganhar, não terá sido nenhuma injustiça, mas para mim, falta algo. A trama mostra o inicio de Mandela na presidencia, e os desafios para unir a nação dividida entra brancos e negros, e como ele usou o Rugby, esporte nacional, para promover essa união. Até aí, enquanto retrato político de Mandela, o filme é realmente muito bom. Mas então se envereda pela relação de Mandela com o capitão da seleção nacional de Rugby, interpretado por Matt Damon. O que mais me incomodou no filme é que parecem dois filmes, visivelmente dividido em duas metades. A primeira metade praticamente só tem Mandela na tela, e é muito bom. A partir da segunda metade, Mandela literalmente some, dando lugar a Matt Damon e as estratégias e treinamentos esportivos. O diretor Eastwood esquece que o esporte deveria ser só o pretexto para falar de algo maior, que é a (re)união de uma nação, e tenta fazer um filme de esportes. A meia hora final é dedicada ao jogo final, em cenas que a mim só causaram enfado - talvez algum fã até goste, mas não gostei. Eastwood não é Oliver Stone, que conseguiu fazer um filme magistral em Um Domingo Qualquer, filme assumidamente sobre esportes, que mostrava a saga de um time de futebol americano. A indecisão entre o que ser (filme político ou filme de esportes) compromete muito. A direção é comportada, tradicional - certamente vai ser elogiada. As atuações idem. É um filme que eu esperava mais e que podia ser bem melhor.
Então algumas pequenas reflexões que me vieram à mente. Nelson Mandela foi um dos maiores (senão o maior) presidente da África do Sul. É internacionalmente reconhecido. Ele abandonou a política (pessoalmente), mas continua engajado por seu partido - lembro de ano passado ler algo a respeito sobre sua participação nas eleições de lá. Ele se engajou pessoalmente na campanha pela Copa na África e conseguiu - este ano a teremos. Você consegue ver alguma semelhança, fazer algum paralelo? Não? Pois bem, vou te dizer um nome: Lula. E não é por que eu quero. Lula é um dos maiores presidentes da história do Brasil, é muito mais do que reconhecido internacionalmente (Homem do Ano de 2009 no Le Monde e no El País; premio de Estadista do Ano do fórum economico mundial, e isso são só os mais recentes, entre outras coisas). Coincidentemente, Lula também trouxe a Copa (e a Olimpíada) para o Brasil. Mas não quero comparar as biografias, ou quem é o melhor. O que eu pensei a partir do palarelo foi: no inicio Mandela era discriminado, odiado pelos brancos, o que se desfez depois. Hoje é inegável sua grandenza. Como a oposição sul-africana trata Mandela hoje em dia? Sinceramente confesso que não estou a par da política partidária da África do Sul, mas creio que, racionalmente, seria suicidio político alguém opor-se a ele. Acredito que possam se opor, partidariamente, mas sem deixar de reconhecer sua importancia. Isso é só dedução minha, a partir da atitude racional a ser adotada. E nisso acho que está um grande problema do Brasil, e grande erro da oposição brasileira. Ainda criticam Lula, querem dizer que ele é ruim, quando o povo já o aprovou. É história, não há o que se fazer; não adianta tentar mudar, tentar dizer que não. Acho que a oposição poderia se opor (constatação óbvia, não? hahaa) mas de uma forma racional, dizendo: reconhecemos a grandeza de Lula na história, mas achamos que podemos aprimorar ainda mais, discordamos em alguns pontos. Mas não, tentam negar algo que, repito, já é história. Está certo que tudo ainda é muito recente, Lula ainda nem deixou o cargo, e a oposição não pode reconhecer publicamente nesse momento isso - é natural. Mas nos próximos anos, na próxima eleição (não a deste ano, a outra) terão que reconhecer, ou não terão saída. Ou dizem: Lula foi grande, mas podemos fazer ainda mais, ou nunca conseguirão algo tentando negar a realidade, dizendo que Lula é ruim. Nisso que reside a diferença de Serra e Aécio dentro da oposição. Serra representa o passado, o rancor que tenta negar a história, Aécio (ainda que tenha posições mais liberais que o próprio Serra) representa o futuro, o chamado "pós-Lula" (e não anti-Lula), que reconhece que a história brasileira foi dividida por este homem, mas que agora temos que trabalhar para o futuro. Veja, não gosto de Aécio por suas posições políticas (como disse, mais liberal que Serra) mas ao menos ele olha para o futuro, e não para o passado. Espero que caminhemos para o futuro, reconhecendo a história.

Um comentário:

N. Herlain disse...

esta claro q o filme possui uma visão política, um marco histórico da áfrica do sul. o final que mostra em detalhes a partida final das seleções pode ser um tanto quanto exagerado, mas foi necessário para o fechamento do filme, pois o mesmo trata-se da construção da idéia de uma união necessária, caso contrário seria algo como o final de 'onde os velhos não tem vez', o qual não teria nada a ver com o estilo do filme. é um belo filme do clint, longe e ser o melhor, mas mesmo assim muito tocante. a idéia é emocionar, pois não é um filme artístico ou ao estilo independente, mas sim um mainstream, e atinge seu objetivo.

N. Herlain
(preguiça de logar na minha conta)