Sarah e Marcelo caminhavam tranquliamente em uma manhã de domingo por uma região do centro de Curitiba. Domingo pela manhã, naquele pedaço da cidade, as ruas estão desertas. Surge vindo a eles um homem. Jovem, por volta de seus 30 anos, bem vestido, parecia que acabara de tomar banho, e caminhando estavelmente. Não estava bebado, nem parecia um medingo, apesar das marcantes bolsas sob os olhos. Também não dava a impressão de ser perigoso, um criminoso. Chegou a eles numa esquina:
- Posso falar com vocês?
Os dois estavam sem pressa naquela manhã. Pararam. Pararam naquela esquina.
- Eu sou alcoolatra. - disse o homem.
Toda a conversa não demoraria mais que alguns minutos, mas marcaria.
Valdir é meu nome, disse, e pôs a contar sobre si. Como viera de longe, e estava sem rumo nessa cidade.
- Por causa da bebida perdi tudo, destrui meu casamento, minha mulher me abandonou.
Hoje ele conseguiu se livrar de um vicio, substituindo-o por outro. "Começei a usar crack para parar de beber". Era isso que ele estava indo fazer naquela manhã, nutrir seu vicio. Apontou para a outra esquina. Um homem, de boné, parado, o esperava para vender seu produto.
- Eu quero parar, e sei que só eu posso me ajudar, mas não consigo. Vou atravessar a rua, e vou continuar.
- Você ter essa noção, ter auto-conciencia de sua situação, é um passo importante já. - disse Sarah.
- Não adianta eu ter essa noção, e não conseguir dar o próximo passo.
O silêncio reinou por um breve momento, que, mesmo breve, pareceu longos minutos.
- Eu estou aqui hoje, falando com vocês, pois preciso saber se alguém ainda se importa comigo, se alguém ainda está escutando.
Sarah só pôde dar um reconfortante sorriso a ele, como quem diz sim, estou escutando.
- Quando eu estiver mal, posso pensar em vocês? Pensar, acreditar, que alguem nesse mundo ainda se importa comigo? - perguntou aquele homem, com os olhos marejados.
Sarah abraçou-o.
Ele ajeitou a camisa e disse que tinha que ir. Após uma profunda troca de olhares com Sarah virou-se e pôs-se a andar. Sarah e Marcelo ficaram por um instante parados, observando. Eles seguiram seu caminho, para nunca mais cruzarem novamente com aquele homem, enquanto Valdir seguia até a outra esquina, o destino que o aguardava.
Sarah sempre pensa em Valdir.
***
História contada por minha amiga Sarah. Triste, muito triste. Quase chorei. Mas bela, pelos simbolismos que carrega.
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
sábado, 28 de novembro de 2009
Bom jornalismo
Fiquei com muita, muita vontade de enviar isso a todos meus amigos. Como me propus a conceber um blog para, entre outras coisas, parar de encher a caixa de e-mail deles com coisas do genêro, vou tentar resistir, até onde eu puder.
Do site Vi o Mundo, do jornalista Luiz Carlos Azenha, reprodução de artigo do Der Spiegel sobre o Brasil.
É esse tipo de jornalismo que eu gostaria de fazer, que eu considero o verdadeiro jornalismo, alicerçado sob a tradição norte-americana (tenho que reconhecer que ao menos nisso os gringos são bons) que une jornalismo à literatura. Ou seja, liberdade para textos longos, composições complexas de texto, e técnicas narrativas vindas da literatura. Amo isso.
Mas como já disse, é muito mais literatura, do que aquilo que hoje em dia chamam de jornalismo. Sei que odiaria o curso de jornalismo pelo tecnicismo, pela pseudo-imparcialidade, e pelo próprio mercado de trabalho, no qual não existe espaço para excelentes artigos como esse. Mas isso, a concepção de artigos de qualidade, vai muito além do jornalismo, depende da sua sensibilidade, seu talento, e sua escrita. Nada me impede de escrever. Isso eu faço, e continuarei fazendo, espero. Inspirado por coisas assim. Meus olhos estavam marejados ao findar do texto.
Ah, é curioso notar que enquanto a Veja e congeneres "metem o pau" no Lula, internacionalmente ele é elogiado a este ponto. Lembrando que o Der Spielgel é uma das mais importantes publicações da Alemanha e do mundo.
Do site Vi o Mundo, do jornalista Luiz Carlos Azenha, reprodução de artigo do Der Spiegel sobre o Brasil.
É esse tipo de jornalismo que eu gostaria de fazer, que eu considero o verdadeiro jornalismo, alicerçado sob a tradição norte-americana (tenho que reconhecer que ao menos nisso os gringos são bons) que une jornalismo à literatura. Ou seja, liberdade para textos longos, composições complexas de texto, e técnicas narrativas vindas da literatura. Amo isso.
Mas como já disse, é muito mais literatura, do que aquilo que hoje em dia chamam de jornalismo. Sei que odiaria o curso de jornalismo pelo tecnicismo, pela pseudo-imparcialidade, e pelo próprio mercado de trabalho, no qual não existe espaço para excelentes artigos como esse. Mas isso, a concepção de artigos de qualidade, vai muito além do jornalismo, depende da sua sensibilidade, seu talento, e sua escrita. Nada me impede de escrever. Isso eu faço, e continuarei fazendo, espero. Inspirado por coisas assim. Meus olhos estavam marejados ao findar do texto.
Ah, é curioso notar que enquanto a Veja e congeneres "metem o pau" no Lula, internacionalmente ele é elogiado a este ponto. Lembrando que o Der Spielgel é uma das mais importantes publicações da Alemanha e do mundo.
***
"Pai dos Pobres" provocou milagre econômico no Brasil
Jens Glüsing - Der Spiegel
Tradução: George El Khouri Andolfato
O Brasil é visto como uma história de sucesso econômico e sua população reverencia o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como um astro. Ele está na missão de transformar o país em uma das cinco maiores economias do mundo por meio de reformas, projetos gigantes de infraestrutura e explorando vastas reservas de petróleo. Mas ele enfrenta obstáculos.
Elizete Piauí aguarda pacientemente por horas à sombra de uma mangueira. Ela calça sandálias de plástico e veste um short largo sobre suas pernas finas. A 40ºC, o ar tremula neste dia incomumente quente na Barra, uma pequena cidade no sertão, o coração do Nordeste brasileiro. Mas Elizete não se queixa, porque hoje é seu grande dia, o dia em que se encontrará com o presidente, que está trabalhando para fornecer água encanada para sua casa.
O barulho de um helicóptero sinaliza sua chegada. A aeronave branca sobrevoa a multidão antes de pousar. Uma escolta de batedores acompanha o presidente até a cerimônia.
Lula sai da limusine vestindo uma camisa branca de linho e um chapéu militar verde. Ignorando os dignitários locais em seus ternos pretos, Lula segue direto para a multidão atrás de uma barreira de segurança. "Lula, Papai!", chama Elizete. Ele a puxa até seu peito e aperta a mão de outros na multidão, permitindo que as pessoas o toquem, façam carinho e o abracem. Gotas de suor correm pelo seu rosto corado enquanto pessoas o puxam pela camisa, mas Lula se deixa embeber na atenção. Ele se sente em casa aqui, em uma das regiões mais pobres do Brasil.
O presidente passa três dias viajando pelo sertão. Ele conhece a rota. Ele veio à região pela primeira vez há 15 anos, em campanha, viajando de ônibus e ficando hospedado em locais baratos. Ele fazia paradas em todas as praças, sete ou oito vezes por dia, geralmente realizando seus discursos na traseira de um caminhão. Sua voz geralmente ficava rouca e fraca à noite e ele tinha que trocar sua camisa suada até 10 vezes por dia.
'Ele ainda é um de nós'
Agora ele viaja de helicóptero e carros blindados, com os carros da polícia, com suas luzes piscando, abrindo o caminho ao longo das estradas. Voluntários montam aparelhos de ar condicionado e bufês nos aposentos de Lula, às vezes até mesmo estendem um tapete vermelho. A imprensa critica as despesas, mas isso não incomoda a maioria dos brasileiros, porque eles têm orgulho de seu presidente. Ele chegou ao topo, eles argumentam, então por que não desfrutar de seu sucesso? "Ele ainda é um de nós", diz Elizete, "porque ele é o pai dos pobres".
Lula está familiarizado com o destino dos nordestinos pobres do Brasil. Ele nasceu no sertão, mas sua mãe colocou seus filhos na traseira de um caminhão e os levou para São Paulo, 2 mil quilômetros ao sul. A posterior ascensão de Lula ao poder começou nos subúrbios industriais de São Paulo. Sua mãe foi uma das centenas de milhares de pessoas carentes que deixaram o sertão atormentado pela seca, com seus campos ressecados e animais morrendo de sede, e migraram para o sul mais rico, para trabalhar como porteiros, garçons, operários de construção ou empregados domésticos.
Em um plano para tornar verde esta região árida, Lula está explorando as águas dos 2.700 quilômetros do Rio São Francisco, um rio vital para grandes partes do Brasil. O rio fornece água para cinco Estados, mas ele faz contorna o Sertão. Segundo o plano de Lula, dois canais desviarão água do rio por 600 quilômetros até as áreas atingidas pela seca. "É o mínimo que posso fazer por vocês", Lula diz às pessoas na Barra.
Projeto controverso
O megaprojeto, que exige a superação de uma diferença de altitude de 200 metros, tem um custo estimado de R$ 6,6 bilhões. Lula posicionou soldados na região para escavar os canais. Oito mil trabalhadores labutam nos canteiros de obras enquanto tratores e escavadeiras movem a terra pela estepe. Se tudo correr bem, 12 milhões de brasileiros se beneficiarão com o projeto de transposição de águas, que deverá ser concluído em 2025. É o maior e mais caro projeto de Lula, assim como provavelmente seu mais controverso.
Aqueles que o apoiam comparam Lula ao presidente americano Franklin D. Roosevelt, que represou o Rio Tennessee nos anos 30, para fornecer eletricidade à região, e que lançou o New Deal, um imenso programa de investimento para superar a Grande Depressão. Mas os críticos veem a obra como um imenso desperdício de dinheiro. O projeto também atraiu a ira dos ambientalistas e até mesmo o bispo da Barra já fez duas greves de fome contra ele. Ele teme que o projeto de transposição das águas secará ainda mais o rio, alegando que a irrigação beneficiaria principalmente o setor agrícola.
O bispo não está presente. Dizem que ele está participando de reuniões fora da cidade. Na verdade, o religioso está mantendo discrição. As críticas ao presidente são desaprovadas por sua congregação. Lula fala a linguagem das pessoas comuns, contando histórias de sua juventude aos seus simpatizantes, histórias dos tempos em que sua mãe o enviava para buscar água e ele voltava para casa equilibrando um balde pesado sobre sua cabeça. Ele tinha cinco anos na época.
O Brasil já foi chamado de "Belíndia", um termo cunhado por um empresário que via o vasto país como uma mistura entre a Bélgica e a Índia, um lugar com riqueza europeia e pobreza asiática, onde o abismo entre ricos e pobres parecia intransponível. Lula foi o primeiro a construir uma ponte entre os dois Brasis.
Agora ele é tanto o queridinho dos banqueiros quanto ídolo dos pobres. Com o chamado presidente operário no comando, o Brasil está atraindo investidores de todas as partes do mundo. Jim O'Neill, o economista chefe do Goldman Sachs, inventou a sigla Bric para as economias emergentes do Brasil, Rússia, Índia e China, prevendo um futuro brilhante para o gigante sul-americano. Mas seus colegas zombaram dele. A China e a Índia certamente tinham perspectivas, mas o Brasil? Por décadas o país era visto como um gigante acorrentado, atormentado por crises infindáveis e inflação.
Potência econômica ascendente
Mas hoje o "B" é a estrela entre os países Bric, com os especialistas prevendo um crescimento de até 5% para a economia brasileira em 2010. O Brasil está atualmente crescendo mais rápido do que a Rússia e, diferente da Índia, não sofre de conflitos étnicos ou disputas de fronteira. O país de 192 milhões de habitantes possui um mercado doméstico estável, com as exportações - carros e aeronaves, soja e minério de ferro, petróleo e celulose, açúcar, café e carne bovina - correspondendo a apenas 13% do produto interno bruto.
E como a China substituiu os Estados Unidos como maior parceira comercial do Brasil no início deste ano, o país não foi severamente afetado pela recessão no mercado americano como poderia ter sido. Os bancos do Brasil são fortes, estáveis e não encontraram grandes dificuldades durante a crise. Mais importante, entretanto, é o fato do Brasil ser uma democracia estável, ao estilo ocidental.
O país pagou sua dívida externa e até mesmo passou a emprestar ao Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo acumulou mais de US$ 200 bilhões em reservas e o real é considerado uma das moedas mais fortes do mundo. Especialistas internacionais preveem uma década de prosperidade e crescimento para o país. Lula prevê que o Brasil será uma das cinco maiores economias do planeta em 2016, o ano em que o Rio de Janeiro será sede dos Jogos Olímpicos. O país será sede da Copa do Mundo de 2014.
E ainda há os recursos naturais aparentemente ilimitados do Brasil, vastas reservas de água doce e petróleo. O Brasil exporta mais carne do que os Estados Unidos. E a China estaria em dificuldades sem a soja brasileira. Nos hangares da fabricante de aviões, a Embraer, perto de São Paulo, engenheiros brasileiros constroem aviões para companhias aéreas de todo o mundo, incluindo aviões para trajetos menores para a Lufthansa.
Um patriarca extremamente popular
Em outras palavras, o presidente Lula tem bons motivos para estar repleto de autoconfiança. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o presidente da França, Nicolas Sarkozy, o estão cortejando, enquanto Wall Street praticamente o venera. Ele é até mesmo tema de um novo filme, "Lula, o Filho do Brasil", que descreve a saga de sua ascensão de engraxate a presidente.
Todo o Brasil desfruta da fama de seu presidente que, há menos de sete anos no poder, atualmente conta com um índice de aprovação acima de 80%. A oposição praticamente desapareceu e o Congresso se tornou submisso. Lula dirige o país como um patriarca, tanto que seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, o está acusando de "autoritarismo" e alertando que o Brasil está no caminho de um capitalismo estatal.
Há um quê de verdade nas alegações de Fernando Henrique. Lula nunca teve confiança na capacidade do mercado de curar a si mesmo e considera que o Estado deve moldar uma nova ordem social. Ele adora projetos impressionantes e gestos nacionalistas. Ele é pragmático, mas despreza especuladores. "Brancos com olhos azuis" levaram o mundo à beira da ruína financeira, ele disse recentemente. Ele falava dos banqueiros.
A crise financeira apenas confirmou o ceticismo de Lula em relação ao capitalismo. Lula acredita que o Brasil lidou melhor com a crise do que outros países porque o governo adotou medidas corretivas desde cedo. Segundo Lula, o combate à pobreza e a distribuição justa de renda não podem ficar aos cuidados do mercado.
Classe média crescente
Sob sua liderança, milhões de brasileiros ingressaram na classe média. A evidência dessa transformação social está por toda a parte: nos shopping centers do Rio e São Paulo, lotados de famílias barulhentas da periferia, ou nos aeroportos, onde mães jovens ficam na fila do balcão de check-in, aguardando para embarcar em um avião pela primeira vez em suas vidas. "A desigualdade entre ricos e pobres está começando a diminuir", diz o economista e especialista em estudos sobre a pobreza, Ricardo Paes de Barros.
A chave para aquela que provavelmente é a maior redistribuição de riqueza na história brasileira é o programa social Bolsa Família, sob o qual uma mãe carente que possa comprovar que seus filhos estão frequentando a escola recebe até R$ 200 por mês do governo. A primeira vista pode não parecer muito, mas este subsídio do governo ajuda milhões de pessoas a sobreviverem no Nordeste brasileiro.
Especialistas inicialmente criticaram o programa como sendo apenas uma esmola, mas agora ele é visto como um modelo mundial. Mais de 12 milhões de lares recebem os subsídios, com grande parte do dinheiro indo para o Nordeste. Graças ao programa Bolsa Família, a região antes atingida pela pobreza começou a prosperar. Muitos nordestinos abriram pequenas empresas ou lojas e a indústria descobriu o Nordeste como mercado. "Agora a região está crescendo por conta própria", diz Paes de Barros.
Lula foi abençoado pela sorte. Seu antecessor, Fernando Henrique, já tinha estabilizado a economia, que sofria com a hiperinflação, quando foi ministro da Fazenda em 1994. Ele impôs uma reforma da moeda ao país e implantou leis que forçaram o governo a adotar políticas com responsabilidade fiscal. Lula não mudou nada disso.
Não havia necessidade de Lula reinventar a política econômica e social do Brasil. O país tem uma tradição de controle total da economia pelo governo que remonta aos anos 30.
O plano Marshall próprio do Brasil
Os centros nervosos da política econômica do país ficam abrigados em dois imponentes arranha-céus no centro do Rio. O Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), que conta com seus escritórios em uma torre de aço e vidro, foi criado com a ajuda americana e usando o KFW Banking Group da Alemanha como modelo. Ele financiou uma versão brasileira do Plano Marshall.
Nos anos 90, o BNDES administrou com sucesso a privatização de muitas estatais brasileiras. Hoje, ele fornece assistência a fusões e aquisições corporativas, ajuda empresas em dificuldades e financia os investimentos estratégicos do governo.
O BNDES é altamente respeitado. Acredita-se que seja em grande parte livre de corrupção e ele paga os mais altos salários do país. "Há um ano, os bancos estrangeiros batiam à minha porta perguntando se o Brasil estava preparado para a crise financeira", diz Ernani Teixeira, um dos diretores financeiros do banco. Teixeira conseguiu tranquilizá-los, notando que o BNDES tinha separado R$ 100 bilhões em reservas adicionais. No ano passado, o banco emitiu mais empréstimos e garantias de empréstimos do que o Banco Mundial - e até apresentou um lucro respeitável.
O segundo pilar do milagre econômico brasileiro fica diagonalmente no outro lado da rua: um bloco de concreto, iluminado à noite com as cores nacionais, verde e amarelo, é a sede do grupo de energia semiestatal Petrobras. A empresa planeja investir US$ 174 bilhões nos próximos quatro anos em plataformas de perfuração, navios e outros equipamentos para explorar as grandes reservas de petróleo além da costa do Brasil.
Há um ano e meio, a Petrobras descobriu novas reservas de petróleo sob o leito do oceano. Mas o petróleo será difícil de extrair, por estar situado abaixo de uma camada de sal em profundidades de pelo menos 6 mil metros. A expectativa é de que os poços comecem a produzir daqui pelo menos seis anos. A receita desse petróleo será depositada em um fundo que o governo usará principalmente para financiar novas escolas e universidades.
Lula apresentou recentemente uma legislação que regulamentaria a exploração das reservas de petróleo submarinas, fortalecendo assim o monopólio da Petrobras. Especialistas temem que Lula esteja criando um monstro corporativo poderoso e corruptível.
Obstáculos burocráticos
O imenso apagão que ocorreu simultaneamente em grandes partes do país, há duas semanas, teria sido um sinal de alerta de que o governo está indo além de sua capacidade? A modernização da infraestrutura decrépita do Brasil está avançando, mas lentamente. Bilhões de dólares em investimentos em portos, construção de estradas e no setor de energia existem apenas no papel, com a implantação atrapalhada por uma burocracia kafkaniana e um Judiciário moroso. Além disso, o país também não teve muito sucesso no combate à criminalidade.
Lula tem mais um ano no poder, após ter resistido à tentação de manipular a Constituição para garantir sua reeleição para um terceiro mandato. Ávido em preservar seu legado, ele tem buscado a indicação de sua ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, como sua sucessora, apesar da resistência dentro do próprio Partido dos Trabalhadores.
Rousseff, que foi integrante dos grupos guerrilheiros de esquerda após o golpe militar de 1964 e que posteriormente passou anos presa, tem uma reputação de tecnocrata competente, mas é vista como inacessível e autoritária. Ela está acompanhando o presidente em suas viagens pelo país, inaugurando novas estradas e usinas elétricas. Lula a apoia de modo tão determinado que até parece estar fazendo campanha para si mesmo.
Ela também está com ele em seu giro pelo Nordeste, apesar dos médicos terem removido um tumor de sua axila há poucos meses. Acredita-se que ela esteja curada e ela atualmente usa uma peruca após a quimioterapia. Seu rosto é pálido e seu sorriso parece congelado. O presidente a puxa para o seu lado quando ele caminha até o microfone, e ele menciona o nome dela repetidas vezes.
Elizete Piauí, ainda completamente embriagada pelo seu encontro com Lula, a viu pela televisão. Ela sabe que Dilma é a candidata de Lula e ela fará campanha pela ministra, apesar de que preferiria que Lula permanecesse no poder. "Eu votarei em qualquer pessoa que ele indicar", ela diz.
Lula também prometeu retornar. Antes do fim de sua presidência, ele planeja fazer outra viagem ao Nordeste para ver o quanto progrediram as obras no Rio São Francisco. Talvez, espera Elizete, ele terá atendido seu maior desejo até lá e ela poderá servir a ele um copo de água - de sua própria torneira, em sua própria casa.
Extraido de: http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/der-spiegel-sobre-o-brasil/
Link original: http://www.spiegel.de/international/world/0,1518,662917,00.html
Link original: http://www.spiegel.de/international/world/0,1518,662917,00.html
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Das coleções, relíquias e bens sentimentais (Ou coleção de selos)
Queria fazer um texto bem light, a partir de um tema absolutamente banal. Pensei nas coisas cotidianas, banais, que não renderiam, de forma alguma, um texto. Então veio-me à mente: coleção de selos. E o que que tem uma coleção de selos? Nada de especial. Ou tudo de especial. Eu não tenho coleção de selos, apesar de ter alguns guardados, nem meia dúzia. Acho que isso não faz de mim um colecionador. Mas por que as pessoas guardam selos, ou por que guardam quaisquer coisas? Coleções, eis aí o tema amplo.
Coleções, eu tenho. Tenho algumas. Gosto de colecionar camisetas, por exemplo. Destas temáticas, que só se usa uma vez na vida, enquanto naquela situação. Feira de profissões da Universidade, por exemplo. Eles distribuem as camisetas gratuitamente, como forma de divulgação. Uso durante o evento, mas não saio por aí com ela. Guardo-a, de lembrança daquela situação. A mesma relação tenho com viagens; sempre compro uma camiseta temática do local visitado, pelos mesmo motivos. Mas quais as relações por detrás disso? Por que as pessoas guardam essas relíquias, sejam selos, sejam camisetas, ou o que for?
A relíquia representa um bem sentimental, uma materialidade de algo. As lembranças são subjetivas e necessitam da materialidade para serem reforçadas e se realizar. Mas será que necessitam mesmo? Vejo a fotografia ser tratada assim. O registro do momento. Mais tarde, fotografias se tornam estes bens sentimentais. Mas, apesar de termos essas relações com este objetos, com essas relíquias, a gravação mais importante acontece não em um meio material, mas em nós mesmos. O objeto em si não representa nada, seja um selo, uma camiseta ou uma fotografia, somos nós que damos valor a ele. Ou seja, está em nós o valor, o bem sentimental. Eu mesmo tenho e gosto dessas materialidades, camisetas, fotos, e outras coleções, mas será mesmo que precisamos delas, uma vez que o valor está em nós? Como cantaria Leoni:
O que vai ficar na fotografia
São os laços invisíveis que havia
As cores, figuras, motivos
O sol passando sobre os amigos
Histórias, bebidas, sorrisos
E afeto em frente ao mar.
Coleções, eu tenho. Tenho algumas. Gosto de colecionar camisetas, por exemplo. Destas temáticas, que só se usa uma vez na vida, enquanto naquela situação. Feira de profissões da Universidade, por exemplo. Eles distribuem as camisetas gratuitamente, como forma de divulgação. Uso durante o evento, mas não saio por aí com ela. Guardo-a, de lembrança daquela situação. A mesma relação tenho com viagens; sempre compro uma camiseta temática do local visitado, pelos mesmo motivos. Mas quais as relações por detrás disso? Por que as pessoas guardam essas relíquias, sejam selos, sejam camisetas, ou o que for?
A relíquia representa um bem sentimental, uma materialidade de algo. As lembranças são subjetivas e necessitam da materialidade para serem reforçadas e se realizar. Mas será que necessitam mesmo? Vejo a fotografia ser tratada assim. O registro do momento. Mais tarde, fotografias se tornam estes bens sentimentais. Mas, apesar de termos essas relações com este objetos, com essas relíquias, a gravação mais importante acontece não em um meio material, mas em nós mesmos. O objeto em si não representa nada, seja um selo, uma camiseta ou uma fotografia, somos nós que damos valor a ele. Ou seja, está em nós o valor, o bem sentimental. Eu mesmo tenho e gosto dessas materialidades, camisetas, fotos, e outras coleções, mas será mesmo que precisamos delas, uma vez que o valor está em nós? Como cantaria Leoni:
O que vai ficar na fotografia
São os laços invisíveis que havia
As cores, figuras, motivos
O sol passando sobre os amigos
Histórias, bebidas, sorrisos
E afeto em frente ao mar.
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Sobre trabalho participacionista
No dia em que saí (ou fui demitido, como preferirem) do estágio na UTFPR encontrei a prof.ª Valéria no corredor. Ela soubera do fato. Conversamos um pouco. Comentei que achava que uma instituição de ensino deveria ser flexivel de aceitar a falta de seus funcionários, quando para fins acadêmicos (faltava no estágio, por que sou representante discente na Câmara do Gestão Pública. A Câmara do Curso é, na Federal, o equivalente ao Colegiado da UTFPR, só muda o nome). A Valéria me respondeu que eu deveria me acostumar, pois dificilmente algum emprego iria ser tão compreensivo. Ela errou. Bom, ela acertou, ao falar sobre o resto do mundo, mas ela errou. Achei sim, um outro emprego, que é assim, que é muito mais.
Ganhei uma bolsa da UFPR. Provavelmente o Prof. Rodrigo pode ser considerado o melhor chefe do mundo. Aqui eu vou ter que fazer um parentesis, para falar sobre uma teoria, mas que tem a ver com o contexto. Nas Teorias da Democracia existe a teoria democratica participacionista, ou simplesmente corrente participacionista. Uns dos autores mais relevantes são Carole Pateman e Charles MacPherson. O mote maior de toda teoria participacinista é "o individuo deve participar de toda decisão que lhe afete". Essa teoria defende, entre outras coisas, a "democratização do ambiente de trabalho". A tese é: se um sujeito passa a vida inteira sendo mandado, obedecendo ordens, ele não "sabe" participar. Votar, uma vez a cada 4 anos, não significa nada para ele. Então, as pessoas tem que ser "empoderadas", devem passar a ter, no seu dia-a-dia, exercicios de participação, tomadas reais de decisão, como uma função "pedagógica" do ato de participar. Ou seja, o ambiente de trabalho não pode ser construido de cima para baixo, os empregados devem ter decisão sobre o próprio trabalho, sobre seus afazeres.
Agora sou bolsista da coordenação do curso de Gestão Pública. O prof. Rodrigo é o coordenador do curso. Perguntei, no primeiro dia: "O que eu faço agora? O que eu devo fazer, qual meu serviço?". "Faça o que você quiser, cara.", respondeu, tranquilamente. Ele, aparentemente, é adepto dessa teoria. Para ilustrar contou a história do filme "Mash". Robert Altman começou a filmar sem roteiro, os atores perguntavam pra ele o que fazer, e ele respondia "inventa". No fim, saiu um dos melhores filmes de guerra já feitos. Como eu disse, provavelmente poderia ser considerado o melhor chefe do mundo. O mais engraçado é que fui de um extremo a outro. Da Terezinha, autoritária-mór, ao Rodrigo, sem amarras ou compromissos.
E o que eu fiz? Devo reconhecer que muito pouco, por enquanto. Talvez a teoria esteja mesmo certa, e eu não saiba (ainda) participar, tomar as decisões que me afetam. É fato que funciono bem sobre pressão, as melhores coisas que faço, que produzo, são na véspera da entrega. Quase todas deixo para realizar na véspera da entrega. Sinceramente, me sinto um tanto estranho recebendo salário por isso. Não fiz nada até agora, praticamente, e lá se vai um mês. Não acho justo, mas também não vou dizer que quero deixar de receber. Ficar solto, sem pressão ou compromisso, para decidir eu mesmo o que quero fazer, foi (e está sendo) uma experiencia nova, estranha, mas, no fim, espero que produtiva.
Ganhei uma bolsa da UFPR. Provavelmente o Prof. Rodrigo pode ser considerado o melhor chefe do mundo. Aqui eu vou ter que fazer um parentesis, para falar sobre uma teoria, mas que tem a ver com o contexto. Nas Teorias da Democracia existe a teoria democratica participacionista, ou simplesmente corrente participacionista. Uns dos autores mais relevantes são Carole Pateman e Charles MacPherson. O mote maior de toda teoria participacinista é "o individuo deve participar de toda decisão que lhe afete". Essa teoria defende, entre outras coisas, a "democratização do ambiente de trabalho". A tese é: se um sujeito passa a vida inteira sendo mandado, obedecendo ordens, ele não "sabe" participar. Votar, uma vez a cada 4 anos, não significa nada para ele. Então, as pessoas tem que ser "empoderadas", devem passar a ter, no seu dia-a-dia, exercicios de participação, tomadas reais de decisão, como uma função "pedagógica" do ato de participar. Ou seja, o ambiente de trabalho não pode ser construido de cima para baixo, os empregados devem ter decisão sobre o próprio trabalho, sobre seus afazeres.
Agora sou bolsista da coordenação do curso de Gestão Pública. O prof. Rodrigo é o coordenador do curso. Perguntei, no primeiro dia: "O que eu faço agora? O que eu devo fazer, qual meu serviço?". "Faça o que você quiser, cara.", respondeu, tranquilamente. Ele, aparentemente, é adepto dessa teoria. Para ilustrar contou a história do filme "Mash". Robert Altman começou a filmar sem roteiro, os atores perguntavam pra ele o que fazer, e ele respondia "inventa". No fim, saiu um dos melhores filmes de guerra já feitos. Como eu disse, provavelmente poderia ser considerado o melhor chefe do mundo. O mais engraçado é que fui de um extremo a outro. Da Terezinha, autoritária-mór, ao Rodrigo, sem amarras ou compromissos.
E o que eu fiz? Devo reconhecer que muito pouco, por enquanto. Talvez a teoria esteja mesmo certa, e eu não saiba (ainda) participar, tomar as decisões que me afetam. É fato que funciono bem sobre pressão, as melhores coisas que faço, que produzo, são na véspera da entrega. Quase todas deixo para realizar na véspera da entrega. Sinceramente, me sinto um tanto estranho recebendo salário por isso. Não fiz nada até agora, praticamente, e lá se vai um mês. Não acho justo, mas também não vou dizer que quero deixar de receber. Ficar solto, sem pressão ou compromisso, para decidir eu mesmo o que quero fazer, foi (e está sendo) uma experiencia nova, estranha, mas, no fim, espero que produtiva.
domingo, 22 de novembro de 2009
Espoliações
Hoje o dia não foi bom, por diversos motivos. No texto anterior, creio que não dei a devida dimensão para a experiencia que sofri ontem, de quase ser assaltado. Já havia sido roubado antes, há uns anos (levaram minha camera, no carnaval) mas havia sido soft, "na manha", apenas com as mãos e o jeitinho. Nunca estive perante uma arma física. Ontem vi um canivete sendo empunhado perante mim. Graças a uma conjuntura de fatores (ou a Deus) o assalto não se concretizou - nem fui espoliado, nem ferido. Mas a sensação permanece.
Me sinto como aquelas pessoas (por vezes criticadas por mim) da classe média, que vão para a televisão fazer discurso com medinho da violencia. Há muito exagero nesses discursos burgueses, é verdade, mas a sensação de estar diante de uma arma, é dificil de descrever. É um choque, sem dúvidas. O sentimento, o medo, que alguém sente diante de seu semelhante não é algo que deveria fazer parte das relações humanas. E o que leva o outro a fazer isso? Qual a sensação, o sentimento, que o outro tem, no outro lado de uma arma empunhada? Por que coagir e espoliar?
Nas últimas férias, em junho/julho, fui roubado também, porém não estava presente. Na natação, que eu estava frequentando nas férias. O clube aqui de Matinhos é pequeno, e não tem muitos alunos simultaneamente, dois ou três, sendo que muitas vezes ficava sozinho. Também não tem ármarios com chave, ou coisa do tipo. Deixava minha mochila num canto, no vestiário. Dentro, a carteira. Certo dia, sumiu (e eu só perceberia no dia seguinte) 50 reais de dentro da carteira. Posso ser criticado por deixar a carteira na mochila e tanto dinheiro na carteira (nem lembro por que ele estava lá, acho que ia viajar no dia seguinte, é isso). Hoje reconheço que não devia ter feito isso, e procuro ser mais prudente, mas para mim, um clube era um local seguro. Na oportunidade, refleti, e não conseguia (e ainda não consigo) entender como uma pessoa de classe média pra cima (afinal, não há pessoas de outras classes em um clube) pode roubar outro, teoricamente sem precisar. Não estou endeusando a classe média, como se ela fosse virtuosa (longe de mim ter essa visão), mas alguem que não precisa, que tem a vida mais ou menos bem constituida, não deveria, de forma alguma, seduzir-se e roubar o outro, ainda mais por uma quantia que, relativamente, nem é tão alta. (não estou dizendo que 50 reais é pouco, de forma alguma, tanto que fez falta, mas não é algo irresistivel, pelo qual todos fraquejariam, como uma fortuna gigantesca).
E nisso vem a questão da pobreza; até dá pra entender a pessoa que, morrendo de fome, rouba para se sustentar. Ou situações análogas, que remetem à pobreza, pois o pobre já começa espoliado, desde o ponto de partida. Não estou do lado dos que justificam o pobre ser bandido. Acho essa visão relativista demais, pois se adotarmos ela, contribuiremos para a pertetuação da situação, afinal, seria "natural" sua condição de criminoso. Não acho justificavel o pobre roubar, mas acho compreensivel. Acho que, ainda que seja compreensivel, deve ser sim punido. As caracteristicas fisicas do meio-ambiente contribuem em muito para nossa formação, mas sempre há escolha, sempre há saida, do contrário, estariamos adotando uma perspectiva determinista, própria do pensamento liberal, tipica de quem defende, por exemplo, que o aborto em pobres contribui para a diminuição do crime (vide "Freakonomics", de Levitt & Dubner).
Se o pobre roubar é compreensivel (mas não justificável) o que dizer de alguém de classe média? Até hoje, talvez por meus valores morais, por que eu (acredito que) nunca faria isso, não consigo conceber que as pessoas (que não precisam) façam isso; é algo que foge à inscrição na minha memória. Não sei quem era o sujeito de ontem, não sei dizer sua classe. Sei que, em meio à luta ideológica entre liberdade versus igualdade, falta alguém para defender a fraternidade, para nos lembrar que somos todos irmãos, e não deveriamos nos matar, nos roubar. Não sei como concluir esse texto, nem acho que tenha conseguido expressar muito bem, o choque, entre outras coisas... vou ficando por aqui.
Me sinto como aquelas pessoas (por vezes criticadas por mim) da classe média, que vão para a televisão fazer discurso com medinho da violencia. Há muito exagero nesses discursos burgueses, é verdade, mas a sensação de estar diante de uma arma, é dificil de descrever. É um choque, sem dúvidas. O sentimento, o medo, que alguém sente diante de seu semelhante não é algo que deveria fazer parte das relações humanas. E o que leva o outro a fazer isso? Qual a sensação, o sentimento, que o outro tem, no outro lado de uma arma empunhada? Por que coagir e espoliar?
Nas últimas férias, em junho/julho, fui roubado também, porém não estava presente. Na natação, que eu estava frequentando nas férias. O clube aqui de Matinhos é pequeno, e não tem muitos alunos simultaneamente, dois ou três, sendo que muitas vezes ficava sozinho. Também não tem ármarios com chave, ou coisa do tipo. Deixava minha mochila num canto, no vestiário. Dentro, a carteira. Certo dia, sumiu (e eu só perceberia no dia seguinte) 50 reais de dentro da carteira. Posso ser criticado por deixar a carteira na mochila e tanto dinheiro na carteira (nem lembro por que ele estava lá, acho que ia viajar no dia seguinte, é isso). Hoje reconheço que não devia ter feito isso, e procuro ser mais prudente, mas para mim, um clube era um local seguro. Na oportunidade, refleti, e não conseguia (e ainda não consigo) entender como uma pessoa de classe média pra cima (afinal, não há pessoas de outras classes em um clube) pode roubar outro, teoricamente sem precisar. Não estou endeusando a classe média, como se ela fosse virtuosa (longe de mim ter essa visão), mas alguem que não precisa, que tem a vida mais ou menos bem constituida, não deveria, de forma alguma, seduzir-se e roubar o outro, ainda mais por uma quantia que, relativamente, nem é tão alta. (não estou dizendo que 50 reais é pouco, de forma alguma, tanto que fez falta, mas não é algo irresistivel, pelo qual todos fraquejariam, como uma fortuna gigantesca).
E nisso vem a questão da pobreza; até dá pra entender a pessoa que, morrendo de fome, rouba para se sustentar. Ou situações análogas, que remetem à pobreza, pois o pobre já começa espoliado, desde o ponto de partida. Não estou do lado dos que justificam o pobre ser bandido. Acho essa visão relativista demais, pois se adotarmos ela, contribuiremos para a pertetuação da situação, afinal, seria "natural" sua condição de criminoso. Não acho justificavel o pobre roubar, mas acho compreensivel. Acho que, ainda que seja compreensivel, deve ser sim punido. As caracteristicas fisicas do meio-ambiente contribuem em muito para nossa formação, mas sempre há escolha, sempre há saida, do contrário, estariamos adotando uma perspectiva determinista, própria do pensamento liberal, tipica de quem defende, por exemplo, que o aborto em pobres contribui para a diminuição do crime (vide "Freakonomics", de Levitt & Dubner).
Se o pobre roubar é compreensivel (mas não justificável) o que dizer de alguém de classe média? Até hoje, talvez por meus valores morais, por que eu (acredito que) nunca faria isso, não consigo conceber que as pessoas (que não precisam) façam isso; é algo que foge à inscrição na minha memória. Não sei quem era o sujeito de ontem, não sei dizer sua classe. Sei que, em meio à luta ideológica entre liberdade versus igualdade, falta alguém para defender a fraternidade, para nos lembrar que somos todos irmãos, e não deveriamos nos matar, nos roubar. Não sei como concluir esse texto, nem acho que tenha conseguido expressar muito bem, o choque, entre outras coisas... vou ficando por aqui.
sábado, 21 de novembro de 2009
Sobre amigos e festas
Tinha um post pronto para publicar sobre meu "trabalho" na federal, mas um novo assunto se faz necessário. Acordei a pouco, e estou escrevendo, lentamente, ainda tonto. É uma nova experiencia. Meu óculos está torto. Ontem fui na despedida do Ringo, na Centran. Centran, bom lugar pra festas. Saí da reunião do Centro Acadêmico e já emendei, direto. A noite começou já de cara com energético misturado com vokda. Muito, muito bom. Queria mais, mas tinha acabado. Um pouco de cerveja. Sei que estou bebado quando bebo cerveja (e eu virei) e não sinto o gosto ruim. Realmente não gosto de cerveja. Chegou mais energético, que bom! Segunda dose.. O copo era grande, alto, sabe? Bom. Dançei, talvez efusivamente demais, mas vou aprender a dançar a partir de agora quero dançar. Curioso como eu sou "teoricista"; mesmo para entender e viver a realidade, precisa duma teoria. Outro dia estava lendo sobre a virtualização do real. Não lembro se Baudrillard ou Virilio que falam que a dança e o teatro são as ultimas formas verdadeiras de arte, pois exigem a presença no real, mas demais formas de interação estão virtualizadas. Passei a dar mais valor à dança. Dançei. Depois inventaram uma brincadeira. Entrei na fila. Muito bom. Coloca-se sal sobre um pedaço de limão cortado em triangulo. Chupa-se o limão com sal, e segura na boca. Depois engole-se, por cima, uma dose de vokda (mais tarde substituida por velho barreiro, pois a smirnoff acabara). Segura-se tudo na boca. As pessoas ao lado sacodem sua cabeça, para misturar as coisas dentro da sua boca. Sua cabeça é o receptáculo de mistura. Engole-se. Muito bom. Uhul!!, gritei depois de engolir. Segunda vez. Depois da segunda estava bem louco já. Agarrei os peitos de uma menina. Desculpe, Karize, ao menos eu tenho uma desculpa. Fiz malabaris com uma garrafa, e consegui! A técnica até que não é dificil, a Gi ensina muita bem. Dancei, e fui um pouco chato para pessoas que até então eu não era chato. Quero ver como continuarão os relacionamentos a partir de agora. Terceira vez. Depois da quarta vez com a cabeça sendo sacudida, nem gritar mais eu consegui. Sentei um pouco, no sofazinho. Mas decidi ir pra casa, não queria passar a uma imagem muito.. sei lá. Diiculdade para se equilibrar na bicicleta. Dificuldade é eufemismo. Fui empurrando mesmo. Quase chegando em casa, quase fui assaltado. Um cara passou a me seguir, lado a lado. Uma quadra. Ele não pensou que eu já estava chegando, comentou algo sobre o centro (é caminho), pensou que eu ia pra lá. Parei. Abri a portão, entrei. Ele, parou também. Aproximou-se do portão, caminhando para abri-lo. Puxou um objeto pontiagudo. Sem óculos (acho, ou eu estava com óculos?) e ainda bebado, foi impossivel enxergar, sem nitidez ou foco. Provavelmente um canivete. Gritei "não, socorro". Ninguem ouviu, ninguem ouviria. Minha mãe já estava dormindo. Ainda bem que ele não sabia. Montou no bike dele, e saiu correndo. Odeio esses realismos da realidade, tal qual ser assaltado. Meu coração ainda bate forte, pela experiencia. Ainda bem, que acabou bem. Entrei em casa, empurrei para dentro minha bicicleta e subi pro quarto. PC ligado, e-mail aberto. Não vou mais fazer isso, deixar tudo ligado e aberto, quando sair para festas. "Responder a todos", cliquei em um e-mail, que nem havia lido. Tudo bem, pelo menos não foi nada muito demais. Deitei e dormi. Gosto do pessoal do Enuds. Gosto de todos meus amigos, sem preferencias. Gosto de ter amigos. Meus amigos da UTFPR brincam comigo, pelo pessoal ser mais "alternativo", pela temática da viagem a Minas, e congeneres. Mas fiz bons amigos por lá. Não preciso ser gay, para ter amigos gays. Gosto deles, pois são abertos a novas idéias e pessoas, e me sinto realmente acolhido entre eles. Gosto dos meus amigos gays, assim como gosto de meus amigos de Curitiba. Amo todos. E agora vou voltar a dormir.
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
Sobre relaxar, ler e ver o mar
Comprei um livro. "Sobre formigas e cigarras", de Antonio Palocci. Estava na promoção e barato, com um bom desconto. Na verdade, ganhei o livro, já que meu amigo Carlos o pagou, mesmo que não tendo escrito nenhuma dedicatória. Tenho dez mil coisas atrasadas para fazer (imagine, duas faculdades, mais um "estágio" - falarei do estágio na próxima postagem), mas deixo tudo de lado, para ler o livro. Ele me seduz, e eu o devoro. (duplo sentido sexual demais para o meu gosto, mas vai lá). Geralmente gasto muito tempo para ler. Li metade em um dia, de ontem pra hoje. Adoro histórias da caserna, os bastidores o poder. Não tenho nada muito profundo a comentar sobre isso, só que estou me sentindo de volta aos tempos pré-faculdade, como se estivesse de férias; não levo nada a sério, leio o que eu quero, que nada tem a ver com as faculdades. Só quero ver as notas no fim do semestre, mas também não estou muito preocupado com isso. Hoje acordei ao meio-dia, e o Encon se f.... Desejo sucesso a eles, mas não ia lá mesmo assistir. Foi bom dormir. Quero dormir, ir de bermuda para a aula, ler Palocci, dar um mergulho no mar (como farei daqui a pouco), e curtir a vida. Não vale a pena fazer nada mais, além disso, sem isso.
Sobre fotos e retoques
"Que pena, vazou um pouco de luz. Mas tudo bem, a gente corta depois, na ampliação". Essa frase não existiu, não foi dita realmente. Não foi dita, apenas por que não passou pela cabeça de ninguem dizê-la, mas poderia perfeitamente ter sido dita. De fato, vazou luz, e é verdade que vai ter que ser arrumada, na ampliação.
Às quintas-feiras faço aula de Fotografia, na UTFPR, como optativa (ou enriquecimento curricular, como gostam de chamar, oficialmente). É uma matéria de Design, não do meu curso, mas como gosto da área, quis fazê-la. Em certos áspectos, é um pouco decepcionante. Não sairei dela um fotógrafo profissional, mas ainda assim é divertido fazer. Divertido, sobretudo, por um áspecto de nostalgia que essa disciplina ainda guarda, no modo como é dada na UTFPR.
Usamos cameras profissionais, analógicas. Sim, analógicas, com filme. Existem cameras profissionais digitais, mas a universidade simplesmente não as tem. Aí já começa a nostalgia. Temos que comprar os antigos (e quase já não mais fabricados) filmes. Cada um custa 23 reais. Depois mandar revelar, num laboratório especifico (IrisColor ou Ibiza não valem), mais 20 reais. Se fossem cameras digitais, tirariamos 200 fotos, à vontade, poderiamos treinar e aprender. Já o filme tem 36 poses, e se errar, não dá pra voltar atrás. Gosto de trabalhar com filme, de verdade. O ritual, quase cerimonialistico, de colocar o filme na camera, puxar a ponta, encaixar na trava e puxar até ouvir o clique, que está preso. Ou após acabar, rebobinar, manualmente. Gosto mesmo, mas como disse, é muito mais prazer, do que aprendizado real.
Outra coisa divertida, que não existe mais. Agora começamos a trabalhar com revelação, sim, revelação e ampliação de filme. Você, e mais outras dez pessoas que fazem a disciplina, trancadas numa salinha pequena. A porta trancada, não pode ser aberta, seja para entrar ou sair. A luz vermelha acessa; é a única luz que você terá, e é muito pouca. Uma (relativamente) grande "prensa" (que não lembro o nome correto), que não são mais fábricadas mas que ainda existem na universidade. Coloca-se o filme na prensa, ajusta-se o tamanho, o alinhamento, o foco... coloca-se o papel fotográfico e aciona-se o botão. A luz branca acessa por dois segundos imprime a imagem ao papel. Ah, o papel! 68 reais uma caixa com 25 folhas (sim, eu disse sessenta e oito reais!). Depois, a parte molhada. Mergulha-se o papel e retira-se em três bacias: revelador, interruptor, e fixador. Depois, água corrente por 30 minutos. Por fim, pendura-se a foto, tal qual uma roupa, com grampos de roupa, em um varal para fotos. Espera secar. É um ritual. É muito bom. A utilizadade prática, profissional, todos concordam, é zero. Ninguem mais trabalha com filme, ninguem vai trabalhar com filme. Mas todos gostam. Há muito mais nesse ritual. Gasta-se dez, quinze minutos para fazer uma ampliação. Mas depois você tem que esperar os outros fazerem as deles. Não pode abrir a porta para sair, lembra? Dez pessoas (entram grupos de dez, de cada vez, por que não cabe mais) numa salinha, praticamente no escuro, por uma hora e meia. Você conversa com uma amiga, jura que está falando com ela frente-a-frente. Num momento, ela toca no seu braço, e você percebe que ela está ao seu lado. Você, na verdade, está virado para a parede. Não se consegue enxergar muito das pessoas nesse lugar, muito menos as reconhecer. Ao menos eu não consigo. Com o tempo, os olhos se acostumam, e a visão se torna um pouco melhor, mas ainda restrita.
E por que essa reflexão, de hoje? Outro dia, um dos execicios era com a velocidade B da câmera. É um recurso que só existe nas profissionais. Você pode deixar o obturador aberto pelo tempo que quiser, enquanto segurar o disparador. 10 segundos, 20 segundos, 1 minuto... Com essa função, de longa exposição, enquanto o disparador estiver apertado, a camera vai capturar todos os movimentos que passarem. Serve, principalmente, para o que chamam de "movimento riscado". Por exemplo, capturar a trajetória de uma vela. Ou de um cometa, se você for astronomo. E por aí vai. A partir disso, criaram o que chamam de "light-painting", ou seja, pintura com luz. Escurece-se completamente o ambiente. Aciona-se a função B. Toda luz que passar em frente à camera, será capturada. Com lanternas, você desenha o que quiser.
Peguei minhas amigas (no bom sentido.. rsrss) para modelos, como se estivessem dançando. Com o B acionado, contorna-se as formas delas, com lanternas, de trás para frente, para que a luz seja melhor capturada. O resultado, escaneado, pode ser conferido aí em cima, após árduo esforço para descobrir como postar essa imagem (ok, não foi tão árduo assim).
E só agora, após essa longa e ritualistica descrição (reflete o ritual que é fotografar) chego onde eu queria, no inicio desse texto. Lá em cima, pode ser visto, vazou um pouco de luz, na parte da ventilação da sala (não sei como isso chama, na linguagem apropriada, mas também não importa). Para entregar a fotografia, junto com as demais, para ser avaliada ao fim do semestre pela professora, terei que "retocá-la". No caso, o "retoque" nem é assim tão problemático. Na hora da ampliação, basta subir um pouco o negativo, para que a parte superior da foto, onde vazou luz, não seja revelada. Mas aí me vem uma reflexão existencialista. Essa foto representa, de certa forma, como é a vida. A vida nunca saí como queremos. Na vida, sempre vaza um pouco de luz, na parte superior. Mas precisamos, sempre precisamos, de coisas perfeitas. Claro que a foto toda escura, sem luz vazada, é mais bonita. Mas se vazou luz, vazou. Sou muita naturalista nessas coisas. Não acho certo retocar a realidade, seja com os photoshops da vida, seja com meios analógicos. A imperfeição faz parte da vida, então por que os produtos que concebemos devem ser perfeitos? Mas pensem que, na verdade, não é apenas com fotos que fazemos isso. Na vida também, e isso talvez seja o pior. Sempre buscamos retocar a vida. Sempre queremos que a vida seja perfeita. Mesmo a nossa memória faz isso; idealizamos os bons momentos, os tornamos perfeitos em nossa memória, mesmo que estivessem cheios de imperfeição. Claro que é natural que lembremos os pontos positivos, não estou dizendo para lembrarmos das coisas ruins, mas apagamos, negamos, que, junto com toda a beleza daquele momento especial, também tinha uma série de coisas estranhas, esdruxulas, e afins. Não critico completamente ter que ocultar a parte superior na ampliação, ainal, na disciplina estamos buscando a "perfeição" e a beleza máxima, da arte de fotografar. Mas a vida não é assim. E, por mais que queiramos que ela seja, na vida não há chance de retocar depois. Mesmo assim, continuamos querendo a perfeição, e continuamos querendo retocar. Mas na vida sempre vaza luz.
Usamos cameras profissionais, analógicas. Sim, analógicas, com filme. Existem cameras profissionais digitais, mas a universidade simplesmente não as tem. Aí já começa a nostalgia. Temos que comprar os antigos (e quase já não mais fabricados) filmes. Cada um custa 23 reais. Depois mandar revelar, num laboratório especifico (IrisColor ou Ibiza não valem), mais 20 reais. Se fossem cameras digitais, tirariamos 200 fotos, à vontade, poderiamos treinar e aprender. Já o filme tem 36 poses, e se errar, não dá pra voltar atrás. Gosto de trabalhar com filme, de verdade. O ritual, quase cerimonialistico, de colocar o filme na camera, puxar a ponta, encaixar na trava e puxar até ouvir o clique, que está preso. Ou após acabar, rebobinar, manualmente. Gosto mesmo, mas como disse, é muito mais prazer, do que aprendizado real.
Outra coisa divertida, que não existe mais. Agora começamos a trabalhar com revelação, sim, revelação e ampliação de filme. Você, e mais outras dez pessoas que fazem a disciplina, trancadas numa salinha pequena. A porta trancada, não pode ser aberta, seja para entrar ou sair. A luz vermelha acessa; é a única luz que você terá, e é muito pouca. Uma (relativamente) grande "prensa" (que não lembro o nome correto), que não são mais fábricadas mas que ainda existem na universidade. Coloca-se o filme na prensa, ajusta-se o tamanho, o alinhamento, o foco... coloca-se o papel fotográfico e aciona-se o botão. A luz branca acessa por dois segundos imprime a imagem ao papel. Ah, o papel! 68 reais uma caixa com 25 folhas (sim, eu disse sessenta e oito reais!). Depois, a parte molhada. Mergulha-se o papel e retira-se em três bacias: revelador, interruptor, e fixador. Depois, água corrente por 30 minutos. Por fim, pendura-se a foto, tal qual uma roupa, com grampos de roupa, em um varal para fotos. Espera secar. É um ritual. É muito bom. A utilizadade prática, profissional, todos concordam, é zero. Ninguem mais trabalha com filme, ninguem vai trabalhar com filme. Mas todos gostam. Há muito mais nesse ritual. Gasta-se dez, quinze minutos para fazer uma ampliação. Mas depois você tem que esperar os outros fazerem as deles. Não pode abrir a porta para sair, lembra? Dez pessoas (entram grupos de dez, de cada vez, por que não cabe mais) numa salinha, praticamente no escuro, por uma hora e meia. Você conversa com uma amiga, jura que está falando com ela frente-a-frente. Num momento, ela toca no seu braço, e você percebe que ela está ao seu lado. Você, na verdade, está virado para a parede. Não se consegue enxergar muito das pessoas nesse lugar, muito menos as reconhecer. Ao menos eu não consigo. Com o tempo, os olhos se acostumam, e a visão se torna um pouco melhor, mas ainda restrita.
E por que essa reflexão, de hoje? Outro dia, um dos execicios era com a velocidade B da câmera. É um recurso que só existe nas profissionais. Você pode deixar o obturador aberto pelo tempo que quiser, enquanto segurar o disparador. 10 segundos, 20 segundos, 1 minuto... Com essa função, de longa exposição, enquanto o disparador estiver apertado, a camera vai capturar todos os movimentos que passarem. Serve, principalmente, para o que chamam de "movimento riscado". Por exemplo, capturar a trajetória de uma vela. Ou de um cometa, se você for astronomo. E por aí vai. A partir disso, criaram o que chamam de "light-painting", ou seja, pintura com luz. Escurece-se completamente o ambiente. Aciona-se a função B. Toda luz que passar em frente à camera, será capturada. Com lanternas, você desenha o que quiser.
Peguei minhas amigas (no bom sentido.. rsrss) para modelos, como se estivessem dançando. Com o B acionado, contorna-se as formas delas, com lanternas, de trás para frente, para que a luz seja melhor capturada. O resultado, escaneado, pode ser conferido aí em cima, após árduo esforço para descobrir como postar essa imagem (ok, não foi tão árduo assim).
E só agora, após essa longa e ritualistica descrição (reflete o ritual que é fotografar) chego onde eu queria, no inicio desse texto. Lá em cima, pode ser visto, vazou um pouco de luz, na parte da ventilação da sala (não sei como isso chama, na linguagem apropriada, mas também não importa). Para entregar a fotografia, junto com as demais, para ser avaliada ao fim do semestre pela professora, terei que "retocá-la". No caso, o "retoque" nem é assim tão problemático. Na hora da ampliação, basta subir um pouco o negativo, para que a parte superior da foto, onde vazou luz, não seja revelada. Mas aí me vem uma reflexão existencialista. Essa foto representa, de certa forma, como é a vida. A vida nunca saí como queremos. Na vida, sempre vaza um pouco de luz, na parte superior. Mas precisamos, sempre precisamos, de coisas perfeitas. Claro que a foto toda escura, sem luz vazada, é mais bonita. Mas se vazou luz, vazou. Sou muita naturalista nessas coisas. Não acho certo retocar a realidade, seja com os photoshops da vida, seja com meios analógicos. A imperfeição faz parte da vida, então por que os produtos que concebemos devem ser perfeitos? Mas pensem que, na verdade, não é apenas com fotos que fazemos isso. Na vida também, e isso talvez seja o pior. Sempre buscamos retocar a vida. Sempre queremos que a vida seja perfeita. Mesmo a nossa memória faz isso; idealizamos os bons momentos, os tornamos perfeitos em nossa memória, mesmo que estivessem cheios de imperfeição. Claro que é natural que lembremos os pontos positivos, não estou dizendo para lembrarmos das coisas ruins, mas apagamos, negamos, que, junto com toda a beleza daquele momento especial, também tinha uma série de coisas estranhas, esdruxulas, e afins. Não critico completamente ter que ocultar a parte superior na ampliação, ainal, na disciplina estamos buscando a "perfeição" e a beleza máxima, da arte de fotografar. Mas a vida não é assim. E, por mais que queiramos que ela seja, na vida não há chance de retocar depois. Mesmo assim, continuamos querendo a perfeição, e continuamos querendo retocar. Mas na vida sempre vaza luz.
sábado, 14 de novembro de 2009
Sobre Villa Lobos e companhias
Ontem a Filarmonia da Federal apresentou, no teatro da reitoria da UFPR, um espetáculo (subtantivo, não adjetivo, afinal, não sei se foi espetacular) com obras de Villa Lobos, em homenagem aos 50 anos de sua morte. Não foi nada histórico, eu creio, mas ainda assim interessante. Queria ter ido, mas não fui. Não fui, sobretudo, e talvez unicamente, pela falta de companhias. É nesses momentos que nutro certas reflexões sobre o meu Eu, que nem sei se é apropriado colocar aqui, ao público. Como creio que este é um espaço semi-desértico, visitado eventualmente por três leitores, não acho que é problemático escrever para mim mesmo, me desnudando aqui, no espaço público, porém, vazio.
E qual é a reflexão de hoje? Curioso como até um tempo atrás, gostava, gostava mesmo, de ir ao cinema, por exemplo, sozinho. Sou contestador por natureza, tenho essa tendencia a ser a antítese. Quando leio um livro, sempre discordo, procurando ver "o outro lado" e contestar mentalmente o autor. Quando ouço um argumento, listo mentalmente as possiveis oposições a esse argumento. Gosto de ler Reinaldo Azevedo apenas para contestá-lo, para formular mentalmente meus argumentos e demonstrar como ele está errado. Às vezes leio muito mais quem eu discordo do que quem eu concordo. Em minha prateleira há livros de Fernando Henrique Cardoso e José Serra, mas não necessariamente por que eu concorde com eles. Recentemente, tenho feito o esforço para me tornar menos critico, nos ambientes sociais. A critica é importante quando discutimos sociedade ou política, mas não importa nas relações "mesquinhas" (não no sentido pejorativo, mas aquilo que é próprio do cotidiano) do dia-a-dia, do convivio com amigos. E por que estou falando disso? Ah, o cinema sozinho. Então, tenho essa tendencia a discordar, mesmo quando eu concordo, entende? Então, assistir um filme acompanhado era problematico para mim pois não conseguia formar um argumento próprio, uma opinião. Ao sentir as reações do "outro", minha tendencia era buscar outros pontos de vista, assim, sempre quando a outra pessoa gostava de filme, buscava argumentos desabonadores do filme, e eventualmente, acabava achando que não tinha gostado do filme, por esses argumentos que busquei, quando poderia ter gostado, se assistido sozinho. Para mim, assistir um filme sozinho era fundamental para a formulação da opinião própria. Isso foi no passado. Hoje já não vejo dessa forma, por uma série de motivos. Primeiro, influencias existirão sempre, seja das outras pessoas na sala, seja dos artigos que li, então por que a necesidade de neutralizar a influencia da pessoa diretamente ao lado? Segundo, aprendi, já há algum tempo, a não mais deixar me convencer pelos meus próprios argumentos. Posso até levantar os pontos desabonadors do filme, mas isso não quer dizer que ele seja ruim, também há pontos positivos. Terceiro, já não mais discordo só por que a outra pessoa gostou; tenho concordado bastante.
Então chega-se ao cerne do problema. Antigamente, gostava de ir ao cinema sozinho. Já faz um tempo, não diria que gostava, mas não me importava. Agora, me importo. Sabe, é preciso o convivio com o outro, para uma maior e melhor significação das coisas. Entendo, finalmente, que não existe sociedade do "eu", tudo é social, e necessito do outro para significar as coisas. Não há construção individual; todas as construções são sociais. Como eu escrevi um tempo atrás em uma prova (que ganhou a observação "lindo!" da professora) uma citação de Marcuse : "Não há felicidade na individualidade; ela só pode existir no outro". Não acho a palavra, o termo, "felicidade" apropriado, pois é restrito à esfera individual do ser (feliz), e não representa a amplitude maior que vejo na frase. Para mim, o significado de felicidade aqui, não é somente a alegria individualista, mas a significação coletiva, a própria produção de um ser. Não há nada na individualidade, os seres, nós; só passamos a existir no outro. Por isso, cada vez mais me sinto sozinho, quando vou sozinho ao cinema. Por isso, cada vez mais não vou ao cinema. Como não fui ver Villa Lobos ontem.
Espetáculos artísticos, e não só eles, significam algo muito, muito maior do que arte ou diversão. Um cinema, um concerto, um jogo de futebol, agora entendo melhor, são muito mais do que um cinema, um concerto, um jogo de futebol. São significações compartilhadas. A produção compartilhada de sentimentos. A arte (ou diversão) não deixa de ser importante, ainda vamos analisar a atuação dos atores, a técnica dos instrumentistas, ou a habilidade dos futebolistas, mas há algo maior do que o filme em si, ou o resultado do jogo. O comentário sobre o filme, ou sobre a tabela do campeonato. O sentimento de pertencimento a um todo. Todos precisamos pertencter a um todo maior, o time de futebol, o partido político. Mas não basta a esfera macro, é necessária a esfera micro, o grupo de amigos que também pertencem a esse todo, e no qual você reproduz esses discursos. Poderia falar aqui da importancia das esferas micro para a reprodução do sistema, das esferas macro, mas não é minha intenção hoje, deste texto. Continuando. Falta-me esse sentimento de pertencimento ao micro. Minhas amigas hoje saem, vão ao teatro e à balada. Inveja. Inveja boa, nada deteriorante, apenas o desejo de também pertencer a uma esfera micro. Ora, também não sou um sujeito completamente isolado do mundo. Tenha minhas esferas de amigos, queridos e grandes amigos. Sentidos compartilhados, seja nas manhãs de quinta-feira, no Mercadorama, seja nas festas do pessoal do Enuds, na Centran... Apenas, vez por outra, sinto falta de uma companhia ao cinema, ou à Villa Lobos. Não lembro quem disse, outro dia, que o problema são meus gostos, pois dificilmente outro jovem gosta de música classica ou cinema do leste europeu. Talvez seja isso, em parte, mas meus gostos não se restrigem a isso. Por mim, adoraria ir ao cinema ver o último blockbuster ou ao lupaluna. O problema aqui é que, essas esferas, blockbuster e lupaluna, são esferas, essencialmente, sociais. Posso até aproveitar música clássica sozinho (ainda que preferisse estar acompanhado), mas não um show de rock. A partir do momento que tenha companhia, irei a todos lugares, ainda que, a priori, não goste de hard metal ou romance agua-com-açucar. Como já disse, mais importante que o filme ou a música, é a produção de sentidos compartilhados, e para isso, bastam os amigos ao lado.
E qual é a reflexão de hoje? Curioso como até um tempo atrás, gostava, gostava mesmo, de ir ao cinema, por exemplo, sozinho. Sou contestador por natureza, tenho essa tendencia a ser a antítese. Quando leio um livro, sempre discordo, procurando ver "o outro lado" e contestar mentalmente o autor. Quando ouço um argumento, listo mentalmente as possiveis oposições a esse argumento. Gosto de ler Reinaldo Azevedo apenas para contestá-lo, para formular mentalmente meus argumentos e demonstrar como ele está errado. Às vezes leio muito mais quem eu discordo do que quem eu concordo. Em minha prateleira há livros de Fernando Henrique Cardoso e José Serra, mas não necessariamente por que eu concorde com eles. Recentemente, tenho feito o esforço para me tornar menos critico, nos ambientes sociais. A critica é importante quando discutimos sociedade ou política, mas não importa nas relações "mesquinhas" (não no sentido pejorativo, mas aquilo que é próprio do cotidiano) do dia-a-dia, do convivio com amigos. E por que estou falando disso? Ah, o cinema sozinho. Então, tenho essa tendencia a discordar, mesmo quando eu concordo, entende? Então, assistir um filme acompanhado era problematico para mim pois não conseguia formar um argumento próprio, uma opinião. Ao sentir as reações do "outro", minha tendencia era buscar outros pontos de vista, assim, sempre quando a outra pessoa gostava de filme, buscava argumentos desabonadores do filme, e eventualmente, acabava achando que não tinha gostado do filme, por esses argumentos que busquei, quando poderia ter gostado, se assistido sozinho. Para mim, assistir um filme sozinho era fundamental para a formulação da opinião própria. Isso foi no passado. Hoje já não vejo dessa forma, por uma série de motivos. Primeiro, influencias existirão sempre, seja das outras pessoas na sala, seja dos artigos que li, então por que a necesidade de neutralizar a influencia da pessoa diretamente ao lado? Segundo, aprendi, já há algum tempo, a não mais deixar me convencer pelos meus próprios argumentos. Posso até levantar os pontos desabonadors do filme, mas isso não quer dizer que ele seja ruim, também há pontos positivos. Terceiro, já não mais discordo só por que a outra pessoa gostou; tenho concordado bastante.
Então chega-se ao cerne do problema. Antigamente, gostava de ir ao cinema sozinho. Já faz um tempo, não diria que gostava, mas não me importava. Agora, me importo. Sabe, é preciso o convivio com o outro, para uma maior e melhor significação das coisas. Entendo, finalmente, que não existe sociedade do "eu", tudo é social, e necessito do outro para significar as coisas. Não há construção individual; todas as construções são sociais. Como eu escrevi um tempo atrás em uma prova (que ganhou a observação "lindo!" da professora) uma citação de Marcuse : "Não há felicidade na individualidade; ela só pode existir no outro". Não acho a palavra, o termo, "felicidade" apropriado, pois é restrito à esfera individual do ser (feliz), e não representa a amplitude maior que vejo na frase. Para mim, o significado de felicidade aqui, não é somente a alegria individualista, mas a significação coletiva, a própria produção de um ser. Não há nada na individualidade, os seres, nós; só passamos a existir no outro. Por isso, cada vez mais me sinto sozinho, quando vou sozinho ao cinema. Por isso, cada vez mais não vou ao cinema. Como não fui ver Villa Lobos ontem.
Espetáculos artísticos, e não só eles, significam algo muito, muito maior do que arte ou diversão. Um cinema, um concerto, um jogo de futebol, agora entendo melhor, são muito mais do que um cinema, um concerto, um jogo de futebol. São significações compartilhadas. A produção compartilhada de sentimentos. A arte (ou diversão) não deixa de ser importante, ainda vamos analisar a atuação dos atores, a técnica dos instrumentistas, ou a habilidade dos futebolistas, mas há algo maior do que o filme em si, ou o resultado do jogo. O comentário sobre o filme, ou sobre a tabela do campeonato. O sentimento de pertencimento a um todo. Todos precisamos pertencter a um todo maior, o time de futebol, o partido político. Mas não basta a esfera macro, é necessária a esfera micro, o grupo de amigos que também pertencem a esse todo, e no qual você reproduz esses discursos. Poderia falar aqui da importancia das esferas micro para a reprodução do sistema, das esferas macro, mas não é minha intenção hoje, deste texto. Continuando. Falta-me esse sentimento de pertencimento ao micro. Minhas amigas hoje saem, vão ao teatro e à balada. Inveja. Inveja boa, nada deteriorante, apenas o desejo de também pertencer a uma esfera micro. Ora, também não sou um sujeito completamente isolado do mundo. Tenha minhas esferas de amigos, queridos e grandes amigos. Sentidos compartilhados, seja nas manhãs de quinta-feira, no Mercadorama, seja nas festas do pessoal do Enuds, na Centran... Apenas, vez por outra, sinto falta de uma companhia ao cinema, ou à Villa Lobos. Não lembro quem disse, outro dia, que o problema são meus gostos, pois dificilmente outro jovem gosta de música classica ou cinema do leste europeu. Talvez seja isso, em parte, mas meus gostos não se restrigem a isso. Por mim, adoraria ir ao cinema ver o último blockbuster ou ao lupaluna. O problema aqui é que, essas esferas, blockbuster e lupaluna, são esferas, essencialmente, sociais. Posso até aproveitar música clássica sozinho (ainda que preferisse estar acompanhado), mas não um show de rock. A partir do momento que tenha companhia, irei a todos lugares, ainda que, a priori, não goste de hard metal ou romance agua-com-açucar. Como já disse, mais importante que o filme ou a música, é a produção de sentidos compartilhados, e para isso, bastam os amigos ao lado.
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
Reflexões sobre o emprego
Já faz cerca de duas semanas, desde que saí do meu estágio na UTFPR, que escrevi um texto a esse respeito. Não o havia publicado, pois queria palidá-lo um pouco, mas creio que está razoavel assim. Bem, talvez não esteja, mas mesmo a falta de qualidade quer dizer alguma coisa, reflete um momento. Não ficou bem o que eu queria dizer, mas... Apesar de estar umas semanas envelhecido, ainda é pertinente. Segue.
Reflexões sobre o emprego
Um tempo atrás escrevi sobre as expectativas de começar um emprego, que seria até então meu primeiro. Vários amigos me deram conselhos diversos sobre o que viria pela frente, o que me esperaria. Agora, dois meses e meio depois, aquele estágio na UTFPR se encerrou, e novamente volto aos teclados, agora para fazer um balanço do que tirei deste tempo.
É um balanço prematuro, de alguém que só está entrando no mundo do trabalho? Talvez o seja, mas ainda assim acredito que se faça necessário.
E o que você tirou desse tempo, Márcio? Há coisas e coisas. Tentarei passar por todas, em partes.
Estou estudando as políticas de mínimos sociais. O Senador Eduardo Suplicy, que ergue esta bandeira, defende que "alguém que tenha o dinheiro garantido à sua subsistencia não se submeterá a um trabalho qualquer, por sobrevivencia; poderá esperar aparecer coisa melhor". Este é o mesmo argumento de quem ataca essas políticas: as pessoas não mais trabalharão. De fato, sinto que talvez seja verdade, e por isso talvez tenha o pressentimento que tais políticas nunca serão implantadas efetivamente. Não nesse sistema. Mas não quero me desviar do assunto. Ah, sim, minimos sociais, dinheiro. E não é por isso que todos trabalham? Acho que consegui adquirir um pouco mais de noção, e valor, do dinheiro. Entendo melhor a razão deste ter a importancia que tem na sociedade, pois ele representa, em tese, o esforço e o suor que demos. Acho que dou mais valor ao dinheiro agora, do que antes; corolário, torno-me um pouco mais adeso ao sistema capitalismo. Não vejo isso com maus olhos. Acho que radicalismos não levam a nada, e fico feliz de inserir meu pensamento um pouco mais neste sistema. Fosse hoje, talvez não contestasse tão veementemente como fiz na primeira aula da Maurini, sobre a incompatibilidade entre ideologia marxista e mercado de capital. "Você se rende ao sistema; não há como não", disse ela, na oportunidade. Não vejo como rendenção, mas passado apenas dois meses compreendo muito melhor.
Mas tudo até agora foi um tanto quanto abstrato. Que mudança efetiva se sucedeu, Márcio? O que nos contará a respeito deste período? Bom, lá vamos nós.
Uma coisa que aprendi foi que a Escola de Relações Humanas, de Elton Mayo e companhia, que antes era ignorada por mim (nem contestava, nem gostava), tinha sim sua razão. Quando amigos, antes, reclamavam que seus chefes eram "monstros" (no sentido de ruins, etc) eu não concordava, baseado na premissa que o que existe ali é uma relação contratual. Meu pensamento anterior era que, se existe um contrato, com deveres, obrigações e limites, eu não preciso gostar do meu chefe, nem que ele goste de mim, sequer preciso que ele me trate bem, estou ali apenas para executar a relação contratual que firmei. Bom, essa era uma visão absolutamente (e absurdamente) teórica demais, sem a vivência prática da realidade. Esse meu pensamento, em pouco tempo, ruiu. Percebi como os teóricos das Relações Humanas tinham sim razão, absoluta razão. O ambiente em que se trabalha influencia sim, assim como os comportamentos, e todos demais fatores sociais. É impossível conviver com a inabilidade social e impaciencia constante. Isso me faz pensar sobre outras teorias que defendo e/ou contesto, ainda não vivenciadas na prática, que por ventura possam estar em desarcodo com meu pensamento atual. Mas isso só descobrirei com o tempo, com a vida.
Sobre a burocracia, teorizada por Weber, entendi o motivo desta teoria (importante, para a manutenção do sistema), e dessa própria palavra, se tornar sinonimo de morosidade. Vi o meio, o carimbo, tornar-se fim em si mesmo. Outra teoria de Weber, a impessoalidade no setor público em relação aos "públicos" atendidos, vi que não funciona e não é seguida na prática. Não vou entrar em detalhes profundos sobre nada, tentando manter essa pseudo-ética (pseudo, pois não concordo com os termos) que não devemos revelar detalhes ou falar mal de empregos anteriores, etc e tal. Não estou aqui falando mal, apenas fazendo uma reflexão teórica e filosófica sobre este período de minha vida. Esse direito eu tenho.
Também confirmei a importancia dos agentes tecnocráticos para manutenção dos sistema. Segundo Bobbio, são esses agentes, não ligados a governos e que os transpassem, que mantém a máquina pública em funcionamento.
Voltando a falar das relações humanas, creio que faltou aquilo que Bakhtin chamou de "escuta amorosa da voz do outro", estabelecendo-se assim o que Foucault chama de relação de violência, ou seja, onde exista uma imposição e não haja possibilidade de contestação.
Mas isso até agora está teórico demais, e não era essa minha proposta aqui. Bom fazer citações, bom corroborar ou refutar teorias, mas o que levarei para o meu ser, que o modifique?
Bom, não sei se posso falar de modificações, acho que não, pois ainda que tenha sido interessante, não foi nenhuma experiencia extracorpórea profunda. Contudo, somos nossas vivencias, então, o quem somos é formado por nossas experiencias. Nesse sentido, claro que ajuda a constituir aquilo que eu sou.
Com certeza sentirei falta dos muitos pãezinhos que comia no café dos estagiários. Se bem que agora que sei do esquema, sempre que estiver por perto no horário darei um pulo por lá. Mas o que realmente gostei foi do café dos estagiários, e não só pelos pães e chá. Sabia que gostaria desse ambiente antes mesmo que começar, e de fato a expectativa se concretizou.
Mas talvez tenha entendido nesse tempo que a formação de amizades não se restrige ao café, nem dele depende. Ocorre a todo momento.
Fora algumas normas sociais, e dicas de postura, que sequer fariam parte do estágio, em essência, não posso dizer que aprendi muita coisa. Mas aprendi a respitar mais os engenheiros, por exemplo. Nem todos têm a mentalidade fechada no mundo das exatas, e há muitos que realmente são boas pessoas. Não sei mais o que posso dizer, e nem como terminar esse texto.
Provavelmente, um jeito adequado de terminá-lo é como terminei o estágio, em busca de equilibrio, essencial à vida. Saí por que não gostaram de minhas raras faltas, queriam dedicação total. Nem o trabalho, nem o estudo, nem a diversão, nada vale dedicação total de nossas vidas. Devemos procurar o equilibrio, e quem sabe, encontrar a harmonia.
Reflexões sobre o emprego
Um tempo atrás escrevi sobre as expectativas de começar um emprego, que seria até então meu primeiro. Vários amigos me deram conselhos diversos sobre o que viria pela frente, o que me esperaria. Agora, dois meses e meio depois, aquele estágio na UTFPR se encerrou, e novamente volto aos teclados, agora para fazer um balanço do que tirei deste tempo.
É um balanço prematuro, de alguém que só está entrando no mundo do trabalho? Talvez o seja, mas ainda assim acredito que se faça necessário.
E o que você tirou desse tempo, Márcio? Há coisas e coisas. Tentarei passar por todas, em partes.
Estou estudando as políticas de mínimos sociais. O Senador Eduardo Suplicy, que ergue esta bandeira, defende que "alguém que tenha o dinheiro garantido à sua subsistencia não se submeterá a um trabalho qualquer, por sobrevivencia; poderá esperar aparecer coisa melhor". Este é o mesmo argumento de quem ataca essas políticas: as pessoas não mais trabalharão. De fato, sinto que talvez seja verdade, e por isso talvez tenha o pressentimento que tais políticas nunca serão implantadas efetivamente. Não nesse sistema. Mas não quero me desviar do assunto. Ah, sim, minimos sociais, dinheiro. E não é por isso que todos trabalham? Acho que consegui adquirir um pouco mais de noção, e valor, do dinheiro. Entendo melhor a razão deste ter a importancia que tem na sociedade, pois ele representa, em tese, o esforço e o suor que demos. Acho que dou mais valor ao dinheiro agora, do que antes; corolário, torno-me um pouco mais adeso ao sistema capitalismo. Não vejo isso com maus olhos. Acho que radicalismos não levam a nada, e fico feliz de inserir meu pensamento um pouco mais neste sistema. Fosse hoje, talvez não contestasse tão veementemente como fiz na primeira aula da Maurini, sobre a incompatibilidade entre ideologia marxista e mercado de capital. "Você se rende ao sistema; não há como não", disse ela, na oportunidade. Não vejo como rendenção, mas passado apenas dois meses compreendo muito melhor.
Mas tudo até agora foi um tanto quanto abstrato. Que mudança efetiva se sucedeu, Márcio? O que nos contará a respeito deste período? Bom, lá vamos nós.
Uma coisa que aprendi foi que a Escola de Relações Humanas, de Elton Mayo e companhia, que antes era ignorada por mim (nem contestava, nem gostava), tinha sim sua razão. Quando amigos, antes, reclamavam que seus chefes eram "monstros" (no sentido de ruins, etc) eu não concordava, baseado na premissa que o que existe ali é uma relação contratual. Meu pensamento anterior era que, se existe um contrato, com deveres, obrigações e limites, eu não preciso gostar do meu chefe, nem que ele goste de mim, sequer preciso que ele me trate bem, estou ali apenas para executar a relação contratual que firmei. Bom, essa era uma visão absolutamente (e absurdamente) teórica demais, sem a vivência prática da realidade. Esse meu pensamento, em pouco tempo, ruiu. Percebi como os teóricos das Relações Humanas tinham sim razão, absoluta razão. O ambiente em que se trabalha influencia sim, assim como os comportamentos, e todos demais fatores sociais. É impossível conviver com a inabilidade social e impaciencia constante. Isso me faz pensar sobre outras teorias que defendo e/ou contesto, ainda não vivenciadas na prática, que por ventura possam estar em desarcodo com meu pensamento atual. Mas isso só descobrirei com o tempo, com a vida.
Sobre a burocracia, teorizada por Weber, entendi o motivo desta teoria (importante, para a manutenção do sistema), e dessa própria palavra, se tornar sinonimo de morosidade. Vi o meio, o carimbo, tornar-se fim em si mesmo. Outra teoria de Weber, a impessoalidade no setor público em relação aos "públicos" atendidos, vi que não funciona e não é seguida na prática. Não vou entrar em detalhes profundos sobre nada, tentando manter essa pseudo-ética (pseudo, pois não concordo com os termos) que não devemos revelar detalhes ou falar mal de empregos anteriores, etc e tal. Não estou aqui falando mal, apenas fazendo uma reflexão teórica e filosófica sobre este período de minha vida. Esse direito eu tenho.
Também confirmei a importancia dos agentes tecnocráticos para manutenção dos sistema. Segundo Bobbio, são esses agentes, não ligados a governos e que os transpassem, que mantém a máquina pública em funcionamento.
Voltando a falar das relações humanas, creio que faltou aquilo que Bakhtin chamou de "escuta amorosa da voz do outro", estabelecendo-se assim o que Foucault chama de relação de violência, ou seja, onde exista uma imposição e não haja possibilidade de contestação.
Mas isso até agora está teórico demais, e não era essa minha proposta aqui. Bom fazer citações, bom corroborar ou refutar teorias, mas o que levarei para o meu ser, que o modifique?
Bom, não sei se posso falar de modificações, acho que não, pois ainda que tenha sido interessante, não foi nenhuma experiencia extracorpórea profunda. Contudo, somos nossas vivencias, então, o quem somos é formado por nossas experiencias. Nesse sentido, claro que ajuda a constituir aquilo que eu sou.
Com certeza sentirei falta dos muitos pãezinhos que comia no café dos estagiários. Se bem que agora que sei do esquema, sempre que estiver por perto no horário darei um pulo por lá. Mas o que realmente gostei foi do café dos estagiários, e não só pelos pães e chá. Sabia que gostaria desse ambiente antes mesmo que começar, e de fato a expectativa se concretizou.
Mas talvez tenha entendido nesse tempo que a formação de amizades não se restrige ao café, nem dele depende. Ocorre a todo momento.
Fora algumas normas sociais, e dicas de postura, que sequer fariam parte do estágio, em essência, não posso dizer que aprendi muita coisa. Mas aprendi a respitar mais os engenheiros, por exemplo. Nem todos têm a mentalidade fechada no mundo das exatas, e há muitos que realmente são boas pessoas. Não sei mais o que posso dizer, e nem como terminar esse texto.
Provavelmente, um jeito adequado de terminá-lo é como terminei o estágio, em busca de equilibrio, essencial à vida. Saí por que não gostaram de minhas raras faltas, queriam dedicação total. Nem o trabalho, nem o estudo, nem a diversão, nada vale dedicação total de nossas vidas. Devemos procurar o equilibrio, e quem sabe, encontrar a harmonia.
Sobre trabalho e estágio na UTFPR
No dia 05 de agosto deste ano escrevi um e-mail e enviei-o aos meus amigos da UTFPR. Reproduzo-o agora por dois motivos. Primeiro, é um escrito meu do qual gostei, e um dos motivos pelo qual criei esse blog foi para que esses meus escritos pudessem ser públicos em vez de encher a caixa de entrada de e-mails de meus amigos. Segundo, e talvez mais importante nesse contexto (do dia de hoje) é que ele é pressuposto para um outro texto que publicarei a seguir, seu conhecimento antecede a nova postagem e facilita seu entendimento. Segue.
*****
Sobre trabalho e estágio na UTFPR (texto de 05 de agosto)
Hoje recebi a noticia que fui aprovado na estrevista de estágio que havia feito na semana passada.
Começarei a trabalhar na utfpr, como muitos de vcs, em breve. Esse fato gera uma série de sentimentos e reflexões, que, abrindo meu coração, compartilho agora com vcs.
Bom, existem os inconvenientes operacionais, tais como ter que cancelar matérias para as quais havia me inscrito à tarde e sequer poderei começar, como psicologia da educação, do curso de letras, e o inglês no calem. Mas deixemos isso de lado.
Fico sobremaneira feliz pelo fato que poderei estar perto de vcs e compartilhar da experiencia que quase define o que é ser um ctconiano, que é estagiar na utfpr. Poderei partilhar dessas emoções e experiencias, e estreitar meus laços de amizade, algo que muito desejo fazer. Este, certamente e sem dúvidas, é o ponto positivo, e sinceramente, um dos motivos que me fizeram desejar (Desejar, antes mesmo de Precisar) um estágio na utfpr.
Então, chega a questão conflitante. Trabalhar. Nunca me imaginei fazendo um trabalho que não gostasse. Enfim, trabalhando por dinheiro. Bom, até já imaginei, mas não levava a hipótese como possibilidade real. Mas, chega uma hora na vida, que esta te empurra em direção daquilo que é a própria vida. A realidade bate à porta. Por melhor que possa ser o estágio, por mais proveitoso e até divertido, reconheçamos que não é o sonho de vida de ninguem. Porém, na vida não se faz apenas aquilo de se gosta, já dizia a mensagem.
O curioso, o mais conflitante, é que, apesar de eu nunca ter cogitado essa hipotese como real, estou realmente estusiasmado. Não estou triste como poderia estar por ter de trabalhar. A perspectiva de ganhar meu próprio dinheiro, de pagar (parte) de minhas despesas, de ajudar financeiramente minha mãe em minha casa, realmente é excitante e animadora.
E isso que é o mais interesante neste momento, pois tenho a consciencia que estou, nesse exato momento, em um processo de transformação, de mudanças de valores e posições. Estou em formação. Bom, todos estamos sempre em transformação, até o fim da vida; nada é constante. Mas a consciencia desse processo em pleno andamento é algo dificil de descrever.
Sei que não vou (espero que não!) me tornar um capitalista voraz interessado apenas em dinheiro, mas algumas posições perante ele certamente mudarão ou já estão mudando. Ao fim, estou começando a perceber que talvez quem realmente tenha razão seja o pensamento formado a partir da sociedade cristã de que o trabalho enobrece, que o homem foi feito para o trabalho, e aquele que não trabalha rouba a força de trabalho dos outros. (já a acumulação de capital é uma outra coisa, mais especifica, que só é legitimada com o protestantismo).
Eu já tinha consciencia que estava roubando a força de trabalho dos outros, e convivia com isso, mas a perspectiva de ter os resultados/rendimentos da própria força de trabalho é algo que, realmente, faz eu não mais me sentir em divida, seja com a sociedade, seja com uma suposto axioma maior, de que todo homem deve trabalhar e dele tirar seu sustento.
Não sei se essas posições são as que, efetivamente, terei daqui por diante. Nada é estanque, muito menos a vida, e a posições e opiniões são (e devem ser) mutáveis. O processo de formação ainda não se completou, e por isso posso dizer, repetindo aquela frase famosa que confesso não me lembrar o autor (poderia dar um google, mas não vou fazer isso pois não seria honesto), que só sei que nada sei.
Contudo, sei de algumas coisas. Sei que estou feliz de ganhar meu próprio dinheiro, de ajudar minha casa, de bancar as minhas despesas. Estou feliz que estagiando e ganhando dinheiro poderei continuar minhas viagens diárias à Curitiba, que não precisarei trancar minha matricula, como teria que fazer, e que poderei continuar a estudar na UTFPR, junto com meus amigos. E estou feliz que ficarei ainda mais perto de meus amigos.
Abraços...
Márcio.
P.S. Não me julguem pelo mundo do trabalho ser um estranho para mim, enquanto é tão comum a todos. Isso não me faz pior ou melhor, apenas atipico. É nas diferenças que se constroem as coisas. E agora vou entrar pro mundo dos "normais".. hehee.
*****
Sobre trabalho e estágio na UTFPR (texto de 05 de agosto)
Hoje recebi a noticia que fui aprovado na estrevista de estágio que havia feito na semana passada.
Começarei a trabalhar na utfpr, como muitos de vcs, em breve. Esse fato gera uma série de sentimentos e reflexões, que, abrindo meu coração, compartilho agora com vcs.
Bom, existem os inconvenientes operacionais, tais como ter que cancelar matérias para as quais havia me inscrito à tarde e sequer poderei começar, como psicologia da educação, do curso de letras, e o inglês no calem. Mas deixemos isso de lado.
Fico sobremaneira feliz pelo fato que poderei estar perto de vcs e compartilhar da experiencia que quase define o que é ser um ctconiano, que é estagiar na utfpr. Poderei partilhar dessas emoções e experiencias, e estreitar meus laços de amizade, algo que muito desejo fazer. Este, certamente e sem dúvidas, é o ponto positivo, e sinceramente, um dos motivos que me fizeram desejar (Desejar, antes mesmo de Precisar) um estágio na utfpr.
Então, chega a questão conflitante. Trabalhar. Nunca me imaginei fazendo um trabalho que não gostasse. Enfim, trabalhando por dinheiro. Bom, até já imaginei, mas não levava a hipótese como possibilidade real. Mas, chega uma hora na vida, que esta te empurra em direção daquilo que é a própria vida. A realidade bate à porta. Por melhor que possa ser o estágio, por mais proveitoso e até divertido, reconheçamos que não é o sonho de vida de ninguem. Porém, na vida não se faz apenas aquilo de se gosta, já dizia a mensagem.
O curioso, o mais conflitante, é que, apesar de eu nunca ter cogitado essa hipotese como real, estou realmente estusiasmado. Não estou triste como poderia estar por ter de trabalhar. A perspectiva de ganhar meu próprio dinheiro, de pagar (parte) de minhas despesas, de ajudar financeiramente minha mãe em minha casa, realmente é excitante e animadora.
E isso que é o mais interesante neste momento, pois tenho a consciencia que estou, nesse exato momento, em um processo de transformação, de mudanças de valores e posições. Estou em formação. Bom, todos estamos sempre em transformação, até o fim da vida; nada é constante. Mas a consciencia desse processo em pleno andamento é algo dificil de descrever.
Sei que não vou (espero que não!) me tornar um capitalista voraz interessado apenas em dinheiro, mas algumas posições perante ele certamente mudarão ou já estão mudando. Ao fim, estou começando a perceber que talvez quem realmente tenha razão seja o pensamento formado a partir da sociedade cristã de que o trabalho enobrece, que o homem foi feito para o trabalho, e aquele que não trabalha rouba a força de trabalho dos outros. (já a acumulação de capital é uma outra coisa, mais especifica, que só é legitimada com o protestantismo).
Eu já tinha consciencia que estava roubando a força de trabalho dos outros, e convivia com isso, mas a perspectiva de ter os resultados/rendimentos da própria força de trabalho é algo que, realmente, faz eu não mais me sentir em divida, seja com a sociedade, seja com uma suposto axioma maior, de que todo homem deve trabalhar e dele tirar seu sustento.
Não sei se essas posições são as que, efetivamente, terei daqui por diante. Nada é estanque, muito menos a vida, e a posições e opiniões são (e devem ser) mutáveis. O processo de formação ainda não se completou, e por isso posso dizer, repetindo aquela frase famosa que confesso não me lembrar o autor (poderia dar um google, mas não vou fazer isso pois não seria honesto), que só sei que nada sei.
Contudo, sei de algumas coisas. Sei que estou feliz de ganhar meu próprio dinheiro, de ajudar minha casa, de bancar as minhas despesas. Estou feliz que estagiando e ganhando dinheiro poderei continuar minhas viagens diárias à Curitiba, que não precisarei trancar minha matricula, como teria que fazer, e que poderei continuar a estudar na UTFPR, junto com meus amigos. E estou feliz que ficarei ainda mais perto de meus amigos.
Abraços...
Márcio.
P.S. Não me julguem pelo mundo do trabalho ser um estranho para mim, enquanto é tão comum a todos. Isso não me faz pior ou melhor, apenas atipico. É nas diferenças que se constroem as coisas. E agora vou entrar pro mundo dos "normais".. hehee.
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Reflexões duma manhã atípica
Hoje saí completamente da rotina. Não creio que isso seja necessariamente bom, do modo como fiz. Estou escrevendo de manhã, pois faltei à aula da UTFPR. Estou cansado, mas não vou falar disso. Estou escrevendo diretamente no campo do blog, diferentemente do meu costume de escrever no word e copiar para cá. Começei a fazer um trabalho de A.D. (análise do discurso), mas como disse estou de saco cheio de tudo. Mas não é disso que quero falar. Sabe que estou gostando de ter um blog? Estou gostando de escrever aqui, mesmo só tendo três leitores. Curioso como às vezes só consegimos enxergar a nós mesmos quando vemos o outro. Deixa eu explicar. Outro dia desses falava-se mal de uma pessoa. Eu participava da conversa, ainda que mais como ouvinte do que falante (não gosto de falar de outras pessoas, não faz meu estilo). Dizia-se que era ruim, pois ela (a pessoa) era demogoga, gostava de criticar só por criticar, para querer aparecer. Percebi uma coisa: eu também critico, muito, talvez demais. Nunca o fiz para querer aparecer, mas por um senso critico mesmo, chatice talvez, mas faço isso. Mas um pouco que me enxerguei na situação, e penso: talvez não valha a pena criticar for criticar, se não for contribuir em algo, se não houver uma proposta metodológica alternativa. Percebi isso, de verdade. Não vou (nem quero) deixar meu senso critico para trás, mas às vezes não é legal criticar, se não vai acrescentar, principalmente entre os circulos sociais, leia-se amigos. Outra coisa que percebi nesse mesmo dia. Numa outra conversa, falava-se duma professora, e do posicionamento "errado" que tivera ao, falando da questão racial ou algo assim (faltei na aula, então não sei), tratar os negros por "pretos". Resgatei em minha memória um excelente artigo que li alguns meses atrás do Luiz Carlos Azenha em que falava que não importa a demominação que se dê, o respeito vai além de preto ou negro, e para ele (Azenha) era preto e pronto (ele estava defendendo os negros, o artigo é muito mais que isso, resumi de memória. Se tiver saco depois, acho ele, edito e coloco o link). Aí então eu percebi sobre as diferenças de percepção, e a dificuldade que temos para relativizar nossas categorias. Muitos, muitos dos conflitos nescem, eu acredito, de coisas assim, como essas. Para Azenha (e provavelmente pra essa professora) o termo preto resgata alguma coisa que seja até carinhosa, adequada, mas já para minha amiga não, é ofensivo. É dificil muitas vezes, para as pessoas como um todo, a humanidade em si, enxergar com os olhos do outro, e relativizar sua própria percepção de mundo. Entendo o que o outro disse sob minhas perspectivas, mas minha perspectiva não é a do outro. Para mim, algo é ofensivo, para o outro não. Diante disso, me pergunto: como, santo Deus!, ainda conseguimos interagir e conviver, em meio a tanto caos linguistico, semântico, semiótico e simbólico?
PS. Antes que alguem aqui citado se ofenda, não estou falando de vocês, tanto que não há nomes; são apenas relexões inspiradas por vocês. Amo todos.
PS2. O texto vai assim mesmo, sem paragrafos; estou de saco cheio para fazê-los, além de serem, assim como os acentos, apenas construções sociais... Hahaha (isso foi uma ironia). Também a fonte (letra) vai diferente, para diferenciar a atipicidade dessa manhã.
PS. Antes que alguem aqui citado se ofenda, não estou falando de vocês, tanto que não há nomes; são apenas relexões inspiradas por vocês. Amo todos.
PS2. O texto vai assim mesmo, sem paragrafos; estou de saco cheio para fazê-los, além de serem, assim como os acentos, apenas construções sociais... Hahaha (isso foi uma ironia). Também a fonte (letra) vai diferente, para diferenciar a atipicidade dessa manhã.
terça-feira, 10 de novembro de 2009
Sobre cartas e outras coisas
Outro dia mandei um e-mail para meu amigo Carlos, sobre algumas questões filosóficas referentes a moral e religião; ele me respondeu, com sua opinião, e publicou essa resposta no seu "blogue" (a expressão é dele, por isso as aspas). Comentou sobre Cartas. Assim como ele, sempre gostei de cartas antigas, que servem de registro de períodos historicos. Particularmente, gosto de cartas que registram processos de criação. Há grande tradição literaria nesse sentido; cartas entre escritores, durante o processo de criação de alguma obra que hoje já tomamos por classica. Acho incrivel o registro, o acompanhamento desse processo, pelas cartas. Mas não só da literatura; cartas de Marx, cartas de João. As cartas dos anônimos também são interessantes. Servem para registrar as percepções às mudanças de cada época, na população de fato. Voltando à nossa carta virtual. Já que ele publicou a resposta, aqui vai o questionamento, ainda somente um inicio de indagação. Quando tiver uma opinião mais consolidada sobre o tema, quero retornar a ele. A bela resposta de Carlos, pode ser encontrada aqui.
***
Oi, Carlos,
Vc acredita que possa existir moral, sem uma noção de divindade?
Ia comentar isso com vc no churras, hj, mas lembrei da história do tempo de cada coisa, e achei que o momento estava muito mais divertido com as distrações, jogando bola e etc.
Mas é o seguinte: ontem de madrugada estava assistindo uma série (inglesa, eu acho. pq será que todas as séries boas eu penso que são inglesas? hehee) sobre ateismo. É The Atheism Tapes (As Fitas do Ateismo). São seis episódios, cada um com uma entrevista com alguma assumidade (um dos epidódios inclusive é com Arthur Miller, o dramaturgo), sobre o por que do ateismo e por que são ateus. (se vc se interessar posso gravar pra vc). É bem panfletário, ao estilo dessas igrejas neopentecostais de "venha para cristo", mas é interessante pelo lado oposto ao que geralmente é mostrado.
Então, só vi o primeiro episódio até agora. Nele o entrevistado, um filósofo ingles (não lembro o nome) argumenta que a tese dos "crentes" é que não existe bem sem deus, mas que, para ele, pode sim existir noção de moral, de bem, mesmo sem um deus. Ele diz que não é Deus quem cria as noções de bem, mas isso já está dado na sociedade, e deus só serve para referendá-las. Assim, a sociedade já havia decidido que matar é ruim e roubar é ruim, e o mandamento cristão só serve para referendar essa decisão, ele não cria essa noção. Ele diz inclusive que, se Deus disesse hj que matar ou roubar é bom, que pode ser feito, diriamos "não, deus está errado" por que, para ele, o que importa não é Deus, mas as noções já formuladas na sociedade.
Bom, aí eu posso refutar ele com dois exemplos. Um, na própria biblia, a história de Abraão que, ordenado por Deus que o fizesse, estava disposto a sacrificar o próprio filho. Dois, algumas das correntes islâmicas, que acreditam que é correto matar em nome de Alá, e eles o fazem. Então, pra mim, Deus (ou a noção de Deus) pode sim mudar as concepções postas na sociedade.
Mas a questão essencial pra mim é: realmente não consigo conceber a noção de bem, de bondade, de moral, sem uma noção de Deus, ou equivalente, seja judaico, espirita, mulçumano, etc, enfim, de uma divindade. Mesmo a noção de comunismo, de socialismo (que as pessoas veem como oposição à religião), eu não consigo conceber sem essa noção de divindade superior. Por que? Ora, se pensarmos que, de fato, não existe um todo maior que nós, por que haveriamos de nos preocupar com o outro? Esse cara, desse episódio, diz bem isso: não existe nada mais. Mas veja, se não existe nada mais (uma jornada de aperfeiçoamento, seja o que for) por que vou me preocupar com o social, com a comunidade, com meus irmãos e vizinhos? Posso até não roubar e matar, por motivos apenas pragmáticos (o prejuizo que teria, prisão, etc, seria maior que os ganhos/benefinicios), mas uma vez que os beneficios fossem adequados, que a situação fosse boa para mim, eu mataria e roubaria sem problemas. Afinal, não há nada mais. (o "eu" aqui é figura de linguagem para designar as pessoas). Sabe, nesse cenário, a lógica liberal passa a fazer todo sentido, aquela coisa do eu agir apenas em meus próprios interesses e nada mais.
Sabe, tento pensar pela lógica deles, mas realmente não consigo conceber moral e bem sem uma divindade maior. O que vc acha, pensa, sobre isso?
Um grande e fraterno abraço...
***
Oi, Carlos,
Vc acredita que possa existir moral, sem uma noção de divindade?
Ia comentar isso com vc no churras, hj, mas lembrei da história do tempo de cada coisa, e achei que o momento estava muito mais divertido com as distrações, jogando bola e etc.
Mas é o seguinte: ontem de madrugada estava assistindo uma série (inglesa, eu acho. pq será que todas as séries boas eu penso que são inglesas? hehee) sobre ateismo. É The Atheism Tapes (As Fitas do Ateismo). São seis episódios, cada um com uma entrevista com alguma assumidade (um dos epidódios inclusive é com Arthur Miller, o dramaturgo), sobre o por que do ateismo e por que são ateus. (se vc se interessar posso gravar pra vc). É bem panfletário, ao estilo dessas igrejas neopentecostais de "venha para cristo", mas é interessante pelo lado oposto ao que geralmente é mostrado.
Então, só vi o primeiro episódio até agora. Nele o entrevistado, um filósofo ingles (não lembro o nome) argumenta que a tese dos "crentes" é que não existe bem sem deus, mas que, para ele, pode sim existir noção de moral, de bem, mesmo sem um deus. Ele diz que não é Deus quem cria as noções de bem, mas isso já está dado na sociedade, e deus só serve para referendá-las. Assim, a sociedade já havia decidido que matar é ruim e roubar é ruim, e o mandamento cristão só serve para referendar essa decisão, ele não cria essa noção. Ele diz inclusive que, se Deus disesse hj que matar ou roubar é bom, que pode ser feito, diriamos "não, deus está errado" por que, para ele, o que importa não é Deus, mas as noções já formuladas na sociedade.
Bom, aí eu posso refutar ele com dois exemplos. Um, na própria biblia, a história de Abraão que, ordenado por Deus que o fizesse, estava disposto a sacrificar o próprio filho. Dois, algumas das correntes islâmicas, que acreditam que é correto matar em nome de Alá, e eles o fazem. Então, pra mim, Deus (ou a noção de Deus) pode sim mudar as concepções postas na sociedade.
Mas a questão essencial pra mim é: realmente não consigo conceber a noção de bem, de bondade, de moral, sem uma noção de Deus, ou equivalente, seja judaico, espirita, mulçumano, etc, enfim, de uma divindade. Mesmo a noção de comunismo, de socialismo (que as pessoas veem como oposição à religião), eu não consigo conceber sem essa noção de divindade superior. Por que? Ora, se pensarmos que, de fato, não existe um todo maior que nós, por que haveriamos de nos preocupar com o outro? Esse cara, desse episódio, diz bem isso: não existe nada mais. Mas veja, se não existe nada mais (uma jornada de aperfeiçoamento, seja o que for) por que vou me preocupar com o social, com a comunidade, com meus irmãos e vizinhos? Posso até não roubar e matar, por motivos apenas pragmáticos (o prejuizo que teria, prisão, etc, seria maior que os ganhos/benefinicios), mas uma vez que os beneficios fossem adequados, que a situação fosse boa para mim, eu mataria e roubaria sem problemas. Afinal, não há nada mais. (o "eu" aqui é figura de linguagem para designar as pessoas). Sabe, nesse cenário, a lógica liberal passa a fazer todo sentido, aquela coisa do eu agir apenas em meus próprios interesses e nada mais.
Sabe, tento pensar pela lógica deles, mas realmente não consigo conceber moral e bem sem uma divindade maior. O que vc acha, pensa, sobre isso?
Um grande e fraterno abraço...
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
De slogans e cultura subjetiva
Terminei meu útlimo texto com um “simples assim”. Depois que fui pensar: de onde tirei isso? Analisando bem, nem fazia muito sentido, com todo o resto do texto. Sabia que já tinha ouvido isso antes, botei no google, e descobri/lembrei ser o slogan de uma campanha de uma empresa de telefonia.
Isso leva à reflexão sobre essas coisas, frases, pensamentos, aos quais, inconscientemente, estamos alienados (alienação aqui usada no sentido de conexão, agregamento). A propaganda cria, de certa forma, símbolos em nossas mentes, aos quais não escapamos e sempre recorremos, conscientemente ou não. Tudo bem que nenhum pensamento é de fato nosso, segundo Foucault, mas perceber isso ocorrer, ainda mais quando ocorre em nós mesmos, é algo espantoso.
PS. Usei para o titulo o termo “cultura subjetiva”. Ora, toda cultura é, em si, subjetiva, logo, o termo não faz absoluto sentido, mas são três da manhã e eu preciso terminar um trabalho de políticas públicas, ou seja, sem tempo para me alongar nessa nota.
Isso leva à reflexão sobre essas coisas, frases, pensamentos, aos quais, inconscientemente, estamos alienados (alienação aqui usada no sentido de conexão, agregamento). A propaganda cria, de certa forma, símbolos em nossas mentes, aos quais não escapamos e sempre recorremos, conscientemente ou não. Tudo bem que nenhum pensamento é de fato nosso, segundo Foucault, mas perceber isso ocorrer, ainda mais quando ocorre em nós mesmos, é algo espantoso.
PS. Usei para o titulo o termo “cultura subjetiva”. Ora, toda cultura é, em si, subjetiva, logo, o termo não faz absoluto sentido, mas são três da manhã e eu preciso terminar um trabalho de políticas públicas, ou seja, sem tempo para me alongar nessa nota.
domingo, 8 de novembro de 2009
Desejos e Obrigações
É curioso perceber que a maior parte do tempo que gasto com leituras não tem nada a ver com as supostas obrigações de nenhuma das duas faculdades que faço. Não sei calcular com a precisão peculiar dos engenheiros, mas diria que metade das minhas leituras é de coisas por conta própria, e a outra metade são das duas faculdades somadas. Não que este todo dê muita coisa, mas... Outro dia fui na biblioteca de pós-graduação (na de graduação não tinha) e peguei um livro do Durkheim; fui ler seu estudo sobre o suicídio. Está certo que o tema surgiu (e se foi) em uma comentário en passant durante uma aula, mas nada tem a ver as disciplinas ou mesmo as faculdades que curso. Esse foi um exemplo, assim é com minhas outras leituras.
Nisso, surge a questão da obrigatoriedade da leitura. Há professores que passam uma grande carga de leitura, mas ora, eu não leio e me saio bem nas provas/trabalhos do mesmo modo; de que adianta cobrar uma carga de leitura grande, que por ser grande, não será lida? Falei isso para uma professora, período passado (não sei se convém identificar, e como aprendi que citar nomes em demérito pode gerar confusões, não o farei), e ela não gostou, porém mudou a didática nesse período (não estou dizendo que foi por minha causa, longe disso). O fato é que, como diz o ditado: “se quer fazer com que uma lei não seja cumprida, faça-a rígida demais”. Exigir a leitura de 3 livros é saudável e factível, exigir 10 não é, então, nenhum deles será lido, quando se poderia fazer com que ao menos 3 fossem lidos de fato.
Mas estou me desviando do assunto, quero falar sobre a obrigação em si. Ainda que o texto seja interessante, que em outra oportunidade você até iria a ele espontaneamente, a obrigação de ler já o torna uma outra coisa, diferente da busca autêntica. Acredito que é na busca autêntica que reside a verdadeira produção do conhecimento. Um bom exemplo disso é uma outra professora, que passa as indicações, mas não costuma cobrar ou fiscalizar as leituras, rigidamente. Isso gera como primeiro movimento um desdém, em termos gerais, pela matéria, por ser mais “fácil”, uma vez que não há (tanta) cobrança ou controle. Pode parecer que exista uma queda na produção de conhecimento por causa disso, e talvez haja mesmo naquele conhecimento médio, que todos possuem, sabem mais ou menos do que trata o assunto, mas não muito bem (foi assim que saí da disciplina dos 10 livros, mesmo tendo ficado com nota acima de 9. Nota nada representa). Mas então surge um segundo movimento, que é a verdadeira produção de conhecimento. Por não ser cobrado, o aluno se sentirá livre para não ler o livro, ou para lê-lo, espontaneamente. Nessa espontaneidade está toda a questão. No intervalo, outro dia, comentava-se “Ah, quem vai ler aquele livro?! Não é cobrado mesmo..”, ao que minha amiga Thainá (aqui posso citar o nome, afinal, é um elogio) respondeu “Eu estou lendo; gostei do tema”. Eis o gosto, não a obrigação. Eis de onde surgirá o verdadeiro conhecimento.
Queria viver num mundo utópico, em que todo o modelo de educação pudesse ser baseado nessa liberdade. Ainda escreverei, outro dia, especificamente sobre essa questão dos modelos de educação. Mas infelizmente a sociedade contemporânea não está suficientemente aberta para uma ruptura assim, então ainda há a necessidade da obrigação, ainda há a necessidade da cobrança, mas existe também a necessidade de um equilíbrio entre essas coisas, um equilíbrio entre liberdade e controle, para atingir o objetivo ultimo de uma universidade: conhecimento.
Acabei fazendo um outro texto, que não o que tinha em mente quando comecei a digitar. Minha intenção era apenas dizer: coisas obrigatórias perdem um pouco de seu gosto, mesmo que sejam boas, mas ainda temos que viver com essas obrigações. Já coisas “naturais”, orgânicas, aquilo que partimos em busca, são melhor compreendidas.
Simples assim.
Nisso, surge a questão da obrigatoriedade da leitura. Há professores que passam uma grande carga de leitura, mas ora, eu não leio e me saio bem nas provas/trabalhos do mesmo modo; de que adianta cobrar uma carga de leitura grande, que por ser grande, não será lida? Falei isso para uma professora, período passado (não sei se convém identificar, e como aprendi que citar nomes em demérito pode gerar confusões, não o farei), e ela não gostou, porém mudou a didática nesse período (não estou dizendo que foi por minha causa, longe disso). O fato é que, como diz o ditado: “se quer fazer com que uma lei não seja cumprida, faça-a rígida demais”. Exigir a leitura de 3 livros é saudável e factível, exigir 10 não é, então, nenhum deles será lido, quando se poderia fazer com que ao menos 3 fossem lidos de fato.
Mas estou me desviando do assunto, quero falar sobre a obrigação em si. Ainda que o texto seja interessante, que em outra oportunidade você até iria a ele espontaneamente, a obrigação de ler já o torna uma outra coisa, diferente da busca autêntica. Acredito que é na busca autêntica que reside a verdadeira produção do conhecimento. Um bom exemplo disso é uma outra professora, que passa as indicações, mas não costuma cobrar ou fiscalizar as leituras, rigidamente. Isso gera como primeiro movimento um desdém, em termos gerais, pela matéria, por ser mais “fácil”, uma vez que não há (tanta) cobrança ou controle. Pode parecer que exista uma queda na produção de conhecimento por causa disso, e talvez haja mesmo naquele conhecimento médio, que todos possuem, sabem mais ou menos do que trata o assunto, mas não muito bem (foi assim que saí da disciplina dos 10 livros, mesmo tendo ficado com nota acima de 9. Nota nada representa). Mas então surge um segundo movimento, que é a verdadeira produção de conhecimento. Por não ser cobrado, o aluno se sentirá livre para não ler o livro, ou para lê-lo, espontaneamente. Nessa espontaneidade está toda a questão. No intervalo, outro dia, comentava-se “Ah, quem vai ler aquele livro?! Não é cobrado mesmo..”, ao que minha amiga Thainá (aqui posso citar o nome, afinal, é um elogio) respondeu “Eu estou lendo; gostei do tema”. Eis o gosto, não a obrigação. Eis de onde surgirá o verdadeiro conhecimento.
Queria viver num mundo utópico, em que todo o modelo de educação pudesse ser baseado nessa liberdade. Ainda escreverei, outro dia, especificamente sobre essa questão dos modelos de educação. Mas infelizmente a sociedade contemporânea não está suficientemente aberta para uma ruptura assim, então ainda há a necessidade da obrigação, ainda há a necessidade da cobrança, mas existe também a necessidade de um equilíbrio entre essas coisas, um equilíbrio entre liberdade e controle, para atingir o objetivo ultimo de uma universidade: conhecimento.
Acabei fazendo um outro texto, que não o que tinha em mente quando comecei a digitar. Minha intenção era apenas dizer: coisas obrigatórias perdem um pouco de seu gosto, mesmo que sejam boas, mas ainda temos que viver com essas obrigações. Já coisas “naturais”, orgânicas, aquilo que partimos em busca, são melhor compreendidas.
Simples assim.
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Tempos
Hoje estava eu relendo o Eclesiastes. Provavelmente um dos meus livros preferidos da Bíblia, junto com o Apocalipse. Para tudo na vida há um tempo, diz ele, tempo de matar, e tempo de curar. Conversava eu com Carlos, um grande amigo, outro dia sobre esses tempos. Dizia ele a mesma coisa do Eclesiastes, da noção que deve-se ter do tempo de cada coisa. Sei que hoje tenho essa noção melhor do que há um ano atrás, quando era muito mais monotemático, contudo ainda há o que se lapidar. Penso que uma palavra chave na vida é “Equilíbrio”. Equilíbrio entre as diversas coisas às quais dedicamos nosso tempo, que é, em essência, tudo aquilo que temos.
Outro dia, durante o estágio, disse à minha chefe, que reclamara que eu faltava para me dedicar à outros assuntos, que “não irei me dedicar totalmente nem ao trabalho, nem aos estudos, nem à diversão. Tem que existir um equilíbrio e uma harmonia entre todas essas coisas”. Evidentemente arranquei-lhe um olhar indignado e palavras estupefatas. Mas creio mesmo ser necessário esse equilíbrio, e que nele resida, talvez, algum sentido para a própria existência.
Se todo trabalho feito sob o sol é vaidade para o vento, e nada dele se tira; nem a sabedoria, nem o suor, nem o vinho, de nada aprovém, talvez há que se perguntar o por quê de toda manhã ainda levantarmo-nos. Não tenho uma resposta, mas, toda manhã, continuo levantando-me, em sua busca. Talvez a jornada em busca duma resposta seja o sentido da resposta buscada.
Mas falava eu sobre os tempos. Eles ocorrem constante e diariamente em nossas vidas, são os diferentes espaços sociais aos quais nos moldamos, aos quais moldamos nosso comportamento e atitudes. Uma atitude numa sala de aula é (e deve ser) diferente da atitude em um trabalho, que por sua vez é (e deve ser) diferente da atitude numa confraternização com amigos. Poderia-se chamar isso de máscara. Eu mesmo, no passado, já chamei assim. Mas a verdade é que não existe um individuo único, constituído de uma só esfera, igual em todos os espaços a que pertença. Não existe um “eu” único. O nosso eu é formado de vários outros “eus”, que são formados nos diversos espaços que ocupamos. A união dessas partes forma a totalidade do Eu.
Veja, estou falando baseado no senso comum, em minhas próprias reflexões, às quais estou inconscientemente alienado. Ainda não estudei Psicologia, nem me aprofundei na Antropologia, nem nenhuma outra “ia”. Talvez daqui a um tempo eu mude de perspectiva, talvez eu ache que isso que escrevo agora é uma grande tolice. Ou não. Esta é apenas a minha perspectiva atual.
Mas quando falo dos espaços sociais não defendo a multiplicidade de posições, o sujeito tomar uma atitude no espaço A, e fazer o oposto, ou nega-la, no espaço B; isso seria falsidade, o que já é outra coisa. Estou versando, na verdade, sobre a necessidade de adequação aos diversos tempos a que somos expostos, diariamente. Tempo de refletir, tempo de distrair. Claro que o individuo continua sendo o mesmo; se alguém tem um pensamento critico, ele não irá anula-lo assim que entra no trabalho ou num bar, mas a prioridade nesses espaços passa a ser outros temas, ainda que o pensamento critico, do nosso exemplo, continue a existir, em segundo plano.
E como reconhecer o tempo de cada coisa? Alguns são bem evidentes, outros, ainda permanecem insondáveis, ao menos para mim. Ter essa noção é mister. Assim, que se faça a cada coisa conforme seu espaço e tempo.
Outro dia, durante o estágio, disse à minha chefe, que reclamara que eu faltava para me dedicar à outros assuntos, que “não irei me dedicar totalmente nem ao trabalho, nem aos estudos, nem à diversão. Tem que existir um equilíbrio e uma harmonia entre todas essas coisas”. Evidentemente arranquei-lhe um olhar indignado e palavras estupefatas. Mas creio mesmo ser necessário esse equilíbrio, e que nele resida, talvez, algum sentido para a própria existência.
Se todo trabalho feito sob o sol é vaidade para o vento, e nada dele se tira; nem a sabedoria, nem o suor, nem o vinho, de nada aprovém, talvez há que se perguntar o por quê de toda manhã ainda levantarmo-nos. Não tenho uma resposta, mas, toda manhã, continuo levantando-me, em sua busca. Talvez a jornada em busca duma resposta seja o sentido da resposta buscada.
Mas falava eu sobre os tempos. Eles ocorrem constante e diariamente em nossas vidas, são os diferentes espaços sociais aos quais nos moldamos, aos quais moldamos nosso comportamento e atitudes. Uma atitude numa sala de aula é (e deve ser) diferente da atitude em um trabalho, que por sua vez é (e deve ser) diferente da atitude numa confraternização com amigos. Poderia-se chamar isso de máscara. Eu mesmo, no passado, já chamei assim. Mas a verdade é que não existe um individuo único, constituído de uma só esfera, igual em todos os espaços a que pertença. Não existe um “eu” único. O nosso eu é formado de vários outros “eus”, que são formados nos diversos espaços que ocupamos. A união dessas partes forma a totalidade do Eu.
Veja, estou falando baseado no senso comum, em minhas próprias reflexões, às quais estou inconscientemente alienado. Ainda não estudei Psicologia, nem me aprofundei na Antropologia, nem nenhuma outra “ia”. Talvez daqui a um tempo eu mude de perspectiva, talvez eu ache que isso que escrevo agora é uma grande tolice. Ou não. Esta é apenas a minha perspectiva atual.
Mas quando falo dos espaços sociais não defendo a multiplicidade de posições, o sujeito tomar uma atitude no espaço A, e fazer o oposto, ou nega-la, no espaço B; isso seria falsidade, o que já é outra coisa. Estou versando, na verdade, sobre a necessidade de adequação aos diversos tempos a que somos expostos, diariamente. Tempo de refletir, tempo de distrair. Claro que o individuo continua sendo o mesmo; se alguém tem um pensamento critico, ele não irá anula-lo assim que entra no trabalho ou num bar, mas a prioridade nesses espaços passa a ser outros temas, ainda que o pensamento critico, do nosso exemplo, continue a existir, em segundo plano.
E como reconhecer o tempo de cada coisa? Alguns são bem evidentes, outros, ainda permanecem insondáveis, ao menos para mim. Ter essa noção é mister. Assim, que se faça a cada coisa conforme seu espaço e tempo.
domingo, 1 de novembro de 2009
Inauguração
Olá.
Esta é a primeira postagem nesse blog, então creio que devo explicitar alguns dos motivos que me levaram a criar este ambiente virtual, e o que dele espero.
Os fatores são muitos, mas creio que, provavelmente, o principal seja o desejo de um espaço para a criação, para a produção e o registro desta produção, deste pensamento. Um blog, tal qual um diário, é algo datado e curioso; curioso pois, tenho a certeza, em algum tempo (meses, anos...) talvez o leia e sinta aquela sensação de “o quão absurdo é isso; o quão ingênuo eu era”. Assim é hoje, quando leio coisas passadas, escritas por mim num tempo anterior. Tenho certeza que assim será com este blog no futuro: irei ler, até sentir vergonha, e terei vontade de apagar o passado. Contudo, o passado não se apaga. Ele deve ser mantido, pois faz parte da construção de quem somos. O processo é importante, e o registro desse processo também é. Nunca haverá um “eu” definitivo, portanto, não posso esperar para escrever depois; minhas opiniões de hoje são restritas, mas minhas opiniões de amanhã também serão.
Há tempo sinto essa vontade de produzir, de expressar minhas opiniões, gostos, análises, criticas, etc. Logo, esse é um espaço plural, aberto e multidisciplinar. Assim, uma espécie de misto entre espaço critico, anotamentos culturais, opinião, e até diário, por que não? Também quero, eventualmente, ver se resgato minha veio literária, promissora até tempos atrás, depois abandonada por uma série de fatores.
Essa necessidade de criar, nos últimos tempos, me levou a, muitas vezes, encher a caixa de e-mails de meus amigos, com textos que muitas vezes não lhes era, necessariamente, pertinente. Foi quando Mario, um amigo, deu a sugestão, que já havia cogitado anteriormente: “Crie um blog, e todos serão felizes”. A sugestão foi um referendo à idéia já cogitada; passou um tempo amadurecendo, e agora toma forma.
Um empecilho foi o titulo/endereço que este espaço teria. Empecilho relevante. Passei um tempo matutando as idéias, algumas até boas, outras esdrúxulas, que não convém aqui citar, até que cheguei neste Cadernos da Graciosa. E por quê? Acredito que representa uma das carcteristicas fundamentais de um blog, que é sua temporalidade. Explico. Já tentei, no passado, criar espaço semelhante e errei ao tentar formular algo “definitivo”. Um espaço do gênero é, em si, finito. Terá um fim determinado, em algum lugar do espaço-tempo, logo, é temporal. Um endereço deve reconhecer, e mais, refletir essa temporalidade. Assim, Cadernos da Graciosa reflete a temporalidade presente em que vivo, morando em Matinhos, e me desdobrando em viagens diárias a Curitiba. Aqui, Graciosa pode encontrar duas interpretações: a serra da Graciosa, que liga Curitiba ao Litoral do Paraná, ou mesmo a empresa de ônibus, que tomo diariamente para estas viagens. Que cada um interprete a seu gosto, ou mesmo encontre novos significados. E por que o “caderno”, se estamos em plena virtualidade? Ainda que não haja a materialidade do papel, o termo caderno aproxima-se daquilo que é artesanal, manual, a idéia do precioso caderno de notas. Sem contar que se Gramsci tem sua Cadernos do Cárcere, e Saramago seu Cadernos de Lanzarote, também terei os meus. Longe de mim comparar-me à estes monstros do pensamento; são apenas uma inspiração.
E para quem escrevo? Ora, seria hipocrisia dizer que escrevo para mim mesmo. Assim o fosse, salvaria no word e guardaria o arquivo offline. A publicação em si já demonstra uma busca por algo, no caso, esse algo seria leitura, a opinião do outro, e a externalização de minha própria opinião. Contudo, os leitores não são um ponto sine qua non deste espaço. São muito bem-vindos, desejados, mas ainda que não existam pretendo continuar com a escrita. Veremos por quanto tempo. Mas e a periodicidade, Márcio? Ora, não creio ter um dia certo para a publicação, mas pretendo escrever ao menos uma vez por semana (ou mais), provavelmente nos fins de semana. Ou não. Encontrando tempo, escreverei durante a semana. Ou não. Afinal, não dá pra saber quando a inspiração virá. Mas como escrever é mais prática que inspiração, não aguardarei sentado por ela, a buscarei onde estiver.
E agora este texto de inauguração se encaminha para sua conclusão; sinto que não disse tudo que devia, que deixei algo para trás, mas ora, não é sempre assim na vida? Deixando coisas para trás, fazendo nossas escolhas, e definindo novos caminhos a serem seguidos.
Esta é a primeira postagem nesse blog, então creio que devo explicitar alguns dos motivos que me levaram a criar este ambiente virtual, e o que dele espero.
Os fatores são muitos, mas creio que, provavelmente, o principal seja o desejo de um espaço para a criação, para a produção e o registro desta produção, deste pensamento. Um blog, tal qual um diário, é algo datado e curioso; curioso pois, tenho a certeza, em algum tempo (meses, anos...) talvez o leia e sinta aquela sensação de “o quão absurdo é isso; o quão ingênuo eu era”. Assim é hoje, quando leio coisas passadas, escritas por mim num tempo anterior. Tenho certeza que assim será com este blog no futuro: irei ler, até sentir vergonha, e terei vontade de apagar o passado. Contudo, o passado não se apaga. Ele deve ser mantido, pois faz parte da construção de quem somos. O processo é importante, e o registro desse processo também é. Nunca haverá um “eu” definitivo, portanto, não posso esperar para escrever depois; minhas opiniões de hoje são restritas, mas minhas opiniões de amanhã também serão.
Há tempo sinto essa vontade de produzir, de expressar minhas opiniões, gostos, análises, criticas, etc. Logo, esse é um espaço plural, aberto e multidisciplinar. Assim, uma espécie de misto entre espaço critico, anotamentos culturais, opinião, e até diário, por que não? Também quero, eventualmente, ver se resgato minha veio literária, promissora até tempos atrás, depois abandonada por uma série de fatores.
Essa necessidade de criar, nos últimos tempos, me levou a, muitas vezes, encher a caixa de e-mails de meus amigos, com textos que muitas vezes não lhes era, necessariamente, pertinente. Foi quando Mario, um amigo, deu a sugestão, que já havia cogitado anteriormente: “Crie um blog, e todos serão felizes”. A sugestão foi um referendo à idéia já cogitada; passou um tempo amadurecendo, e agora toma forma.
Um empecilho foi o titulo/endereço que este espaço teria. Empecilho relevante. Passei um tempo matutando as idéias, algumas até boas, outras esdrúxulas, que não convém aqui citar, até que cheguei neste Cadernos da Graciosa. E por quê? Acredito que representa uma das carcteristicas fundamentais de um blog, que é sua temporalidade. Explico. Já tentei, no passado, criar espaço semelhante e errei ao tentar formular algo “definitivo”. Um espaço do gênero é, em si, finito. Terá um fim determinado, em algum lugar do espaço-tempo, logo, é temporal. Um endereço deve reconhecer, e mais, refletir essa temporalidade. Assim, Cadernos da Graciosa reflete a temporalidade presente em que vivo, morando em Matinhos, e me desdobrando em viagens diárias a Curitiba. Aqui, Graciosa pode encontrar duas interpretações: a serra da Graciosa, que liga Curitiba ao Litoral do Paraná, ou mesmo a empresa de ônibus, que tomo diariamente para estas viagens. Que cada um interprete a seu gosto, ou mesmo encontre novos significados. E por que o “caderno”, se estamos em plena virtualidade? Ainda que não haja a materialidade do papel, o termo caderno aproxima-se daquilo que é artesanal, manual, a idéia do precioso caderno de notas. Sem contar que se Gramsci tem sua Cadernos do Cárcere, e Saramago seu Cadernos de Lanzarote, também terei os meus. Longe de mim comparar-me à estes monstros do pensamento; são apenas uma inspiração.
E para quem escrevo? Ora, seria hipocrisia dizer que escrevo para mim mesmo. Assim o fosse, salvaria no word e guardaria o arquivo offline. A publicação em si já demonstra uma busca por algo, no caso, esse algo seria leitura, a opinião do outro, e a externalização de minha própria opinião. Contudo, os leitores não são um ponto sine qua non deste espaço. São muito bem-vindos, desejados, mas ainda que não existam pretendo continuar com a escrita. Veremos por quanto tempo. Mas e a periodicidade, Márcio? Ora, não creio ter um dia certo para a publicação, mas pretendo escrever ao menos uma vez por semana (ou mais), provavelmente nos fins de semana. Ou não. Encontrando tempo, escreverei durante a semana. Ou não. Afinal, não dá pra saber quando a inspiração virá. Mas como escrever é mais prática que inspiração, não aguardarei sentado por ela, a buscarei onde estiver.
E agora este texto de inauguração se encaminha para sua conclusão; sinto que não disse tudo que devia, que deixei algo para trás, mas ora, não é sempre assim na vida? Deixando coisas para trás, fazendo nossas escolhas, e definindo novos caminhos a serem seguidos.
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