domingo, 31 de janeiro de 2010

Exercitando Literatura/Ficção

Ele não conseguia dormir na noite chuvosa de trovões. Suava muito, e após adormercer por breves minutos acordou assustado, o suor escorrendo em seu rosto. Levantou-se e foi até o banheiro, no escuro mesmo, sem se dar o trabalho de acender a luz. Parecia estar tonto. Havia tomado uma taça de vinho, mas aquilo não era nada para ele, certamente não tivera nenhum efeito. Secou o suor do peito com uma toalha; abriu a pia e molhou o rosto, deixou a água escorrer pela nuca, antes de enxugá-la. Voltou entre sombras, passo lento, até o quarto. Lá pareceu ver um vulto, na penumbra. Deu um passo atrás, um ladrão talvez. O vulto era alto, ombros retos, postura imponente. Tateou em volta de si, sem tirar os olhos do vulto, em busca de algo para defender-se, mas não achou nada.
- Não tema - disse a voz grave do vulto.
Já havia escutado aquela voz antes, muito tempo atrás. Fazia anos, mas lembrava-se. Não podia acreditar. Caminhou, passo ante passo, em direção ao vulto, que agora tomava formas mais visiveis, parcialmente iluminado pela luz da lua que entrava pela janela. Caminhou até ficar à alguns metros do vulto, e continuou caminhando, até ficar frente à frente com ele. Agora não era mais um vulto, era uma outra coisa, vinda do passado.
- Pai? - Perguntou ele.
O homem alto e imponente, queixo reto, barba bem feita, austero mas sem sinais de velhice, acenou com a cabeça em sinal afirmativo.
- Não é possível, você está morto.
- E você está vivo, meu filho.
Ele olhou para baixo, para os lados, tentando se dizer que era delirio, afinal, nunca acreditara naquilo, nunca sequer pensava sobre aquilo. Ergueu a mão e apalpou o rosto do pai. Parecia firme demais, real demais, para ser uma ilusão, para ser um fantasma.
- O que é isso? O que significa? Estou morto?
- Não, você está vivo, não se preocupe com isso.
- Então por que você está aqui? Quero dizer, por quê?
- Diga-me você - respondeu o velho.
Ele não entendia o que significava; tinha seus vinte anos quando o pai morrera, mas aquilo não era nenhuma pendencia para ele, estava tranquilo com a situação, não tinha problemas existenciais, tampouco em sua vida. Bom emprego, diretor da empresa com pouco mais de 30 anos, carreira de futuro, apartamento e carro importado, solteiro e conquistador - não tinha mais o que desejar.
- Diga logo, o que você quer? - respondeu inquieto.
- Talvez eu seja só uma ilusão, talvez seja sua insônia, ou a tempestade lá fora. Talvez eu seja só o céu, cor de pessego; você viu que belo o pôr-do-sol esta tarde?
- Eu nunca vejo o pôr-do-sol.
- Talvez você devesse olhar mais vezes para o céu, para as coisas ao seu redor.
- É isso então, você veio me dar conselhos para a vida?
- Não, não, estou só puxando conversa com meu filho, na falta de coisa melhor do que falar. Falamos do tempo que faz para não falar do tempo que passa. Você sabe de que autor é essa frase?
- Não, não sei. De quem é?
- Também não sei. Faz tempos estou tentando lembrar, mas não consigo; pensei que talvez você soubesse. Nem adianta jogar no google, eu já tentei.
- Você não tem onisciencia depois de morto? Continua com problemas de memória?
- Onisciencia é dom divíno, meu filho. Sou só um fantasma, não Deus. Às vezes não conseguimos nos livrar de algumas doenças, as carregamos conosco. Está aqui - apontou com o indicador para a cabeça - não no corpo. No fim é tudo que te resta, sua mente.
- E como é, lá do outro lado?
- Não sei não, meu filho.
- O que isso significa? Você está no inferno?
- As coisas não são bem assim. Os tempos são diferentes aqui, do que aí. Digamos que eu ainda estou em um período de transição. O que para você são anos, aqui podem ser instantes.
- E você está por aqui esse tempo todo? Por que apareceu agora?
- Não, não se preocupe, não fico rondando por aí, assombrando. Isso é coisa de hollywood. Por que agora? Não sei, talvez tédio, talvez o belo céu que fez esta tarde, queria falar disso com alguém. Sério que você não viu?
- Não, não vi, e não me importo com o maldito tempo.
- O que faz ou o que passa?
Silêncio.
- O que você tem feito com o seu tempo, meu filho? Por que no fim, é tudo o que importa, o que fazemos com o tempo que nos é dado.
- Isso eu conheço, essa frase, é do Senhor dos Anéis. Tolkien.
- Sim, foi lá que ouvi essa frase, mas reconheça, é uma bela frase.
- Então é isso que acontece depois? Toda a filosofia existente, e você se resume a copiar frases de autores que não lembra, ou de filmes?
- Nunca fui um grande filósofo, ou um pensador própriamente dito. Fui um bom homem, eu acredito, e acho que é isso que importa.
- E valeu a pena, no fim? A vida vale a pena ser vivida?
- Agora sim, um grande dilema filosófico, talvez o maior deles.
- Você não me respondeu.
- Você tem que responder essa pergunta, meu filho. O que você acha?
Olharam-se profundamente nos olhos. Ele não sabia responder.
- Ouça - disse o velho - A chuva está passando. Estou indo junto.
- Você só aparece com a chuva? O que é isso, um fenômeno tipo aurora boreau?
- Não, meu filho, não. Eu só gosto do som da chuva. Pense sobre aquilo. Um dia você terá que responder, não para mim, mas para si mesmo. Use bem o seu tempo, meu filho.
- Você aproveitou bem o seu?
- Dentro das minhas possibilidades, sim.
- Te verei de novo?
O velho sorriu, ironico:
- Sim, certamente nos veremos de novo. É uma etapa inevitável na vida de um ser humano.
- Quero dizer, assim como hoje, ainda vivo?
- Não, acho que não. Quem sabe, algum dia desses.
- Posso te dar um abraço?
- Você acha mesmo que precisa pedir isso para o seu velho pai?
Abraçaram-se, longamente, pela última vez.
- Algum conselho final? - perguntou ele
O velho pensou um pouco antes de responder:
- Humm... Cuide bem da sua memória.

Ele sorriu, e piscou, e não viu quando o velho sumiu. Voltou para a cama. Deitou e dormiu.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Preconceito e elitismo

Não gosto quando fico com raiva, não gosto do sentimento, mas às vezes é inevitável. Lucia Hippolito é uma vadia. Perdão pela linguagem, chula. Não gosto, mas é difícil definir o quão baixa é essa mulher. Ela é uma pseudo-jornalista que gosta de dar pitacos e falar mal do governo, em absolutamente tudo. Participava antigamente de uma mesa-redonda de política no programa do Jô Soares, e ficou meio conhecida por isso. Ela veio à cena umas semanas atrás por fazer (ou tentar fazer) um comentário ao vivo, por telefone, na CBN. Estava bebada. Depois deu uma desculpa esfarrada, que eram remédios (a mesma coisa da Vanusa e o hino nacional, né? Essa gente nem criatividade tem), mas é visivel que está bêbada, sem conseguir articular o pensamento. Aqui, você tem o áudio do comentário, postado no youtube. Aqui, você tem o mesmo áudio, também no youtube, mas com uma montagem feita com imagens que tiram sarro dela. Qualquer uma das duas versões é engraçadissíma e vale a pena ser assistida (é curta, um minuto de duração).
Mas não fiquei indignado por causa disso, foi outra coisa. Em virtude desse episódio, o jornalista Luiz Carlos Azenha resgatou em seu blog um comentário que Lucia Hippolito fez tempos atrás, em 2008. O áudio desse comentário, pode (e deveria) ser ouvido no site do Azenha, aqui. De tão absurdo, me dou ao trabalho de transcevê-lo.

"Você sabe que se a gente perder da Argentina com esse timinho, na quarta-feira, o Brasil fica de fora da área de classificação? [...] Esse Dunga, é o seguinte.. Isso é uma das coisas que o presidente Lula talvez tenha feito mal ao país, por que as pessoas acham que podem, de repente, se candidatar à presidencia da república, sem nunca ter feito nada! Olha o Dunga, nunca foi técnico nem do time da esquina da rua dele, aí agora já virou técnico da seleção brasileira, e acha que sabe tudo. Olha a ministra Dilma, também nunca administrou nada além da Casa Civil, e com esses problemas todos que ela está tendo, e já acha que pode ser candidata à presidencia da república!"

Leia, meu caro, as palavras proferidas por esta mulher. Ouça ela mesmo dizendo, através do link indicado. Você também não fica indignado, revoltado, com vontade de xingar essa vadia? E veja, não estou assim por que ela fala mal do presidente Lula, se ela fizesse a mesma critica dirigida à alguém da direita, mesmo a alguém que eu detestasse, ficaria igualmente indignado.
Como assim, Lucia? Nem sei por onde começar... Escancaradamente um preconceito, como raras vezes a direita se mostra. A sua verdadeira face. Segundo Lucia, Lula faz mal ao país, por lhe dar esperanças e sonhos. Exatamente uma das coisas que mais admiro no Lula - ele fez com que as pessoas acreditassem que "também podem" - para ela, é um mal. A pseudo-jornalista, que se não tem isenção, ao menos devia fingir ter, deixa clarissimo sua posição perante a candidata do governo à presidencia da república. Dilma não pode sequer concorrer à presidencia, por que nunca foi nada antes. Que tipo de credibilidade tem essa senhora para cobrir as eleições, e tecer qualquer tipo de comentário político, depois de se mostrar tão absurdamente preconceituosa? Além de tudo, mostra não ter o mínimo (o mínimo!) conhecimento de ciencia política. Ok, supostamente ela não precisaria ter, se ela não fosse anunciada como... cientista política! Ou comprou o diploma na cara dura, ou é completamente desonesta (acho isso bem plausível). A presidencia da república não é um cargo técnico, mas de liderança. Assim como o de técnico da seleção brasileira. O lider (seja o presidente ou o técnico da seleção) não precisa saber fazer as coisas. Ele tem as idéias, o senso de justiça para julgar o melhor caminho, e a liderança para motivar as pessoas. E se cerca das pessoas que sabem as técnicas. Por isso o líder não necessariamente precisa ter um passado. Sinceramente, não confiaria no Lula como ministro, pois ser ministro é um cargo que, mais ou menos, necessita de um saber técnico (ainda que nem tanto). Mas a presidencia não. Assim como o Dunga não precisa saber as técnicas de massagem, de condicionamento físico, etc. Há técnicos para isso. Dunga motiva e inspira os jogadores. Assim como Lula toma as decisões (corretas ou não, depende do ponto de vista) para o país. Criticar suas decisões, é questão de opinião. O absurdo que saiu da boca dessa mulher não é opinião, é preconceito e elitismo, puro e simples.

O que é isso?

Passeando por comunidades do orkut, vou na do CTCOM, e lá vejo link de comunidade relacionada de "comunicação organizacional". Clico em cima para ver o que é, como se não tivesse outras coisas a fazer. A comunidade "Comunicação Organizacional" me causou arrepios, no mau sentido. Definitivamente não é este meu curso, não é isso que eu quero para mim, que eu amo. Amo comunicação, e o CTCOM, da forma como está construido, mas não como apresentado por esta comunidade. Mercadológico é um bom adjetivo.
A descrição diz: "É um espaço para falar sobre a área, fazer networking e compreender melhor as estratégias pela batalha da boa imagem corporativa."
Ou seja, fazer rede de contatos (parece que estou vendo a Hilda, professora de empreendedorismo, falando "qual o problema?" para a questão da instrumentalização do ser humano), compreender as estratégias (estamos em guerra!), e ter uma boa imagem da empresa, por que o que importa (até parece) é a imagem!
Abaixo, uma enquete pergunta com qual dos projetos você mais se identifica, e dá opção de criança esperança, teleton, mcdia feliz, e outros congeneres. McDia Feliz??? Meu Deus do Céu! Deixa eu fugir daqui!
Uma das comunidades relacionadas é "O Brasil que encanta os clientes". Aham... como se o grande atrativo do país fosse somente... encantar os clientes! Que maravilha! (estou sendo ironico).
Santo Deus, perdão por usar seu nome em vão, mas...  o que pensa alguém que vê esta comunidade? Visse isso eu, provavelmente não faria essa faculdade. Ainda bem que o CTCOM não é isso, ainda bem que há muito mais espaço para o pensamento, e para a crítica. Ainda bem que há mais pessoas que pensam como eu. Comunicação é também isso, mas é muito mais.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Invencíveis

Ontem eu vi "Invictus", novo filme de Clint Eastwood, em que Morgan Freeman interpreta Nelson Mandela. Tenho duas coisas a comentar, sobre o filme, e sobre algumas coisas que o filme me fez refletir. Primeiro, o filme. 
Não gostei. A critica gostou, concorrendo ao Oscar, monte de prêmios, mas não gostei. Curioso que ultimamente a regra tem sido eu não gostar muito dos filmes do Clint Eastwood, salvo raras e honrosas exceções. Não que tenha sido um filme ruim em si, daqueles que realmente não prestam, mas não conseguiu me tocar - talvez seja apenas questão de estilo/gosto, não qualidade em si. O filme tem qualidade, certamente é merecido os prêmios que ganhar, não terá sido nenhuma injustiça, mas para mim, falta algo. A trama mostra o inicio de Mandela na presidencia, e os desafios para unir a nação dividida entra brancos e negros, e como ele usou o Rugby, esporte nacional, para promover essa união. Até aí, enquanto retrato político de Mandela, o filme é realmente muito bom. Mas então se envereda pela relação de Mandela com o capitão da seleção nacional de Rugby, interpretado por Matt Damon. O que mais me incomodou no filme é que parecem dois filmes, visivelmente dividido em duas metades. A primeira metade praticamente só tem Mandela na tela, e é muito bom. A partir da segunda metade, Mandela literalmente some, dando lugar a Matt Damon e as estratégias e treinamentos esportivos. O diretor Eastwood esquece que o esporte deveria ser só o pretexto para falar de algo maior, que é a (re)união de uma nação, e tenta fazer um filme de esportes. A meia hora final é dedicada ao jogo final, em cenas que a mim só causaram enfado - talvez algum fã até goste, mas não gostei. Eastwood não é Oliver Stone, que conseguiu fazer um filme magistral em Um Domingo Qualquer, filme assumidamente sobre esportes, que mostrava a saga de um time de futebol americano. A indecisão entre o que ser (filme político ou filme de esportes) compromete muito. A direção é comportada, tradicional - certamente vai ser elogiada. As atuações idem. É um filme que eu esperava mais e que podia ser bem melhor.
Então algumas pequenas reflexões que me vieram à mente. Nelson Mandela foi um dos maiores (senão o maior) presidente da África do Sul. É internacionalmente reconhecido. Ele abandonou a política (pessoalmente), mas continua engajado por seu partido - lembro de ano passado ler algo a respeito sobre sua participação nas eleições de lá. Ele se engajou pessoalmente na campanha pela Copa na África e conseguiu - este ano a teremos. Você consegue ver alguma semelhança, fazer algum paralelo? Não? Pois bem, vou te dizer um nome: Lula. E não é por que eu quero. Lula é um dos maiores presidentes da história do Brasil, é muito mais do que reconhecido internacionalmente (Homem do Ano de 2009 no Le Monde e no El País; premio de Estadista do Ano do fórum economico mundial, e isso são só os mais recentes, entre outras coisas). Coincidentemente, Lula também trouxe a Copa (e a Olimpíada) para o Brasil. Mas não quero comparar as biografias, ou quem é o melhor. O que eu pensei a partir do palarelo foi: no inicio Mandela era discriminado, odiado pelos brancos, o que se desfez depois. Hoje é inegável sua grandenza. Como a oposição sul-africana trata Mandela hoje em dia? Sinceramente confesso que não estou a par da política partidária da África do Sul, mas creio que, racionalmente, seria suicidio político alguém opor-se a ele. Acredito que possam se opor, partidariamente, mas sem deixar de reconhecer sua importancia. Isso é só dedução minha, a partir da atitude racional a ser adotada. E nisso acho que está um grande problema do Brasil, e grande erro da oposição brasileira. Ainda criticam Lula, querem dizer que ele é ruim, quando o povo já o aprovou. É história, não há o que se fazer; não adianta tentar mudar, tentar dizer que não. Acho que a oposição poderia se opor (constatação óbvia, não? hahaa) mas de uma forma racional, dizendo: reconhecemos a grandeza de Lula na história, mas achamos que podemos aprimorar ainda mais, discordamos em alguns pontos. Mas não, tentam negar algo que, repito, já é história. Está certo que tudo ainda é muito recente, Lula ainda nem deixou o cargo, e a oposição não pode reconhecer publicamente nesse momento isso - é natural. Mas nos próximos anos, na próxima eleição (não a deste ano, a outra) terão que reconhecer, ou não terão saída. Ou dizem: Lula foi grande, mas podemos fazer ainda mais, ou nunca conseguirão algo tentando negar a realidade, dizendo que Lula é ruim. Nisso que reside a diferença de Serra e Aécio dentro da oposição. Serra representa o passado, o rancor que tenta negar a história, Aécio (ainda que tenha posições mais liberais que o próprio Serra) representa o futuro, o chamado "pós-Lula" (e não anti-Lula), que reconhece que a história brasileira foi dividida por este homem, mas que agora temos que trabalhar para o futuro. Veja, não gosto de Aécio por suas posições políticas (como disse, mais liberal que Serra) mas ao menos ele olha para o futuro, e não para o passado. Espero que caminhemos para o futuro, reconhecendo a história.

Quem disse?

Porque temos sempre a necessidade de "demonizar" tudo que diz uma pessoa que não gostamos? Por que, se uma pessoa é ruim, necessariamente tudo que ela diz é ruim? Isso é o argumentum ad hominem, o argumento contra a pessoa - em vez de se criticar o que alguém falou, critica-se a pessoa que disse, e não o conteúdo - muito visto hoje em dia, na política (mas não só).
Veja que lição primorosa achei, por acaso, sobre a importancia da propaganda e da organização política, e diga se não é digna de grandes mestres:

"O primeiro dever da propaganda consiste me conquistar adeptos para a futura organização; o primeiro dever da organização consiste em conquistar adeptos para a continuação da propaganda. O segundo dever da propaganda é a destruição do actual estado de coisas e a disseminação da nova doutrina, enquanto o segundo dever da organização deve ser a luta pelo poder, a fim de fazer triunfar definitivamente a doutrina. [...] ...em cada grande movimento destinado a revolucionar o mundo, a propaganda terá, antes de tudo, de divulgar a idéia do mesmo. Incessantemente terá de esclarecer as massas sobre as novas idéias, atraí-las para as suas fileiras ou, pelo menos, abalar as suas antigas convicções. Como, porém, a divulgação de uma idéia, isto é, a propaganda, deve possuir uma ‘coluna vertebral’, a doutrina deverá apoiar-se numa sólida organização, a qual deve escolher os seus membros entre os partidários conquistados pela propaganda e crescerá tanto mais rapidamente quanto for mais intensamente promovida. Esta propaganda poderá trabalhar tanto melhor quanto a organização que está por detrás dela for mais forte e mais poderosa."

O autor é Adolf Hitler. Não se preocupe, isso não tem nada a ver com meu artigo, nem sou nenhum tipo de nazista (quem me conhece sabe que essa é uma das últimas coisas que seria, pluralista e humanista que sou). Mas o que digo é: por que demonizar tudo o que o sujeito disse, só por ter sido um monstro? Enfim... Acho que é só por hoje.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Decisões

Tinha que tomar algumas decisões, mas elas vieram mais naturalmente, mais organicamente, do que esperava. Nem pensei tanto quanto achava que iria ter que pensar, nem fiquei em um grande dilema, por mais que goste de Ciencias Sociais. Sinceramente, não precisei de muito tempo para pensar. Imaginava "deliberar" até a data que teria que invarivelmente decidir (dia da matrícula), mas eu já sei a resposta do aparente dilema. Mesmo estando com outras coisas para fazer, acho que já tomei minha decisão faz tempo. Talvez exatamente essas outras coisas a fazer me deram o exemplo do que quero.
Meu artigo. Há um capítulo em que falo da transparencia na teoria do estado, outro que falo dos conceitos de publicidade e propaganda, e um outro sobre a neutralidade da linguagem (com direito a Bakhtin e Kelsen, um de cada faculdade). Gosto da interdisciplinaridade. E acho isso um belo exemplo. Meu artigo é tanto de comunicação quanto de gestão pública - fui aceito para um congresso de gestão pública, mas muito bem poderia eventualmente ter sido aceito (talvez com pequenas mudanças) num congresso de comunicação. Caso eu não fizesse uma das duas, poderia até ter interesse pela outra área, mas não teria seus fundamentos para construir o que construi (não que seja grande coisa). Acho que esa visão multi-disciplinar, não se prendendo a uma só área, é muita boa, e me faz bem - faz bem ao próprio pensamento sociológico. O erro de muitos que atuam na área da sociologia (não só nela, claro) é ficar preso, restrito, ao discurso de sua área, às teorias que conhece, sem uma visao mais holística da sociedade, do mundo. Por isso decidi que posso ser melhor sociólogo não cursando ciencias sociais.
É claro que alguns fatores pesam na decisão, como o fato de faltar só mais um ano das matérias presenciais de Comunicação, ou a quantia que já gastei para isso. Mas eles não decidem por si. Não gostasse (muito) da faculdade (curso e turma) esses fatores, por si só, não me manteriam nela. Gosto das minhas faculdades, e acho que sempre soube que não iria mesmo abandoná-las.
Estou tranquilo e feliz, seguindo em frente no caminho que já escolhi há tempos. Boa sorte, futuros sociólogos do Brasil. Deus (n)os abençõe.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Madison, Haiti, e o Futuro

Estava outro dia lendo alguns textos d'O Federalista. Foi um jornal, escrito pelos chamados founding fathers (país fundadores, em tradução literal) da pátria estadunidense. Não sou anti-americano; tenho criticas ao modo como o sistema capitalista se produz hoje em dia, mas também reconheço os grandes pontos positivos que existem. Fico abismado, realmente impressionado, como 3 homens (Madison, Hamilton e Jay), escrevendo artigos para um jornal, puderam literalmente invetar todo um sistema de governo. Todo o sistema político que a maioria do mundo adota hoje, não existia até a criação d'O Federalista. Todos os alicerces em que se baseia a moderna ciencia política, nasceu da discussão de idéias entre Madison, que depois se tornaria o 4º presidente norte-americano, Hamilton e Jay, sobre como fazer a constituição americana, publicados em forma de artigos, no referido jornal. O sistema em que os poderes são independentes mas exercem fiscalização e controle um sobre o outro, chamado "freios e contrapesos"; como deveria normalitazada a jurisprudencia; como funcionariam os tribunais; as nomeações para juiz, assim como as eleições para a câmara. Incrivel que algo pensado há mais de dois séculos atrás é rigorosamente o mesmo modo como é feito até hoje, inclusive no Brasil.
Então leio artigo hoje falando que o Haiti precisa, mais do que ajuda financeira ou humanitária, soberania. Soberania para decidir seus próprios rumos. Penso que oportunidade extraordinária seria, para o Haiti, reinventar-se, recriar um sistema, a partir de suas bases, que pudesse atender a suas necessidades, sem importar modelos pré-estabelecidos. Os fundadores da pátria estadunidense "criaram" os alicerces da democracia moderna justamente em busca de um modelo que pudesse atender às suas demandas, sem importar outros modelos. Está certo que o modelo criado funciona razoavelmente bem para todos países, mas por que temos todos nós que adequar-se ao modelo construido para atender inicialmente às demandas norte-americanas? Ora, não estamos no fim da história como queria Fukuyama, e se o homem já inventou a democracia, por que não pode inventar coisa ainda melhor? Ou aperfeiçoar? Ou reinventar? Falta coragem, falta criatividade, e falta uma causa a ser defendida. O Haiti é uma grande causa. Triste pensar que, por mais que o ser humano seja grande e capaz de superar suas próprias criações, o Haiti não vai criar um novo regime de governo, não irá revolucionar a ciencia política. Não por que não sejam capazes, mas por que não tem mais soberania. Estão presos ao discurso norte-americano, que um dia lutou contra o império e hoje assumiu seu lugar, impedindo que outros sonhem com o mesmo que um dia sonharam.
Faltam em nosso tempo homens como Madison, Hamilton e Jay. Mas não há que perder as esperanças. Existem inovações, ainda que queiram nos esconder, ou nos mostrar pelo lado negativo. A democracia socialista (ou socialismo democrático) de Chavez na Venezuela traz auspiciosas inspirações para um novo modelo de regime. Quem sabe daqui a 100 anos não leiam Chavez como hoje lemos Madison.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Aviso sobre estilos

Os fluxos informacionais circulam, e a rede se amplia. Recentemente, a rede de contatos de amigos, e amigos de amigos (e por aí vai) tem se expandido. Bloguers que visitam blogs, que são visitados por bloguers...
Inicialmente, pensava ter um leitor, mas logo em seguida descobri que tinha dois; depois, descobri um outro, eventualissimo. Depois descobri mais dois, e recemente, outros dois leitores. Apesar da progressão (aritimética, não geométrica - ao menos isso eu lembro de matemática... haha), não acho mesmo que meus leitores passem da meia-duzia, se tantos. São amigos. Veja ali no canto que não há uma descrição de "quem sou eu", pois quem aqui visita me conheçe e pode dizer isso melhor do que eu mesmo (a sua imagem é construida socialmente pelos que te veem - não lembro de que autor é isso, mas acho que é da aula de antropologia da Valéria). Como estou em listas de links de amigos por aí, quero falar sobre a questão de estilos. Então, caso algum visitante ocasional caia por infortúnio por aqui, acho ser importante uns avisos: 
Não tenho nada contra você, quero sim que fique, visite, deixe recados, opine, etc e tal, mas:
Este é um blog pessoal, em sua definição de pessoalidade;
Gosto muito de escrever, tanto quanto o Carlos ou a Mérie, mas uso este espaço apenas como registro, escape, ou nem sei bem qual a definição.
Não me preocupo em construir pensamentos coerentes, interessantes, ou bem escritos. Apenas escrevo as palavras que me veem, tal qual fosse uma conversa.
Não tenho pretensões literarias em relação a este blog. Ele é, ao contrário, o momento que eu não me preocupo em reescrever bem, dentro de normas, pensamento cientifico, ou coisas que o valham. É apenas minha opinião, informal, informalissima.
As coisas aqui se referem a mim, e raramente parecerão interessantes a desconhecidos.

Se mesmo assim gostou, seja bem-vindo.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Dilema

A pergunta é: e agora?

Pois é, fiz um outro vestibular. Fiz sem ninguem saber, nem sei direito por que. Não comentei com ninguem - zero pessoas (nem familia, nem melhores amigos) que faria/havia feito isso. Não é por superstição; muita gente tem superstição, acha melhor ninguem saber, etc e tal, repeito o pensamento individual de cada um, mas eu não tenho isso, definitivamente não foi por isso. Acho que foi não não saber direito o que esperar - nem se desejaria, nem se éra só por fazer. Ainda não sei.
O primeiro vestibular para o qual me inscrivi, anos atrás, foi para Ciencias Sociais, na federal mesmo. Paguei, mas não fui realizar a prova. Não me achava capaz, e acho que não estava mesmo, mas nunca saberei qual teria sido o resultado. Tenho uma relação assim meio complicada com as ciencias sociais. As matérias que mais gosto nas duas faculdades são as que, de uma forma mais ou menos marcante, remetem às ciencias sociais. Eu gosto, mas é um curso pesado, sei que a carga de leitura é pesada demais para o que eu costumo ler. E agora isso..  Claro que estou feliz de ter passado!, afinal, é uma coisa boa. Poxa, e passei razoavelmente bem (11º) pra quem não se preparou ou estudou nada pra isso... Mas isso põe um grande dilema à minha frente.
Gosto muito das minhas faculdades (teria que largar ambas). Amo o CTCOM. Largar agora, seria jogar fora todo o tempo que já dediquei a isso. Bom, não seria jogar fora o tempo, pois o conhecimento eu sempre terei, mas... Nesse um ano e meio, já gastei muito dinheiro (por cima, uns 12 mil) nas viagens Matinhos-Curitiba - isso ignorando os centavos do cálculo, pq não sou bom com centavos (hehee), sem contar almoços, xeroxes, etc. Seria injusto com minha familia, depois desse tempo, jogar isso fora, mas... Falta pouco tempo para concluir Comunicação (um ano e meio no total; só um das presenciais). Poderia deixar para fazer depois, mas...
Muitos "mas" nessa história. Se não fizer Sociais agora, sei que não farei uma terceira graduação. Depois que concluir a faculdade, o caminho natural a seguir provavelmente vai ser seguido, pós, mestrado, trabalho. Esse é, portanto, um momento decisivo, e tenho consciencia que o é. Então me repito a pergunta que dá título ao livro de Lênin "O que fazer?" (não, eu não li, só sei o título.. hahahaa).
Muitos "mas" no caminho, muitas dúvidas, muitas decisões, e tenho outras coisas para pensar (artigo?). Até dia 1º, a decisão terá que vir.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Aplicabilidades

Sabe de uma coisa que percebi? O marxismo até é bom, pode até estar certo, mas falta aplicabilidade a ele. Estava lendo Althusser, queria encaixá-lo no meu artigo (a propaganda enquanto aparelho ideológico do Estado), mas então percebi que não faz sentido, pois não há aplicabilidade sobre a vida real. De um lado tem o direito positivista do dever ser, do "não fazer publicidade pessoal" ao que se contrapõe uma perspectiva "filosofica" de que não há propaganda neutra, não há publicidade que não seja pessoal, e portanto a constituição é "incumprível". Contrapor filosofia ao direito pode até ser forçar a barra, mas é cabível. Mas e o marxismo nisso? A propaganda é mais um dos meios pelo qual Estado exerce a reprodução dos meios de produção e o domínio de classe. Tá, e daí? O que eu faço com isso? Saca? Pode até estar certo, mas se não tem "saídas", aplicabilidade ou "propositividade" (do verbo propositivo), então simplesmente ignora-se. Ou lima-se. Falta isso ao marxismo.

Justificativa

Hoje, excepcionalmente, não tem o já quase-tradicional post da madrugada. Estou escrevendo (ou tentando escrever) outra coisa, meu artigo.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Isolamento, Solidão e Companhia

- Sabe aquele momento em que você olha nos olhos da outra pessoa e sente que ela vê sua alma, e então o mundo inteiro se silencia?
- Sim!
- Bem, eu não sei.

O diálogo acima é um trecho (do trailer) do filme Up in the Air (Amor sem Escalas). Adiante, no mesmo trailer, diz o narrador:
 - Se você pensar a respeito, nas suas melhores lembranças, nos momentos mais importantes da sua vida, você estava sozinho? A vida é melhor com companhia. 

Ainda não vi Up in the Air, mas, aparentemente (digo aparentemente por que trailers mentem), uma das questões retratadas no filme é o isolamento em que vive o protagonista interpretado por George Clooney.
Isolamento e solidão. A vida é melhor com companhia. Estranhamente, essa frase me lembrou o Gênesis, da Bíblia. Nem Deus gostava de estar sozinho, queria companhia e criou o homem, e após isso, criou uma companhia para sua companhia. A vida é melhor com companhia.

Não vi o filme ainda, mas seria bom, com companhia. Vi outro filme, hoje, bem, ontem, quer dizer, nessa quarta-feira, este sem companhia, que trata de assunto similar. O título é Funny People, mas no Brasil foi batizado de "Tá rindo do quê?", desse jeito mesmo, escrito "errado". O filme tem como protagonistas dois cânones da comédia contemporanea, Adam Sandler e Seth Rogen, mas é um drama. Um grande drama. Não acredite nas sinopses dos filmes que você lê. Não sei que tipo de gente as escreve, mas frequentemente estão erradas. Deixei de ver esse filme por muito tempo, devido à sinopse e ao modo como foi "vendido" (faltam bons comunicadores no mercado cinematográfico). Um comediante famoso descobre que tem uma doença terminal e irá morrer em breve, e então percebe que apesar da riqueza e fama, não há ninguém ao seu lado, ele não tem amigos nem familia nem ninguem a quem contar. Do outro lado, Seth Rogen sonha em ser comediante, mas está preso a uma vida miserável, que chega a ser melancólica. Os dois se cruzam numa noite, e Sandler contrata Rogen como seu assistente pessoal, na busca de algum tipo de companhia. Em um momento diz ele "Eu nem gosto de você, e você é meu melhor amigo." Evidencia-se de várias formas como todos estão sozinhos, mas também como existem alternativas. Você deve estar pensando em muitas situações clichês que decorreriam a partir da situação inicial; eu também já imaginava esses clichês, mas acredite, em nenhum momento o roteiro recorre a eles. O filme pode ser absolutamente tudo, menos previsivel. O roteiro é realmente inteligente, agradando ao grande público, ao mesmo tempo em que foge desses clichês. Com uma reviravolta na metade do filme, e uma dose de romance, a construção das relações entre passado e presente, e um futuro, ao longo de todo o filme transpira verosimilhança, abandona saídas que soassem falsas ou irreais. A realidaede prevalece, ainda que sob a máscara de Hollywood. Erroneamente, foi vendido como um tipo uma comédia (que tipo de gente traça essas campanhas de marketing?), mas, apesar de ter cenas engraçadas, é um dos filmes mais tristes que já vi nesses últimos tempos. Não é uma tristeza necessariamente para se chorar, mas uma tristeza melancólica. O filme é longo, quase duas horas e meia, o que já evidencia que não é uma comédia. Comédias geralmente são curtas, uma hora e meia ou menos, uma e quarenta no talo. Faz sentido, para quem quer diversão rápida, mesmo que, raras vezes, inteligente. Foi um fracasso de bilheteria, oque já era esperado pela combinação de fatores: atores de comédia em um drama, campanha de marketing mal-feita, duração longa (ou seja, uma sessão de cinema a menos, por dia). Mas bilheteria não importa. O filme é bom. Cada minuto vale a pena. Existem filmes que são indevidamente longos, que poderiam ser reduzidos e ficariam melhores, pois são consativos. O filme, mesmo longo, não é cansativo. Cada minuto de projeção faz sentido em existir, não há informação inútil. Curioso pensar sobre os atores de comédia que se propõem a fazer drama: geralmente arrasam; considero o exemplo máximo Jim Carrey. Adam Sandler não mereceria um Oscar, mas sua atuação está louvável, assim como Rogen, perfeito. No entanto o segredo está no texto, disposto a discutir coisas tão recorrentes em nossa sociedade como isolamento e solidão. Vale ser visto, com companhia.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Pequenos Prazeres (Detalhes)

Meu último post falei sobre a dor. Agora quero falar sobre um outro aspecto, que se não nos constitui, ao menos tornam a vida todo o esplendor que ela é. Os pequenos prazeres de nosso cotidiano.
Às vezes nem nos atentamos a eles, nem os percebemos. Um som, um cheiro, um sabor. Coisas sinestésicas, mas não só. Detalhes.
O modo como a luz do corredor entra pela porta entreaberta do meu quarto escuro, nesse exato momento, iluminando-o parcialmente. Fosse num filme, acharia lindo o jogo de luz e elogiaria a fotografia.
Nem percebemos toda a beleza que nos cerca. O cheiro do suco de laranja e do pão quentinho, pela manhã. Ou o som que o pão, estalando, faz, ao ser lentamente mordido. Aproximo meu olhar e observo de perto os fios do tecido de minha roupa, como se entrelaçam, como é belo. Sinto a sua textura. Essas são apenas algumas coisas, que nem reparamos, no dia a dia.
Há também aquilo que fazemos, nossas pequenas emoções e prazeres. Fechar os olhos e sentir o sol iluminando o seu rosto. Dormir na rede, na sacada, sob as estrelas. Tenho feito isso, esses dias.
O corpo, desacostumado com a rede, até reclama, mas então você sente a brisa leve da noite, te abanando. Deitado, apenas olha para o céu e vê as estrelas. Sente o balançar da rede, lento, preguiçoso, despreocupado.
Adormece ao som do silencio da noite e dos ruidos, que estão sempre lá, mas que você nunca ouve. Os passos de um carrocho na grama. O zunido produzido pelo poste de luz. O coachar constante dos sapos, em um terreno ao longe, distante. O grilo, que produz seu som, mas logo pára. Sente os sons da noite, te abraçando.
A claridade suave da manhã nascente te acorda. Outro dia, desses pequenos prazeres, que estão sempre aí, sempre aqui, ao nosso redor. Olhe ao seu redor e perceba os detalhes, as pequenas coisas que constituem seu mundo, sem as quais, talvez nada fosse diferente, mas tudo seria diferente.

Sobre a dor

Oliver Stone é um cineasta estadunidense. Também é veterano de guerra, lutou no Vietnã. Com a experiencia de ter vivenciado a guerra de perto, tornou-se durante um tempo obcecado pelo tema, e produziu alguns dos melhores filmes de guerra já concebidos, como Platoon e Nascido em 4 de Julho, além da obra-prima JFK. Ele tem uma frase muito interessante, que gosto muito, sobre a guerra. Diz ele que "A dor é boa. A dor te faz lembrar que ainda está vivo." Pode parecer estranho, à primeira vista, dizer que a dor é boa, mas vamos pensar sobre isso. Oliver Stone foi apenas o preâmbulo, é sobre a dor que quero escrever hoje.
A dor é boa, pois te lembra que ainda está vivo. É claro que a frase foi dita a respeito da guerra, sobre os horrores da guerra, onde a pessoa se atém a cada detalhe que possa continuar movendo ela, fazendo-a sobreviver, mas podemos abrange-la para a vida, como um todo. Viver é sofrer. Pode parecer um pouco melancólico, mas a dor e o sofrimento são inerentes à vida. Quem nunca sofreu, nunca viveu. Apenas se você se trancar em um quarto, se isolar do mundo, poderá se isolar da dor. E nem mesmo assim. Durante um tempo, tive medo da dor, mas não adianta tentar escapar dela, é uma etapa em nossa caminhada. Acho realmente que o ser humano é composto por nossas pequenas, infinitas dores. Sabe, não existe essa história de harmonia humana (Habermas que me desculpe). Pelo menos não aqui. No paraiso (ou no comunismo), talvez. As pessoas se desintendem. Fundamentalmente, o ser humano está destinado a se desintender. É um problema comunicacional. Cada um de nós tem um código próprio, e às vezes falamos por ele, à outra pessoa que não conssegue decifrá-lo. Podemos simplificar, com o exemplo dos casais, um tentando adivinhar o que o outro pensa, em vez de sentar e conversar. Comunicação humana é complicada, bem mais do que a institucional. É uma das coisas que levam à dor, mas a dor (o conceito da dor) é mais profunda. Ao longo da vida, nós colecionamos memórias, felizes e tristes. As tristezas nos constroem tanto quanto a alegria, senão mais. Eu não gosto das coisas que já sofri, mas de forma alguma gostaria de esquecê-las. Elas fazem um pouquinho parte de quem eu sou. E assim vamos todos nós, construindo quem somos. Não é bom sofrer, é claro que não, mas é uma etapa inescapável do que se consiste aquilo que chamavamos vida.
Não estou triste, pelo contrário, estou sereno. Apenas refletindo, sobre aquilo que somos.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Histórias infantis

Percebo agora que, não deliberadamente, estou criando uma tradição no blog, um post por dia, sempre de madrugada. Gostei. Não garanto que o ritmo continue depois que voltar as aulas, mas por enquanto...

Esse fim de semana teve visita aqui em casa. Minha prima, Valéria, e o Edy, seu marido, estão (na verdade, estavam, pois já voltaram para Curitiba) passando as férias na casa da minha tia (estavam aí desde o ano novo), para matar as saudades, etc e tal. Sábado e domingo, passaram o dia inteiro por aqui. Foi bom, gosto deles, ela é formada em jornalismo e agora está cursando contábeis, e ele, professor de artes, adora cinema tanto quanto eu; sempre ficamos trocando figurinhas. Mas em algum momento (como sempre acontece nas reuniões familiares) a coisa puxou para as histórias e lembranças do passado, e inevitavelmente para a minha infância.
Curioso que minha memória é ruim, muito ruim. Me lembro de bem pouca coisa da infância. Fico realmente admirado de pessoas que se lembram de coisas dos 4, 5 anos. Dessa época, não lembro absolutamente nada. Então, as histórias, inescapáveis histórias. Contaram uma história sobre mim, da qual ri muito, achei muito engraçado, que fique claro que não lembro, e o que faço agora é apenas reproduzir o discurso. Hehehee.
Verão de 1989 para 1990. Tinha completado 5 anos. Naquele verão, foi lançado o primeiro filme do Batman, dirigido por Tim Burton (aquele em que Jack Nicholson faz o Coringa). O Batman do Burton é, até hoje, uma das mais ostensivas e esmagadoras campanhas de marketing jamais imaginadas. Absolutamente todos os lugares foram inundados por produtos licensiados da marca. Isso é o que sei de ler, história do cinema, etc. Segundo minha mãe, pouco antes daquele verão, ela havia me levado a Campinas, para um exame em algum tipo de oculista especializado não-sei-em-quê, e no shopping de lá ocorria algum tipo de pré-lançamento, com absolutamente todos os produtos. Havia uma loja inteira dedicada à promoção do Batman. Voltei carregado de saudável consumo capitalista. Da trilha sonora, em K7!, e o porta-fitas para guardar o K7, lógicamente, carrinhos do bat-móvel, lençóis, edredon, cortinas, os mais diversos produtos escolares de colorir, e mais um monte de outras coisas que já me esqueci de volta. Ah, e claro, o principal, um traje completo do Batman, o que incluia, além da roupa, as botas, capa, cinto de utilidades, e a máscara, com direito às orelhas pontudas de morcego. A graça não está nisso, começa agora. Naquele verão viajamos, eu, minha mãe, minha tia, e a Valéria, para passar as férias em Camburiu. Eu levei a roupa, claro, conta minha prima. Desde aquela época já tinha essa queda por cinema, diz ela. Me tornei obcecado pelo Batman. Eu ia para todos, absolutamente todos os lugares, vestindo a roupa preta do Batman, inclusive botas, capa e máscara. Minha tia ficava louca, dizendo que iria desidratar com aquela roupa preta na praia, que iria passar mal. No hotel, na praia, no centro da cidade... me recusava a tirar a roupa do Batman, ia com ela para todos lugares. Não sei se escrito fica tão engraçado como elas contam, mas que ouvir essa história da Valéria é engraçadissimo, é, mesmo sendo eu o alvo da piada. Hahahaa. No fim, segundo a narradora, de tanto falarem que eu ia passar mal, comi um milho estragado e fui parar no hospital com infecção alimentar. Fui para o hospital vestido de Batman.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Sobre tragédias, humanidade, e esperança

Não sou de me comover fácil. Não que eu seja insensível, longe disso, frequentemente me emociono, mas os apelos televisivos e midiáticos como um todo raramente me alcançam. Um exemplo disso é o tal caso Isabella, de uns anos atrás. Enquanto todo o país viu-se envolvido na rede midiática promovida pelos meios de comunicação, em busca de audiência, a mim só enfadeceu. Me comovi com as pessoas humanas que haviam por detrás daquilo, que em nenhum momento foram verdadeiramente mostradas, mas não com o espetáculo. No entanto, dessa dez me comovi, como o mais emocional telespectador dos showrnais (junção de show+jornal). Haiti. É impossível ficar indiferente, ou comover-se à distancia, é impossível não pensar sobre essa terra arrasada.
Terra arrasada, literalmente. Uma catrátrofe natural e sobretudo social. E estou falando de antes do terremoto. É quase como uma terra esquecida por Deus. 80% da população está abaixo da linha da pobreza, ou seja, na definição de "miséria absoluta". Em um país predominantemente negro, uma pequena elite branca governa há (literalmente) séculos, sempre roubando as poucas riquezas para si. O país não tem nada. Não tem potencial agrícola, industrial, comercial, ou de turismo. Absolutamente nada. O solo, mal-tratado há séculos, é absolutamente nulo. Não há como se plantar nada naquele solo. Não há eletricidade nas ruas da capital, nem se fala no interior. Não existe postes elétricos nas ruas. E veja, isso é o cenário anterior ao terremoto. A principal fonte de energia é o carvão. A água também é condicionada, de difícil acesso à população. E isso anda é o cenário antes do terremoto. Conta o jornalista Luiz Carlos Azenha, em seu blog, de quando foi cobrir a visita do presidente Lula ao país, em 2005. Na sala de imprensa não havia água para os jornalistas; na busca por água, aventurou-se pela cozinha do palácio, onde testemunhou o serviço de copa enxendo as garrafas d'água que seriam colocadas à mesa da recepção aos Chefes de Estado com água da pia, segundo ele, "de origem duvidosa". Serviram água da pia aos presidentes (do Haiti e do Brasil) e respectivas comissões. Imaginem a população. E isso antes do terremoto. Já não bastasse a destruição feita pela próprio homem, então vem a destruição da natureza. Nos últimos anos, 3 (três!) fortes furacões já atingiram a região, deixando devastação. E agora, o terremoto. Diz as primeiras previsões (somente as primeiras; geralmente elas aumentam depois) que o números de mortos é entre 100 e 140 mil mortos. 100 mil mortos equivale à 1% da população dos 10 milhões de haitianos. 1% da população. Fosse no Brasil, seria o equivalente à morte de 2 milhões de brasileiros. 1% da população. 70% de todas edificações do país desabaram ou estão comprometidas. O palácio presidencial caiu. Pense. O palácio presidencial. No dia seguinte à tragédia, o presidente do Haiti dava entrevistas na rua, e disse que não teria onde dormir naquela noite. O Presidente da República não teria onde dormir naquela noite! Agora pense na população. Catastrofe é pouco para definir.
Mas nesses momentos que me emociono, vendo que ainda existe fraternidade no mundo. Todos os países, seus lideres, suas celebridades e seus mais humildes cidadãos, unidos numa única mensagem de solidariedade e esperança. Sinceramente é belo ver palestinos e israelenses dizendo a mesma coisa. Mostra que o mundo ainda pode se unir, por uma causa em comum, que é a causa da humanidade. Ouvi uma critica logo no primeiro dia, quando o Governo Brasileiro anunciou que doaria 10 milhões, para a o auxilio ao país, de que se estava ajudando o estrangeiro, e esquecendo o povo brasileiro. Por maiores que sejam os problemas nacionais, lá existe uma catrástrofe, da qual não poderão se recuperar, sem ajuda. Achei uma grande, uma tremenda bobagem isso que foi dito. E nem falo pelas questões estratégicas da política externa do governo Lula, em adotar uma postura de liderança, afim de conquistar uma cadeira permanente no conselho de segurança da ONU. Falo de algo mais básico, intrinseco a todos nós. Antes de sermos brasileiros ou haitianos, somos todos seres humanos. Não devemos ajudá-los por qualquer outro motivo que não seja esse, somos irmãos.
Em dezembro, recebi meu salário de bolsista/estagiário da UFPR. Recebi o de dezembro e o de janeiro, adiantado, tal qual os estagiarios da UTFPR também receberam, por questões legais (o orgamento público previsto não pode virar o ano; tem que fechar, sem deixar compromissos futuros, estabelecido pela lei de responsabilidade fiscal). Como em janeiro não teria as despesas diárias de viagens Matinhos-Curitiba, e como me sentia imerecedor de tudo, afinal, meu trabalho foi básico, comentei com alguns amigos que gostaria de doar o dinheiro referente à janeiro (ainda que recomendasse o bom senso que o guardasse, para quando retornasse as aulas), e pedi indicações de instituições confiáveis, que necessitassem. Eles riram, brincaram que devia doar para os amigos, que deveria doar para um churrasco. Nada contra churrascos, gosto muito, mas não era destinação que queria dar a ele. Doei parte para a assistência de Natal que a Igreja Católica daqui promoveu. Outra parte, ficou guardada, reservada, na minha gaveta, durante este mês.
Não gosto absolutamente destas campanhas de doação pela televisão, estilo Criança Esperança. Esta é uma das maiores farsas que já existiram. E não por que eles embolssem ou deixem de embolsar o dinheiro (sinceramente não sei, nem me importa). Doar para Criança Esperança e congêneres (seja do SBT, da Record, ou de qualquer outro lugar) é uma fuga do sentimento de responsabilidade social. A pessoa disca um número de telefone, do conforto de seu apertamento protegido por grades, e doa 5, 10, 20 reais. Mas no dia seguinte, fecha o vidro do carro para o pivete de rua, e fecha os olhos para a miséria ao seu redor, acreditando que fez sua parte, que ajudou a sociedade. A pessoa despreza e humilha os mais pobres, os humildes (como a história de Bóris Casoy e os garis), mas acredita que está fazendo alguma coisa, eximindo-se de responsabilidade. Por isso, grosso modo, que não gosto desse tipo de doação. Mas nessa ocasião, a coisa muda um pouco de figura.
O Haiti é longe, e ainda que eu pudesse ir até lá, pouca diferença faria. Existe todo um país para ser reconstruido. Existe toda uma população para alimentar. O governo federal disponibilizou uma conta na Caixa Economica Federal para doações. Não é iniciativa de organização independente, visando aparecer, mas o governo brasileiro, em parceria com a ONU, outra entidade de respaldo. O dinheiro irá para o Programa de Alimentação e à Coordenação de Assistencia Humanitária, ambos da ONU. Não sei se foi apenas coincidencia ou se eu estava esperando o momento certo para ajudar, mas sei que aquele dinheiro sairá de minha gaveta nessa segunda-feira.

Se alguém mais também quiser ajudar (não existe mínimo):
Caixa Econômica Federal
PNUD – Haiti
Agência: 0647
Operação: 003
Conta: 600-1

domingo, 17 de janeiro de 2010

Merdas que acontecem

Estou com muito ódio e muita raiva, nesse momento. Muito. Não vou conseguir dormir. Tentam me desviar do meu amor pelos pobres, tentam. Ladrões. Esses mancham o que é a pobreza. E essa não era pobre! Drogas, não comida. Entendo a revolta da classe média. Entendo mesmo. Mas eu não, eu não vou pelo caminho da generalização. Maldição! Merda, merda, merda. Tudo bem, Márcio, vc acredita em equilibrio. Sabe, nenhuma felicidade dura muito tempo. Estava tudo indo muito bem, pra mim, com o artigo, e talz. Mas ela tem que ser contrabalanceada. E as merdas acontecem. Tomara que seja sinal que virá coisas boas e melhores, no futuro. Foda-se o celular. Melhor pensar assim.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Saudosismo e modernidades

Eu tenho uma conta no twitter. Apesar de cada vez mais interagir por lá, acessar diariamente, acompanhando os posts de meus amigos, não é um modelo que me agrade como um todo. Lembro de um artigo que li alguns meses atrás que define (ou definiu) muito bem o que penso a respeito, sobre o que é o twitter. Acabei de buscá-lo, e está, completo, aqui. Segue um recorte do trecho mais importante que é a síntese do pensamento:
"O Twitter é exemplo claro da importância do meio na conformação da conduta do usuário.

Mais do que o Orkut, por exemplo, que é sucesso entre os brasileiros de todas as classes sociais, o Twitter tem em sua engenharia interna a inspiração do modelo personalista.

Serve, portanto, de modo perfeito, à construção de púlpitos para gurus. É da pessoa e não do tema, estabelece uma hierarquização no tráfego de informação e copia os modelos verticais de gestão corporativa.

O Orkut, por exemplo, é campo aberto de batalha e debate. Ali, os famosos e poderosos têm medo de se expor. Equivale a se apresentarem no meio da multidão, em praça pública.

Por conta das características do meio orkutiano, as pequenas legiões leonídeas da esquerda organizada destroçam facilmente as gordas falanges do mainardismo virtual.

O Twitter, ao contrário, enfatiza o emissor e exclui o intercâmbio dinâmico de ideias. Não há corpo a corpo e, por conta das condições do campo de batalha, a quantidade pode vencer a qualidade.

Vale dizer que o Twitter funciona no campo da comunicação declaratória. Não trabalha com base na argumentação e na exposição racional do pensamento.

No Twitter, as personalidades têm o que o sistema chama de “seguidores”, característica que fortalece um padrão de falsa interação.

Um tema dromológico

Cada tweet (mensagem) tem que se limitar a 140 caracteres. Assim é a coisa.

É fácil pedir “Fora Sarney” nessa tecladas mínimas. Mas é difícil explicar que o presidente do Senado está por aí há 45 anos, que a bronca tucana é oportunista, que Arthur Virgílio é um bandalho e que o movimento midiático faz parte de um projeto de desestabilização do governo Lula.

O Twitter é ótimo para gritar e exigir cabeças. É péssima ferramenta para qualquer advogado.

Curiosamente, o Twitter no Brasil é utilizado majoritariamente por homens paulistas e cariocas, na faixa de 20 a 30 anos, a maior parte deles com ensino superior. A agência Bullet, que coletou os dados, mostra que 60% dos twitteiros são considerados formadores de opinião.

No total, 51% dos usuários valorizam os tais perfis corporativos.

Cabe destacar que o Twittter se casa perfeitamente com o modelo de comunicação veloz da juventude. É um SMS da Internet.

A informação é rala e muitas vezes codificada. O importante é estar “em contato”, integrado, saber um pouco, talvez quase nada, mas de muitos. Também é preciso mostrar-se vivo, disparando a mensagem, mesmo que irrefletida."

Pois bem, não é a intenção desse post falar sobre twitter, ele foi apenas a inspiração do tema de hoje. Ou seja, isso tudo apenas como introdução.. hehe. Mas a reflexão, aqui, sempre terá espaço. Continuando.
Apesar de ser ruim pois no twitter as pessoas não se ouvem, apenas falam, tem lá seus divertimentos. Vez por outra, surgem "campanhas". Não sei se é a terminologia adotada, mas se não for, fica sendo. Como a que tomou conta de todos outro dia "Tuite algo muito antigo", em que se suscita aos amigos que cada um tuitasse (escrevesse) alguma coisa muita antiga. Alguns twits resgatavam slogans ou coisas relativamente antigas, que fizeram parte da juventude que hoje lida com o twitter. "Não esqueça a minha calói", ou "disquete", são dois exemplos que lembro agora de imediato, do que li (havia outros, melhores). Raro eu aderir a campanhas assim, mas gostei da idéia. Pensei no que escrever. Resgatei minhas lembranças. Algumas já tinham sido postadas, e não queria repetir (esse minha mania de pseudo-ineditismo). Então, eis que surge em minha memória. Cinema de rua.
Cinema de rua. Poxa, acho que realmente estou ficando velho. Que saudosismo fiquei, dos cinemas de rua. Tanto, que decidi escrever a respeito. Acho que nenhum de meus amigos pegou essa época, e se sim, foi muito de leve. Época que eu era criança, não foi tão longe assim, mas também não foi na geração big brother, não existiam cinemas em shopping's, como existem hoje. O shopping estação não existia, o Muller não tinha cinema, e o shopping Itália ainda era prestigiado na época. Por falar com Shopping Itália, que eu me lembro era o único, na época, que tinha cinema. Não como são os cinemas de shopping hoje, bem diferente. Não sei, mas acho não existe mais. Me lembro de uma vez que me barraram na entrada, por lá, mesmo eu estando acompanhado de minha mãe, no filme A Fuga, com Alec Baldwin, lá pelos idos de 1994. Tinha uns 9 anos, a classificação devia ser uns 14. Mas nunca iamos nesse, no Itália, que era bem ruim, por sinal. (Me lembro só de uma, no máximo duas vezes, que fui no Itália).
As lembranças mais marcantes são do Lido. Lido I e Lido II. Cinemas germinados, lado a lado. Hoje os multiplex são rotina, na época, era incrivel ter dois cinemas, lado a lado, com filmes diferentes! Incrivel! Me lembro de True Lies, com Schawarzanegger. Fui ver no fim de semana de estréia. A fila que enfrentei é  provavelmente uma das maiores que já vi até hoje; dava uma volta no quarteirão. Amei o filme. Me lembro que na semana seguinte quis rever; minha mãe tentou me demover, se eu não queria ver outro, que não tinha visto ainda (cinema, na época, não era necessariamente barato, apesar de também não ser carissimo). Queria rever True Lies. Me lembro da entrada do Lido, tinha que subir uma pequena escada, após passar pela bilheteria, para chegar ao nível do cinema.
Outro que me lembro, é do Cine Condor. Ficava numa esquina. Não sei onde. Aos 10 anos, você (pelo menos eu) não se atém a nomes de rua, ou localizações. Bom, até hoje não não me atenho a localizações.. hehee. Mas ficava numa grande esquina. Para mim, aquele prédio era gigantesco. É como o vejo, nas minha memórias infantis, provavelmente distorcido, tanto pela visão infantil, quanto pelo tempo. Me lembro de ver lá, no Cine Condor, Highlander 3. Esse filme é inesquecível. Queria muito vê-lo, mas não tinha ido ainda, enquanto lançamento, e ia sair de cartaz. Era uma quinta-feira. Na sexta, como até hoje é, estréiam os lançamentos, e haveria estréia de um filme importante; o Condor era o ultimo cinema em que Highlander ainda estava em cartaz, e sairia no dia seguinte. Estava um temporal. Absurdo, gigantesco temporal. Morávamos no Santa Candida. Minha mãe teve que chamar um táxi, para ir até o terminal. O costumeiro caminho a pé, seria inifrentável (ou inenfrentável?), mesmo com guarda-chuvas, com aquele tempo. Esperamos o onibus que nunca chegava, eu marcando o tempo, as horas da próxima sessão, da última sessão. Já era tardezinha da tarde, noitinha, lá pelas 7 da noite; a última sessão seria lá pelas 8, algo assim. Pegamos o onibus, não me lembro exatamente qual, acho que era verde, mas posso estar confundindo as lembranças. Descemos no ponto em frente ao cinema, sob um temporal ainda mais forte, a tempo de ver a última sessão de Highlander 3.
Ah, tantos filmes memoráveis assisti nesses cinemas, como Jumanji. Me lembro da campanha de marketing de Jumanji. Na época, não era comum como se faz hoje em dia os teasers, que não são trailers, mas sim só um anúncio, com o título do filme, no estilo "espere". Se não me engano, Jumanji ficou famoso por sua campanha antecipada, introduzindo o que viria a ser o teaser. Antes, o filme era anunciado, quando estivesse para ser lançado, e simples e só. Meses antes, já havia um pequeno cartaz no inicio, depois substituido por um maior, no Lido, escrito apenas "Jumanji". O logo envolto na temética de floresta, mas sem maiores explicações. A sacada do teaser, que não existia na época, e que diferencia o trailer e outras estratatégias de marketing, é o lance do suspense. Não se dá maiores explicações do que se trata, apenas se coloca o nome "Jumanji", sem explicações, com a mensagem (explicita ou implicita) "aguarde". Cria-se o suspense e o interesse. Ah, a estréia. Esperei muito por aquele filme. Não lembro em qual cinema vi, acho que foi no Lido mesmo. Foram tantos outros filmes.
E o Cine Plaza, então?! Esse é clássico, nem tem muito o que falar dele. Foi o que resistiu por mais tempo, o último cinema de rua a fechar, alguns anos atrás. Lembro que havia uma parte superior, tal qual o balcão de um teatro. Que delícia que era. Além de ser gostoso de ver, o clima era diferente, era mais nobre, digamos assim. O cinema, como um todo, era um rito. O clima ajuda a construir a imagem de rito, de arte, de apreciação de uma obra, tal qual o teatro, não apenas a diversão, em que se escolhe uma opção, entre 10 outras disponível, nas salas ao lado da praça de alimentação. Você entrava no Plaza, e podia escolher sentar na parte "normal" , ou subir a escada bifurcada (sabe, aquele tipo de escada que tem dois lados, à esquerda e à direita, que levam ao mesmo lugar..  não sei explicar. direito.  hehee) para ficar na galeria/balcão. Outro dia, indo para a pizzada de aniversário da Priscila, passei em frente ao antigo Plaza, na praça General Osório. Hoje é uma igreja neopentencostal. Não é dessas famosinhas não, tipo Universal, é uma "marca" que nunca tinha ouvido falar. (a ironia da "marca" é mais do que uma ironia; hoje elas se tornaram realmente quase isso, mas não é disso que trata esse texto...). Como estava com tempo, adiantado, entrei. A estrutura ainda permanece a mesma. Não estava tendo culto, apenas algumas pessoas por lá, outros preparando coisas na frente, provavelmente para o culto de mais tarde. Me senti. Os bancos azuis ainda são os mesmo desconfotáveis bancos da época. Mas à frente, a tela não existe mais, lugar agora cedido a um palco para os pastores. Saí. Comentei com a moça que entregava folhetinhos da igreja, na entrada/saída "Que saudade do Plaza", ao que ela me olhou, com cara de quem não entendeu, com cara de quem não sabia o que era o Plaza. Que pena dela, que não soube o que era o Plaza, e de todo mundo, que nunca saberá. É claro que os cinemas modernos são melhores, de longe, reconheço isso, conforto, qualidade de som, imagem, etc. Nas vezes, esses tempos agora de faculdade, em que fui, por um filme ou outro, no Cine Luz, último cinema de rua ainda existente em Curitiba, já acostumado com conforto e qualidade dos multiplex, reclamei (comigo mesmo) e não gostei, por uma série de razões. Se eu que gosto, não gostei, a geração multiplex sequer pensaria em ir. Estão perdendo boa parte do espírito do que é o cinema.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Sobre morte e homenagens (Ou: Do fundo da minha alma)

"Você deveria escrever a partir da sua vida. Das profundezas da sua alma." Este é o conselho que o Professor Fritz, personagem de Gabriel Byrne, dá à Jo March, personagem de Winona Rider, lá pelas tantas de Adoráveis Mulheres, um dos filmes que mais amo de todos os tempos. Notei que tenho escrito sobre política e cinema, o que são interesses meus, mas não sou eu. Gosto de cinema, e escrever sobre, e ainda vou escrever muito sobre isso nessas férias (hehee), mas também existe a necessidade de colocar a sua alma no papel. Afinal, é isso que diferencia você dos demais.
Pois bem, vou falar um pouco então desta alma. Outro dia, estava de bobeira, dando voltas pelo orkut, como se não tivesse coisas importantes a fazer (escrever o artigo, Márcio, o artigo!). Acabo caindo nas páginas de vídeos preferidos de uma antiga amiga do cursinho, que adotou/inseriu em seus vídeos, um vídeo existente no youtube de outro colega, René.
Então tenho que falar sobre o René. Fizemos cursinho juntos, o que não é grande coincidencia em Matinhos, onde praticamente só existe um cursinho. Não eramos grandes amigos, apenas de se comprimentar "e aí, tudo blz?", "tudo". Uma vez fomos jogar bola juntos, tradição de toda sexta-feira promovida pelo Jefferson, professor de biologia do cursinho. Fomos de carona no carro do Jefferson, até o campo sintético do Gaucho, meio longinho, em frente ao Fitiepi. No carro, ele não parava de falar da Poliana, incentivado pelo Jefferson. Poliana é uma outra colega nossa, do cursinho, por quem também tinha um carinho especial, mas reservado demais para ficar falando sobre, como ele fazia. Rsrss. Só espero que ela não esteja lendo isso.. hehee. Nos tornamos amigos, just this. Eu era (talvez ainda seja) como o personagem de Jim Carrey se define, logo no inicio de Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças "Me apaixono por toda garota que me dá um sorriso e alguma atenção especial". Hehee. Foi por causa dela (e mais dois amigos), que resolvi fazer o vestibular do Cefet, como chamavam a UTFPR. Mas isso é uma outra história... Eu gostava muito de jogar; já me quebrei um monte jogando bola: gengiva cortada, dedo do pé literalmente quebrado, quase desmaio sem conseguir respirar depois de receber uma bolada no peito... Hahaha. Mas eram divertidas, as sextas-feiras. Renè passou para o curso de Ciências, enquanto eu entrava em Gestão Pública. A relação na faculdade não foi muito diferente, apenas nos cruzavamos, vez em quando, pelo corredor. Pouco tempo depois, logo no início da faculdade, 1º período ainda, ele foi para os Jogos da UFPR (acho que é Jogos Rurais o nome, algo assim) em Palotina. Lá, morreu.
Conta a história, numa madrugada, sozinho numa rua, ao atravessá-la, foi atropelado. Comoção entre os amigos, solidariedade e homenagens. Também fiquei solidário, também senti, claro. A morte é um tema dificil para mim, uma grande incógnita, sobre a qual não tenho opinião, pensamento definido. O modo de encará-la, para mim, é problemático. Não pensar a respeito do tema é uma forma de fugir do assunto, não ter que ter opinião sobre. Mas não é sobre que isso exatamente que quero escrever hoje, mas um tema que a cerca. As lembranças do indivíduo, após sua morte. René havia gravado um vídeo, cantando, e postado no youtube. É o vídeo que essa amiga adotou como favorito. Nos comentários, lembranças e homenagens. O orkut de René ainda existe. Na página de recados, homenagens dos amigos, falando sobre a falta que fará. Nesse ponto, me ocorre alguns questionamentos de ordem juridico-legal, sobre os quais acredito que ainda não há definição, mas também não são o objetivo desse texto, são apenas questões que valem se pensar. Como fica, no direito, os bens virtuais de alguém, após sua morte? Entram no espólio? O e-mail (correspondencia, ainda que eletronica) e o orkut, pertencem aos herdeiros? Pode um servidor/provedor deletar uma conta de e-mail, constatado a morte do títular? Bom, acho que alguém, algum dia, vai criar uma jurisprudencia a respeito. Não me interessa agora. Penso apenas alguns aspectos da questão. Acho um tanto mórbido, após a pessoa ter morrido, continuar existindo, virtualmente. O perfil continuar ativo, existindo. Não sei o que desejo para mim, se quero que o orkut seja deletado, ou continue, talvez como um réquiem; mas que tem seu lado mórbido, têm. Como se uma parte da pessoa continuasse viva, presa a esse mundo, impedida de partir. Um tanto estranho. Mas também tem seu lado bonito, que é o mural de homenagens formado, os amigos que prestam suas homenagens.
Então, sem querer ser egocentrico, é inevitável pensar sobre mim mesmo. Em dezembro de 2008, um ano e pouco atrás, fui atropelado, em frente à faculdade. Fiquei alguns dias internado no hospital evangélico, em Curitiba, mas sobrevivi. Meu estado foi grave, apesar do risco de vida que corri não ter sido grande, ainda que tenha existido. É de se pensar. Fosse diferente o angulo, mais à esquerda ou direita, sei lá, e quem sabe os ferimentos seriam diferentes, e talvez eu não estivesse mais aqui. Fiquei alguns meses de molho, me recuperando (sorte ou azar, eram férias). Fora algumas cicatrizes, hoje estou bem. Mas e se eu não tivesse mais aqui, o que teria ocorrido? Sinceramente, não acho que teria um mural de homenagens tão bonito quanto o do Renè. E não estou fazendo comparações, nem com algum tipo de inveja (seria o cúmulo do absurdo, não?). Apenas constatando. Às vezes eu sinto necessidade de estar conectado com o mundo, justamente por que não estou conectado. Meus amigos de Matinhos nem souberam do que ocorreu, tomaram conhecimento em meados de janeiro, quando mandei um e-mail. Um e-mail! Meus amigos de Curitiba só souberam por que, coincidentemente, foi na frente da faculdade e alguns testemunharam (senão, provavelmente também não teriam sabido). O que fizeram, a seguir, foi ir para um barzinho à noite, que estava marcado. Alguns somente, justiça seja feita. "Se fosse com qualquer outra pessoa da sala, não teria balada", argumentou uma amiga. Aquilo marcou. Não sinto ressentimentos, não mesmo, de forma alguma. Apenas constatando. Se eu morresse hoje, aqui, provavelmente ninguem (fora minha família, óbvio) tomaria conhecimento. Eu estava, e continuo, desconectado do mundo, das pessoas. São coneções que às vezes não sei como estabelecer. Morresse eu, penso, mesmo as homenagens tardias, quando soubessem do ocorrido, não seriam significativas. Seriam apenas tal como eu continuo sendo. Este texto ficou com um clima ruim, pesado, que não era o que pretendia dar. Não estou, nem quero, remoer coisas do passado, só trouxe elas para exemplificar. É apenas uma reflexão sobre meu papel na sociedade, no mundo. As coneções que ainda estou para estabelecer. Do fundo da minha alma, como aconselhou Fritz à Josephine.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Critica

Gosto do Lula, mas não sou cego, nem extremista. A crítica é não só necessária, mas fundamental. Tenho fortes criticas a ele.
Peço licensa para reproduzir conteúdo aqui. Não gosto de fazer isso; gosto mesmo é de produzir, escrever. Segue, abaixo, critica de Luiz Carlos Azenha ao presidente, com a qual concordo em boa parte, para não dizer plenamente.

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A decisão de Lula

12 de janeiro de 2010
por Luiz Carlos Azenha

O presidente Lula deve mudar o Plano Nacional de Direitos Humanos, retirar dele os "pontos polêmicos" -- leio na mídia. O plano, como vocês sabem, é meramente propositivo. Expressa diretrizes gerais, por isso vagas. Foi resultado de um longo processo de conferências, consultas, negociações e votações.
Grupos diversos protestaram contra o conteúdo do plano, mesmo sabendo que qualquer das propostas -- repito, qualquer uma -- só será adotada depois que for escrito um projeto de lei, apresentado e aprovado no Congresso Nacional -- o que incluiria um novo período de consultas e negociações.
Mas a elite brasileira não está acostumada com a democracia. Está acostumada a não consultar ninguém, nem a população, nem a sociedade civil organizada. É a famosa democracia "dos de cima". Através dos meios de comunicação, a elite brasileira imporá uma derrota não ao governo Lula, mas ao princípio de que o Brasil pode ser governado por mais do que meia dúzia de pessoas. É uma derrota de todo o processo de participação, que inclui as conferências de comunicação, de saúde, de Direitos Humanos, etc.
É óbvio que o presidente Lula faz isso por motivos políticos. Ou por ser conciliador. Ou por achar que tudo se resolve assim, numa conversa de gabinete. Ou por achar que não vale a pena perder votos para a candidata dele, Dilma Rousseff, em defesa de propostas tão genéricas. Mas o fato concreto é que trata-se de mais uma situação em que uma decisão do presidente da República será profundamente desmobilizadora.
Quem é que vai se preocupar em participar de algum fórum, algum debate, alguma conferência, alguma discussão, se corre o risco de ver todo o trabalho que fez ser detonado lá na frente por uma canetada presidencial, porque o Ali Kamel não gostou, o Boris Casoy mentiu a respeito, um ministro de seu próprio governo chiou? É uma decisão lamentável não por abrir mão deste ou daquele ponto do plano -- afinal, repito, são meras diretrizes -- mas pelo recado que manda à sociedade civil: vão ganhar dinheiro, deixem que a gente governa aqui, nos gabinetes de Brasília, deixem que eu decido numa conversinha com o bispo, o general e o filho do Roberto Marinho.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Sobre Lula, cinema, e outras coisas

Outro dia, ontem na verdade, li uma péssima, péssima critica, de uma tal Mariane não sei das quantas (nem me interessa), na Preview (nova revista brasileira de cinema, muito ruim, por sinal. Todas revistas do genero, atualmente, são ruins) sobre o filme do presidente, Lula, o Filho do Brasil. A critica é ruim não por que eu discordo (e eu discordo) mas por ser mal formulada mesmo. Meu amigo Carlos fez uma critica melhor do filme (aqui), da qual eu também discordo em partes, mas bem construida. Não sei como gente assim (a tal Marianne) pode ser contratada e escrever pra algum veiculo qualquer publicável. Enfim...  Não ia tratar desse filme aqui no blog, mas como estou numa fase cinema, e essa critica despertou meus instintos mais profundos, como dizia o Bob Jefferson, vou falar dele.
Concordo que seja dificil separar a ideologia do cinema; nosso olhar é ideológico, queiramos ou não, e nossa visão de um filme assim, é maculada por nossas opiniões prévias. Até podemos tentar fazer o exercício de resistir, de analisar o filme fora de nossas concepções, mas diria mesmo que é quase impossivel. Quem gosta do Lula, já vai assistir com uma idéia pré-concebida, quem não gosta, igualmente. A discussão deixa de ser sobre cinema e passa a ser sobre política. O problema é quando pessoas pagas para escrever sobre cinema (não sobre política) em uma revista de cinema, fazem isso também. Mas tudo bem, vamos ao filme.
Tenho que analisar em duas perspectivas, enquanto Márcio, ser que é fã de Lula, e portanto com a visão afetada por seus pressupostos, e em uma tentativa de exercicio de neutralidade cinematográfica. Enquanto eu mesmo, Márcio, amei o filme. Raramente choro no cinema, e nesse filme, chorei o tempo todo. Foi incrivel, uma experiencia novissima. Não nego, e sem dúvidas, toda essa emoção foi pela minha admiração pelo Lula, não pelo filme em si. Chorei até quando ele recebe o diploma do curso técnico de torneiro mecanico, por exemplo, apenas uma das muitas passagens em que me emocionei. Cinematograficamente, não é emocionante (essa cena). Para mim, foi. Isso fora todas as outras cenas, emocionantes mesmo. Agora já partindo para uma análise mais cinematográfica. A qualidade técnica do filme é excelente, a estética com que os vários ambiente são retratados, propiciando uma diferenciação entre eles (a sutileza da mudança quase imperceptível de cor, nas lentes usadas pelo fotógrafo), a maquiagem que envelheceu Glória Pires, enfim... os 12 milhões foram bem investidos, e acho um filme de qualidade internacional. Certamente tem cacife (técnico e de enredo) para concorrer a premios internacionais. A questão do enredo. A tal (babaca) Mariane fala que o filme "tenta dar conta de todos acontecimentos"; é o oposto do que pensa o Carlos, que criticou a falta de alguns elementos, como o PT. Pendo muito mais para o lado da opinião do Carlos. Mas veja, o cinema é reducionismo, infelizmente. Uma coisa que não gostei, e que demonstra esse reducionismo, é quando Lula perde o dedo na prensa. Na realidade, o culpado pelo erro, por fechar a prensa em seu dedo, não foi ele próprio, mas seu colega, que trabalhava a seu lado (que fechou a prensa sobre sua mão). Sim, é verdade. Todos pensamos que a história foi ele mesmo que fechou, mas não foi. O filme reforça essa idéia do senso comum (para não dizer que imortaliza essa idéia), mas, por ser um reducionismo, faz sentido. É uma simplificação da realidade. Ele fechar a prensa é muito mais simples (para fazer a cena, e para essa cena ser inteligível ao público) do que complexificar com mais um personagem. Existisse outro personagem, a cena seria maior, precisaria mais apuro para passar a mensagem ao público, ser entendida, talvez até exigisse uma cena adicional, explicando ao público quem era o sujeito, como ficou a relação deles depois, etc. Assim, o cinema simplifica, reduz. O filme acaba bem, em um fato que o próprio Lula reconhece como marcante em sua vida, um divisor de águas, que foi quando saiu da prisão (auxiliado pelo então delegado Romeu Tuma, hoje senador da base aliada do presidente; outra simplificação que o filme não tem mesmo o dever de mostrar) para o enterro da mãe. Eu teria algumas correções estilisticas. A cena final, do carro da polícia saindo do cemitério cercado de manifestantes, foi "pequena" pro meu gosto. Criticar é fácil, claro, fazer é outra história. Mas uma grua mais alta, e mais algumas dezenas de figurantes, não teriam custado muito mais caro, e dariam uma dimensão mais grandiosa à cena final. Eu teria colocado bem mais gente, cercando o carro, enquanto a câmera se afastava mais. O corte final, antes dos créditos, aconteceu muito rápido, mais 2 ou 3 segundos teria sido o ideal. Mas isso é só estilo, não que seja um demérito do filme. Outra questão estilistica minha vs. Barreto, que xinguei em voz alta dentro do cinema quando vi (todos olharam pra mim.. hehee) foi a questão do título. Não entendo por que faz parte da tradição brasileira um título, os brasileiros precisam de um título no inicio do filme. Já há muito tempo, o que se faz internacionalmente (não só nos EUA, mas na Europa) é o filme começar começando, direto, sem créditos, titulo, etc, para não enrolar, chatear o público, e colocar o título no final do filme. Tamanha é a tradição brasileira por títulos, que uma vez, em algum momento do ano passado, lembro de ligar a tv na globo, e estava começando o filme O Chamado, que é assim, começa direto, com o título no final. A Globo editou o filme, canhestramente, colocando o crédito final, com o título, no inicio, antes da primeira cena. Horroroso. O filme (do Lula) começa já numa cena, e tem uma sequencia de cenas. Gostei muito, pensei comigo que finalmente o Brasil havia se livrado da maldição do título, então, depois de uns 10 ou 15 minutos, quando a familia deixa o sertão, entra o maldito título. Foi a pior escolha possivel entre todas as imagináveis. Ou se coloca o titulo no final, ou no inicio, como é o jeito classico, que não é mais tão usado, mas ainda é o modo classico. Mas, depois de 10 minutos de filme, quebrar a emoção pra enfiar um título no meio? Você divide o filme, quebra a emoção, e faz com que tudo que foi visto antes, em vez de se constituir como parte do filme, seja um mero prólogo. É horrivel. Esse recurso do prólogo, uma longa cena antes do título, foi um recurso muito popular nos anos 80, graças a Deus abandonado e não mais usado. Desmerece-se toda a parte inicial, relegando aquilo à prólogo. É horrivel. Mas, novamente, é questão estilistica. O filme, como cinema, é muito bom.
Acho que com isso encerro o que tenho a fazer do filme em si, mas ainda tenho outras questões, de entorno. A babaca da Mariane (detestei essa mulher) diz "A tentativa de ser o novo Dois Filhos de Francisco, evidenciada até no título, fica só na tentativa". Não concordo em absoluto com esse raciocinio, que se mostra um raciocinio ignorante, principalmente de alguém que se diz jornalista. Ou é ignorante mesmo, ou age de má fé. O título, O Filho do Brasil, é o mesmo título do livro, Lula, O Filho do Brasil, da (essa sim, verdadeira) jornalista Denise Paraná, escrito nos anos 90, muito antes dos filhos de francisco sequer sonharem em ir para o cinema. E depois, a comparação, a meu ver, é sem proposito. Primeiro por que o filme dos sertanejos foi bancado e incentivado por eles mesmos, em um exercicio meio egocentrico de ver sua vida retratada no cinema, enquanto o filme do presidente, em nenhum momento teve seu envolvimento, ou seu incentivo; era um projeto dos Barreto. Depois, as ambições. Os filhos de francisco é um filme simplista, cinematograficamente falando. Um filme sem ambições academicas, que objetivava somente o grande público. Se o filho do brasil objetiva também, claro, o público, as intenções são muito, muito maiores. Não lembro onde eu li a "confissão" de Fábio Barreto, que comentou, em algum momento das filmagens "ano que vem, pode ter certeza que o Brasil finalmente vai trazer o Oscar para casa". Não acho que a fala seja pretenciosa, ou megalomaciana, e salvo algum percalço no caminho (alguma obra de arte europeia, inesperada, extrema e excepcional que seja feita esse ano, que se torne imbativel) acho que as chances são reais, realissimas. Isso, claro, vai ser no Oscar 2011, não na edição que acontece mês que vem, por questões evidentes (ano de lançamento). Comparar O Filho do Brasil aos Filhos de Franscisco é rebaixar o filme de Lula, cujas pretensões são muito maiores, até internacionais.
Então entra em pauta uma outra questão, que é a questão supostamente eleitoreira do filme. Dizem que o filme vai ajudar o Lula, bla-bla-bla. Tudo bem que sou fã do Lula, mas existem alguns fatos da realidade que não podemos ignorar ou fingir que não fazem diferença. Primeiro, o Lula tem aprovação recorde de 80% da população brasileira. Ele já é um astro, sem o filme. Como eu li outro dia, não lembro onde, numa dessas seções de opinião dos leitores, de uma mulher que havia visto o filme e dizia que o filme não vai ajudar o Lula, pois o Lula não precisa disso. Pelo contrário, é o Lula que vai ajudar o filme, pois quem o aprova vai assistir. Acho que o filme tem muita influencia, isso sim, na perpetuação do mito, na construção da imagem do Lula para as futuras gerações, que não estão presenciando o momento da história atual, e aprovando (ou não) seu governo. Mas em relação à politica eleitoral, acusam o filme de tentar ser eleitoreiro. Primeiro, o filme fala da trajetória de vida do Lula, não da história do PT, por exemplo. Logo, fortalece-se a imagem do Lula, o mito, não a do partido. Se fosse a história do partido, ainda poderia ser acusado de ser eleitoreiro, mas não é. E Lula não é mais candidato. Se ele vai (ou não) conseguir transferir seus votos para Dilma, sua candidata à sucessão, é uma questão muito mais política que cinematográfica. Afinal, Dilma não está no filme, nem o partido. Acho que uma questão importante é a construção da imagem. Nossa, que DejaVù tive agora, parece que já escrevi sobre isso, mas enfim, prosseguindo. O cinema, assim como a imprensa, e outros mecanismos, constroem (ou desconstroem) imagens. O cinema já foi inumeras vezes usado para este fim. A segunda guerra mundial que o diga. Não é à toa que o segundo homem do governo nazista, abaixo de Hitler, era o ministro da Propaganda, Goebbels. Mas o Lula, meus caros senhores que fingem que a questão não existe, já tem sua imagem formada há muito, muito tempo. Para o bem ou para o mal. Mesmo quem o odeia, há que reconhecer que a imagem pública do Lula já está construida e consolidada. Logo, acusar o filme de eleitoreiro só faria sentido se ele objetivasse construir uma imagem, mas estamos falando do Lula...  Ele não precisa disso, como disse a leitora não-lembro-de-qual-site.
E, ainda que fosse, acho uma tremenda hipocrisia, afinal, é válido usar esses mecanismos. Oliver Stone lançou sua nada elogiosa cinebiografia de George Bush, o filme "W" no ano das eleições que consagraram Obama. Michael Moore lançou seu documentário Fahrenheit 9/11, um ataque explicito e gritante à George Bush, no ano em que este concorria à re-eleição, em 2004. Esses são exemplos que lembro agora, de cabeça, outros ainda melhores existem, fartamente. E ninguém bancou o santo, acusando esses filmes de serem eleitoreiros. E eram sim, eleitoreiros. Michael Moore, ao menos, militante do partido democrata, confessadamente tinha a intenção de influenciar sobre a imagem de Bush. Mas faz parte do jogo, é o que não entende (ou finge não entender) quem critica e não aceita a jogada. Seria anti-ético se feito com dinheiro público, mas se trata do primeiro filme da história brasileira feito sem ajuda de leis de incentivo fiscal.
Isso me lembro uma outra questão, os financiadores. Acusam que os financiadores do filme têm relações com o governo federal. Cabe aqui, uma série de perguntas que vai desmontar as maldosas insinuações que são feitas a esse respeito. Primeiro, qual grande empresa (afinal, para investir em cinema, são apenas empresas grandes) no Brasil, não tem relações com o governo? Não importa a área, praticamente não existe uma grande empresa no Brasil que não tenha relações com o governo, dado seu tamanho, e as muitas áreas que abrange. O governo é um dos maiores investidores do País, não há como não se relacionar com ele. Segundo, e daí que existem essas relações? As relações são líticas. Até que se levante alguma suspeição, e se prove, ou ao menos se demonstre fortes indicios, ainda que não comprovados (não adianta apenas acusar) são relações estabelecidas por liticações, por leilões públicos, e diversos mecaniscos pelos quais o governo estabelece suas relações. Nenhuma dessas relações é estabelecida pelo gosto pessoal do governante. Existe muita corrupção, é verdade, reconheço plenamente. Mas pessoas corruptíveis e interessadas em corrupção, estão interessadas no seu próprio favorecimento, ou do partido, e não em algo tão subjetivo e indireto como um filme. Quisessem essas empresas corromper licitações, teriam meios muito mais discretos que patrocinar publicamente um filme sobre a vida do presidente. Pelo contrário, isso as desfavorece, pois as atenções da mídia que é contrária ao governo petista irão vasculhar cada contrato dessas empresas com o governo federal, em busca de falhas, para acusar e tentar estabelecer um relação. Ou seja, patrocinar o filme é ruim para as empresas, caso elas quisessem corromper o governo. Ou alguém dúvida/discorda que existiriam meios mais discretos e eficazes de corrupção? Isso é uma falácia, uma grande bobagem. Terceiro, só para demonstrar a naturalidade do investimento dessas empresas, são as mesmas que patrocinam uma série de outros eventos, como peças de teatro, shows musicais, etc, alguns até ligados a outros políticos, com envolvimento com outros governos, estaduais, tucanos... Não são únicamente patrocinadores do filme do Lula. Não estou dizendo que são desinteressadas, ou fazem isso por amor à arte, incentivo à cultura, ou essas mentiras que os relações públicas dessas empresas gostam de contar... Estão, obviamente, interessadas no lucro que iram conseguir com a bilheteria do filme. Assim como no prestigio social (muito importante hoje em dia) de patrocinar cultura. Pragmatismo e interesse, mas não relações expúrias.
Para finalizar esse texto, quero apenas refletir um pouco sobre o mito e a popularidade de Lula. Como disse, a imagem do Lula já está construida há tempos, e só vai ajudar o filme (e não o oposto). Como muito bem argumenta André Forastieri no editorial da Movie (outra revista de cinema, a melhor, atualmente) o Lula é o maior ídolo do país, e um filme sobre ele seria natural de ser feito. Atentei à frase "o maior ídolo do país". É uma dimensão na qual eu ainda não havia pensado, e creio ser muito, muito importante. Creio ser de importancia extrema. Qual o significado disso? Alguém pode até discordar, dizer que o maior ídolo do país é a Xuxa, o Willian Bonner ou o último BêBêBê, mas é inegável que ele está na lista dos Top-5 dos maiores ídolos nacionais. Refletindo agora, acredito mesmo ele ser o maior, mas como (até onde eu sei) não temos uma pesquisa ibope ou datafolha sobre os maiores ídolos nacionais, vamos aceitar a relativização. Novamente me pergunto: o que isso significa? Por que significa alguma coisa. Acusa-se o Brasil de ser um país despolitizado, que a população não tem senso de julgamento nas decisões políticas, e todo aquele discurso recorrente. Mas o que dizer de um país, cujo maior ídolo é um político? Poderiamos ter uma Madonna da vida. Os adolescentes norte-americanos culturam as Britiney Spears da vida. Não sei dados maiores sobre ásia ou europa, então não vou dar uma de sabichão e chutar, mas acho que é tendencia mundial idolatrar os artistas, atores e principalmente cantores. Não acho que seja diferente no resto do mundo, nem no Brasil, e os filhos de Francisco estão aí para comprovar. Há países em que se cultua os esportístas. Mas em nosso país, mesmo com a admiração pelos artistas, esportístas, e cantores, o idolo maior da nação é um político, o presidente da república. Podem falar em culto à personalidade, mas é mais, é maior que isso. O culto à personalidade não é pela personalidade em si (como acontece com artistas, ou essas celebridades instantâneas que desaparecem no dia seguinte), está intimamente ligado ao seu sucesso e eficiencia como político. Não necessariamente quer dizer que somos, que já somos, uma nação polítizada, mas acho que pode dizer muito sobre o futuro. Gosto muito da questão da inspiração. Um filme que gosto muito é A Dama na Água, que fala sobre uma ninfa cuja missão é inspirar um autor para que escreva um livro que irá inspirar, no futuro, um grande líder a fazer grandes mudanças sociais. A mensagem é que às vezes a missão maior é apenas inspirar o outro a fazer as coisas. Acho que talvez uma das maiores realizações de nosso presidente ainda não tenha sido notada mesmo pelas pessoas que o exaltam mais veementemente, que é a inspiração às novas gerações. Uma das lembranças mais antigas e marcantes que tenho de minha infancia é das eleições de 1994. Tinha uns 9 anos. Minha mãe discutia veementemente com minha avó, sobre política. Minha avó dizia que votar no Lula seria bom, que meu tio Fernando gostava muito dele, e que um trabalhador no poder talvez mudasse alguma coisa, que seria bom mudar. Minha mãe gritava que de jeito nenhum, o Lula acabaria com o país, era comunista e iria dar tudo aos sem terra. Tenho várias outras lembranças de infância, de discussões políticas semelhantes. Cresci num lar assim, em que se discutia política, ainda que de forma leiga, e talvez por isso goste tanto do tema. Agora penso nas milhares de crianças de hoje em dia, vivendo em lares que, apesar de gostarem dos big brothers da vida, existe uma discussão política, e uma admiração real à um político. Tento pensar na inspiração que pode gerar nessas milhares de crianças, que um dia serão nossos adultos. Podem se interessar por política, ver que política não é ruim, não é desinteressante. Podem querer discutir política, como que a política era boa, quando eram crianças e o presidente era bom. Irão querer discutir isso, brigar por isso. O regime militar formou toda uma geração despolítizada, que era criança durante a ditadura e hoje são nossos adultos. Lula, ainda que não intencionalmente, pode estar formando uma nova geração de cidadãos, muito mais agerrida aos seus direitos, que discuta os temas nacionais, lute por eles, enfim, uma geração politizada. E mais do que isso, pode inspirar alguém a fazer o mesmo, pois se ele conseguiu, outros também conseguem. Acho que essa é a mensagem do filme, e essa é a mensagem da vida de Lula, e nesse sentido os dois estão muito sintonizados. Esperança. Não por acaso ou por mero marketing, também escolhida para ser a mensagem da vitoriosa campanha de Lula em 2002. O retirante pobre e inculto, que chegou lá. Esperança, para toda uma geração, de que ela também pode. Pode parecer piegas, e talvez seja mesmo, mas para pessoas que vivem no extremo da miséria, que enfrentam a dor diariamente, a esperança que amanhã pode talvez, só talvez, ser diferente, mudar alguma coisa, às vezes é a única coisa que mantém a pessoa viva, para frente. Ainda que não possam fazer nada, acreditar que podem, que poderão, os mantém caminhando. Esperança, não somente para seus eleitores, mas para toda uma geração, que ainda virá.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Filmes na madrugada

Deveria estar escrevendo, mas não estou fazendo. Até estou escrevendo este blog, mas deveria estar me dedicando ao artigo. Enfim... Ontem vi 3 filmes. Melhor, re-vi. Gosto de re-assistir filmes que gosto. Gosto muito de cinema. Acho que é um assunto que ainda não comentei aqui, cinema. Nem sei por que gosto tanto de cinema, em este sendo tão pequeno e limitado frente às questões filosoficas e sociológicas pelas quais me interesso, afinal, não passa de uma manifestação cultural (no sentido antropológico do termo) determinada no tempo-espaço. Ou seja, é um fenomeno restrito ao nosso tempo que, em cem anos pode não ser nada, e perante a existencia definitivamente não é nada. Ainda assim gosto e me interesso.
O primeiro que (re)vi foi "Herói por acidente", com Dustin Hoffman e Andy Garcia. Nem sei por que lembrei desse filme e fiquei com vontade de revê-lo. Fazia tempo, e quase não lembrava dele. Dustin faz um tipo canalha, prestes a ser preso por pequenos golpes, que salva os passageiros de um acidente de avião, mas não fica pra receber a glória. Andy Garcia, bonitão e simpático, assume seu lugar e é incensado pela mídia como herói nacional. A equação ainda tem uma ambiciosa repórter (esqueci o nome da atriz, mas foi famosinha) que arma o circo da mídia. O filme fala coisas importantes, sobre a construção da imagem e como a mídia constrói imagens, reputações. O filme também fala sobre certos valores, como na emblemática cena em que a repórter não consegue conceber a idéia que seu herói (ela tb estava no avião), ao salvá-la, aproveitou para roubar sua bolsa. Diz ela "Se fez isso, foi um momento de fraqueza". Será da natureza humana essa separação entre bom e mau, ou nós que criamos isso, socialmente? Não se consegue conceber a idéia, por mais humano que seja, que ninguem é totalmente bom ou mau, o cara pode ter seu heroismo de entrar em um avião para salvar desconhecidos e, ao mesmo tempo, ter seu lado negro, para roubar. O final do filme é emblemático. Não sei se os autores leram ou ouviram falar das teorias do Foucault, mas é uma ilustração perfeita delas. Durante todo o filme, uma questão recorrente é a "verdade", como no emblema do troféu que a jornalista ganha, no inicio do filme "Pela excelencia na busca da verdade". No climax, o que se vê na posição dela não é Verdade, mas o que convém melhor à situação, para todos. Na última cena, diz Dustin Hoffman ao filho, lhe explicando a atuação da imprensa: "Não existe verdade, tudo que existe são mentiras. Quando você cresce, você escolhe qual mentira lhe agrada mais". Ou seja, tudo que existe são discursos, aos quais nós escolhemos nos alinhar. Deveria ser obrigatório para cursos de jornalismo.
Também vi Corpo Fechado, do M. Night Shyamalan, com Bruce Willis e Samuel L. Jackson. Queria saber quem foi o pai ou mãe de santo (sem preconceitos) que batizou o "Unbreakable" do título original (Inquebrável, em tradução livre e correta), para Corpo Fechado. Mas tudo bem...  Não sei se tenho muito o que falar desse filme, tantas já foram as vezes que vi. Quando pessoas ficam discutindo sobre qual o melhor filme de super-heróis, maravilhadas com filmes com homem-aranha, até acho graça. Sem dúvida, Corpo Fechado é o melhor filme de super-herói já feito. E não é só eu que digo, também os críticos. Pense em um filme do Superman, ou do Batman, mas na realidade. Não a realidade de metrópolis ou de gotham city, não um filme realisitico, como por exemplo o último Batman, mas um filme realmente na realidade, com seres humanos. Eis Unbreakable (ou Corpo Fechado, como preferirem). Bruce Willis é um segurança aparentemente banal, que após ser o único sobrevivente de um acidente de trem, descobre ser "inquebrável". Como diz o personagem de Jackson, em um momento "As histórias em quadrinhos são um exagero da realidade, um esteriótipo, mas são inspiradas pela realidade, refletem a realidade. Esta é a realidade". A jornada de Willis em busca de seu heroismo, em busca de si mesmo, é o filme. Curioso que a primeira vez que o vi, nem sei por que, não gostei. Achei o ritmo lento, um tanto parado. De fato, é um pouco. Mas hoje, só vejo isso (o ritmo) como mais um ponto positivo. Quem nunca viu, deveria ver. É bom.
O terceiro filme que vi, já madrugada adentro, seguido ao Corpo Fechado, foi Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, com Jim Carrey e Kate Winslet. Esse filme me traz algumas lembranças. Boas e saudosas,  de com quem assisti ao lado, pela primeira vez, na estréia lá do ano de 2004. Foi uma noite incrivel. Enfim, o filme...  hehee. Romance, puro. Costumeiramente, não gosto de romances, mas alguns dos filmes que mais gosto são romances. Esse entre eles, certamente. A trama, complicadinha, é dificil ser descrita. Poderia resumir assim: Jim e Kate são um casal bem atípico, despojado, digamos assim. Ela vive mudando a cor do cabelo, like Sissa, sabe como? Eles brigam, e ele resolve apagar ela de sua mente, através de um novo procedimento bla-bla-bla. Durante o procedimento de apagamento da memória, ele "acorda" dentro de seu próprio cérebro, a consciencia dentro da subconsciencia, e mergulha num turbilhão de lembranças que constituem o universo de memórias deles, o quadro do que constitui o "eles". Assim, ele mergulha em suas próprias lembranças, de trás pra frente, começando pela última vez, que brigaram passando pelos bons momentos, até chegar, lá no final, à quando se conheceram, e tudo fazer sentido, em que ele percebe que valeu a pena, e ele não quer perdê-la. O toque de mestre fica no roteiro, direção e edição, com a primeira cena sendo, cronologicamente, no final do filme (desculpe pra quem não viu ainda). É um filme leve, bonito, com um clima agradável, e muito romantico. E ainda se passa (uma parte) nos dias dos namorados. Um quê melancólico, talvez, poderia ser interpretado dependendo do espírito de quem vê. É o tipo de coisa, de amor, que a gente deseja. Mas estou falando de filmes, não de amor, então vou parar por aqui.
Sabe que gosto de escrever sobre sobre filmes. Fico feliz com alguns de meus amigos que conseguem fazer de seus hobbys suas profissões, assim é tudo mais divertido. Apesar de eu gostar da área academica, isso não é um hobby. Gosto mesmo é de ver filmes. Se fosse escolher uma profissão que fosse também um hobby, seria critico de cinema. Isso seria divertido. Hehee. Agora tenho que parar e escrever, pois não posso brincar com o troço do artigo. Meu prazo é inicio de fevereiro, dia 5, mas vou me repetir que é 20 de janeiro, pois deixo sempre pra véspera. Dia 20, Márcio, dia 20. Agora vá lá, e leia, fundamente, e escreva. Eu vou. Mas eu volto.