sexta-feira, 14 de maio de 2010

Pesadelo na Rua Elm

Ontem fui ao cinema, ver a nova versão de A Hora do Pesadelo. Infelizmente, desacompanhado. Muitos casais no cinema, e eu sozinho, mas isso é tema para outro post. Muita gente. Atipico, para a sessão da uma da tarde de uma quinta (não era dia de promoção). Sinto que o filme terá retorno financeiro, a depender dessa amostragem. Vamos ao filme, e como sempre, fica o aviso que tem SPOILERS, ou seja, vou estragar a surpresa e falar sobre o final e tudo o mais. Se não viu ainda, e vai querer ver, pare por aqui (caso não goste de saber das coisas antes). Aviso dado, lá vamos nós.
Não gostei. Não é um filme terrível, que possa se jogar fora, como algumas refilmagens recentes de terrores contemporaneos à esse, como Halloween, mas ainda não é o filme que eu queria ver. É um filme bom, na verdade, legal. Vale a recomendação, certamente. Só não é O filme, memorável. Tenho uma relação muito próxima com esse filme. Tempos atrás, cheguei a escrever o roteiro de uma refilmagem que pretendia fazer desse filme (era um dos meus projetos, da minha pretensa carreira cinematográfica, almejada muitos, muitos anos atrás). Sinceramente, meu roteiro e minha idéia para este filme ainda são, ao menos na minha visão, bem melhores. Depois falo da minha versão. Vamos à critica dessa.
O filme falha em construir a identidade do local em que se situa a ação. Só após 20 minutos aparece na tela uma referencia à Rua Elm (que batiza o titulo original: Pesadelo na Rua Elm, que no Brasil virou A Hora do Pesadelo). E é a unica referencia à rua. Essa identidade sobre o local existia de forma bem mais forte nos filmes anteriores. Aqui, o espectador incauto (o adolescente que não conheceu os outros filmes) se perguntará: e a rua com isso? O que tem a ver com a história? Outro ponto que não gostei foi a própria identidade do Freddy Krueger. A interpretação e a caracterização (maquiagem/efeitos) são muito boas, mas o personagem, que antes era meio bonachão, sempre reachado de humor, que fazia piadas e tudo o mais, aqui se transforma em apenas um pedófilo louco, sem nenhum "q" atrativo. Por um lado, isso é muito bom, pois o torna mais sombrio, mas poderia ser feito de uma forma que continuassemos atraidos pelo Freddy. Não há nenhum elemento atrativo para que o público goste ou torça por ele, e isso é uma grande falha dos produtores ao pensar nos próximos filmes. Se o público não gostar do personagem, não irá ao próximo filme. Outra coisa que também não gostei foi justamente centrar a ação nos "mocinhos" e não em Freddy. Eles são as estrelas desse filme, quando não deveriam. Afinal, Freddy sempre foi a estrela. Mais um erro é tentar criar um suspense sobre quem seria Freddy, sem revelar isso ao público, como se este não soubesse. Poderia funcionar em um filme inédito, não em uma refilmagem de algo tão iconográfico quanto Freddy. Há várias outras coisas que não gostei, e agora já me esqueci. A atriz que faz a mãe da mocinha é uma das piores atuações que já vi na vida!!! E olha que já vi muitos filmes na vida. Sério, é pavoroso! Ah, mais uma coisa que não gostei: o diretor é um covarde ao não mostrar as fotos que Freddy, ainda vivo e pedófilo, teria tirado da mocinha quando criança. Ela, adulta, apenas olha as fotos com cara de assustada. Sempre defendi que a sugestão vale mais que o explicito, mas dependendo da situação também existe necessidade de ser explicito. A cena não era sugestiva, não queria passar uma idéia, já dizia o que era, então não mostrar apenas guarda um vácuo, uma lacuna. Sei que é por causa da classificação da faixa etária e a busca por um publico maior, mas por isso digo que o diretor é um covarde, ao se render a isso em detrimento da qualidade. Mas enfim... Mais uma coisa (vou lembrando ao poucos, na hora), mas dessa vez um ponto positivo. Gostei que o filme não tem nudez, não apela a esse recurso, comum aos terrores. Novamente, por causa da censura, mas isso gostei. Na verdade, esse é mais um elemento da minha tese sobre a nudez na história do cinema. Quando eu escrever essa tese (postergada para minha pós-graduação), acreditem, vou realmente abalar as estruturas. (em resumo, comparar como a nudez foi tratada no primeiro filme e como é tratada na refilmagem. Isso reflete os valores da cada sociedade. Perfeito!).
Agora entra uma crítica muito mais pessoal, comparando com a minha suposta versão. Sempre pensei em um filme "de origem" sobre Freddy, muito antes dos filmes "de origem" virarem moda. Criei certa expectativa, reforçada pelo trailer, que este poderia ser um filme de origem sobre Freddy. Não é. Sua origem se resume a uma ou duas cenas, em flashback, para mais da metade do filme, quando os "heróis" vão atrás de quem seria ele. Outro elemento que já tinha em mente, muito antes de conhecer as teorias freudianas, mas que pode ser totalmente referendado por estas. Na minha idéia, seria legal deixar em aberto, por assim dizer, sobre a existencia material de Freddy. Na minha versão, Freddy existiria apenas em sonho, e só faria mal em sonho, e o sonho do individuo é que faria mal ao individuo, não o Freddy. Explico. Na minha versão, Freddy não fere materialmente as pessoas. Elas é que, sob estado hipnóide (esse já um termo freudiano), fazem mal a si mesmas. Acho que esse caminho foi trilhado numa das sequencias do filme original, no Hora do Pesadelo 3, se não me engano. Acho mais interessante, pois uma vez que o personagem se torna abstrato (só existindo em pensamento) ele também se torna mais real (podemos sonhar com ele, e ele pode realmente ser real). Essa idéia parecia que ia ser seguida na primeira cena do filme, quando o rapazinho sonha com Freddy, mas é ele próprio que pega uma faca, em estado hipnóide, e corta a própria garganta. Infelizmente, a tese é abandonada na sequencia, quando Freddy joga corpos pelas paredes e tetos (humanamente impossível) e produz rasgos e mais rasgos nos corpos joviais. Minha versão, sinceramente, é muito melhor. Mas não é algo que queria mais fazer, nem esteja em meus planos. Hoje, podeia conceber um terror mais psicológico e psicologizante, no sentido de ser referendado pelas teorias da psicologia. Seria bem melhor.

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