segunda-feira, 31 de maio de 2010

Verdadeiro Aprendizado

Às vezes acho as aulas da Maurini pouco ortodoxas, ou pouco teóricas - sou um sujeito teórico e gosto de teoria. Mas, além de uma pessoa incrível, às vezes ela promove verdadeiros aprendizados. Desses que valem para a vida. 
No jornal que estamos fazendo, assumi o papel de editor. Também quis escrever uma reportagem. Enquanto jornalista, criei na minha reportagem um trecho inventado e atribui a um personagem não-identificado (ele não existe pois foi criação minha) uma frase realmente muito boa, que fechava de modo perfeito a reportagem. O trecho: "Eles vem pra cá; nós vamos pra lá", relata um aluno, exemplificando as relações inter-universidades.
Quis a Maurini saber que aluno não-identificado era esse. Contei que era criação. Ela, rindo, disse que isso não se faz. Na verdade, se faz (no dia-a-dia da profissão). Mas tocou o barco em frente. Estranhei, pois esperava que fosse mandar eu suprimir - citação tem que ser identificada. Agora, estamos no processo que todos lêem as reportagens de todos, à procura de erros que tenham passado pela professora e pelo editor. Coube às meninas apontar a incongruência. "Que aluno é esse, o gasparzinho?", disse Thainá, com toda razão. 
Fui à Maurini, novamente. Queria saber se deveria cortar, o que fazer. Ela, estranhamente, insistivamente, não me respondia nem que sim, nem que não. "Você vê isso, você decide". Ela apenas me conduziu ao pensamento. Até o momento em que tive diante do dilema: se fosse algum dos meus colegas jornalistas, como agiria, enquanto editor, diante de uma fonte não citada? Nos entre-olhamos por um instante. Cedi, finalmente, à razão. "Eu vou cortar", disse apenas. Ela sorriu, meio que me abraçando. "Ser ético é isso", disse, "É uma droga. É tomar a atitude certa mesmo sabendo que vai te prejudicar, mesmo que do outro jeito estivesse incrível de bom". Também é, eu acrescentaria, escolha. 
Escolha. Tivesse ela apenas me corrigido e mandado retirar, desde o primeiro dia, eu acataria. Mas que aprendizado teria sido propiciado? Talvez algum, sim, pois absorvo bem as questões por abstração (sou um sujeito teórico), mas o método que ela usou certamente teve grande efeito. Não impôs uma verdade, mas esperou que eu chegasse a minha verdade, e meu modo certo de agir. Ética, tomar a atitude certa, não é apenas ser obrigado a fazer algo certo, mas ter a opção de escolher pelo errado, e ainda assim escolher pelo certo. Foi o que ela fez. Ainda que, ambos saibamos, criações desse gênero sejam cotidiano na prática jornalistica, estou na academia para aprender o jeito supostamente certo de fazer as coisas. Com dor no coração, afinal a frase era realmente muito boa, a cortei. Também tive um grande aprendizado hoje. Sobre ética, sobre esperar o tempo de cada um. Um pouco como a questão da psicanálise: o terapeuta já sabe qual o problema do paciente, mas nada adianta que ele diga; ele deve conduzir o paciente para que ele mesmo enxerge e reconheça seu problema. Aí então, estará pronto para enxergar. Não adianta tentar mostrar a luz a alguém que não está pronto para enxergar. Uma questão pedagógica interessante. Diria mais, uma questão para a vida. Um aprendizado para a vida.

sábado, 29 de maio de 2010

A Censura

Vou ser direto. A censura existe e está em vigor, mais veemente que nunca. O país de maior censura do mundo é, por incrível que pareça, não Cuba, China, ou Venezuela, mas os Estados Unidos da América. A censura mais terrível que existe. Censura que é auto-censura, implicita, subjetiva. Censura daquilo que pode ser pensado! Eu tenho o exemplo perfeito. A Internet é, dizem, o universo livre para todos. Não é. A censura estadunidense atingiu até mesmo a internet. Censura que ninguem precisa censurar, pois as pessoas já se auto-censuram. Em uma era multi-mídia, todos, todos os conteúdos estão disponíveis para download na internet. Digite em algum site de torrent qualquer, qualquer conteúdo, e lá estará ele, com menos ou mais fontes. Mas existem alguns conteúdos que o império não torela. Oliver Stone, diretor aclamado, vencedor de Oscar, portando cujos filmes geram interesse, realizou um documentário sobre Oliver Stone, o grande inimigo dos Estados Unidos. O filme é de 2009, lançado desde o ano passado, e, ao que me consta, já em dvd (pressuposto necessário para a realização da cópia).  No então, pasme, não existe disponível na internet! Não existe para baixar! Estou indignado, estou absurdado! É uma censura, implicita e explicita. Falar mal dos Estados Unidos, dos sistema, jamais! Esta é a censura que está em curso.
Oh meu Deus. Acabei de me dar conta de uma coisa. As críticas que se fazem aos downloads são pura fachada. Eles são usados para reproduzir seu modo de vida e ponto de vista. Por isso a grande censura que se deu a esse filme foi justamente sequer disponibilizá-lo para download. Oh meu Deus. Mil pensamentos nesse instante. A internet é a esfera de reprodução do sistemas, e por isso o interesse tão grande em aclamá-la como revolucionária. Censura e reprodução. Censura e reprodução.

Edição posterior: fui procurar me informar melhor. O filme, ao que parece, ainda não saiu em dvd.  Isso pode explicar por que ainda não existe versão para download. No entanto, o texto já está escrito. O exemplo pode ter sido frágil, mas não desmonta o argumento como um todo, sobre a censura ao que é dito e pensado contra o sistema e a reprodução do sistema através da internet. Gostei dessa frase: censura e reprodução.

Edição posterior 2: Estou em um dilema filosófico/academico. Me ocorreu essa revelação. A internet é um campo de reprodução social. Posso me contrapor a Levy e todos ou outros. É algo genial. Por que não pensei nisso antes? Estou em dilema, pois isso vai contra tudo que pretendia defender no meu TCC. Pq não pensei nisso antes? O que faço agora? Talvez eu desista.. Não sei. Ainda absorvendo a revelação.

Bons tempos?

Estava navegando pelo YouTube e acabo parando em um vídeo, aqui, do debate presidencial entre Kennedy e Nixon em 1960. Não gosto da idéia, que muitas vezes reaparece no senso comum, de que os tempos antigos eram melhores. Contudo, alguns aspectos eram mais inocentes, digamos assim. Se não me engano, este foi o primeiro debate televisivo realizado. E é muito engraçado ver esses aspectos se comparados à "manha" que os políticos têm hoje em dia. Estão os dois sentados no inicio do debate. A fala é dada a Kennedy. Ele começa a falar sentado, e camera perde ele. É preciso o apresentador sinalizar que ele deve ir até a bancada/púlpito para falar. Ele se levanta e vai, sem pausa, ainda falando. Kennedy invoca que a questão não é de candidatos, mas de qual partido deve governar, pois é a política do partido que dá o tom do presidente (comentário meu: isso é algo que nos carece até hoje, pensar em políticas realmente partidárias, não em nomes). Depois de terminado, o apresentador pegunta a Nixon se ele tem algum comentário sobre o que Kennedy disse. Nixon responde: "Eu não tenho nenhum comentário". Isso foi absolutamente incrivel, frente ao fato que hoje os políticos em um debate brigam para falar um mais alto que o outro, seja o que for. Alguem dispensar a chance de fazer um comentário é algo impensável. Também a questão do tempo é interessante. Kennedy fala menos de um minuto, Nixon se alonga na sua vez. Nenhum controle oficial de tempo, fora o bom senso de ambos. Não sei se eram tempos apenas mais inocentes, mas a mim me parece que eram também tempos mais autênticos. Melhores mesmo.

sábado, 22 de maio de 2010

Viagem ao Intercom em Novo Hamburgo (Ou: Equilíbrio)

Cheguei de Novo Hamburgo quinta-feira. Embora não assoberbado de trabalho, como quase sempre estou sem muito tempo, portanto, dessa vez não escreverei um diário de viagem, como já estava virando costume. Contudo, vou pontuar alguns pontos que valem a pena ser pontuados (pontuar pontos que valem ser pontuados; definição ótima, hein?! hehe). Gostei muito da viagem. Gostei pois gosto do conceito de equilíbrio. Essa viagem teve isso: equilíbrio. Como disse, e escrevi creio, não vale a pena dedicar-se totalmente a nada nessa vida. O que procuro dizer é sobre a necessidade de equilíbrio e harmonia entre as diversas esferas que compõem nossa vida, ainda que este meu pensamento seja apenas teórico (aplicá-lo na prática é mais difícil). Por isso gostei dessa viagem: equilíbrio entre as diversas esferas. Tive momentos extremamente divertidos com a galera, de descontração. Também tive momentos de pura reflexão intelectual, acadêmicos.
Fomos com o ônibus da PUC, pois haviam poucos alunos da UTFPR. De 18 pessoas no ônibus, somando as duas universidades, oito delas estavam indo apresentar trabalhos. Pense na qualidade das conversas de um ambiente assim. No ônibus, depois de acabada a conversa e antes de dormir, tentei tuitar uma frase que simbolizava bastante do que estava sentindo naquele momento. Infelizmente, a mensagem deu erro (só fui perceber no dia seguinte, e portanto nem reenviei), e o tweet não foi publicado. A mensagem, ipisis literis a enviada, com suas abreviações de 160 caracteres, dizia “No bus PUC a caminho do Intercom. 5 meninas tb vão apresentar. Q delícia estar no meio d gente q produz. Agora pouco discutíamos educação. Quer coisa melhor?” Quer coisa melhor?
Era realmente como me sentia naquele momento, na viagem de ida. Passei um grande tempo discutindo com a Flávia e Giovanna, alunas de Jornalismo, sobre educação. Quem me conhece um pouquinho sabe como esse tema me atrai. Elas se interessam pela área e querem seguir na área de pesquisa sobre educomunicação. Era simplesmente delicioso discutir com elas, e as outras meninas. Também discutimos o papel do jornalismo, e tantos outros temas. Não aquele debate leigo, frágil, do senso comum, mas embasado em argumentos e teorias. Como depois, numa noite no hotel, já bebado, debatia com a Gisele, de RP, o papel do Relações Públicas na sociedade. Eu, embasado na grande Peruzzo, com uma visão mais crítica; ela, também com seus embasamentos. Felipão, ao lado, usano o hifi do notebook, escreveu num post do orkut "o Márcio está a meia hora divagando com uma menina da PUC". Era isso mesmo, e era muito bom.
Aquele era meu ambiente. Aquele é meu ambiente. É onde me sinto em casa, entre iguais.
Não estou idealizando o curso da PUC, afinal, as próprias meninas, nas conversas, criticaram muito ele. Não se pode avaliar a totalidade por aquela amostragem, assim como os outros alunos do CTCOM não podem ser avaliados a partir de mim. Aquela, ali, era um segmento, mais intelectualizado, da PUC.
Nem tanto, nem tanto também. Algumas meninas eram deliciosas para se discutir, mas também tinham outras que não. Acho que não devemos generalizar. Fiquei um tanto decepcionado com o Intercom, em si. Se ano passado já havia achado medíocre, esse ano o foi ainda mais. Acho que não é necessário citar nomes, mas me dei conta que não é por que um trabalho foi escolhido para lá, que ele é bom. Nesse sentido, fiquei decepcionado com certos alguns, que eram não tão bons. Mas toquemos em frente, pois para compensar tinham outros muito bons.
É interessante fazer um comparativo com a viagem para o Intercom Sul, em Blumenau 2009, um ano atrás. O simbolismo máximo está na viagem de ida.  Lá, todos foram pela diversão. Todos, no ônibus, bebendo e cantando as músicas mais diversas, dessas populares, funkes e talz. Bebendo muito. Dessa vez, a viagem de ida foi bem diferente, e representa esse clima diferente. Nenhuma bebida, no DVD do ônibus, músicas do Skank, e uma conversa instigante com as meninas, como já relatei. Também a viagem de volta foi boa, regada a músicas, não funkes, mas com nós lembrando e cantando músicas antigas da MPB, a verdadeira MPB, músicas de novelas, e por aí vai. Muito gostoso.
Continuando. Apresentei meu trabalho. Relativamente tranqüilo. Foi engraçado, pois, como já aprendi no CTCOM, é praxe apresentar-se de modo formal, terno e gravata, bem vestido. Assim o fui. Nos três dias do evento (dois, é verdade, pois no terceiro, que era só a premiação do expoxcom e o encerramento pela manhã, não fui) só vi uma outra pessoa vestida de terno. E isso incluindo todos os coordenadores de mesa, professores, etc e etc. Evidente, usei só durante a apresentação e logo troquei.
Também é interessante comparar meu comportamento nesse Intercom com o Intercom do ano passado. Me lembro, no último ano, fiquei até um pouco indignado, pois em certo momento fui a única pessoa da excursão a ir para o evento; todos os demais saíram para passear pela cidade, fazer compras, e por aí vai. Este, fiz o papel contrário. Fui para apresentar (e de fato, não fosse isso, provavelmente não iria). Não me interessei nem fui a nenhum outro GT (grupo de trabalho) assistir algo. Minto. Fui assistir à apresentação da Flávia no Expocom. Ela apresentou o site do Curitiba Agora. Muito bom. Merecidamente, ganhou o premio de primeiro lugar, e agora vai rumo ao Intercom nacional. Um parênteses para explicar para quem não conhece a dinâmica do Intercom. Ele é dividido em 3 áreas. O Intercom Júnior, dedicado a artigos escritos por ainda graduandos, no qual me apresentei. As divisões temáticas, que são a área nobre, por assim dizer, principal, dedicada a artigos escritos por “gente de verdade” (brincadeira que fiz uma vez, com a Adriana), os mestres, doutores, etc.  E o Expocom, que é uma espécie de mostra competitiva, a única que tem prêmios, destinada a apresentação de produtos concebidos pelas universidades. Nunca havia me interessado muito pela área do Expocom, exatamente por se referir a produtos, sendo que sou mais teórico. Ela foi apresentar o site que desenvolveram numa disciplina. E ganhou. No expocom, a etapa reginal é uma seletiva para a etapa nacional. Os vencedores, agora participarão e concorrerão no nacional. Boa sorte para ela (apesar de que isso pouco tem a ver com sorte).
Continuando. Como eu dizia, gostei especialmente dessa viagem pois houve um certo equilibrio entre as esferas da vida. Mas até agora só falei dos aspectos acadêmicos da coisa; onde está o resto? O Felipão fez uma brincadeira muito boa comigo, que achei muito engraçada, e reflete bem isso (até pedi pra ele escrever um depoimento no orkut com essa brincadeira). Diz: “Coisas que o Márcio mais fez no Intercom, em ordem decrescente: 1) Tirar fotos; 2) Roncar feito uma serralheria; 3) Passar migué nas meninas; 4) Ficar cozido na balada; 5) Dançar (as vezes até em cima da mesa); 6) Apresentar um trabalho lá.” Ou seja, fui sim apresentar um trabalho lá. Mas, segundo a percepção dos outros, isso foi o que menos fiz (e isso é muito bom). Me embebedei na balada. Dançei. Dizem (não vou reconhecer publicamente) até em cima de uma mesa (por alguns segundos somente). Conversei muito com as meninas da PUC. Tirei fotos, mas bem, bem menos que outras vezes. Essa questão das fotos é bem interessante, pois também ela teve um equilibrio. Não fiquei apenas tirando fotos, como em outras vezes que colecionei mais de mil fotos numa viagem. Tive apenas uma centena, nos quase cinco dias totais de viagem. Uma boa medida, para registrar os momentos, mas não só registrar, e sim participar deles. Tanto que, em muitos momentos, nem levei a câmera, como na última festa, por exemplo. Deixei a função de fotografar com os outros, e fui me divertir. Bebi bastante, para comemorar, pois aqueles dias mereciam ser comemorados. Comemorar a paz no Irã, medida por Lula. (infelizmente essa paz já se desfez, mas naqueles dias merecia ser comemorada). Comemorar minha apresentação. E principalmente comemorar estar entre pessoas agradáveis e amigos. Digo que só costumo beber em situações especiais. Aquela, sem dúvida, era uma situação especial, sobretudo pelas pessoas com quem confraternizava. Merecemos comemorar isso sempre. Que existam muitas outras oportunidades semelhantes a serem comemoradas. No fim, a viagem ao Intercom foi memorável, por diversos sentidos. Como na listagem feita pelo Felipão, o meu trabalho é um deles, mas não o de maior importância. A viagem foi realmente incrível pelas pessoas mavarilhosas que conheci e os momentos que vivi. Brincando com as meninas no parquinho do Habib’s, ou assistindo ao empate do Coxa com a Lusa, ao lado dos amigos, ou finalmente vencendo junto com o Felipão minha primeira partida de truco, ou dançando na balada. Memorável.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Das coisas pequenas

Estava escrevendo sobre o Intercom quando minha mãe me grita, da sala. Entre risos, comenta sobre uma noticia que acabara de ver na televisão sobre, pelo que ouvi e entendi, um rato que surgiu em meio a um discurso do presidente norte-americano Obama. Parei, inevitavelmente, para escrever isso. Sou tomado por um sentimento que Lipovetski (nunca escrevo o nome desse sujetio certo) já alertava nas aulas de cultura e sociedade, do Fred, semestre passado. A publicidade, o jornalismo, tudo enfim, torna o humor o centro das atenções. A noticia é boa quando gera risos, mesmo sendo supostamente séria. E eu me pergunto: o que me interessa o rato do Obama? Vou dormir, deixo para amanhã a escrita sobre o Intercom.

domingo, 16 de maio de 2010

Profecias

Ano passado fui ao Intercom Sul. Na volta, não me lembro exatamente em que momento, mas comentando sobre o que havia achado, um tanto decepcionado em relação às minhas altas expectativas, me lembro muito bem de dizer: "Achei muitos trabalhos ruins. Vi tanta mediocridade, que ano que vem eu vou escrever algo e vou lá apresentar. Posso fazer muito melhor." (para que a frase não seja mal interpretada, estava me referindo ao nível, baixo, da qualidade dos trabalhos e a consequente não-dificuldade para ser aceito, não que sou medíocre, muito pelo contrário). Eu disse. Agora está se cumprindo. Amanhã (ou hoje, dependendo do ponto de vista. Enfim, domingo), pegarei o onibus da PUC (esse ano o povo da UTF vai junto com a PUC) rumo à Novo Hamburgo. Nessa segunda à tarde, irei apresentar meu segundo artigo publicado num congresso no XI Intercom Sul. Até a volta.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Pesadelo na Rua Elm

Ontem fui ao cinema, ver a nova versão de A Hora do Pesadelo. Infelizmente, desacompanhado. Muitos casais no cinema, e eu sozinho, mas isso é tema para outro post. Muita gente. Atipico, para a sessão da uma da tarde de uma quinta (não era dia de promoção). Sinto que o filme terá retorno financeiro, a depender dessa amostragem. Vamos ao filme, e como sempre, fica o aviso que tem SPOILERS, ou seja, vou estragar a surpresa e falar sobre o final e tudo o mais. Se não viu ainda, e vai querer ver, pare por aqui (caso não goste de saber das coisas antes). Aviso dado, lá vamos nós.
Não gostei. Não é um filme terrível, que possa se jogar fora, como algumas refilmagens recentes de terrores contemporaneos à esse, como Halloween, mas ainda não é o filme que eu queria ver. É um filme bom, na verdade, legal. Vale a recomendação, certamente. Só não é O filme, memorável. Tenho uma relação muito próxima com esse filme. Tempos atrás, cheguei a escrever o roteiro de uma refilmagem que pretendia fazer desse filme (era um dos meus projetos, da minha pretensa carreira cinematográfica, almejada muitos, muitos anos atrás). Sinceramente, meu roteiro e minha idéia para este filme ainda são, ao menos na minha visão, bem melhores. Depois falo da minha versão. Vamos à critica dessa.
O filme falha em construir a identidade do local em que se situa a ação. Só após 20 minutos aparece na tela uma referencia à Rua Elm (que batiza o titulo original: Pesadelo na Rua Elm, que no Brasil virou A Hora do Pesadelo). E é a unica referencia à rua. Essa identidade sobre o local existia de forma bem mais forte nos filmes anteriores. Aqui, o espectador incauto (o adolescente que não conheceu os outros filmes) se perguntará: e a rua com isso? O que tem a ver com a história? Outro ponto que não gostei foi a própria identidade do Freddy Krueger. A interpretação e a caracterização (maquiagem/efeitos) são muito boas, mas o personagem, que antes era meio bonachão, sempre reachado de humor, que fazia piadas e tudo o mais, aqui se transforma em apenas um pedófilo louco, sem nenhum "q" atrativo. Por um lado, isso é muito bom, pois o torna mais sombrio, mas poderia ser feito de uma forma que continuassemos atraidos pelo Freddy. Não há nenhum elemento atrativo para que o público goste ou torça por ele, e isso é uma grande falha dos produtores ao pensar nos próximos filmes. Se o público não gostar do personagem, não irá ao próximo filme. Outra coisa que também não gostei foi justamente centrar a ação nos "mocinhos" e não em Freddy. Eles são as estrelas desse filme, quando não deveriam. Afinal, Freddy sempre foi a estrela. Mais um erro é tentar criar um suspense sobre quem seria Freddy, sem revelar isso ao público, como se este não soubesse. Poderia funcionar em um filme inédito, não em uma refilmagem de algo tão iconográfico quanto Freddy. Há várias outras coisas que não gostei, e agora já me esqueci. A atriz que faz a mãe da mocinha é uma das piores atuações que já vi na vida!!! E olha que já vi muitos filmes na vida. Sério, é pavoroso! Ah, mais uma coisa que não gostei: o diretor é um covarde ao não mostrar as fotos que Freddy, ainda vivo e pedófilo, teria tirado da mocinha quando criança. Ela, adulta, apenas olha as fotos com cara de assustada. Sempre defendi que a sugestão vale mais que o explicito, mas dependendo da situação também existe necessidade de ser explicito. A cena não era sugestiva, não queria passar uma idéia, já dizia o que era, então não mostrar apenas guarda um vácuo, uma lacuna. Sei que é por causa da classificação da faixa etária e a busca por um publico maior, mas por isso digo que o diretor é um covarde, ao se render a isso em detrimento da qualidade. Mas enfim... Mais uma coisa (vou lembrando ao poucos, na hora), mas dessa vez um ponto positivo. Gostei que o filme não tem nudez, não apela a esse recurso, comum aos terrores. Novamente, por causa da censura, mas isso gostei. Na verdade, esse é mais um elemento da minha tese sobre a nudez na história do cinema. Quando eu escrever essa tese (postergada para minha pós-graduação), acreditem, vou realmente abalar as estruturas. (em resumo, comparar como a nudez foi tratada no primeiro filme e como é tratada na refilmagem. Isso reflete os valores da cada sociedade. Perfeito!).
Agora entra uma crítica muito mais pessoal, comparando com a minha suposta versão. Sempre pensei em um filme "de origem" sobre Freddy, muito antes dos filmes "de origem" virarem moda. Criei certa expectativa, reforçada pelo trailer, que este poderia ser um filme de origem sobre Freddy. Não é. Sua origem se resume a uma ou duas cenas, em flashback, para mais da metade do filme, quando os "heróis" vão atrás de quem seria ele. Outro elemento que já tinha em mente, muito antes de conhecer as teorias freudianas, mas que pode ser totalmente referendado por estas. Na minha idéia, seria legal deixar em aberto, por assim dizer, sobre a existencia material de Freddy. Na minha versão, Freddy existiria apenas em sonho, e só faria mal em sonho, e o sonho do individuo é que faria mal ao individuo, não o Freddy. Explico. Na minha versão, Freddy não fere materialmente as pessoas. Elas é que, sob estado hipnóide (esse já um termo freudiano), fazem mal a si mesmas. Acho que esse caminho foi trilhado numa das sequencias do filme original, no Hora do Pesadelo 3, se não me engano. Acho mais interessante, pois uma vez que o personagem se torna abstrato (só existindo em pensamento) ele também se torna mais real (podemos sonhar com ele, e ele pode realmente ser real). Essa idéia parecia que ia ser seguida na primeira cena do filme, quando o rapazinho sonha com Freddy, mas é ele próprio que pega uma faca, em estado hipnóide, e corta a própria garganta. Infelizmente, a tese é abandonada na sequencia, quando Freddy joga corpos pelas paredes e tetos (humanamente impossível) e produz rasgos e mais rasgos nos corpos joviais. Minha versão, sinceramente, é muito melhor. Mas não é algo que queria mais fazer, nem esteja em meus planos. Hoje, podeia conceber um terror mais psicológico e psicologizante, no sentido de ser referendado pelas teorias da psicologia. Seria bem melhor.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Dunga e a Convocação

Assisti essa tarde a convocação da seleção brasileira de futebol para a Copa do Mundo, pelo técnico Dunga. Instantes depois, já pululavam pelo twitter e afins críticas a Dunga, chamando-o de burro e por aí vai. Com todo respeito, burro são vocês. Argumento. Também eu entrei na onda e estava torcendo por Neymar e Ganso, os meninos do Santos. Mas eles nunca haviam sido convocados por Dunga, como poderiam ser agora? A ausência de pseudo-estrelas, polêmicas, como Adriano e Ronaldinho Gaucho também faz bem. Eu entendo o Dunga. Fubetol não é só jogar futebol, não é só a qualidade do talento do que se consegue fazer com a bola. É também aquilo que está por detrás do campo, nos bastidores; é aí que as coisas realmente se decidem, tal como na política ou na guerra ou em outras coisas decisivas em nossas vidas. Falo sobre a questão psicologica, sobre o entrosamento de um grupo verdadeiro criado por Dunga e sobre o sentimento de se dar com paixão, de se jogar de olhos fechados e morrer pela seleção. Copa passada não existia grupo, apenas uma constelação de estrelas. Perdemos. Dessa vez podemos não ter estrelas, mas temos um grupo verdadeiro, que poderia morrer pela seleção. Copa passada, os jogadores estavam preocupados com seus times, com outras coisas. Dessa vez não, todos estão ali pela Copa, e este é o momento de suas vidas. Mesmo indo contra a corrente, digo: confio plenamente no Dunga. E essa confiança tem razão de ser. Ou ele não está sendo um dos técnicos mais bem sucedidos da seleção brasileiras, com vitória após vitória? Então por que continua essa necessidade de criticarem o homem? Acreditem. Eu acredito.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

O Paradoxo de Alencar

O "Paradoxo de Alencar" foi criado por Lula. Para os que dizem que ele não contribuiu para a ciência, aí está. Na verdade, ele só fez a ação que deu origem a este conceito. Na verdade, esse conceito, assim batizado de "Paradoxo de Alencar", até onde sei, é meu. Não o criei, apenas o batizei dessa forma. Mas reconheçam, é um belo nome. Mas o que é isso afinal? Me recordei de episódio que ocorreu uns anos atrás, e que, salvo engano, foi analisado por Elio Gaspari. Lula, em algum momento de seu mandato que já não me recordo, nomeou o seu vice-presidente, José Alencar, para o Ministério da Defesa. Onde está o conflito, o paradoxo? Ora, o presidente nomeou para um cargo demissionário (que ele pode dispor, e demitir) alguém que exerce uma função que ele não pode demitir, o vice-presidente da república. Alencar, ao mesmo tempo, passou a ser vice-presidente (não demitivel nem subordinado ao presidente) e ministro (alguém demissivel e subordinado a autoridade do chefe). Fossem outros anos, estava formado o cenário para uma crise institucional. Felizmente, os tempos são outros e nossas instituições fortes. Lula e Alencar, amigos, encerraram o episódio sem conflitos nem tentativas de golpes de estado. Daí o conceito de "Paradoxo de Alencar". E por que me lembrei disso agora? Vivi esses dias situação análoga à do Paradoxo de Alencar. Na disciplina de "Textos Jornalisticos" concebemos, ao longo do semestre, um jornal, que é impresso e distribuido pela universidade. Cada um assume seus papéis no jornal. Chefe de edição, pauteiro, captação de recursos, e reporteres, que fazem as matérias. Me postulei e assumi a posição de Chefe de Edição, responsável pela coordenação do jornal, revisão e aprovação das matérias. Mas como gosto de inventar coisas a mais para fazer, e também gosto de escrever, e também gosto da prática jornalística, então também quis fazer uma matéria. Juntei-me ao Gaucho, e acertamos de fazer uma juntos. Coloquei-me em uma situação de Paradoxo de Alencar. Como Chefe de Edição componho, junto com Sissa, a pauteira e Nina, a moça das grandes verbas (hehee) o que no jargão chama-se "aquário", ou seja, a sala dos chefes do jornal. Daí o piada que fiz outro dia, via twitter, "o aquário manda". A Sissa, como pauteira, faz a pauta. Meio obvio, né? Ela dá as orientações aos reporteres, que a seguem. Eu, como reporter, teria que a seguir. Contestei alguns aspectos, e, nesse debate, foi senti que as relações não estavam muito bem delimitadas. Afinal, quem era eu? Editor ou reporter? Felizmente, hoje, as coisas caminharam para uma solução em comum. Gostei de suas sugestões para pauta. As coisas estão certas. Mas poderiam não estar. Fica o alerta para o futuro, uma lição aprendida, para não repetir a situação. Paradoxos de Alencar são complicados, e não devemos entrar neles.

domingo, 9 de maio de 2010

Coisas espalhadas por aí

Tradicionalmente, o 4º período do CTCOM edita um livro. Hoje, prazo final, mandei os textos para Mérie, a editora do livro. Concebi os textos para a disciplina de "textos jornalísticos" da Maurini. Um deles, uma cronica, ela (Maurini) já havia gostado. Gostado tanto, que publicou em uma área especifica para cronicas que existe no site da UTFPR. Gostei. Me senti orgulhoso. Sempre me sinto assim por coisinhas, às vezes. É bom.
A área, com várias crônicas, está aqui. O link para a minha crônica, no site da universidade, é este.
Segue ela.

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Mariana (ou: não-notícia) 

Mariana não assiste ao Big Brother. Ela estuda Freud e realmente se dedica à sua leitura. Se lhe perguntarem o que sabe de teoria freudiana, talvez não responda tão bem quanto sobre o programa televisivo da Rede Globo. Apesar de não assistir sabe o nome de todas as personagens, as intrigas, romances, entre outras coisas. Assim leva a vida, mediada pelo meio. Sensibilizou-se com os terremotos no país distante, com as chuvas no estado distante. Salvou o planeta, apagando a luz por uma hora.
Mariana acordou numa manhã iluminada de consciência plena. Entendeu tudo, finalmente. Entendeu que nada daquilo que era seu mundo importava. Nem Freud, nem Big Brother. Contaria isso, mais tarde, em páginas rabiscadas, encontradas jogadas no apartamento alugado. Mas consciência de certo e errado de nada adianta, quando outros não a têm, escreveu. Tola ilusão daquele que acha que o seu achar fará alguma diferença, pois ainda que ele ache o que acha, as coisas continuarão acontecendo como dadas pela organização social. Mariana pensou poder lutar contra a organização social posta. Quis diagnosticá-la, quis mudá-la. Lutou por um tempo, sem saber que não há como se lutar contra seu próprio tempo. Estava presa ao pensamento de seu tempo, ainda que seu pensamento voasse mais longe, distante.
Tudo que é dito só é dito, pois referendado socialmente. Algo não referendado, não pode ser dito, muitas vezes sequer pensado. Mariana não sabia disso e pensou. Ousou dizer. Não adiantou. Falhou. Desistiu. Mais uma apenas. Os jornais não noticiaram sua morte. A Rede Globo não deu um plantão. A manchete do UOL não se alterou. A vida humana cotidiana não se encaixa nos critérios de noticiabilidade. Mariana foi uma não-notícia.
O seu sangue escorreu pela rua entre tantos outros sangues da cidade, indistintos. Na mesma esquina onde na noite anterior, bêbado, o filho de um rico batera seu carro, e onde, no dia anterior um mendigo fora atropelado. Estatísticas apenas. Essas, eventualmente, acabarão indo para os jornais, números perdidos em páginas desinteressantes. Mariana morreu, com consciência, da mesma forma que morrem os inconscientes. O sangue não distingue dinheiro nem consciência. Na morte nos encontramos.

sábado, 8 de maio de 2010

Por que a galera grita tanto?

Em uma reportagem sobre shows de rock, ouvi uma pergunta, de alguem que comentou: "por que a galera grita tanto?". Taí uma coisa que nunca me perguntei. É um tema interessantíssimo. Por isso, cada vez mais, me apaixono pela antropologia. Ela deve ser o supra-sumo do saber, afinal, só ela (e a sociologia, claro, com uma pitada de psicologia, talvez) pode dar conta de perguntas tão fundamentais sobre o comportamento humano. Por que a galera grita tanto? O que representa, significa, os gritos de guerra, os gritos em um show, os gritos em um estádio de esportes? Por que se grita tanto? Queria saber. Antopólogos, sociólogos, venham a nós.