sábado, 4 de setembro de 2010

Um pouco de ego (Ou: pessoas que falam de si)

Acho que de vez em quando um pouco de ego é bom e não faz mal algum. Alguns colegas já disseram que sou arrogante. Não acho que seja verdade, mas muitos acham. Uma vez ouvi um conselho que pregava: diga “tá, sou sim, e daí?”. Dizia este conselho que quem fala sobre arrogância é por que não tem outros argumentos. Ser ou não arrogante é uma questão subjetiva e, portanto, não poderá nunca ser comprovada nem negada; para quem te acha arrogante, nada há a fazer, o melhor é se assumir como tal e perguntar: que outros argumentos você tem? Acho essa tática muito boa para o debate político ou intelectual-acadêmico (contexto em que foi enunciado), mas nas relações pessoais as coisas funcionam de maneira diferente. Mas não é esse o tema de hoje. Geralmente não faço isso, hoje quero falar de mim e massagear meu ego. Ainda mais arrogante do que você já é, Márcio? Pois é. Embora passe essa imagem, por não ter problemas em assumir naquilo em que sou bom, sou humilde. Cristianamente humilde. Realmente creio na humildade cristã, como um dos fundamentos da fé, e a pratico, melhor do que muitos. Mas vejo a arrogância todo dia, nas pessoas. As pessoas que falam de si. Este é o tema de hoje. Em parte, talvez, seja por minhas dificuldades na construção de relacionamentos, mas não costumo falar sobre mim. Tenho exercitado isso, tentado falar mais, mas ainda não consigo, do nada, começar a contar algo a respeito de mim para exemplificar daquilo que se está falando. As pessoas fazem muito, muito isso. Muitas vezes não suporto. Quando vejo alguém começar a falar de si, sem parar, não consigo aguentar. Às vezes dá vontade de dizer o que considero, mas temos (e é saudável que tenhamos) posturas socialmente corretas, civilizadas. Acho arrogância o sujeito que, no meio de qualquer conversa, começa a contar de suas experiências pessoais sobre o assunto. Falar de suas opiniões, tudo bem, mas não de si. Parte-se do pressuposto que ninguém quer saber, certo? Eu exercito isso, mas não é isso que as pessoas fazem. Falando assim, até parece que não gosto de ouvir as pessoas. Isso não está correto. Não gosto de ouvir pessoas arrogantes, que falam de si para todo mundo, mas sou um ótimo ouvinte. Sou um ótimo ouvinte, e realmente gosto de escutar as pessoas, que tenham algo a dizer, para mim, não para todos. Algumas poucas pessoas podem comprovar o que digo, e não me importa se muitas não concordarão. Sou, nesse sentido, muito particularista, por assim dizer. Falo sobre mim quando as pessoas perguntam ou demonstram interesse. E por não agir como a maioria age, em suas arrogâncias, passo a imagem de ser fechado, o que também não é correto. Mas às vezes me ocorre de falar sobre mim. Quando falo, é engraçado, há sempre um movimento que se opõe a isso e me tacha com tais rótulos. Um exemplo disso foi cerca de três semanas atrás. Enviei um vídeo para o youtube, um recorte que satirizava José Serra a partir de um trocadilho dito por ele no horário eleitoral, que se tornou o mais visto do mundo por três dias, e passou da marca um milhão e meio de visualizações. (particularmente, não considero isso grande feito, mas há gente que leva isso em conta). Comentando com alguns colegas, demonstraram desinteresse em me ouvir falar. Quando falo, sou tomado por arrogante. Engraçado que posso visualizar a mesma situação com outros colegas e vejo reações diferentes. Acho que existe um certo argumentum ad homimen nisso, que pressupõe um imagem pré-concebida de que sou arrogante. Logo eu, que não sou. E ainda que fosse... Esta é uma questão interessante: em que momento formamos a imagem que vai definir e pré-conceber as futuras imagens e reações em nosso entorno? Pois sempre agimos baseado em pressupostos de imagens. Em certa medida, o argumento contra o sujeito é inevitável. Mas será que nunca podemos mudar? Bom, acho que já me perdi em algum momento desse post, que é só mais um daqueles, que não deviam ser publicados. Rsrs. Em essência, o processo de egocentrismo contemporâneo é fruto do processo de individualização da sociedade. Diálogos estão cada vez mais raros, mesmo quando duas pessoas conversam, cada um está preocupado com si, e não com o outro. Isso me incomoda. Não sou assim e tento sempre não agir assim.

Mais um post pessoal que não devia ser escrito

Minha amiga Débora aconselhou outro dia, já umas semanas, “você não deveria escrever sobre tudo que te acontece; só prejudica”. Outra questionou “o que você ganha falando mal dos outros?”. Ambas não se referiam aos posts políticos que foram tema dos escritos mais recentes, mas a outros escritos, mais antigos, em que critico algumas práticas (e) docentes. Não ganho nada falando mal dos outros, exceto o exercício, sempre embasado, de opinar. Gosto dele. Em verdade, não escrevo sobre tudo que ocorre comigo. Apenas algumas coisas que me inspiram posts, me inspiram a escrever. O tema colocado, indiretamente, é uma coisa que já questiono há algum tempo. Qual o campo e o objetivo desse blog? No Encontro de Blogueiros Progressistas, em São Paulo, sempre que passava o endereço de meu blog ia junto uma ressalva “é pessoal”. Depois que fui perceber que o “pessoal” soava como se fosse algo ruim, demeritório, tal como um caderno de confidencias. Sempre me esforcei, às vezes falhamente, para não torná-lo isso. Mas esse blog não se pretende neutro, puramente jornalístico ou político, nem apenas sobre assuntos gerais. Ultimamente têm pululado aqui esses assuntos, em virtude de uma série de fatores, como eles também fazerem parte de minha vida, mas o blog tem um autor e é sobre ele. Mas quais os limites? Também gosto de escrever, por assim dizer, textos jornalísticos. Creio que a indefinição de um público e um perfil exato para o blog pode ser tanto um aspecto negativo, que possa afastar pessoas ou não as conseguir atrair, quanto um aspecto positivo, que as possa atrair. Afinal, estou criando ou constituindo meu próprio estilo. Embora seja um caminho um tanto dúbio, no sentido de que trilho ao mesmo tempo duas estradas diferentes, creio que possa ser um caminho promissor.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Compromissos

Acho curioso ver algumas pessoas se engajando nas eleições, na luta, no eles contra nós. No estilo “vamos nos mobilizar”. Sou essencialmente um intelectual e é como intelectual que escrevo e atuo, não só na academia mas na vida. Um ser pensante. Por isso questiono a quem eu apoio. Dizem “não precisamos de fogo amigo”. Mas não acho que deva reservar as criticas somente aos adversários. Não estou lutando por um partido. Se estivesse, e por estar um dia, certamente adotaria essa posição discursiva. Não é o caso. Meu único compromisso é com o que penso.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Sobre questões estaduais

Há muito venho enrolando para escrever sobre isso. O que escreverei a seguir, ainda assim, é provisório. Já disse, e costumo repetir: embora seja simpatizante não filiado ao PT, não tenho compromissos ideológicos com o erro. Meu único compromisso é com minha consciência, com o que julgo correto e coerente. Por isso muitas vezes é difícil decidir meu voto. Não sigo simplesmente o partido, pois este também pode errar. No Paraná, a eleição para o governo do estado é ainda mais complexa. Beto Richa é tucano e favorito nas pesquisas. Seu oponente é Osmar Dias, do PDT, apoiado pelo PT/Lula e Requião (que, para quem não sabe, amo). Os demais, nanicos, não têm qualquer relevância. Na teoria, parece simples, mas não é. As relações, por aqui, são mais do que promíscuas.
Osmar hoje apoiado por Lula e Requião é um adversário histórico de ambos. Nas últimas eleições, de 2006, teceu ferrenhas críticas a ambos. Foi além da crítica construtiva e ideológica; eram inimigos. Osmar também é irmão do tucano Álvaro Dias, que dispensa apresentações: é um dos piores crápulas que conheço, que pauta suas ações unicamente por interesses escusos e pessoais, e não pelo bem comum (sim, ainda acredito no bem comum). Não faz a oposição responsável, que, utopicamente, ainda acredito ser possível. Penso que é necessário coerência nas alianças. Não critico alianças que a maioria da "opinião pública" critica, por exemplo, entre Lula e Collor. Entre quando Lula e Collor eram adversários e depois aliados, mudou-se completamente a configuração do cenário. Mudou-se o pensamento, de ambos. Mudou o mundo. É justificável. Mas não seria justificável, por exemplo, uma aliança, hoje, entre Lula e Álvaro Dias, por exemplo. Não existe justificativa para isso. Sei que política tem que ser pragmática, tem que ter alianças, por interesses comuns. Mas algumas são por demais espúrias.
Embora goste de Lula e goste de Requião, não preciso seguir cegamente suas supostas recomendações. Eram inimigos, não eram? Me lembro, ainda hoje, dos humores exaltados de 2006. Não deixarei de gostar de Lula e Requião. Mas sei que em Osmar não votarei. Não voto em Osmar pois acho que um suposto projeto em comum que possam ter estabelecido não é maior do que a história do que se passou. E entre 2006 e hoje não houve uma reconfiguração de cenário que justificaria a mudança de opiniões. Em 2006, Lula já era Lula, o ícone, o grande. E Osmar o criticava. Estarem ambos juntos, hoje, é querer negar o passado recente e dizer para o esquecermos. Não dizem que o povo brasileiro não tem memória? Bom, eu tenho memória. E cobro coerência. Por isso não voto em Osmar. Por isso, e por outras questões. Quais? Dois argumentos, de passagem. Primeiro, Osmar é muito ligado ao setor ruralista; defende interesses de classe muito específicos, que, penso, são legítimos de serem defendidos num parlamento, mas não devem ser contemplados no executivo. Segundo, ele está mais para tucano do que para petista; e ligado à banda pobre dos tucanos, seu irmão Álvaro e cia.
O problema é que seu adversário tampouco é bom. É o tucano Beto Richa. De forma geral, não gosto de tucanos. Não por algum argumento pré-concebido, mas por suas posturas ideológicas, em vários aspectos sobre os quais já escrevi a respeito. Teria muita coisa contra Beto Richa, mas consigo achar com ele mais semelhanças do que dessemelhanças. Richa não é o tucano clássico, do ortodoxismo liberal. Ele representa uma nova era, ao lado de Aécio Neves. Costumo dizer que todo pensamento sectário, seja de direita ou de esquerda, é burro. Não posso concordar com os argumentum ad hominen que vejo por aí, ou seja, argumentos que partem de uma idéia pré-concebida a respeito do sujeito, que dizem que alguém é ruim simplesmente por ser petista ou tucano. Não acho que ser um ou outro faça necessariamente de alguém bom ou mau, embora indique tendências disso. Mas não concordo com o discurso de alguns amigos, e também que leio vida afora, que, por exemplo, os tucanos devem ser derrotados e extintos. Acho que sempre há espaço para todos, e de certa forma é saudável que esses espaços existam; são esses espaços que evitam tencionamentos mais graves. Uma de minhas principais ressalvas quanto aos tucanos é em relação à questões macroeconômicas. Acredito, e a bem-sucedida atuação do governo Lula na crise econômica de 2009 prova isso, que o Estado deve ser ativo e intervir diretamente na economia. Os liberais (tucanos) acreditam que o mercado se regula e o Estado não deve intervir, ou intervir minimamente, com políticas secundárias. Foi essa a atuação de FHC numa crise , menor do que a enfrentada por Lula, que levou o Brasil à falência, literalmente. Mas governador, felizmente, não faz política macroeconômica. Beto Richa não terá, como governador, tal ingerência. Adicionalmente, o fato que Richa tornar-se (e o Paraná junto) uma das estrelas da política nacional não é ruim.
Não gosto mas também não desgosto de Beto Richa. Não me agrada a idéia de votar num tucano. Tampouco me agrada votar em Osmar Dias. Mas de Osmar desgosto. Por tudo que disse, a principio, votarei Beto Richa.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Serra e Alckmin

Outro dia, Luis Nassif escreveu um artigo, lido aqui, que discordei. Inferia-se dele, em essência, que Alckmin seria preferencial, uma opção melhor, a Serra. Discordo completamente. Não tenho grandes ou maiores oposições a Serra. Não gosto de seu modelo de gestão, acho o pensamento econômico de seu partido falho. Isso e outras questões me fazem não querer que ele seja presidente. Mas como pessoa, em si, o acho um bom intelectual. Gostei de seu livro “Reforma política no Brasil” (sim, eu li). Já Alckmin não. Alckmin é representante da direita. Seu pensamento, é retrógrado. O marketing tenta vender Serra como de esquerda. Certamente que não é. Mas também é certo que está à esquerda de Alckmin. Entre os dois, para liderar o PSDB, certamente preferiria Serra, pois daria melhores rumos ao partido. Não bons rumos, mas melhores do que os de Alckmin, sem dúvida. Não entendo a “raiva” que a esquerda sente de Serra. (talvez justamente por representar uma opção mais viável, plausível, e, logo, próxima de sucesso). Não compartilho desse sentimento. Apenas o acho, e, principalmente, ao seu partido, ruins.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

“Dilma neles” e o lugar de fala

Semana passada fui a São Paulo, participar do Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas. Lá, comprei uma camiseta, cuja imagem reproduzo através de uma foto. Ilustrada por uma imagem estilizada de Dilma, da época de militância, trazia a frase “Dilma Neles”. Na volta para casa, fui com ela.
No aeroporto, ao passar pelo detector de metais, a moça do aeroporto que cuidava das checagens me olhou estranhada. Não entendeu. Perguntou “Dilma Néles?”, com ênfase no “Né”. Pensando que ela não havia enxergado a camiseta, a estiquei com as mãos, mostrando. Ela inclinou levente a cabeça, mostrando não entender. Eu disse: “Dilma, candidata à presidência”. Ela respondeu “Sim, eu sei quem é a Dilma, mas... Néles?” Demorei a conseguir explicar. Repeti “neles” batendo com as costas de uma mão na palma da outra, representando o símbolo de choque. Ela repetiu “Néles”, como se fosse um incomum sobrenome. Perguntou: “mas o sobrenome dela é Néles?”. O outro rapaz, ao lado, veio em meu socorro, na explicação. “Neles, nos outros”, disse. Eu completei “Os tucanos querem voltar, então dá-lhe Dilma neles”. Ela entendeu. Talvez tenha faltado na camiseta um ponto de exclamação, é verdade, mas há uma outra questão.
Lembrei das aulas de Análise do Discurso. Colocar aquela camiseta era assumir um lugar de fala que o outro não pode compreender se estiver em outro lugar de fala, se não tiver os mesmos pressupostos do universo representacional no qual o discurso é proferido (acabo de fazer uma salada de Bakhtin, Pechêux, e outros... Haha). Afinal, quem são eles?? É saudável para o debate democrático tratar a questão “nós e eles?”. Achei interessante encontrar alguém que, certamente sem conhecimentos dos signos que fazem da disputa política uma guerra, não consegue conceber o que seriam “eles”, pois, afinal, todos estamos juntos e somos “nós”. A camiseta é excelente, como ferramenta de comunicação, mas talvez não seja como pensamento e discurso. Não somos (ou não devíamos ser) divididos entre nós e eles, pois, afinal, todos somos nós, brasileiros.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Dilma e as mulheres (Ou: As mulheres são invejosas)

As pesquisas mostram que um dos últimos campos que Dilma conseguiu penetrar é entre o eleitorado feminino. Tem avançado e já está na frente, mas entre o eleitorado masculino as intenções de voto são consideravelmente maiores. Tenho uma boa explicação para isso. Conversando e escutando muitas amigas, que não votarão nela, ouço sempre comentários como “aquela mulher…” e segue algum adjetivo, inculta, masculinizada, etc (apenas argumentos racionais que referendam o sentimento subjetivo, e mesmo inconsciente). O interessante é a identificação da pessoa como “mulher”. Não vejo falar de Lula ou mesmo de Serra como “aquele homem”. O que percebo, e posso estar errado, é que as mulheres são invejosas. Elas sentem ciúmes, inveja pela posição aquela outra mulher está ocupando. A despeito de toda evolução do feminismo, elas não pensam como classe; pensam como indivíduos, isolados, e egoístas. E sentem inveja. Principalmente por que Dilma é uma mulher “comum”. Mais ou menos como Lula. Não é alguém que “se preparou a vida inteira para ser presidente”, como Serra gosta de falar de si próprio, mas alguém que viveu sua vida, casou, separou, teve uma filha, teve um negocio, estudou, trabalhou e conquistou seu espaço. Foi descoberta por Lula e tem agora sua chance. É uma mulher comum, que poderia ser qualquer uma de nós, mais ou menos como Lula. Não há grandes atipicidades em sua vida. Mas essa relação se processa de forma bem diferente. Os homens pobres, os trabalhadores, olham para Lula e se enxergam nele. Sentem-se felizes e contemplados, realizados, pois eles estão lá com Lula, eles são o Lula, e Lula está lá por eles. As mulheres não pensam assim, não pensam no campo que está sendo aberto ou nas conquistas de classe. Elas olham para Dilma e sentem inveja. Não se sentem representadas, mas que elas que queriam, lá no fundo da alma, aquele reconhecimento e sucesso para elas mesmas, e não para a outra. Inconscientemente, são egoístas. E é por isso que Dilma se elegerá majoritariamente com o voto masculino.

Em tempo: muitas que falam e sentem assim por Dilma votarão Marina. O voto em Marina não conta, pois se sabe se antemão que ela não se elegerá. Não se têm inveja sobre o irreal e por isso podem votar em Marina achando que não sentem o mesmo. Se Marina pudesse ganhar, sentiriam.