Nas aulas de TCC I frisou-se bastante sobre o uso do eu, do nós, e do verbo impessoal. A Angela, professora da matéria, disse ser inadequado o uso do "eu", pois quem fez o trabalho não foi só você; você não criou aquilo tudo. Concordo em parte, apenas. Não criei, mas reinterpretei. Dei minha contribuição. Por eu ser dialético e tender à antitese, me opus ao que ela disse. Curioso que realmente tenho essa tendência à antitese. Discordo até do que concordo, pois acho que a discordância e a critica contribui para o aperfeiçoamento. "Você também vai morrer", sussurava o servo ao ouvido do rei, depois de suas mais gloriosas vitórias, para lembrar-lhe que também é mortal e pertence a esse mundo. Ainda que seja grande, é pequeno. Gosto disso. Voltando ao TCC. Discordei sobre o "eu". Ela deu uma resposta qualquer, tipo "ronaldo", diria a Sissa. (nota para o futuro: essa é uma gíria usada nesses dias, símilar à expressão "próximo", para desígnar algo no sentido de "não estou nem aí"). Nunca gostei desse uso do eu. Mas sinceramente tenho repensado sobre isso. Não digo no TCC, pois há orientador e tudo o mais, ou seja, realmente mais de uma pessoa. Mas...
Outro dia estava lendo o texto de um sujeito chamado Duarte (não sei seu primeiro nome), para psicologia da educação. Ele escreveu o livro, não há mais ninguem. Ele defende uma nova abordagem, uma nova perspectiva, ou seja, é ele, de fato, que ali está (não simplesmente uma revisão de algo dito). Mas insiste no uso do "nós". Tento olhar ao redor e não vejo mais ninguem além dele. É irritante ao máximo. Já há tempos simplesmente detesto esse uso do nós. Penso que é usado para tentar conferir coletividade e aceitação a algo que é pessoal. Na política, se usa muito. "Nós vamos ganhar essa eleição". É uma tática de linguagem mais que justificável na política. Não na academia. Quando se faz um trabalho em equipe, então sim, o nós é adequado. Do contrário, realmente desgosto.
Então surgue o "eu", que a Angela tanto despreza. No entanto, todos os textos de psicologia da comunicação que lemos até agora, Freud, Le Bon, e outros, o autor usa o "eu". É engraçado ver esses autores, mesmo fazendo pesquisas em grupo, se baseando em outros autores (desculpa que a Angela deu para o não-uso do "eu"), eles não se furtam em dizer "eu penso", "eu desenvolvo a tese" e por aí vai. De fato, é o autor quem pensa. Parece um pouco arrogante, é verdade. Mas quem é grande ou se quer grande, não tem como não deixar de lado um pouco de arrogancia. Mesmo rumando contra a maré, tenho gostado desse uso.
O que não gosto, definitivamente, é desse mesmo uso do "eu" na vida real. Não vejo problemas gigantescos em usar o "eu" em um trabalho academico, mas não suporto pessoas, egocentricas, que começam a falar de "eu, eu, e eu", e não param mais. Simplesmente odeio. O uso do "eu" na vida real, isso sim, acho problemático. Pessoas que chegam para outras e, antes de serem perguntadas, já começam a falar que "eu fiz isso e aquilo". Acho arrogancia, só olhar para si mesmo. Umas semanas atrás, houve uma reunião na federal, e um amigo começou a falar como "eu pensei.. eu falei"... Idéias que, essas sim, pertenciam à coletividade, mas ditas na primeira pessoa. Penso que essa é a pior situação possível. Mas relevemos, relevemos. Há que se relativizar. Palavras de salvação da antropologia.
O terceiro uso é do impessoal. Chocho, sem sal. É a saída mais usada, pois não desagrada a ninguem. Eu mesmo, gosto de usar. Acho que sim, tem sua validade. Na vida real, não dá. Na academia, é uma boa saída.
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