quinta-feira, 29 de abril de 2010

Cenas memoráveis

Todo dia acordo de madrugada para pegar o onibus de Matinhos para Curitiba. O horário de saída dele da rodoviária de Matinhos é 5:45. Ele passa no ponto próximo à minha casa por volta de 5:25, vindo de Guaratuba, antes de chegar à rodoviária. Ele vem de Guaratuba, e é o chamado “pinga-pinga”, pois vai parando de ponto em ponto para pegar pessoas pela estrada.  Acordo por volta de 5 da manhã, para poder pegá-lo. Acordo, aspas. Sempre durmo a mais. Ou me enrolo terminando de fazer alguma coisa, arrumar a mochila, etc e tal, antes de sair. Comumente chego ao ponto em sincronia com o momento que o ônibus está vindo, ou passando. Várias vezes já o perdi, e tive que sair correndo para alcançá-lo no ponto após a rodoviária. (felizmente ele faz uma pausa lá, para esperar o horário, o que possibilita que eu o intercepte, dependendo do quão atrasado eu estiver). Algumas vezes eu o perdi de fato, mas acho que não foram muitas. Essa semana aconteceu de novo algo nesse sentido, e é sobre isso que quero escrever hoje.
Saí atrasado, como sempre. Cheguei à esquina, de onde vejo o ponto do ônibus, e o avistei. Já estava parado lá. Dessa esquina até o ponto é cerca de uma quadra e meia. Sai correndo, o mais rápido que podia, gritando e acenando. O motorista já me conhece, por vezes chego atrasado, correndo atrás do ônibus, apesar que não como nesse dia. Pela distancia, creio que não me viu nem ouviu. O ônibus deu partida, e saiu. Ainda estava na metade do caminho, gritando de madrugada, e o ônibus saiu. Perdi. Nesse momento, em seguida, enquanto eu ainda desacelerava da corrida, passava um carro, logo atrás do ônibus. No carro, uma moça, dirigindo, e um rapaz. Disseram que estavam indo pegar o ônibus na rodoviária, para eu entrar que davam uma carona. Olhei por um instante de segundo, e, excluída a possibilidade de serem assaltantes/seqüestradores (sempre o julgamento por aparência/estereótipos, não?!), entrei. O interessante começa aqui (já era hora, né?). 
Era um casal muito simpático. Muito mesmo. Comunicativo. De carro, do ponto de ônibus à rodoviária não deve levar nem 3 minutos (calculo aproximado de alguém que é péssimo nesses cálculos de tempo). Mesmo assim, a conversa foi profícua. Os dois são muito simpáticos, mas sobretudo ela. Por exemplo, logo depois que entrei no carro, já foi se apresentando. Dizendo “Eu sou a Marjorie, ele é o Lucas”. São coisas assim, como simpatia, que me encantam, não necessariamente só a beleza, como funciona com 90% dos homens. Ah, mas ela também era bonita. Rsrss. Ela continuou falando. Só ele estava indo pegar o ônibus, ela estava indo levar ele. Não sabiam direito os horários do ônibus; eu, especialista já, falei. Ele ainda ia comprar a passagem. Estava indo para um evento sobre literatura que iria ocorrer na UFPR. Veja só, ele, apesar da aparência jovem (menos de 30) é professor lá da Federal Litoral. Só que é professor de música, e dá aulas para o curso de Artes, que é de manhã. Como estudo à noite e nunca estou por lá de manhã, não o conhecia. Conversamos sobre o projeto pedagógico do setor, como nossos respectivos cursos (Artes e Gestão Pública) já estão ou não estruturados (começaram no mesmo ano, 2008), como os alunos ainda estão se adaptando à inovação do setor, etecetera e etecetera. Chegando à rodoviária, desci, agradeci a carona. Ah, detalhe engraçado: ela foi seguindo com o carro o trajeto do ônibus. O ônibus entrou no terminal de embarque/desembarque, e ela entrou atrás com o carro. Só se deu conta, só nos demos conta, quando já estava entrando. Como 5 da manhã em Matinhos é deserto, e na rodoviária de lá não tem uma “guarita”, como na rodoviária de Curitiba, ela entrou e estacionou num daqueles lugares reservados para os ônibus. Eles mesmos riram. Muito divertido. Desci, dei tchau. Fui pegar o ônibus.
Enquanto aguardava o motorista vir de sua pausa para destacar meu ticket, pude observar a despedida deles, que é justamente a cena memorável que dá título a esse post. Ele foi ao guichê, comprou a passagem, e depois, voltou até ela, que aguardava com seu carro estacionado numa das vagas de embarque/desembarque de ônibus. Ela usava uma espécie de pijama. Calça azul, camiseta branca. Um belo e encantador pijama. Não sei o que falaram, só posso imaginar. Às vezes isso é bom, como o som de uma ópera, que tão divina de bela, é melhor não saber o que aquelas palavras dizem, pois perderia seu encanto mágico. Falaram alguma coisa, e se abraçaram longamente. Um abraço gostoso, apertado e profundo. Queria ter registrado aquela cena, pois era realmente bela. Minha inócua verborragia não dá conta dessa beleza. Não dá conta pois a beleza não estava só na cena em si; a lua cheia, absolutamente bela e onipresente, a luz amarela do poste perto da rodoviária, ou mesmo suas expressões. Tudo isso compõe e colabora com aquela beleza, mas a beleza em si estava no sentimento. Sentimento, que estava transbordando, quase visível a olho nu. Os dois amantes que se despedem com um longo abraço mesmo que irão ficar afastados só um ou dois dias. Não sei, se eles de fato eram um casal. Mas é, novamente, como o caso da ópera. Prefiro acreditar que sim, pois belo me parece. Acho que por isso não me daria bem sendo fotógrafo, apesar de gostar disso, como hobby. Queria muito registrar aquela cena, eternizá-la. Estava com a câmera digital na mochila, mas nem me passou pela cabeça pegá-la. Não poderia conspurcar aquela cena. Sou ético demais em relação aos sentimentos alheios, para fotografá-los. Queria ter uma câmera no olho, que pudesse tirar fotos com o simples olhar, e guardar aquela imagem para sempre. Isso ainda não existe, e mesmo que exista um dia, certamente não tenha graça. Não tanta como tem a beleza de nossa memória. Dessas cenas, bonitas, que guardamos na memória e às vezes eternizamos nas palavras. Que sejam sempre belas e memoráveis, as cenas e as palavras que as retratam.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

A concepção social do almoço

Ano passado tivemos aulas de Antropologia com a Valéria. Foi de longe uma das aulas mais deliciosas que já tive. Por mim, a disciplina poderia ocupar a grade horária inteira, durante toda a duração do curso. Claro, aí seria um curso de antropologia, mas eu não veria problemas nisso. Me lembro, num determinado momento, que ela falou sobre a culturalidade do almoço. O ato de almoçar é cultural. "Ao meio-dia", ela deu-se como exemplo, "fico com uma fome terrível.". "Isso também é cultural.", completou. Ela não morreria se ficasse sem almoçar um dia, argumentou, mesmo assim, não consegue ficar sem almoçar, pois a cultura nela a compele nesse sentido.
Minha cultura é diferente. Não tenho fome na hora do almoço, mas sempre almoço. Não pelo almoço, mas pelas sociabilidades por ele geradas. O almoço não é apenas alimentar o corpo, mas um ato social e simbólico. A ilustração máxima disso é a última ceia de Jesus Cristo. Se não me engano é no livro "Cartas entre amigos" do padre Fábio de Melo com o ex-tucano (se é que existe tal coisa) Gabriel Chalita que falam sobre essa representação. Cito de cabeça: compartilhar o alimento com o outro é uma forma de trazer o outro para dentro de mim. Não há nada mais bonito, dizem. Daí o que falo sobre a concepção social e cultural do almoço. Todo dia almoço. Não pela fome. Na verdade, almoço apesar da (ausencia de) fome. Pois, mais uma vez, o almoço tem muitas mais representações.
Esses dias, não tenho almoçado com meus costumeiros amigos, devido a um certo afastamento gerado por certas rusgas (ou brigas). Espero alterar essa situação. Contudo, ela também abre novas oportunidades. Minha amiga Mérie postou outro dia em seu recomendadissimo blog um texto de Charles Bukowski, aqui, em que reflete (interpretação minha) sobre as inúmeras possibilidades de amor que nunca conhecemos e nunca conheceremos. Amamos uma pessoa, mas por amá-la, deixamos de conhecer outras del mil que talvez amassemos mais. Assim é a vida, como um todo. Deixei esses dias de almoçar com meus amigos. Também deixei de almoçar, uma vez que não faz sentido, para mim, a simples ingestão de comida, sem sua concepção social. Hoje, tive uma surpresa quando o Nader me chamou para almoçar com ele, pois não queria comer sozinho. Veterano muito gente boa, nunca havia almoçado com ele. Conheci um novo lugar, o restaurantezinho caseiro ao lado do Djalma. Muito bom, por sinal. Bem melhor do que o R.U. (qualquer coisa é melhor do que o R.U. da UTF) e mais barato que o Dragão. Melhor do que a comida, foi a agradável conversa e a chance de conhecer melhor outra pessoa. Me remetou ao texto de Bukowski, sobre as tantas possíbilidades que nunca conheceremos. Não significa que deixemos o passado para trás. Gosto de almoçar com meus amigos. Mas também, às vezes, é muito bom almoçar com outras pessoas, novas. Uma situação atipica e temporal gerou uma nova oportunidade. Novos amigos. Bom.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Artefatos da Civilização

Langdon Winner, ao tratar sobre a tecnologia, usa o conceito de artefato. Não vou me ater aos conceitos desse autor, apenas me apropriar desse termo, que gosto muito, e ampliá-lo. Pois bem. Percebi ontem que existem artefatos da civilização. Ou seja, representações materiais dos seres civilizados. Estava eu ontem, à noite, andando pela rua. Fazia frio e havia chovido. Eu carregava um guarda-chuva. Vitima que fui, recentemente, de assaltos, tornei-me cauteloso. Num momento, cruzo com um homem, jaqueta jeans, aparencia normal, mas sem nada nas mãos. Disconfiei. Olhei estranho. Apressei o passo. Adiante, cruzo com outro homem. Aparencia igualmente normal. Este carregava um guarda-chuva. Não tive medo. Percebi que o guarda-chuva é um desses artefatos da civilização. Ora, quem, numa noite fria e chuvosa, sai sem guarda-chuvas? Só pode ser mau caráter, bandido. Agora veja, que tipo de bandido, sujeito mal-intencionado, andaria com um guarda-chuva? Não faria sentido. Talvez eu esteja errado, e nunca poderei saber. Talvez o homem sem guarda-chuva apenas tenha memória ruim e tenha esquecido o seu. Ou perdido na rua. Ou quebrado. Talvez o homem de guarda-chuva use-o justamente para despistar e seja ele um bandido. Não sabemos. Mas o guarda-chuva é assim um simbolo de nossa civilização, de nossa civilidade.

domingo, 25 de abril de 2010

Sobre distintas crenças e ações

Existe um vídeo de José Serra, do inicio de 2009 (quando o governo já havia tomado medidas necessárias e o país já começava a sair da crise), em que previa que a eleição de 2010 se daria em um cenário de economia turbulenta. O vídeo pode ser acessado aqui. Luiz Carlos Azenha o ironizou, chamando-o, na legenda do vídeo postado em seu blog, de "o economista competente". Isso me remetou a uma série de dizeres sobre a capacidade gerencial da direita. Meu amigo Carlos acredita que há uma separação entre direita e esquerda por competência, digamos assim (o termo é meu; não lembro exatamente a expressão usada por ele). Em síntese, a direita teria melhor experiencia e saberia governar melhor, pragmaticamente falando. Sei que muita gente boa concorda e pensa da mesma forma. Mas realmente discordo. E não é pelo saudável exercicio de discordar, que pratico sempre, mas realmente por dados averiguáveis. Esse vídeo ilustra a questão. 
Serra acreditava que o cenário economico em 2010 seria difícil. Como sabemos, nossas ações são movidas por nossas crenças. E se o presidente do Brasil, durante essa crise, fosse Serra, Alckmin, ou algum outro da direita? Assim como se apresentam, movidos pela sua crença, provavelmente sua reações diante do cenário posto teriam sido diferentes, e talvez hoje o Brasil não estivesse na bonança que está. Bonança pode parecer um termo inadequado, mas comparando-se a outros países, ainda mergulhado na crise financeira, creio que não seja em vão. 
Quem me conheçe um pouco melhor sabe que nem sempre fui de esquerda. Em 2002, votei em Serra contra Lula. Na época, tinha um quadro de José Serra pendurado em meu quarto. Sério! Hoje, evidentemente, com minhas concepções mudadas, esse quadro foi substituido pela bandeira do PT na parede de meu quarto (ao lado da bandeira do Brasil). Não sou uma pessoa radical, apesar de às vezes poder parecer isso. Sou racional, e minha (às vezes radical) admiração adquirida pelo PT é racionalmente explicada. Além de temas nacionais, questão sobre igualdade, etc e etc, o principal, o principal ponto que admiro na nova esquerda é a economia. Já comentei isso com alguns amigos. Chamo de nova esquerda a corrente que está hoje no governo, ilustrada no PT. Não vou muito bem com a esquerda radical. Admira-se Lula pela questão social. É um ponto importante, mas não o principal para mim. Pode parecer estranho, mas para mim, o ponto principal na esquerda, que me fez passar a admirá-la, foi a questão economica, não a social. Meu julgameno começou a mudar em 2004/2005, quando a situação economica começou a ser domada. Dali para frente, a coisa só melhorou. 
Realmente acredito que as soluções economicas trazidas pela esquerda são muito melhores, mais eficientes, do que as trazidas pela direita, que supostamente administra melhor. Sob FHC o Brasil quebrou duas vezes. Quebrar, falir. Não sou eu quem digo isso, é um dado economico; creio que nem os tucanos o negem. Lula enfrentou uma crise financeira muito maior do que a dos tigres asiáticos enfretada por FHC. Temos aqui um paralelo bem interessante, pois é uma situação similar, que pode ser colocada lado a lado, como comparativo, para analisar os dois governos. Duas crises economicas, uma enfrentada pela direita, outra pela esquerda. Creio que eu nem precise argumentar quem enfrentou melhor, certo? Com o PSDB mergulhamos na crise, com Lula saímos dela relativamente ilesos, bem melhor do que o resto do mundo. Novamente, é dado histórico, não opinião. 
Qual a diferença, então, de uma crise e outra? O diferença essencial foi no modo de encará-la, de lidar com ela. E nessa definição, novamente a crença exerçe um papel fundador. Crença no modelo de Estado. Isso é essencial, apesar de pouca gente se importar com isso, ou achar irrelevante. 
A direita acredita em um Estado pequeno (vou evitar o uso do "mínimo", para tentar não adjetivar). Ela defende o liberalismo economico, em que as partes devem ser deixadas livres para negociar, e que, bem ou mal, vão acabar se resolvendo. O papel do Estado é não atrapalhar, não se meter, apenas regular as regras do jogo. Não estou dizendo que isso seja bom ou ruim, pois aí depende da postura teorica que cada um adote (em ciencias sociais não existe verdade, mas posturas teoricas). Apenas digo que é isso que a direita pensa, pois é isso que ela pensa (seja na formulação de Adam Smith de que se cada um buscar o interesse próprio o interesse coletivo também será contemplado, seja na afirmação de Margaret Thatcher de que "o Estado e a sociedade não existem; apenas os individuos e suas familias"). Qual o papel do Estado, então, diante de uma crise? Para a direita, liberal, o estado intervém indiretamente, através de regulação, ou seja, alterando aqui e ali as regras do jogo, para incentivar (veja o verbo, incentivar apenas, não promover) uma ou outra tendencia. Nisso, há um sem fim de mecanismos economicos disponíveis. Foi essa postura que o governo de Fernando Henrique Cardoso adotou diante das crises enfretadas por ele, de um Estado com papel regulador e incentivador, e que não gerou resultados positivos. Lembre-se: o Brasil quebrou, faliu. 
Qual a postura da esquerda? A sociedade, os individuos e todas as partes envolvidas não são independentes, e não chegam em um acordo espontaneamente. Elas precisam ser reguladas, pelo estabelecimento das regras do jogo, tal qual no liberalismo, mas o papel do Estado é ir além, é promover o bem para os individuos e a sociedade. Aqui, há uma cilada. Ao falar sobre "promover o bem" invariavelmente o leitor será remetido à idéia do bolsa familia, da assitencia aos pobres. Não, não é isso. Trata-se da promoção do bem economico. A esquerda acredita que as partes economicas não chegarão sozinhas ao beneficio da sociedade, então o Estado tem que prover esse beneficio economico, intervindo. Diante de uma crise, o papel do Estado, para a esquerda, é intervir, ser atuante. É importante ter cuidado com os termos; "intervir", aqui, não significa o que classicamente se vê negativamente, como controle, mas no sentido de atuação, ter um papel ativo. Não apenas regular as regras, mas ser mais um player, mais um jogador no cenário. Aquilo que o grande economista Delfim Neto definiu como o "papel indutor do Estado". Vemos isso na ainda recente crise economica. Diante de um temor generalizado de investidores, o Estado se tornou um investidor. Aumentou despesas, investiu, e pôs a economia para girar novamente. Se as partes economicas não fazem a economia girar, o Estado assume esse papel e faz. Algo que não acontece no modelo liberal. 
A diferença básica, então, é quanto ao papel do estado, regulador ou indutor direto, ativo. Essa crença vai determinar as posições economicas que um governante adotará. E agora, voltamos aos dados históricos. Claramente, uma posição gerou um resultado melhor do que outra. A posição da esquerda de Lula foi muito mais bem sucedida do que a posição da direita de FHC. Lembre-se: a crise enfrentada por Lula foi muito pior. E o vídeo de Serra, com o qual começei esse texto, é mais uma ilustração da análise feita aqui. Por ele, em sua analise, a partir de sua visão liberal de Estado, a crise persistiria. Aí que está, realmente acredito que ele estivesse sendo sincero. A crise persistiria, se tivesse agido sob seus pressupostos. Ele se esqueceu que o governo Lula tinha outros pressupostos, diferentes, não reguladores, mas interventores. E o Brasil saiu da crise. Por isso, por uma questão economica, pragmática, gosto da esquerda. Pois acho que sim, a esquerda sabe lidar e administrar muito melhor do que a direita, apesar da imagem formada em torno desta.

Em tempo: Serra vai ser vendido na campanha eleitoral como "de esquerda", pois as pesquisas e o marketing mostraram que é isso que o público quer. Ainda que Serra fosse um interventor (já tem dado sinais que irá mudar o discurso para a campanha e defender essa postura) o presidente não governa sozinho, mas de acordo com os ideais de seu grupo. Além disso, ele não é. O vídeo linkado revela as reais opiniões de Serra. As medidas pregadas por ele são de crédito, ou seja, regulação e incetivo, tal como prega o liberalismo. Adiante, dá enfase no "mobilizar". Veja: não intervir, mas mobilizar a sociedade e os outros. E vai além: essas medidas são, no seu dizer, "as únicas possíveis". Lula e a esquerda mostraram que não eram as únicas possíveis, nem as melhores.

sábado, 24 de abril de 2010

Sobre Direitos Autorais

Ontem pela manhã parei, em um momento, diante do corredor da UTFPR que leva à rampa para os blocos A e B. Estavam pendurando uma faixa. Fiquei adimirando o quão absurda era. Convidava para uma palestra que irá ter, segunda que vem, sobre direito autorais (correção posterios: "propriedade intelectual"). Já naquele momento, me indignei. Mais tarde, já quase noite, entro na internet e descubro, eventualmente, que ontem foi o dia dos direitos autorais. Aí entendi o por que da palestra que haverá. Me causa certa repulsa esse conceito de direitos autorais. Vejo minha querida amiga Mérie retuitar uma frase que mistura alhos e bugalhos, colocando junto direitos autorais e plágio. Plágio, ou seja, a apropriação do que é de outro como sendo de minha autoria, evidentemente é reprovável, além de crime. Mas isso nada tem a ver com direitos autorais. Direito autoral se refere, essencialmente, ao direito de reprodução de determinado conteúdo. O direito autoral morreu. Ele definha diante de nós, e só por isso gera tanto assunto, de gente com interesse economica que tenta mantê-lo vivo. Talvez ainda consigam por mais alguns anos, talvez décadas. Falharão. Desejei escrever um monte sobre o assunto, mas já existe um texto primoroso sque faz isso. É "Economia de Idéias" de John Perry Barlow, que descobri no curso do Sérgio Amadeu, que fiz mês passado. O texto é curto (7 páginas) e pode ser acessado aqui. Vale a pena ser lido. O que eu penso? O conhecimento é livre e não deve ter donos. E o lucro? Ora, existem outras formas de lucrar, e, em última instância, quem realmente produz arte e idéias, não se preocupa com lucro. Quando Shakespeare era vivo não existiam direitos autorais, e isso não impediu que ela fosse Shakespeare e lucrasse com isso. O texto de Barlow diz isso com muito mais propriedade que eu, com preguiça que estou nesse momento de de aprofundar nessa escrita. E sabe de uma coisa que realmente acho muito bonita da filosofia política e do direito? A legitimidade do poder é relacional. Ela só existe a partir do momento que eu o reconheço. A polícia só tem poder sobre mim pois eu reconheço a ela esse poder. Assim como as leis; elas só tem legitimidade, pois eu aceito a lei e a reconheço como lei. Quer saber? Eu não reconheço a lei dos direitos autorais, e portanto, a deslegitimo. Não a cumpro e continuarei não cumprindo. Somos uma rede de centenas de milhões que baixam conteúdo via internet. Direito autoral? Leia o texto de Barlow, vale a pena. Quer saber mais uma coisa? Segunda vou lá na palestra. Primeiro, por que sou dialético e sou civilizado. Tenho minhas posições, mas estou longe de ser um desses militantes com a mentalidade fechada (Deus me livre de me tornar isso, algum dia). Gosto de ouvir o outro lado. E, depois disso (caso não me convença), quero encher muito o saco dos caras, com muitas perguntas e colocações incomodas e impertinentes. Hahaha.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Depois do primeiro, vem o segundo

Lembro que em dezembro último fiquei eufórico quando soube que minha proposta de artigo havia sido aceita para o Consad. Era meu primeiro artigo publicado. Foi uma experiencia e tanto. Mês passado, abriram-se as inscrições para o Intercom Sul, etapa regional do Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 
Diferentemente do Consad, já tinha que enviar o artigo pronto, completo, não apenas o resumo/proposta (para ser concebido depois). Felizmente, o número de páginas requerido era bem menor, menos da metade do artigo final do Consad. Igualmente ao que fiz no Consad, me decidi no último dia. O prazo era uma segunda-feira, me lembro. No sábado, resgatei nos arquivos bagunçados do ano passado o artigo que havia feito como trabaho final para a disciplina de Análise do Discurso. Mudei algumas coisas, obviamente. Retirei partes, acrescentei outras. Para se adequar melhor. Mais questão de forma. Nada radicalmente diferente. Dediquei o sábado e domingo a isso. Madrugada de domingo para segunda, com um dia de antecedência (veja que cedo! hehee) enviei. Será que isso tem alguma influência na escolha dos jurados? Os que chegam por último são considerados mais? Ou será apenas coincidencia/devaneio de minha parte? Seja como for, já está virando tradição: mando no último dia. Mandei. Ontem, conferi o resultado. Não é que realmente me surpreendo com um aviso de "Aceito"?! 
Me lembro de quando meu primeiro artigo foi aceito no Consad, eu contei, todo feliz, para a Valéria. Ela me disse "Agora tem que publicar nos anais de comunicação, né?" Segui seu precioso conselho. Está aí, Valéria. Meu segundo artigo, desta vez na área de comunicação. Estou muito, muito feliz com isso. Em maio, no Intercom Sul, apresentarei meu segundo artigo. Estou muito satisfeito. 
Me lembro de outra coisa. Minha mãe, na ocasião do Consad, me presenteou com um cartão de parabéns. (parenteses: adoro cartões. adoro colecionar cartões. fecha parenteses) No cartão, dizia em certo momento entre outras coisas que aquele era só o primeiro de muitos artigos que ainda viriam. Aquilo me remeteu a uma série de dizeres (ou discursos, para usar a linguagem de A.D.). Sabe aquela historia que se conta do autor de um livro só? Intimamente aquilo me remeteu um pouco ao temor de ser autor de um artigo só. Mas não mais. Pelo menos de dois já. Hehee. 
E o fato de ter sido em áreas diferentes (um em gestão pública, outro em comunicação) desmancha parte do receio que tinha (e ainda tenho em certa medida) de não ter sido justamente escolhido, pois eu mesmo considero a qualidade não suficiente, etc e etc. Mas parace que os avaliadores discordam de mim, né? Que continuem discordando.
Agora, para o próximo, pensar em vôos mais altos. Quem sabe o que pode vir no dia de amanhã.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Dica Musical do Dia

A música realmente faz bem. Fazia tempo que não ouvia nada. Hoje, resolvi ouvir alguma coisa. Meu humor melhorou bastante. Talvez seja só um desvio, uma ludibriação da realidade, mas é bom. Interessante isso, não? A música afeta o humor, alivia tensões e (podemos dizer, como consequencia) mantém o individuo "controlado", aceitável. Estaria a música a serviço da estrutura posta, o capital? Agora (nesse exato momento) que pensei isso. Interessante qualquer dia procurar se já existe algum estudo psicológico sobre os efeitos da música para o controle social. Enquanto isso, o verdadeiro motivo desse post: fica a dica musical do dia, tocando agora. Amo essa música.

O Mensageiro - Mutantes

Toda essa confusão que quebra sua cabeça
A vida pela frente e tanta indecisão
Pra onde você vai?
Como é que é ser você?

Andando nua pelo fio da navalha
E eu te vejo do outro lado do espelho
Enquanto se despe
Da sua solidão

Pra onde é que você vai?
Aonde é que se esconde?
Qual a resposta pra pergunta nesse seu olhar?
Qualquer que seja, ali vai me encontrar

Eu sou o mensageiro
Eu trago o Sol nas mãos
Eu sou como o vento
Que te acorda do seu sonho sem cor
No arco-íris de amanhã

Sei seus segredos
Dos seus desejos, dos seus medos sorrio
Eu sou o corvo negro
Sonho o teu sonho
No arco-íris de amanha.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Incômodos

Sabe uma coisa que me incomoda? Bem, na verdade, muitas coisas tem me incomodado ultimamente. Mas tem algumas que me incomodam mais. Ausencia de antitese é uma delas. Há dois anos somos bombardeados por apenas um lado da questão. Não há antitese. Ausencia de mudança de estado é outra. Acho que é isso que caracteriza o verdadeiro processo universitário, transformador. Ou como Piaget falava, a formação de estruturas cognitivas atualizáveis. As pessoas esquecem o que já foi visto, como se nunca tivesse estudado aquilo, e continuam com o mesmo pensamento do primeiro dia de aula. Isso é triste. Vejo alguns amigos meus e a mudança, a transformação do pensamento. Sem querer ser pretencioso, em mim também. Mas em outras pessoas não. Me irrita. Uma última coisa que me incomoda é o nivelamento por baixo, o ensino baseado no senso comum. O aluno pode se basear no senso comum para trazer o abstrato para sua vida, não o professor. Já vi mais filmes na Litoral do que na aula de linguagem visual, onde é mais do que pertinente passar filmes. Enfim, só mais alguns resmungos. Um dia ainda escrevo algo mais profundo. Por hoje, basta.  

terça-feira, 13 de abril de 2010

Mudanças Sutis

Algumas mudanças, no dia a dia. Sutis, mas assim ocorrem os processos verdadeiros, não forçados, organicamente. 
Finalmente começei a acadêmia, que, literalmente, já vinha postergando a idéia/desejo há tempos. Faz duas semanas. E meia. É importante o "meia" em um processo como esse. Mas por enquanto, nenhuma mudança drástica. Isso vem com o tempo. Estou indo 3 vezes por semana, por enquanto.
Outra mudança, finalmente começei a "trabalhar" no trabalho que já tinha, a bolsa da federal. Agora tenho tarefas a fazer. E mais legal é que tem a ver com comunicação. Fazer clipping de determinadas noticias e análise do conteúdo delas. Parece que vou apredner mais coisas ainda. Bacana.
Outra coisa que está de mudança é o autor desse blog. Calma. Continuo sendo eu. No entanto, um comentário piadistico do Carlos num post, já devidamente censurado (isso não é uma democracia) dizia: "aí, amiguinho, gostei muito desse caderno de confidencias virtual" (algo assim). Isso me alertou para as intenções desse blog. De fato, é um pouco isso, com meus eventuais resmungos. E qual o problema? O único problema é o da autoria, uma vez que estou falando pessoalidades com nome e sobrenome, institucionalmente falando. Passo a assinar somente "Márcio". Mais pessoal. Mais adequado.
Só é uma pena que essa mudança vá se aplicar também às postagens antigas, anteriores. Não gosto de alterar a história. E até onde sei, não há outro modo de fazê-lo. Mas tudo bem. Talvez, no futuro, mude novamente de idéia, de assinatura, e esse mesmo post seja assinado de outra forma, o que tornará meio estranho isso que escrevo nesse momento. Mas tudo bem.
Sigamos em frente.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

O eu e o nós

Nas aulas de TCC I frisou-se bastante sobre o uso do eu, do nós, e do verbo impessoal. A Angela, professora da matéria, disse ser inadequado o uso do "eu", pois quem fez o trabalho não foi só você; você não criou aquilo tudo. Concordo em parte, apenas. Não criei, mas reinterpretei. Dei minha contribuição. Por eu ser dialético e tender à antitese, me opus ao que ela disse. Curioso que realmente tenho essa tendência à antitese. Discordo até do que concordo, pois acho que a discordância e a critica contribui para o aperfeiçoamento. "Você também vai morrer", sussurava o servo ao ouvido do rei, depois de suas mais gloriosas vitórias, para lembrar-lhe que também é mortal e pertence a esse mundo. Ainda que seja grande, é pequeno. Gosto disso. Voltando ao TCC. Discordei sobre o "eu". Ela deu uma resposta qualquer, tipo "ronaldo", diria a Sissa. (nota para o futuro: essa é uma gíria usada nesses dias, símilar à expressão "próximo", para desígnar algo no sentido de "não estou nem aí"). Nunca gostei desse uso do eu. Mas sinceramente tenho repensado sobre isso. Não digo no TCC, pois há orientador e tudo o mais, ou seja, realmente mais de uma pessoa. Mas...
Outro dia estava lendo o texto de um sujeito chamado Duarte (não sei seu primeiro nome), para psicologia da educação. Ele escreveu o livro, não há mais ninguem. Ele defende uma nova abordagem, uma nova perspectiva, ou seja, é ele, de fato, que ali está (não simplesmente uma revisão de algo dito). Mas insiste no uso do "nós". Tento olhar ao redor e não vejo mais ninguem além dele. É irritante ao máximo. Já há tempos simplesmente detesto esse uso do nós. Penso que é usado para tentar conferir coletividade e aceitação a algo que é pessoal. Na política, se usa muito. "Nós vamos ganhar essa eleição". É uma tática de linguagem mais que justificável na política. Não na academia. Quando se faz um trabalho em equipe, então sim, o nós é adequado. Do contrário, realmente desgosto. 
Então surgue o "eu", que a Angela tanto despreza. No entanto, todos os textos de psicologia da comunicação que lemos até agora, Freud, Le Bon, e outros, o autor usa o "eu". É engraçado ver esses autores, mesmo fazendo pesquisas em grupo, se baseando em outros autores (desculpa que a Angela deu para o não-uso do "eu"), eles não se furtam em dizer "eu penso", "eu desenvolvo a tese" e por aí vai. De fato, é o autor quem pensa. Parece um pouco arrogante, é verdade. Mas quem é grande ou se quer grande, não tem como não deixar de lado um pouco de arrogancia. Mesmo rumando contra a maré, tenho gostado desse uso. 
O que não gosto, definitivamente, é desse mesmo uso do "eu" na vida real. Não vejo problemas gigantescos em usar o "eu" em um trabalho academico, mas não suporto pessoas, egocentricas, que começam a falar de "eu, eu, e eu", e não param mais. Simplesmente odeio. O uso do "eu" na vida real, isso sim, acho problemático. Pessoas que chegam para outras e, antes de serem perguntadas, já começam a falar que "eu fiz isso e aquilo". Acho arrogancia, só olhar para si mesmo. Umas semanas atrás, houve uma reunião na federal, e um amigo começou a falar como "eu pensei..  eu falei"... Idéias que, essas sim, pertenciam à coletividade, mas ditas na primeira pessoa. Penso que essa é a pior situação possível. Mas relevemos, relevemos. Há que se relativizar. Palavras de salvação da antropologia.
O terceiro uso é do impessoal. Chocho, sem sal. É a saída mais usada, pois não desagrada a ninguem. Eu mesmo, gosto de usar. Acho que sim, tem sua validade. Na vida real, não dá. Na academia, é uma boa saída.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Sobre mediocridade

Cada vez mais tenho considerado meus professores ruins, muito ruins. Há três hipóteses para explicar isso. A primeira é que eu estou cada vez mais de mau humor. Isso até ocorre um dia ou outro (bem frequente, ultimamente), mas a impossibilidade disso ocorrer em modo permanente depõe contra essa tese. A segunda é que estou cada vez mais exigente. Pode até ser, em certo áspecto, mas também não se efetiva completamente pois também reconheço as grandes qualidades de alguns poucos professores. A terceira hipótese, e mais plausível, é que sim, há um esforço coletivo em direção à mediocridade. Cada vez mais meus professores são terríveis. 
Terças-feiras, a professora de gestão de finanças adora não dar aulas. Já perdi a conta de quantas aulas ela não deu. Ou inventa artificios. Outro dia, passou um filme, que nada a ver tinha com o tema. "A gente não pode ficar com a mentalidade só focada numa coisa, senão perde a perspectiva", foi algo assim o que ela disse, para se justificar. Achei um absurdo completo. Total.  Ridículo. Fosse uma aula que eu gostasse, reclamaria sem dúvida. Gritaria. Como não gosto, por mim tudo bem. Azar de quem gosta (e há quem goste!) e não reclama. Essa é uma das piores professoras que já conheci. Um dia, não deu aula, sei lá por quê, e, para não ficarmos ao léu, nos enviou para ver uma aula de um outro professor, junto com a turma de calouros. Ridiculo, não? Esse outro professor até é bom. Conversando com ele no corredor, ele faz muitas referências, e realmente mostra domínio sobre o conteúdo. Mas nessa aula, ao menos...  poxa, que coisa! O sujeito conseguiu dar quatro aulas seguidas sobre burocracia, expôr toda a história da coisa, seu surguimento e desenvolvimento na China, a etapa européia e tudo o mais, sem citar o nome de Weber. Mostrou toda a coisa (que já tinhamos tido um ano antes. Por que estavamos ali mesmo?), como se fosse uma verdade absoluta, trazida dos céus, e não uma teoria elaborada por um sujeito chamado Weber. Simplesmente odeio omissão de fontes. Odeio quando não citam o autor.
Segunda-feira, tem aula de editoração gráfica, na UTF. É uma das piores professoras que já conheci. E nem é pelo seu jeito, por que é bem simpática e tudo o mais. Mas essas talvez sejam as piores, pois enganam... E não estou falando por causa da piada interna que se construiu entre nosso grupo masculino de amigos de que ela não tem alma. Falo por que ela não sabe ensinar e não gosta de ensinar. Um dia, no fim da aula, sobraram uns poucos alunos e iamos conversando, enquanto cada um arrumava suas coisas. Expôs ela muito de seu pensamento naquele dia e revelou por que é uma professora tão ruim. Disse que considera essa disciplina secundária em nosso curso, e que devia ser optativa. Disse "você sabe topografia? sabe (isso e aquilo, uns exemplos idiotas de design)? Então como posso te cobrar alguma coisa?!" O que se revelou foi um sentimento de corporativismo como raras vezes vi na vida (e olha que acompanho de perto as noticias dos bastidores do judiciário!). Havia contado de minha entrevista no Ministério Público e que o rapaz lá elogiou justamente eu ter editoração no curriculo, como ponto extra. Ela ficou irritada, com ciumes, eu diria, como se dissesse "vocês não são nem podem ser designers, por que não fazem esse curso". Tive vontade de lhe responder que desing não é ciencia e qualquer idiota faz. E é verdade. Não se faz medicina ou engenharia sem estudo e fundamentação, assim como também não se faz sociologia sem isso (ela é só isso, se você notar bem...  hahaa). Mas mesmo a comunicação, não requer fundamentação para ser feita, assim como o desing. Todas as teorias que tivemos de comunicação serviram sim, e ajudam, como um lastro para a prática, mas alguém que nunca ouviu falar de Kunsh, Teobaldo, Adorno, Habermas, Barbero e tantos outros pode eventualmente fazer comunicação muito melhor. Assim como saber topografia (ou era tipografia? algo assim) é um lastro que ajuda, mas alguém criativo pode fazer design muito melhor do quem sabe isso, sem nunca sequer ter ouvido falar nisso. Se tivessemos uma professora interessada em ensinar, né? Mas não temos... Sabe aquele tipo de pessoa que é dona do conteúdo? Então... Hoje (ontem, dependendo do ponto de vista) ela diz algo assim "em questão gráfica, eu não posso avaliar vocês, pois vocês não têm esse domínio". Porra, se você não vai avaliar em questão gráfica vai avaliar em quê? Nós não temos o domínio por que você não ensina. Se ensinasse, talvez tivessemos. É seu dever ensinar e cobrar que tenhamos esse domínio. Mas ela é pretenciosa e corporativista e acha que só se pode fazer design os que cursam design. É como se o Zama dissesse que não pode nos avaliar em relação à psicologia pois nós não somos psicólogos. Pô, justamente por isso temos uma matéria de psicologia, para aprender o essencial dessa área à comunicação, senão não precisariamos dela. Fossemos designers não precisariamos disso também, mas ao contrário, ela não ensina o essencial de sua área à nós. O Zama (na verdade, os autores que o Zama trás) analisa isso muito bem, em Psicologia da Educação, disciplina extra-curricular que estou fazendo nas terdes de sexta junto com a turma de letras, por puro gosto (como se tivesse pouco o que fazer). Disse ele, certo dia, que o professor tem que ter tesão em dar aula. Se não tiver isso, não tem nada. Não há nada pior do que um professor sem tesão em dar aulas. Isso se nota claramente nessa professora de editoração. Além de não ter alma, ela também não tem tesão.
Mas como disse lá no começo do texto, também reconheço algumas honrosas e gratificantes exceções. O Zama é uma delas. Como é um elogio, posso citá-lo. Omiti os nomes dos professores criticados para respeitar essa pseudo-ética vigente. Discordo metodológicamente em alguns pontos do Zama, como na compartimentalização do conteúdo: se estamos estudando Freud, é Freud, nada de citar Weber. Penso que é justamente quando você consegue fazer essa ponte, confrontando autores, conectando onde se contrapoem e onde se completam, que você realmente mostra domínio sobre o conteúdo. Mas isso é de ordem metodológica. As aulas dele são extraordinárias. Raras vezes vi alguém tão bom. Há professores (muitos) que fazem a aula sobre o nada, alicerçado no nada, apenas explanam, expositivamente, como se estivessem ensinando verdades absolutas (não teorias e teses de autores) para o ensino médio, e há outros (como um, semestre passado) que simplesmente pegam um livro e vão trabalhá-lo inteiro durante o semestre, sem discernir o que é ou não importante. O Zama dá os textos, originais dos autores, não comentadores, longos, densos e gigantescos, e nas aulas vai selecionando trechos e explicando o mais importante. Ou seja, ele dá uma aula de resumo, como os outros fazem, mas sobre algo palpável (a Valéria tem metodologia semelhante, e é igualmente boa professora). Uma coisa que me admirei, que não consigo conceber nenhum outro professor que tivesse esse preciosismo, foi certo dia em que, numa aula sobre Freud, ele dividiu o quadro no meio, para deixar claro o que era a tese do autor ("isso pertence ao campo da psicologia"), e o que era sua interpretação do autor. Praticamente todos professores que conheço provavelmente se deixariam contaminar por sua interpretação e a ensinariam. Mas o Zama, mesmo num curso de tecnologia (voltado ao mercado, não à academia) mostra uma preocupação com o saber, para que os alunos não confundam o autor e a interpretação do autor. Foi uma coisa bonita como raras vezes vi na vida.
Há muita mediocridade, mas também há coisa boa. Pouca, mas que vale por muita.

domingo, 4 de abril de 2010

Idéias avançadas e tardias

Já decidi meu TCC, e agora é "tarde" para voltar atrás. Tarde mesmo, não é, mas gosto do meu tema. É um tema bom. Farei mesmo sobre o blog da Petrobras. Mas tenho pensado esses dias sobre uma outra coisa, que nem sei por que tem me vindo à mente. Tenho um título, que já fala por si só: "Sábias lições: contribuições do nazi-fascismo à teoria e à pratica da comunicação". Creio que já escrevi sobre isso, num post em que cito Goebbels (intitulado "quem disse"), sobre como não gosto que, só pelo sujeito como ser humano ter sido um monstro (e de fato era) jogar no lixo como se também fosse monstruosidade tudo que ele disse e defendeu pela vida. Creio que o nazi-fascismo, em Goebbels e em Hitler, tenham dado valorosas contribuições ao processo da comunicação. Por incrivel que pareça, apesar da vastissima super-produção que já ocorreu sobre quase tudo que diz respeito à esse período histórico, até onde eu sei, não há uma produção que faça o resgate e o elogio à essa contribuição. O meu trabalho seria um resgate, em tom elogioso, das idéias comunicativas do nazismo. Por que críticas, até há, não precisamos repisá-las. Mas ninguem nunca reconheceu a genialidade que também há. É inacreditável. Mas sabe, mesmo que tivesse me ocorrido isso antes, creio que não faria. Mesmo eu, não sou forte o bastante para rumar contra a corrente. Não sei se teria "coragem" para produzir uma obra elogiosa ao nazismo. Ainda que tivesse, nunca, jamais, seria referendada e aceita pela sociedade e pela comunidade academica, que se acha muito avançada, mas tem a mentalidade pequena, restrita por sua época. Gente pequena, de mente pequena. Essa é a definição de nossa comunidade acadêmica, ilustrada na figura que prefiro não citar mas que comanda os trabalhos de conclusão de curso na universidade tecnológica. Se acha grande coisa, se acha progressita; é pequena, com mente pequena. Não aceitaria um trabalho à frente de seu tempo. Gente pequena, que atravanca o avançar do pensamento. Não sei se serei eu, provavelmente não, mas algum dia alguém ainda irá produzir um material assim e se colocar à frente de nosso tempo. Um dia. Até lá, senhores.

sábado, 3 de abril de 2010

Significações

É vespera de páscoa (existe esse termo?). Bem, é sábado. Ontem foi sexta-feira santa. Amanhã é páscoa. De um tempo para cá, essas datas festivas, representativas, perderam seu significado para mim. Explico. No passado, comemorava essas datas, como verdadeiramente representativas. Do ano passado para cá, essas datas não me tocam mais. Continuo acreditando nelas, em seu significado maior, em Deus, da mesma forma. Mas a data em si, do Natal, da Páscoa, e mesmo de outras comemorações, como aniversários... Parece não suscitar mais um espírito de comemoração, de celebração, como eu sentia, no passado. Não sei explicar o por que disso. Enfim...

quinta-feira, 1 de abril de 2010

O Paciente 67

Por esses dias assisti “Ilha do Medo”, novo filme do Scorsese. Se você ainda não viu, pretende ver e não quer ter a surpresa estragada, pare de ler por aqui. Esse texto contém spoilers, ou seja, informações e comentários sobre elementos importantes da trama e sobre seu final. Não teria graça fazer um comentário sem isso, uma vez que não estou escrevendo uma critica isenta para um veiculo jornalístico. Se um dia estiver nessa posição, o farei muito bem, mas não é esta a intenção hoje. Aviso dado, lá vamos nós.
O filme é excelente. Me reconciliei com Scorsese, que havia passado a odiar depois da merda (pela qual ganhou um injusto Oscar) de Os Infiltrados. Ilha do Medo; o título em português é muito ruim. O original, Shutter Island, ou Ilha Shutter, é bem melhor. Mas ainda melhor, excelente mesmo, é o título do livro no qual o filme se baseou: “Paciente 67”. Parece picuinha com o título, mas às vezes ele revela e significa muito de sua trama. O filme, ao mesmo tempo, consegue surpreender em sua seqüência lógica, ao mesmo tempo que não se dá a invencionices. Vou explicar. Mas explicar em termos diretos.
O filme tem duas linhas, digamos assim. Começa com o DiCaprio como o detetive que vai investigar a ilha. Aos poucos, vai se inserindo a idéia do paciente 67, de que ele (DiCaprio) deveria fugir, de que ele foi atraido à ilha, de que ele pode ser ali aprisionado. Lá pelo fim do meio e começo do final (depois ainda tem um bom tempo de filme, uma meia hora), é revelado (ou inserido a hipótese) que ele na verdade é um paciente, não um detetive. Ok. Um filme que quisesse "inventar" procuraria uma nova revelação no final, de que ele era sim o detetive ou algo assim. Ele não "inventa". Não precisa inventar. E isso é genial. No fim, o que é é justamente o que já estava sendo sugerido desde o inicio, o filme não tenta "enganar" o público. O que o próprio título do livro já sugere. O que mesmo no trailer já passava a idéia. Ele é o paciente 67. Genial. 
Outro ponto que também gostei foi o final. Ele deixa a coisa meio que em aberto, apesar de apontar para uma solução. Depois de "assumir" ser o paciente 67, parece que lembrou sua identidade, e é isso. Na última cena, no diálogo final, ao lado de seu parceiro/médico, fala novamente como se fosse o detetive. Indica que a assunção de ser o paciente era fingida. Ele caminha para a lobotomia, e sua ultima frase é: "é melhor morrer como um homem bom do que viver como um monstro". O que se entende? Ele sim, era o paciente, e enquanto paciente, fingiu que achava que era o detetive, para ser morto, mas morrer, como um homem bom (o detetive) a viver com a consciencia de sua monstruosidade (o paciente). Isso foi o que entendi. É minha interpretação.
Gostei, pela interpretação que fiz, pelo resultado final, e pelo caminho percorrido naturalmente até chegar nesse resultado, natural e não forçado, como se vê em muitos suspenses. Gostei. Recomendo.