segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O Twitter

Ultimamente, tenho usado muito o twitter. Bem mais que antigamente, no começo. Aderi realmente a isso. É interessante usá-lo (também) como o que é em sua definição, ou seja, um micro-blog. Por vezes, comentários que não renderiam um post aqui, no blog, faço e registro no micro-blog. O twitter também tem outras funções e usos, além desse, claro. Mas o que penso a respeito do twitter não mudou, essencialmente, desde antes de começar a usá-lo. E o que penso a respeito? Um artigo que beira a perfeição sintetiza muito bem isso. Considero uma primorosa análise do que é o twitter. Não costumo aqui, nesse espaço, reproduzir conteúdo. Prezo pela quase exclusividade da produção própria, mas esse merece, pois eu concordo plenamente com ele. Foi escrito num contexto específico que envolvia Aloizio Mercadante e uma crítica ao PT e é necessário ao leitor entender esse contexto, ou, se não entender, relevá-lo, pois não é o principal, a essência da mensagem. Fica a pergunta, para o eventual leitor: o que você acha do twitter? Abaixo, o que é o twitter. Vale a pena ler.


*****

Por que o Twitter é de direita
Mauro Carrara

Raras vezes o revés se exibiu tão instrutivo. E o senador Mercadante, do partido mudo, merece gratidão por nos oferecer incrível lição de como torrar a própria imagem diante da opinião pública.
Depois da tarde das garrafadas invisíveis, em que a bancada do partido mudo quis converter-se em madame girondina, Mercadante utilizou-se do microblog Twitter para anunciar, em caráter irrevogável, sua renúncia à liderança do PM na Câmara Alta.
O sol deitou, voltou, deitou e Mercadante resolveu pisar atrás, anunciando, pelo mesmo Twitter, sua desistência de desistir.
E uma onda de indignação hipócrita e seletiva passou como tsunami sobre a praia governista. Foram muitas as vítimas. Estava posta a carniça aos abutres. Folha de S. Paulo e Estadão, por exemplo, lambuzaram-se das tripas do bigodudo parlamentar.
Do episódio neodantesco, ficaram três lições: 1) O partido mudo não sabe o que é o Twitter; 2) Os parlamentares do partido mudo utilizam essa e outras ferramentas de maneira imprópria e irresponsável; 3) A  direita nada de braçada nessa lagoa da comunicação interativa.
Deu pena do incauto Mercadante. O tal perfil da Juventude do DEM, a mesma que utilizou o Twitter para engrossar o coro de “Fora Sarney”, divertiu-se à vontade em cantigas de maldizer, levantando hordas de playboys para espezinhar o pobre líder mudista.

O meio é a mensagem
Assisti a uma palestra de Marshall McLuhan há uns 5 mil anos, na Universidade de Wisconsin, numa época em que meu Inglês não era lá essas coisas.
Mas peguei o básico, sem grandes problemas.
Neste momento, vem à memória o trecho da preleção em que o canadense falava sobre sua teoria de que “o meio é a mensagem”, conceito que na época eu não compreendia muito bem, e continuei sem compreender.
Agora, contudo, tudo faz muito sentido.
Mercadante e o partido mudo nem desconfiam do impacto sensorial das novas mídias. Presos à ideologia e ao conteudismo, não percebem que os meios de comunicação se constituem em extensões humanas, nas tais  próteses técnicas capazes de determinar padrões de comportamento e reconstruir discursos.
O Twitter é exemplo claro da importância do meio na conformação da conduta do usuário.
Mais do que o Orkut, por exemplo, que é sucesso entre os brasileiros de todas as classes sociais, o Twitter tem em sua engenharia interna a inspiração do modelo personalista.
Serve, portanto, de modo perfeito, à construção de púlpitos para gurus. É da pessoa e não do tema, estabelece uma hierarquização no tráfego de informação e copia os modelos verticais de gestão corporativa.
O Orkut, por exemplo, é campo aberto de batalha e debate. Ali, os famosos e poderosos têm medo de se expor. Equivale a se apresentarem no meio da multidão, em praça pública.
Por conta das características do meio orkutiano, as pequenas legiões leonídeas da esquerda organizada destroçam facilmente as gordas falanges do mainardismo virtual.
O Twitter, ao contrário, enfatiza o emissor e exclui o intercâmbio dinâmico de ideias. Não há corpo a corpo e, por conta das condições do campo de batalha, a quantidade pode vencer a qualidade.
Vale dizer que o Twitter funciona no campo da comunicação declaratória. Não trabalha com base na argumentação e na exposição racional do pensamento.
No Twitter, as personalidades têm o que o sistema chama de “seguidores”, característica que fortalece um padrão de falsa interação.

Um tema dromológico
Cada tweet (mensagem) tem que se limitar a 140 caracteres. Assim é a coisa.
É fácil pedir “Fora Sarney” nessa tecladas mínimas. Mas é difícil explicar que o presidente do Senado está por aí há 45 anos, que a bronca tucana é oportunista, que Arthur Virgílio é um bandalho e que o movimento midiático faz parte de um projeto de desestabilização do governo Lula.
O Twitter é ótimo para gritar e exigir cabeças. É péssima ferramenta para qualquer advogado.
Curiosamente, o Twitter no Brasil é utilizado majoritariamente por homens paulistas e cariocas, na faixa de 20 a 30 anos, a maior parte deles com ensino superior. A agência Bullet, que coletou os dados, mostra que 60% dos twitteiros são considerados formadores de opinião.
No total, 51% dos usuários valorizam os tais perfis corporativos.
Cabe destacar que o Twittter se casa perfeitamente com o modelo de comunicação veloz da juventude. É um SMS da Internet.
A informação é rala e muitas vezes codificada. O importante é estar “em contato”, integrado, saber um pouco, talvez quase nada, mas de muitos. Também é preciso mostrar-se vivo, disparando a mensagem, mesmo que irrefletida.
O Twitter faz parte do arsenal das bombas informáticas, às quais faz referência o filósofo Paul Virílio, pessimista mas sabido.
Como instrumento de controle e alienação, a ferramenta já se converteu em arma poderosa do que se convencionou chamar de “direita”, considerado aí o termo conforme a brilhante conceituação de Norberto Bobbio.
Em seus estudos, Virílio alerta para a supervalorização da velocidade na sociedade tecnológica contemporânea. Segundo ele, perdemos o valor mediador da ação em benefício da interação imediata.
O pensador, que bem avaliou os elementos simbólicos da guerra, afirma que a velocidade divinizada reduz drasticamente o poder de atuação racional e estabelece uma conduta de reação, muitas vezes automatizada.
Por isso, o Twitter tem menos interesse no pensamento estruturado que no jogo rápido das reações. Assim, vem sendo utilizado com sucesso no fortalecimento de marcas, agregando “seguidores” por categorias definidas pelos profissionais de marketing.
Razões éticas ou morais podem afastar as esquerdas do Twitter. A esquerda não se contenta (e não sabe se contentar) com 140 caracteres e historicamente não tem gosto pela velocidade.
Os esquerdistas de raiz libertária, em especial, valorizam a dialética e a comunicação multidirecional, em que a igualdade de direitos faz emissores e receptores trocarem de lugar a cada passo da valsa.
O partido mudo e alguns setores decrépitos da esquerda são casos à parte. Praticam, há tempos, certo neoludismo fanático e tolo. Noutras ocasiões, a inépcia marca o uso das novas armas-meio.
Como já estive por aqueles lados, posso assegurar que os vietnamitas não se valeram apenas de zarabatanas e armadilhas de caça para vencer a maior potência bélica do mundo.
O Twitter é de direita, hoje. Mas não precisa ser para sempre.


domingo, 5 de setembro de 2010

Prisão perpétua: ignorância ou má-fé

Ontem, assistindo ao horário eleitoral, vejo um sujeito chamado Delegado Braddock. Em seus rápidos segundos de televisão, diz defender a prisão perpétua para traficantes, pois são eles o mal da sociedade, que geram outros crimes, blábláblá. Lembrei-me de algumas das aulas de ciência política. Na Constituição Federal, existem certas cláusulas que são chamadas cláusulas pétreas. Pétrea, em latim, significa "de pedra". As cláusulas pétreas da Constituição não podem ser objeto de deliberação, ou seja, não podem ser modificadas sob nenhuma circunstância, nem se houver unanimidade do Congresso Nacional. As cláusulas pétreas só podem ser modificadas com outra Constituição, que por sua vez, só pode ser feita em momentos de ruptura institucional, tal qual uma revolução. Uma das cláusulas pétreas da nossa Constituição, é a que diz respeito à prisão. Vale citar:


Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XLVII - não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;

O item b, do inciso citado, deixa isso muito claro, não? Não se trata se gostar ou não, de achar que poderia ser bom ou não. O pessoal em 1988 fez assim, e não pode ser modificado, jamais. Ponto. Pelo menos até que ocorra uma revolução, um golpe, ou algo do gênero. Simples. Então pergunto-me: o que é um sujeito que defende algo que não pode ser feito? Ele exala um discurso de legalidade (defendendo leis contra criminosos, e até mesmo no "delegado" de seu nome), logo, não está defendendo um golpe ou uma revolução. Ou se trata de ignorância ou de má-fé. Em nenhuma das duas hipóteses, merece um voto sequer. Ou é um ignorante que não sabe o que fala ou quer iludir o eleitor para roubar votos daqueles que acreditem nele.
Então me surge um questionamento. Se nós, dentro da academia, muitas vezes não temos conhecimento de coisas assim, é evidente que o espectro geral da população também não sabe. E isso não é demérito. Eles não têm nenhuma obrigação em sabê-lo. A questão é: uma vez que é bem evidente que o referido sujeito prega uma mentira irrealizável (diz que irá defender essa proposta, mas ela não pode ser defendida), não deveria o Estado tutelar essas questões, para o bem do povo, impedindo que o mesmo seja enganado? Para mim, o Estado deveria impedir que se dissessem mentiras tais como essa, que podem levar o eleitor a erro. O Estado deve cuidar de seus cidadãos, inclusive em questões como essa.

Em tempo: para fundamentar minha escrita, fui pesquisar sobre o item constitucional que trata sobre a prisão. Encontrei um artigo que trata sobre a inconstitucionalidade da proposta de prisão perpétua. Vale ser lido, aqui.

sábado, 4 de setembro de 2010

Um pouco de ego (Ou: pessoas que falam de si)

Acho que de vez em quando um pouco de ego é bom e não faz mal algum. Alguns colegas já disseram que sou arrogante. Não acho que seja verdade, mas muitos acham. Uma vez ouvi um conselho que pregava: diga “tá, sou sim, e daí?”. Dizia este conselho que quem fala sobre arrogância é por que não tem outros argumentos. Ser ou não arrogante é uma questão subjetiva e, portanto, não poderá nunca ser comprovada nem negada; para quem te acha arrogante, nada há a fazer, o melhor é se assumir como tal e perguntar: que outros argumentos você tem? Acho essa tática muito boa para o debate político ou intelectual-acadêmico (contexto em que foi enunciado), mas nas relações pessoais as coisas funcionam de maneira diferente. Mas não é esse o tema de hoje. Geralmente não faço isso, hoje quero falar de mim e massagear meu ego. Ainda mais arrogante do que você já é, Márcio? Pois é. Embora passe essa imagem, por não ter problemas em assumir naquilo em que sou bom, sou humilde. Cristianamente humilde. Realmente creio na humildade cristã, como um dos fundamentos da fé, e a pratico, melhor do que muitos. Mas vejo a arrogância todo dia, nas pessoas. As pessoas que falam de si. Este é o tema de hoje. Em parte, talvez, seja por minhas dificuldades na construção de relacionamentos, mas não costumo falar sobre mim. Tenho exercitado isso, tentado falar mais, mas ainda não consigo, do nada, começar a contar algo a respeito de mim para exemplificar daquilo que se está falando. As pessoas fazem muito, muito isso. Muitas vezes não suporto. Quando vejo alguém começar a falar de si, sem parar, não consigo aguentar. Às vezes dá vontade de dizer o que considero, mas temos (e é saudável que tenhamos) posturas socialmente corretas, civilizadas. Acho arrogância o sujeito que, no meio de qualquer conversa, começa a contar de suas experiências pessoais sobre o assunto. Falar de suas opiniões, tudo bem, mas não de si. Parte-se do pressuposto que ninguém quer saber, certo? Eu exercito isso, mas não é isso que as pessoas fazem. Falando assim, até parece que não gosto de ouvir as pessoas. Isso não está correto. Não gosto de ouvir pessoas arrogantes, que falam de si para todo mundo, mas sou um ótimo ouvinte. Sou um ótimo ouvinte, e realmente gosto de escutar as pessoas, que tenham algo a dizer, para mim, não para todos. Algumas poucas pessoas podem comprovar o que digo, e não me importa se muitas não concordarão. Sou, nesse sentido, muito particularista, por assim dizer. Falo sobre mim quando as pessoas perguntam ou demonstram interesse. E por não agir como a maioria age, em suas arrogâncias, passo a imagem de ser fechado, o que também não é correto. Mas às vezes me ocorre de falar sobre mim. Quando falo, é engraçado, há sempre um movimento que se opõe a isso e me tacha com tais rótulos. Um exemplo disso foi cerca de três semanas atrás. Enviei um vídeo para o youtube, um recorte que satirizava José Serra a partir de um trocadilho dito por ele no horário eleitoral, que se tornou o mais visto do mundo por três dias, e passou da marca um milhão e meio de visualizações. (particularmente, não considero isso grande feito, mas há gente que leva isso em conta). Comentando com alguns colegas, demonstraram desinteresse em me ouvir falar. Quando falo, sou tomado por arrogante. Engraçado que posso visualizar a mesma situação com outros colegas e vejo reações diferentes. Acho que existe um certo argumentum ad homimen nisso, que pressupõe um imagem pré-concebida de que sou arrogante. Logo eu, que não sou. E ainda que fosse... Esta é uma questão interessante: em que momento formamos a imagem que vai definir e pré-conceber as futuras imagens e reações em nosso entorno? Pois sempre agimos baseado em pressupostos de imagens. Em certa medida, o argumento contra o sujeito é inevitável. Mas será que nunca podemos mudar? Bom, acho que já me perdi em algum momento desse post, que é só mais um daqueles, que não deviam ser publicados. Rsrs. Em essência, o processo de egocentrismo contemporâneo é fruto do processo de individualização da sociedade. Diálogos estão cada vez mais raros, mesmo quando duas pessoas conversam, cada um está preocupado com si, e não com o outro. Isso me incomoda. Não sou assim e tento sempre não agir assim.

Mais um post pessoal que não devia ser escrito

Minha amiga Débora aconselhou outro dia, já umas semanas, “você não deveria escrever sobre tudo que te acontece; só prejudica”. Outra questionou “o que você ganha falando mal dos outros?”. Ambas não se referiam aos posts políticos que foram tema dos escritos mais recentes, mas a outros escritos, mais antigos, em que critico algumas práticas (e) docentes. Não ganho nada falando mal dos outros, exceto o exercício, sempre embasado, de opinar. Gosto dele. Em verdade, não escrevo sobre tudo que ocorre comigo. Apenas algumas coisas que me inspiram posts, me inspiram a escrever. O tema colocado, indiretamente, é uma coisa que já questiono há algum tempo. Qual o campo e o objetivo desse blog? No Encontro de Blogueiros Progressistas, em São Paulo, sempre que passava o endereço de meu blog ia junto uma ressalva “é pessoal”. Depois que fui perceber que o “pessoal” soava como se fosse algo ruim, demeritório, tal como um caderno de confidencias. Sempre me esforcei, às vezes falhamente, para não torná-lo isso. Mas esse blog não se pretende neutro, puramente jornalístico ou político, nem apenas sobre assuntos gerais. Ultimamente têm pululado aqui esses assuntos, em virtude de uma série de fatores, como eles também fazerem parte de minha vida, mas o blog tem um autor e é sobre ele. Mas quais os limites? Também gosto de escrever, por assim dizer, textos jornalísticos. Creio que a indefinição de um público e um perfil exato para o blog pode ser tanto um aspecto negativo, que possa afastar pessoas ou não as conseguir atrair, quanto um aspecto positivo, que as possa atrair. Afinal, estou criando ou constituindo meu próprio estilo. Embora seja um caminho um tanto dúbio, no sentido de que trilho ao mesmo tempo duas estradas diferentes, creio que possa ser um caminho promissor.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Compromissos

Acho curioso ver algumas pessoas se engajando nas eleições, na luta, no eles contra nós. No estilo “vamos nos mobilizar”. Sou essencialmente um intelectual e é como intelectual que escrevo e atuo, não só na academia mas na vida. Um ser pensante. Por isso questiono a quem eu apoio. Dizem “não precisamos de fogo amigo”. Mas não acho que deva reservar as criticas somente aos adversários. Não estou lutando por um partido. Se estivesse, e por estar um dia, certamente adotaria essa posição discursiva. Não é o caso. Meu único compromisso é com o que penso.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Sobre questões estaduais

Há muito venho enrolando para escrever sobre isso. O que escreverei a seguir, ainda assim, é provisório. Já disse, e costumo repetir: embora seja simpatizante não filiado ao PT, não tenho compromissos ideológicos com o erro. Meu único compromisso é com minha consciência, com o que julgo correto e coerente. Por isso muitas vezes é difícil decidir meu voto. Não sigo simplesmente o partido, pois este também pode errar. No Paraná, a eleição para o governo do estado é ainda mais complexa. Beto Richa é tucano e favorito nas pesquisas. Seu oponente é Osmar Dias, do PDT, apoiado pelo PT/Lula e Requião (que, para quem não sabe, amo). Os demais, nanicos, não têm qualquer relevância. Na teoria, parece simples, mas não é. As relações, por aqui, são mais do que promíscuas.
Osmar hoje apoiado por Lula e Requião é um adversário histórico de ambos. Nas últimas eleições, de 2006, teceu ferrenhas críticas a ambos. Foi além da crítica construtiva e ideológica; eram inimigos. Osmar também é irmão do tucano Álvaro Dias, que dispensa apresentações: é um dos piores crápulas que conheço, que pauta suas ações unicamente por interesses escusos e pessoais, e não pelo bem comum (sim, ainda acredito no bem comum). Não faz a oposição responsável, que, utopicamente, ainda acredito ser possível. Penso que é necessário coerência nas alianças. Não critico alianças que a maioria da "opinião pública" critica, por exemplo, entre Lula e Collor. Entre quando Lula e Collor eram adversários e depois aliados, mudou-se completamente a configuração do cenário. Mudou-se o pensamento, de ambos. Mudou o mundo. É justificável. Mas não seria justificável, por exemplo, uma aliança, hoje, entre Lula e Álvaro Dias, por exemplo. Não existe justificativa para isso. Sei que política tem que ser pragmática, tem que ter alianças, por interesses comuns. Mas algumas são por demais espúrias.
Embora goste de Lula e goste de Requião, não preciso seguir cegamente suas supostas recomendações. Eram inimigos, não eram? Me lembro, ainda hoje, dos humores exaltados de 2006. Não deixarei de gostar de Lula e Requião. Mas sei que em Osmar não votarei. Não voto em Osmar pois acho que um suposto projeto em comum que possam ter estabelecido não é maior do que a história do que se passou. E entre 2006 e hoje não houve uma reconfiguração de cenário que justificaria a mudança de opiniões. Em 2006, Lula já era Lula, o ícone, o grande. E Osmar o criticava. Estarem ambos juntos, hoje, é querer negar o passado recente e dizer para o esquecermos. Não dizem que o povo brasileiro não tem memória? Bom, eu tenho memória. E cobro coerência. Por isso não voto em Osmar. Por isso, e por outras questões. Quais? Dois argumentos, de passagem. Primeiro, Osmar é muito ligado ao setor ruralista; defende interesses de classe muito específicos, que, penso, são legítimos de serem defendidos num parlamento, mas não devem ser contemplados no executivo. Segundo, ele está mais para tucano do que para petista; e ligado à banda pobre dos tucanos, seu irmão Álvaro e cia.
O problema é que seu adversário tampouco é bom. É o tucano Beto Richa. De forma geral, não gosto de tucanos. Não por algum argumento pré-concebido, mas por suas posturas ideológicas, em vários aspectos sobre os quais já escrevi a respeito. Teria muita coisa contra Beto Richa, mas consigo achar com ele mais semelhanças do que dessemelhanças. Richa não é o tucano clássico, do ortodoxismo liberal. Ele representa uma nova era, ao lado de Aécio Neves. Costumo dizer que todo pensamento sectário, seja de direita ou de esquerda, é burro. Não posso concordar com os argumentum ad hominen que vejo por aí, ou seja, argumentos que partem de uma idéia pré-concebida a respeito do sujeito, que dizem que alguém é ruim simplesmente por ser petista ou tucano. Não acho que ser um ou outro faça necessariamente de alguém bom ou mau, embora indique tendências disso. Mas não concordo com o discurso de alguns amigos, e também que leio vida afora, que, por exemplo, os tucanos devem ser derrotados e extintos. Acho que sempre há espaço para todos, e de certa forma é saudável que esses espaços existam; são esses espaços que evitam tencionamentos mais graves. Uma de minhas principais ressalvas quanto aos tucanos é em relação à questões macroeconômicas. Acredito, e a bem-sucedida atuação do governo Lula na crise econômica de 2009 prova isso, que o Estado deve ser ativo e intervir diretamente na economia. Os liberais (tucanos) acreditam que o mercado se regula e o Estado não deve intervir, ou intervir minimamente, com políticas secundárias. Foi essa a atuação de FHC numa crise , menor do que a enfrentada por Lula, que levou o Brasil à falência, literalmente. Mas governador, felizmente, não faz política macroeconômica. Beto Richa não terá, como governador, tal ingerência. Adicionalmente, o fato que Richa tornar-se (e o Paraná junto) uma das estrelas da política nacional não é ruim.
Não gosto mas também não desgosto de Beto Richa. Não me agrada a idéia de votar num tucano. Tampouco me agrada votar em Osmar Dias. Mas de Osmar desgosto. Por tudo que disse, a principio, votarei Beto Richa.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Serra e Alckmin

Outro dia, Luis Nassif escreveu um artigo, lido aqui, que discordei. Inferia-se dele, em essência, que Alckmin seria preferencial, uma opção melhor, a Serra. Discordo completamente. Não tenho grandes ou maiores oposições a Serra. Não gosto de seu modelo de gestão, acho o pensamento econômico de seu partido falho. Isso e outras questões me fazem não querer que ele seja presidente. Mas como pessoa, em si, o acho um bom intelectual. Gostei de seu livro “Reforma política no Brasil” (sim, eu li). Já Alckmin não. Alckmin é representante da direita. Seu pensamento, é retrógrado. O marketing tenta vender Serra como de esquerda. Certamente que não é. Mas também é certo que está à esquerda de Alckmin. Entre os dois, para liderar o PSDB, certamente preferiria Serra, pois daria melhores rumos ao partido. Não bons rumos, mas melhores do que os de Alckmin, sem dúvida. Não entendo a “raiva” que a esquerda sente de Serra. (talvez justamente por representar uma opção mais viável, plausível, e, logo, próxima de sucesso). Não compartilho desse sentimento. Apenas o acho, e, principalmente, ao seu partido, ruins.