sábado, 31 de julho de 2010

Procissões

Não sei se é comum as procissões em Curitiba. Se não for, é uma grande coincidencia. Por duas vezes já, caminhando pela rua XV ou próximo da catedral de Curitiba, cruzo com procissões. Uma vez, no fim do ano passado. Outra, do fim do último semestre, em junho. Esse é mais um dos textos "em espera", que finalmente resolvi escrever. escrever apenas para tentar, ainda que saiba que serei mal-sucedido, descrever uma das coisas mais bonitas que já vi e presenciei na vida. Fim de tarde, anoitecendo, quase totalmente escuro já. Durante a procissão a noite terminaria de cair. E vejo aquelas velas. Uma multidão de pontos brilhantes, a iluminar as ruas. Cada pessoas, com uma vela na mão. Cantando as canções, puxadas por um mini carro de som. Na frente, o padre conduzindo as pessoas. Cantos de louvor e alegria. É isso que acho bonito na igreja católica: louva-se Deus pois Ele deve ser louvado, e pede-se pelo bem dos outros, pela paz do próximo, diferentemente das igrejas neo-pentencostais, que incita o egoísmo, em que todos apenas procuram a recompensa material de sua fé, pedem mais que louvam e louvam para ter os pedidos aceitos. Continuando com a beleza. As ruas paradas. Era realmente muita gente. Acho que ocupava umas duas quadras, senão mais. Também não fiquei contando. Pelo caminho, carros e motos da polícia fechavam o transito e garantiam o percurso. Os carros e onibus paravam para o caminhar das pessoas. Juntei-se. Não podia ser um simples observador externo. Alguem chega a mim, e oferece-me uma vela. Outro me provê o revestimento, improvisado com uma garrafa de refrigerante recortada. Aceito e carrego também a minha luz acesa. Essa preocupação com o próximo, em lhe oferecer uma de suas velas sobressalentes que não vejo nas pessoas e nos mundo em geral. A procissão caminha, sob o entoar dos cantos, da catedral na Tiradentes, passando pela praça Carlos Gomes, até a igreja do Guadalupe. Entro em paz e compartilho da missa. A imagem dos milhares de pontos brilhantes na noite curitibana não sairá de minha mente. Não tirei fotos, tão absorvido pela situação que nem pensei ou me preocupei com isso. Ainda que tivesse tirado muitas fotos, não adiantaria. Fotos não captam a alma, a atmosfera. a beleza daquela cena estava não apenas em sua deslumbrante composição imagética, mas na atmosfera que havia, o clima, a sensação, a emoção de compartilhar o mesmo amor e celebração por Deus. 

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Liberdade e escolha (Ou: eu não acredito no demônio)

Hoje o Doug escreveu no twitter "Oh liberdade! Divina liberdade! Quero sair e não me abrem a porta.", que remetia ao clipe de uma música (esta, por curiosidade). Me veio à mente o tema: liberdade. Em que medida somos realmente livres? Bom, talvez esse seja um dos maiores temas filosóficos já levantados e qualquer coisa que eu aqui escreva será pequena. Por isso, nem me alongarei demais. A questão, na qual penso nesse momento no dia de hoje, é: em que medida somos realmente livres para fazer o que queremos ou nossas escolhas não são nossas, mas determinadas por uma série de fatores? Me recordo muito das aulas de psicologia, semestre passado. Segundo algumas perspectivas (sobretudo em Freud) nossas escolhas, ou o que pensamos ser nossas escolhas, não são nossas, mas fruto de nosso inconsciente. Aquilo que você racionalmente pensa que decidiu e escolheu é fruto é uma determinação inconsciente. Eu, em certa medida e resguardados limites, acredito nisso. Mas então vem a questão: não somos livres então? Bom, talvez não. Se pensarmos, já começa pelo "quem somos". Não somos um receptáculo vazio, que pode tornar-se qualquer coisa. Partimos de pressupostos, de onde nascemos, como fomos educados, enfim, quem somos. Eu não escolhi ser paranaense de classe média. Minha mentalidade foi construida a partir dos pressupostos dessa cultura, e mesmo que eu me relativize, não posso escolher ter a mentalidade de um carioca ou paulista da periferia, por exemplo. A partir do momento que fui criado numa cultura enxergo os olhos a partir dela, e minhas escolhas são determinadas por isso. São realmente escolhas? Minhas escolhas advém de minha vida, que em boa parte não é escolha minha. Sou cristão e acredito nos pressupostos cristãos. Assim sendo, quero acreditar na liberdade e na escolha. Eu acredito na liberdade e na escolha. Por isso, sempre digo que não acredito na existencia do demônio. Pelo menos não tal como usualmente formulada. Sabe, gosto desse tema/problemática. Vez por outra, retorno a ele. Às vezes, do nada, viro para algum amigo e pergunto: "você acredita no diabo?" Chega a ser engraçado. Eu até acredito no diabo como senhor do inferno, lugar de punição pelas suas escolhas, no pós-morte. Ou, numa perspectiva que acho muito bonita, o diabo apenas como o acusador, aquele que reune as informações ruins sobre você, tal como um promotor, para apresentar diante do juiz, Deus. Então, o ser humano, tal como é comum no preso que se revolta contra o advogado ou o promotor, julga seu acusador como responsável por sua pena, quando ele próprio é o culpado. Vez por outra, principalmente agora nas férias, com tempo sobrando, ao zapear os canais, acabo de deparando com programas religiosos na TV. Me causa estranhamento ouvir pastores e fiéis falando coisas sobre como o diabo está interferindo na vida das pessoas, como está lhes causando mal, como a fé vai  afastar o mal e melhorar a vida, etecetera e talz. Penso que a existencia de um diabo que tenha poderes quaisquer de interferir na vida das pessoas simplesmente contraria toda da filosofia de liberdade e escolha, o livre arbítrio, existente no cristianismo. Se é o diabo que está interferindo na minha vida, se é ele o responsável pelas coisas ruins que sucedem, onde está a possibilidade de livre-arbítrio? Isso livra de responsabilidade o individuo, de responsabilizar-se por suas ações e as consequencias delas. Com isso, perde-se a liberdade e a escolha. Por crer que o ser humano fundamenta-se em escolhas, e que são essas escolhas que, formando seu caráter e suas atitudes, dirão quem é você, que eu não acredito no demônio. O leitor atento poderá perceber algumas contradições em minha fala. De fato, elas estão presentes e são ainda mais acentuadas do que expus aqui, mas não me proponho a ter uma responta pronta para isso. Se milênios de filosofia não responderam isso, como posso ter algo concluido? Pelo menos, não por enquanto. Apenas me proponho a refletir sobre essas questões.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Carta a C.D.

Ontem tive uma notícia (acadêmica) um tanto desagradável, embora ainda não confirmada. A C. talvez substitua o A. como professor das aulas de Linguagem Visual 2. Eu já conheci muitos, muitos professores ruins, péssimos em minha vida. Mesmo assim, a C. é muito provavelmente uma das piores professoras que já conheci. Em vista de algo tão desagradável, que é saber que terei que suportar sua má-qualidade (ia usar a palavra mediocridade, mas ela não chega a tanto) por mais um semestre e logo numa matéria que gosto, acho válido e justo publicar aqui o que penso sobre ela. Não estou falando pelas costas. Segue abaixo, cópia do e-mail que enviei a ela, algumas semenas atrás, alguns dias depois de acabado o semestre passado. Cheguei a pensar em publicar, à época. Depois deixei de lado, se tratava de uma questão pessoal, e o melhor seria deixá-la no passado. Mas já que ela retornou, acho conveniente me expressar. Sintetiza um pouco o que penso a respeito.


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Olá, C.,

Ao fim de todo semestre, costumo fazer uma avaliação íntima, pessoal, dos meus professores e do que foi e representou o processo pedagógico de aprendizado no semestre que se finda. Tenho especial atenção a este processo, pois me interesso pelo ambiente acadêmico e, havendo a possibilidade de ocupar o outro lado futuramente, dar aulas, atento-me sobre os processos didáticos e como se processam os aprendizados nas diferentes cognições que cada um de nós temos. Quando vejo que, determinado processo teve algo relevante, seja positiva ou negativamente, gosto de me expressar. Mas não gosto do sistema eletrônico de avaliação do professor disponibilizado pela universidade. Não acredito nele, por uma série de motivos que não são o tema deste escrito. Gosto de escrever diretamente para a pessoa envolvida. Assim, ao fim de todo semestre me ponho a escrever aos professores, às vezes pontuando o quanto foi proveitoso, às vezes tecendo críticas e indicando caminhos a aprimorar. As aulas de Editoração Gráfica 2, como todos chamam a disciplina (oficialmente, no currículo, a disciplina chama-se Editoração Eletrônica: Editoração Gráfica), ministradas por você, C., me inspiraram a escrever mais uma carta de final de semestre. Esta. Evidentemente, tudo que digo diz respeito à minha perspectiva, que possivelmente seja diferente da de outros de meus colegas.

Uma primeira questão diz respeito às qualificações. Ninguém questiona suas qualificações enquanto designer formada, preparada. Mas o que se averigua, na prática, pelo menos na minha perspectiva, é diferente. Questionada sobre algo, você se senta ao computador, e vai mexendo no programa, longamente, como que para descobrir. Veja, não é o aluno que vai mexendo, para aprender, mas você que vai mexendo, para descobrir (o que é outro ponto questionável: fazer para demonstrar, no lugar de orientar oralmente para que o aluno faça). “Ah, esses programas mudam tanto...”, é uma frase dita mais de uma vez por você. O professor tem que ter o domínio sobre o conteúdo ministrado. O que não significa assumir uma posição de onisciente, que tudo sabe; evidentemente existem limitações e é salutar assumi-las. Mas sobre o conteúdo mínimo, há sim, que se ter domínio. Os melhores professores sabem de memória e versam a respeito dos conteúdos que ministram. Seu objeto de estudo é prático, não teórico, e também deveria saber este de memória. A hesitação, que repetidas vezes, demonstra, gera insegurança no aluno. Ainda é uma atitude melhor do que reprimir perguntas, mas não é a melhor das atitudes a serem tomadas. O melhor seria saber e ter domínio sobre o que se ensina.

Veja, você é simpática. Sim, muito. Extremamente simpática. Tanto que eu, que procuro não me deixar envolver por tais seduções, muitas vezes não disse o que pensava para não "desagradar". Se comigo foi assim, imagine com outros, que consideram a "amizade" e a "simpatia" elementos básicos necessários... Mas esta não é a função do professor. Me pergunto: de que adianta eu deixar de falar que não gostei, para não desagradar? Vai te aprimorar, fazê-la melhor? Não. Portanto, usar a simpatia para ocultar e afastar as críticas também não é uma atitude correta a se tomar, ainda que tenha sido tomada em nível inconsciente, não-proposital.  Esta é uma questão essencial. O professor não tem que ser simpático nem amigo. Isso não significa se afastar, não ser cordial, tratar mal. De forma alguma, pois se isso ocorresse faria mal igual. Mas amigo e professor tem funções diferentes. O amigo está ali para te apoiar, mesmo sabendo do seu erro. O professor deve implacavelmente apontar o erro, para você mudar. Amigo não muda nem forma estruturas cognitivas, para usar um termo da área. Isso é dever do professor. E ele não pode fazê-lo sendo amigo, passando a mão na cabeça.

Por diversas vezes, você repetiu frases tais como “Depois vocês vão chegar no mercado, e vão se dar mal” ou “Eu vou passar vocês agora, e depois o mercado vai selecionar”. Você demonstra uma atenção excessiva ao mercado, típica de quem não tem formação em uma área de educação (tratarei disso adiante). Valendo sua opinião, o mercado se encarregaria de tudo, das notas, das aprovações... Se há tanto mercado, para que estamos na universidade? Vou dizer: o mercado não existe. O mercado não interessa. Por mais que alunos (há pouco você também era uma aluna), ávidos pelo trabalho qualificado, queriam acreditar que sim, a universidade não se reporta ao mercado. Não é seu papel, no tocante a filosofia da educação. O papel da universidade é a construção do saber. Ponto. E isso vale também para os cursos de tecnologia, a saber.

Outra coisa que, por diversas vezes, e repetidas vezes, você disse é a respeito da pertinência da disciplina na grade curricular de nosso curso. Você acredita, palavras suas, que ela não deveria existir ou pelo menos ser optativa. Que, em sendo uma coisa que nem todos gostam ou tem aptidão, você não pode cobrar isso dos alunos. Novamente palavras suas. Aqui se tem uma série de equívocos. Primeiro. É bem evidente seu sentimento de corporativismo junto ao design. Você é da área do design, e acredita que estamos roubando o espaço de sua área. Diversas vezes disse coisas como “isso se aprende em 4 anos no design, como vou ensinar em um semestre?” ou “No design, existe uma disciplina inteira só pra esse item X. Vocês não têm como aprender, vocês não vão aprender”. Com isso, determina previamente que não vamos aprender, que não podemos aprender, ou aprender bem. Fica bem evidente seu pré-determinismo, antes mesmo de começar as aulas, não? Você tenta defender sua área, mas se esquece que design, assim como a comunicação, não é ciência e qualquer idiota faz. E isso é verdade. Lamento o linguajar, mas é necessário. Não se faz medicina ou engenharia sem estudo e fundamentação, assim como também não se faz sociologia ou filosofia sem isso. Mas mesmo a comunicação, não requer fundamentação para ser feita, assim como o design também não. Todas as teorias que tivemos de comunicação serviram sim, e ajudam, como um lastro para a prática, mas alguém que nunca ouviu falar de Kunsh, Teobaldo, Adorno, Habermas, Barbero e tantos outros pode eventualmente fazer comunicação muito melhor. Assim como saber tipografia é um lastro que ajuda, mas alguém criativo, sem nunca sequer ter ouvido falar nisso, pode fazer design muito melhor do quem sabe isso. Mas é como se dissesse "vocês não são nem podem aprender design, por que não fazem esse curso". Então surge uma questão fundamental: se você não acredita na disciplina, como ministrá-la? Ou como pode ministrá-la bem? Nunca, jamais, se ensina, ou se ensina bem, aquilo em que não se acredita. O professor tem que ter paixão em dar aula, e acreditar naquilo. Se não tiver isso, não tem nada. Não há nada pior do que um professor sem paixão. Isso se nota claramente. Você não acredita na disciplina, e não a ensina bem. Nem poderia.
O segundo equivoco é referente à cobrança. Você já disse coisas como "em questão gráfica, eu não posso avaliar vocês, pois vocês não têm esse domínio". Ora, se você não vai avaliar em questão gráfica vai avaliar em quê? Um curso superior pressupõe, sim, avaliação, goste ou não o aluno da matéria. Com todo respeito, mas nós não temos o domínio por que você não ensina. Se ensinasse, talvez tivéssemos. É seu dever ensinar e cobrar, sim, que tenhamos esse domínio. Isso é reflexo do seu “corporativismo”, de achar que só se pode fazer design os que cursam design. Para se ver o quão esdrúxula é essa afirmação, é como se o professor de psicologia dissesse que não pode nos avaliar em relação à psicologia, pois nós não somos psicólogos. Ora, justamente por isso temos uma matéria de psicologia, para aprender o essencial dessa área à comunicação, senão não precisaríamos dela. Fossemos designers não precisaríamos disso também, mas ao contrário, você não ensina o essencial de sua área a nós.

Um outro ponto que acredito ser grave refere-se à chamada profecia auto-realizável. O que significa isso? O professor acredita que o aluno será ruim. Acreditando que o aluno será ruim, ele o torna ruim. Nas suas aulas, pelo menos a partir de minha percepção, você sempre dá mais atenção a uns do que a outros. Sendo uma matéria prática, onde se tem que aprender a lidar com softwares de computador, isso é fundamental. Mas você dá mais atenção aos que se interessam e se dedicam mais. Poderia-se considerar isso natural, não? Aqueles que se interessam e buscam mais, têm mais atenção. Pois digo que deveria ser o oposto. Você diz que o aluno deve mostrar interesse e se motivar. Uns gostam da área, outros não, e você não pode fazer nada sobre isso. Palavras suas. Uma visão, novamente, liberal, ou liberalizante, do ensino. Ou seja, o ensino livre, como cada um o queira fazer, algo próprio do mercado. Isso não é ensino, para a filosofia da educação. É dever do professor motivar. Ora, dar mais atenção aos que se interessam mais apenas reproduz a lógica que já está posta. Aqueles que gostam, você dá atenção (exemplo máximo, o dia que adiou o conteúdo da primeira aula, esperando uma aluna, não é preciso citar nomes, que só chegaria na segunda aula, por que você queria que ela visse o conteúdo, pois ela se interessava!), ignorando aqueles que não gostam, a quem realmente deveria voltar suas atenções.
Boa parte das críticas que fiz, creio, sejam fruto da falta de formação como professor. Há pouco você era aluna, e embora existam em nosso curso bons exemplos de professores estreantes que tiveram postura exemplar de ensino, você não é uma delas. Pessoalmente, acredito que seja necessário para a prática do ensino esse tipo de formação, mas não nego que possam existir grandes mestres sem essa formação. Infelizmente, no seu caso, isso demonstra fazer falta, como em questões de didática, referente ao como ensinar, que é lamentável, para dizer o mínimo. Para pesquisar um tutorial de como fazer algo no Google, eu faço em casa. Professor não é para tirar dúvidas, mas, como já disse, suscitar o desejo pela matéria e discipliná-lo (daí a origem de “disciplina”) cobrando o aprendizado. Sim, essa é uma perspectiva teórica à qual me filio. Existem outras. O triste é que eu sei disso, mas você não, entende? E que diferença vai fazer conhecer perspectivas teóricas em educação para você, pode-se perguntar? Faz diferença, acredite.
Para finalizar quero contar de quando me interessei pelo curso. Olhei a grande do curso na internet, e uma das disciplinas pelas quais mais me interessei foi justamente a parte de “editoração gráfica”. Eu gostava dessa área. Agora não mais. Dentro da psicologia da educação aprendemos, na ótica do behaviorismo de Skinner, que o aluno associa a matéria ao professor. É o professor que faz ele gostar ou não da matéria. Quando entrei no curso gostava de editoração, mas hoje já não tenho tanto interesse pela área. Claro que isso é fruto de uma série de mudanças, mas em parte creio que você seja a responsável. Não digo isso com ressentimento algum, pois eu sou o responsável pelas minhas escolhas e gosto delas. Talvez um dia volte a me interessar pela área. Apenas digo isso pois deve ser dito a bem da verdade. É preciso que digamos as coisas. Na sociologia também aprendemos que todo conceito é relacional, ou seja, é definido a partir de uma relação. O pai só existe pois existe o filho, assim como o aluno e o professor. Mas, ao contrário do que se pensa, a legitimação dessa relação é fruto de definição e reconhecimento mútuo. Quando o filho renega o pai, este deixa de sê-lo. Para mim, a palavra professor sempre teve um peso e um significado muito grande, de importância e reconhecimento. E pela importância que esta palavra tem, apenas gostaria de lhe dizer que você não é professora. Para mim, eu não lhe reconheço como tal. Pelo menos não é isso que você foi, e não é isso que lhe considero. Espero que um dia possa realmente merecer ser chamada assim, pelo bem de seus futuros alunos.


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Edição posterior, 08 de abril de 2011:

Direito de resposta. E-mail recebido, hoje:


Prezado Márcio,
Entro em contato porque a pouco tempo tomei conhecimento da publicação do e-mail enviado para mim em seu blog. Primeiramente,  quero dizer que respeito o seu direito de expressar sua opinião, porém na época não respondi o e-mail  por acreditar que este veículo não é o mais adequado para discutirmos tais assuntos.
No entanto, sempre cumpri meus horários de permanência na instutuição de ensino para esclarecer dúvidas das disciplinas que ministrei, bem como qualquer assunto (avaliação, metodologia de ensino, conteúdo, abordagens, relacionamento professor-aluno, entre tantos outros). Tais horários estavam a disposição dos alunos no site e na secretaria do departamento.
Em sala de aula, também sempre fui uma pessoa acessível e dei abertura aos alunos para colocarem suas sugestões, contribuições, críticas e qualquer assunto pertinente a disciplina e a minha pessoa.
Mesmo assim, estou a sua disposição para qualquer esclarecimento pessoalmente. Para tanto, peço a gentileza que retire este texto do seu blog.
Atenciosamente,
C.D.


Os nomes, aqui originalmente encontrados, já não se encontram, tendo sido substituídos por siglas. Não são necessários, por uma questão, com a qual concordo, de respeito à imagem do outro.

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quarta-feira, 28 de julho de 2010

Sobre o casamento gay

Semana passada foi aprovada na Argentina a lei que permite o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. O tema foi matéria de vários jornais e no Brasil movimentos lutam por lei semelhante. Não entendo, realmente, por que tanta polêmica a respeito disso. O que penso sobre o assunto, para mim, parece tão claro, que mesmo sempre procurando me relativizar, não posso deixar de dizer que é a posição correta, verdadeira. O que todos deviam enxergar. E o que penso a respeito? 
Se me perguntagem, respondei com a pergunta "Para quem você está perguntando?". Veja, existem muitos eus, existem muitos Márcios. Faço sempre o esforço de tentar separá-los. Me lembro de uma aula sobre Festinger em psicologia da comunicação em que, analisando o case da "petrobrax", defendi para o Zama, o professor, que a opinião do Fernando Henrique intelectual não afetava a opinião do Fernando Henrique presidente. Ele discordou da minha metodologia de dividi-lo em duas pessoas, mas sei de correntes teóricas que refedendam isso que digo, ainda que não saiba fundamentar isso hoje. Penso que não somos uma massa única de opinião. Nós somos cidadãos, somos trabalhadores, somos filhos, pais, conjunges, somos fiéis, somos amigos, somos consumidores e produtores, entre tantas outras esferas de nossas vidas. Em cada um desses momentos nós temos determinada opinião, e, creio, elas podem ser, sim, contraditórias. O que quero dizer com isso e onde quero chegar? Ora, o exercicio de relativizar-se exige que enxergemos pela ótica do outro. Sejamos objetivos, para não perder o foco. Acredito no catolicismo, apesar de não sê-lo (longa história, fica para outro dia). Sou cristão. Ainda que não fosse, teria a mesma opinião. 
Penso que as igrejas não devem aceitar o casamento gay. Elas têm esse direito. Faz parte de sua epistemologia e de sua crença. Qualquer crença tem o direito de estabelecer seus critérios internos de fé. No Islã, o homem pode ter até quatro esposas. No ocidente, apenas uma. Acaso as religiões ocidentais estão sendo preconceituosas com os homens que querem mais de uma esposa? Claro que não. Elas estabeleceram que, para elas, um homem pode ter apenas uma esposa. Elas têm esse direito, assim como o Islãmismo tem o direito de estabelecer suas regras de crença. Portanto, as religiões tem o absoluto e intocável direito de estabelecer que uma união correta é entre um homem e uma mulher, ou entre um homem e quatro mulheres, no caso do islamismo, e não entre homens e homens ou mulheres e mulheres. É direito deles. Intocável e inquestionável. Argumenta-se que as igrejas deviam se adequar aos novos tempos, modernizar-se. Ora, Igreja e fé não são o Estado. O Estado, sim, têm que modernizar-se, acompanhar as mudanças da sociedade. Não a Igreja. A fé não muda. As igrejas que cairem nessa armadilha estarão dando um passo adiante em direção à sua extinção. A fé é perene. Ou vamos querer adaptar as palavras de nossos Deuses (seja Jeová, seja Alá) para os dias atuais? Isso não faz sentido algum, pois se estaria abrindo mão de principios, distorcendo questões estabelecidas e criando, na prática, religiões diferentes daquelas que o são, em essência. Para mim, as religiões já estão modernas demais. Por isso acredito e defendo que as igrejas não devem permitir, nunca, o casamento gay.
Então eu sou contra o casamento gay? De forma alguma. Sou absolutamente a favor. Veja, até agora estava tratando sobre igrejas e seu direito inalielável de ter seus próprios preconceitos e exclusões. É um direito. Mas defendo plenamente o casamento gay (ou homo-afetivo, ou seja qual for a nomenclatura politicamente correta a ser usada) civil. E é nesse ponto que a coisa, para mim, parece tão clara que não vejo como alguém pode discordar ou pensar diferente. Desde há muito, em Montesquieu, Estado e Igreja são separados. Reconheçamos que, mesmo depois, a Igreja ainda influenciou muito as decisões de Estado, até o inicio do século XX. No entanto, hoje, isso já está superado. O Estado brasileiro, como a maioria dos Estados ocidentais, é laico, ou seja, não têm nem se filia a nenhuma religião. Portanto, os pressupostos teológicos de quaisquer religião não podem interferir nas diretrizes do Estado. Assim sendo, o que impediria o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo? Absolutamente nada. Mas quando digo isso, que se frise, absolutamente nada mesmo. Todos podemos ter nossas opiniões pessoais, gostar ou não, mas quando falamos de Estado, estamos falando do ente maior de nossas vidas, que deve regular nossos comportamentos. Para o Estado, todos somos cidadãos, não importa de que sexo, e o casamento é a união de dois cidadãos que assim desejam fazê-lo, não importa, para o Estado, se um homem com uma mulher, dois homens ou duas mulheres. Simples assim. Não há argumento contra. Então pergunto: por que já não é assim? Ora, não sei. Sei que deveria ser. E por isso acredito que eu seria um bom político, pois sei me relativizar, colocar de lado minhas crenças, me separar em vários eus. Ainda que meu eu religioso seja contra, meu eu estatal reconhece que este é um direito dos cidadãos, simples assim. Eu votaria a favor do casamento civil para pessoas do mesmo sexo. É seu direito, como cidadãos. Por isso, eu apoio esta causa.

terça-feira, 27 de julho de 2010

A argumentação de Lúcifer

Final do filme "Advogado do Diabo". Sempre achei incrivel essa cena. Esta é a argumentação de Lúcifer (baseada nos argumentos do escritor John Milton, descobri agora) contra Deus, na voz do excepcional Al Pacino. O vídeo é relativamente longuinho (uns 8 minutos) mas são os dois primeiros que importam, e contém a argumentação. Infelizmente, está sem legendas, por isso transcrevo abaixo. Ressalte-se, não é isso que penso. Eu discordo. Eu creio em Deus. Então por que publicar algo que você não concorda?, poderão perguntar. Ora, primeiro, que a argumentação é boa, não importa se eu concordo ou não. Segundo, por que não sou um babaca que só se importa com aquilo com que concorda. tenho abertura e puralidade (ou desejo ter) suficiente para aceitar o contraditório. Sempre gostei da antitese e acho ela fundamental. Ou seja, mesmo que eu não concorde, aqui há espaço. E terceiro, a despeito de tudo isso, é cinema de primeira, muito bem escrito e interpretado. Confiram. 



Por quem carrega todos esses tijolos?
Deus? É isso? Deus?
Então, deixe-me lhe dar uma pequena informação especial sobre Deus.
Deus gosta de observar.
É um brincalhão.
Pense nisso.
Ele dá ao homem os instintos mais incontroláveis.
Dá esse dom extraordinário e depois o que faz?
Para Seu prazer pessoal, numa cósmica, particular sessão de risadas. Isso eu garanto!
Ele estabelece as regras por contraste.
É a maior traquinice de todos os tempos.
Vejam, mas não toquem.
Toquem, mas não provem.
Provem, mas não engulam.
E enquanto voces andam as voltas com isto, o que faz Ele?
com isto, o que faz Ele?
Se rola de tanto rir!
É um sujeito gozador! Um sádico
Um desleixado síndico!
Adorar aquilo? Nunca!
[...]
Estou enfiado nisto até ao pescoço desde o princípio.
Alimentei todas as sensações que ao homem possa ter!
Preocupei-me com o que ele desejava sem nunca o julgar!
Por que? Porque nunca o rejeitei, apesar das suas imperfeições!
Sou seu admirador!
Sou um humanista. Talvez o último.
Quem, no seu perfeito juízo, pode negar que o século XX, foi inteiro meu?
Todo ele! Por completo. Meu.

Adiante, no vídeo (lá pelos 6 minutos), tem outro diálogo (a sequencia do diálogo, na verdade) que sempre me marcou.
- Na Bíblia, voce perde. Estamos destinados a perder, pai.
- Leve em conta a fonte, filho.
Simples assim, com uma frase, e ele desqualifica toda a biblia. "Leve em conta o autor". Ou seja, a biblia é escrita a partir de um ponto de vista e obviamente vai defendê-lo. Incrivel argumentação. Não concordo. Continuo com minha fé, e realmente acredito que a biblia seja a verdade, independentemente do autor. Mas isso faz pensar, não?

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Burrice extrema ou pura má-fé

Era esse o título do post que havia começado há muito tempo, deixado nos rascunhos sem acabar e que iria terminar agora. O texto era absurdamente longo, talvez o maior que já tenha escrito para este blog. Não sei o que fiz, o que cliquei, mas o texto se apagou. Sumiu. Puft. Sim, escrevo diretamente no campo do blog, e não tenho backup. Tentei resgatá-lo, mas não consegui. Estou pasmo, sem acreditar nisso. Infelizmente, se perdeu. Não vou re-escrevê-lo. E pior que tava bom, hein? Narrava minha revolta e indignação com o que chamei de uma das mais nonsenses peças já produzidas pelo nosso judiciário. Comecava contando da notícia que soube, no blog do Josisas de Souza, que o Ministério Público Eleitoral estava pedindo a retirada do ar do blog "Os amigos do presidente Lula". Então eu peguei a peça de acusação e desfiz seus argumentos, um a um. A peça é absurda e ridícula, daí o titulo: burrice extrema ou pura má-fé. Distrocia conceitos de forma clara, apresentando o blog como propaganda quando esse, o blog, não tem vinculo institucional. Falava em evitar o uso o poder economico, quando isso é impensável na internet, em que todos são iguais. Apresentava como provas da propaganda citações absurdas e descontextualizadas, que não se classificam assim de forma alguma, são apenas opinióes tão válidas quanto aos dos sociólogos. Texto bonito, o meu. Perdeu-se. Em tempo, a açao foi rejeita pelo TSE hoje.