A Internet foi indicada ao prêmio Nobel da Paz. A notícia é velha, de alguns meses atrás, mas lembrei dela agora. Até alguns dias atrás, quando se entrava no YouTube, havia um pequeno banner chamando para uma votação simbólica, pedindo apoio. Agora não tenho visto mais. Serei direto. Isso é uma palhaçada. Vou resumir, pois estou sem paciência (poderia me fundamentar em autores e referenciais teóricos, mas deixo isso para a próxima). A Internet é um objeto, um artefato. Ela não cria o bem em si. Todas as mudanças sociais que de fato existiram e foram propiciadas pela internet, são na verdade mudanças estruturais da própria sociedade. Um exemplo. Quando na Espanha o país inteiro mandou mensagens de texto via celular e virou o resultado das eleições presidenciais na véspera (esse é um case clássico já, não vou entrar em pormenores aqui), isso foi uma mudança da sociedade. Os celulares apenas foram o instrumento que permitiram que essa mudança se concretizasse. Se eles não existissem, a mudança não seria realizada e a eleição não teria sua virada, tudo bem. Mas não se pode atribuir ao celular, em si, a mudança. Ou dizer que ele provocou a mudança. Não, ele foi apenas um instrumento que tornou possível. Pode ser usado para o bem ou para o mal. A Internet é absolutamente a mesma coisa. É um instrumento, um artefato, e não pode ser pré-definida como boa ou má. A sequer indicação de um objeto para o Prêmio Nobel da Paz já é uma piada. Objeto por objeto, que se premie o guarda-chuva ou o isqueiro, que já escrevi aqui e aqui, serem os grandes inventos da humanidade.
domingo, 29 de agosto de 2010
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Humor e pseudo-censura
Dizem que o CQC é de direita. Discordo. Não vejo isso no programa. Vez em quando transparecem suas opiniões, é verdade, mas isso não importa. Ainda que sejam, o que importa que é são talentosos. Gosto de assisti-los e (a maior parte) acho engraçado. Mas discordo veementemente de uma postura que têem adotado. Diz respeito à proibição do humor com candidatos durante as eleições. Já faz semanas esses vem numa reiterada campanha contra a decisão do TSE de proibir programas humorísticos de fazer graça com candidatos. Em parte, é compreensível a reação, pois estão defendendo o seu ganha-pão. O ruim disso é defender interesses próprios como se fossem coletivos, sob a bandeira da liberdade de expressão ou de opinião, ou mesmo da democracia. Não é nada disso e dizê-lo depõe contra eles. O CQC (mas não somente) faz questão de repetir o erro, de chamar a decisão judicial de lei. São coisas absolutamente diferentes. Chamar de lei, joga a responsabilidade sobre o executivo e o legislativo. A proibição, embora (como tudo num estado de direito) baseada em leis, partiu do judiciário, por medida suprema de um colegiado, o do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Passa-me a impressão de que querem criticar o governo indiretamente, quando este nada teve a ver com a decisão. Mas vamos logo ao cerne da questão em si. Defendo a decisão do TSE por alguns motivos bem evidentes. Primeiro, direito de expressão não deve se confundir com direito de chacota. Os candidatos tem direito a resguardar sua imagem pública. Segundo, o argumento de que o humor ajuda a democracia, o povo a conhecer os candidatos é falso. Ajuda, tão somente, a esteriotipá-los e transformá-los em humor. Não é isso que se espera de um momento solene como uma eleição. E, creio, talvez o mais importante argumento, é que o humor pode ser usado políticamente. Ele pode, sim, ser usado por grandes humoristas com intenções nada mais do que fazer graça. Mas se deixarmos o humor livre, todos poderão, com a desculpa de fazer humor, criar peças negativas contra seus adversários, atacar posicionamentos opostos aos seus. É uma questão perigosa. Ainda mais sendo que o humor é uma questão subjetiva. Mesmo que se aplicasse algum principio de igualdade (se faz piada com um candidato, tem que fazer com o outro), não há absoluta garantia de real igualdade. Por exemplo, um humorista tem preferencias pelo PT. Ele faz piadas leves com Dilma, para que não digam que a poupou, mas ao fazer com Serra, realmente cpricha na acidez. O humor com o adversário teria maior capacidade de denegrir sua imagem, e ninguém poderia comprovar que ele fez intencional. No limite, esse humorista hipotético diria "trabalhei no limite de minha capacidade criativa"; e quem vai conseguir argumentar contra isso? O humor pode ser perigoso, se usado políticamente, para fins político-partidários, e deve sim, ser proibido em momentos tão delicados e importantes como as eleições. Isso não se aplica, evidentemente, a todos demais momentos de nossa democracia, onde todos, inclusive humoristas, têm o direito de se expressar livremente, inclusive através do humor, sobre o que quer que seja. Mas nas eleições deve-se assegurar um duelo justo, limpo, e igual. Trata-se de uma questão maior, que é a democracia, e pelao bem da democracia deve-se impor limites à certas liberdades.
Em tempo: infelizmente, tal decisão que proibia o humor nas eleições foi suspensa hoje, por coincidencia, algumas horas após a publicação desse post. É triste ver a vontade da mídia manipulando a opinião pública e até nosso judiciário.
Em tempo: infelizmente, tal decisão que proibia o humor nas eleições foi suspensa hoje, por coincidencia, algumas horas após a publicação desse post. É triste ver a vontade da mídia manipulando a opinião pública e até nosso judiciário.
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Dilma pode errar (e por isso poderá acertar)
Apesar das críticas que já fiz à Dilma, de não achá-la à altura do cargo, entre outras coisas, penso que ela tem uma grande oportunidade em suas mãos, e por isso tem a chance de ser uma grande presidente. Ela tem a oportunidade de errar. Ela pode se arriscar a errar. Lula, em diversas entrevistas, já disse e repetiu sobre seu compromisso em não errar. Ele toma por exemplo Walesa, lider trabalhador que chegou ao poder na Polonia e fez um governo desastroso. Lula diz que, desde o primeiro dia de seu governo, tinha o compromisso de fazer um grande governo, pois se ele fizesse algo ruim, nunca mais na história um trabalhador conseguiria se eleger nesse país. Ele se comprometeu, talvez a maior de suas promessas, a fazer um bom governo e realizou isso. Para poder fazer isso, em muitos momentos, não pôde arriscar. Teve que ser ortodoxo na economia, não fazer grandes reformas, e por aí vai. Dilma não tem nenhum compromisso com não errar. Repito, com enfase: Dilma não tem compromissos em não errar. Ela pode errar. E por poder errar, ela pode se arriscar a fazer grandes reformas, inovar na economia, etecetera e etecetera. Ela pode fazer as reformas estruturantes que Lula não fez. Poderão argumentar alguns que ela também não poderia errar, pois seria a primeira mulher presidente. É diferente. Lula se elegeu sob a bandeira de ser um trabalhador e se fizesse um governo ruim seria essa bandeira que iria fracassar. Dilma não está se elegendo sob a bandeira de ser uma mulher. Embora (só agora) isso começe a ser explorado na campanha, o fato dela ser mulher é um detalhe tão importante quanto Lula ser barbudo. Não estou desmerecendo o fato histórico da primeira mulher na presidencia, mas constatando que não é sob essa bandeira que ela está caminhando. Dilma está se elegendo sob a bandeira do PT de continuar o governo Lula. Na pior das hipóteses, em um governo desastroso, a única bandeira que fracassaria seria essa (e já expressei aqui o quanto temo que, sim, Dilma torne-se para o PT o estorvo que FHC é para o PSDB, em termos de governo mau aprovado). Por ela poder se dar a esse luxo do erro, e por poder errar, sem maiores compromissos em comprometer a história, então ela poderá acertar.
terça-feira, 24 de agosto de 2010
Por que Marina é uma decepção
Marina é uma decepção. Diferentemente de Heloisa Helena no passado, ela poderia ser grande. Não é. Ela insiste em seu discurso único. Já comentei isso com alguns amigos. Ninguém vota para presidente em candidato de discurso único. O presidente não é ministro, seja da educação, do meio ambiente ou da saúde. Quem insistir nisso, perderá. Repito, presidente não é ministro. Esse foi o erro, por exemplo, de Cristovam Buarque. Não propriamente um erro, pois ele estava defendendo e levantando uma bandeira. Belíssimo e essencial. Mas a decepção com Marina é por que ela poderia ir além, ela poderia, eu ainda tinha esperanças, de ser uma grande novidade do cenário político brasileiro. Por exemplo, o discurso de que ela seria a opção de terceira via que poderia, uma vez no governo, unir PSDB e PT. É um bom discurso, mas que não é explorado. Qual discurso é explorado? A ecologia. Ora, todos, todos sabem que Marina Silva é a candidata do meio ambiente. Ela não precisa reprisar essa tecla. O que ela precisa é mostrar que, além de ecologia, ela também sabe lidar com educação, saúde, segurança... afinal, presidente não é ministro. O que ela faz é repetir hoje o erro histórico do PT: pregar para os já convertidos. Quem já está convencido de Marina, não muda; quem já está alinhando ao discurso da ecologia, já está alinhado e não mudará. Se ela quer ampliar suas bases, então justamente é necessário mostrar que tem outros discursos. Infelizmente, não é isso que está acontecendo até agora.
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
O Encontro Nacional dos Blogueiros Progressitas
Em algumas horas estarei embarcando para São Paulo. Passarei o fim de semana lá, para um evento. O evento chama-se 1° Encontro Nacional dos Blogueiros Progressitas. Trata-se de ativismo e jornalismo político na web. Faz dias que estou para escrever este texto, mas fico me enrolando. Sei que é pela importância e pelo significado que ele tem para mim. O evento é organizado por pessoas como Luiz Carlos Aznha e Luis Nassif. Há anos leio este dois autores, muito antes de entrar para a faculdade. Em boa, muito boa medida, eles são responsáveis pelo meu interesse pela área. E agora ficarei frente a frente com meus "ídolos", por assim dizer. Irei encontrá-los. Não sei como colher autógrafos, visto que nunca tive em situação análoga. Mas então percebo a beleza a situação. Diferentemente das tietes de bandas musicais ou de estrelas do cinema e da televisão, não estarei perante eles em uma relação de submissão. Quando um fã de rock ou de cinema encontra seu ídolo, nada pode fazer senão cumprimentá-lo e expressar sua admiração. Provavelmente farei isso, claro. Mas há mais. Estarei lá como profissional de comunicação. Ainda estudante, é verdade, mas alguém da área. Não apenas numa relação passiva, mas de igual para igual (guardadas as devidas proporções, claro), em busca de discustir a comunicação no Brasil e de soluções para nosso país. Percebo então que sou um privilegiado pois tenho uma rara chance na vida: estar ao lado dos profissionais que você admira, contribuindo e colaborando com eles. Será formidável. E é apenas o começo.
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
As pessoas por detrás (Ou: Dilma é FHC do PT)
Engraçado como todos meus amigos e conhecidos pensam que meu voto nas eleições já está definido. Dizem "Ah, Márcio, você é petista". De fato, em termos gerais, tenho grandes simpatias com o PT, mas isso não faz com que eu deixe de ter dúvidas ou questionamentos. Não sei por onde começar, então serei direto. Acho Serra muito melhor do que Dilma. Também acho Serra muito pior do que Dilma. Agora que já o confundi, caro leitor, deixe-me explicar.
Cada entrevista que vejo da Dilma ela me decepciona um pouco mais. Não acho que ela seja a candidata ideal. Serra demonstra ser mais seguro, expõe melhor, pensa melhor, por assim dizer, em questão de inteligência e raciocínio mesmo, academicamente falando. Acho o Serra um sujeito inteligente, até certo ponto. Fosse o voto apenas na pessoa, e talvez eu pudesse considerá-lo. Mas há alguns problemas. Primeiro, o pensamento de Serra, suas posturas, das quais discordo frontalmente. Apenas alguns exemplos? O liberalismo econômico, que sob FHC quebrou o Brasil duas vezes. Essa é uma postura teórica-ideológica dos demo-tucanos, à qual Serra se filia, com a qual não concordo. Também a postura em política externa, de ser subalterno aos interesses norte-americanos e de enfrentamento aos vizinhos sul-americanos. Com Lula, o Brasil passou a ser um grande "player" do cenário internacional e Serra é contra essa política, quer voltar a ser subalterno. Apenas alguns exemplos. Mas talvez, muito talvez, eu ainda poderia considerar a opção Serra. Como individuo apenas, isolado de suas idéias, acho ele um ser muito melhor que Dilma. Como representante internacional, chefe de estado, aquele que carrega o nome do Brasil para o exterior, talvez ele fosse mais recomendado. Mas há outras questões. Suas idéias são uma das coisas, o que prejudica bastante. Mas a, talvez principal, questão é outra.
O problema são as pessoas por detrás. Como disse, o voto não é apenas na pessoa. Quando você vota num candidato, não vota apenas nele, mas num grupo. É este grupo que você elege, não apenas o candidato em si. É este grupo e suas idéias que irão governar. Em relação às pessoas por detrás, não tenho dúvidas. Confio plenamente no quadro do PT, e rechaço os quadros do PSDB. A mídia conseguiu, em certa medida, criar uma lenda de que o governo Lula fez composição com corruptos e tal. É lenda. Há uma diferença entre comando de governo (ou seja, os ministros e a equipe) e a composição da bancada no congresso. Ora, a bancada no congresso não importa em nada, se está se coligando com Sarney ou Collor ou os corruptos que forem (lembre-se que o PSDB tinha as mesmissimas alianças). O que importa é a equipe de governo, e aqui a diferença é gritante.
Outro dia li uma frase de Jorge Furtado, que disse "Sarney, comparado a Bornhausen, é Che Guevara". O senador Jorge Bornhausen é um dos lideres dos Demos, da coligação de Serra. Foi ministro de FHC e certamente teria papel decisivo num governo Serra. Para quem não lembra, Bornhausen (dizem, nazista) é aquele famoso pela frase do "nos livraremos dessa raça por 30 anos", se referindo a adversários. O cara é de causar repulsa. O coordenador da campanha de Serra, senador Sérgio Guerra, é outro crápula. São duas pessoas que deveriam ser expurgadas da vida pública. Mas podem se tornar influentes ministros sob Serra. E o vice de Serra, então?! Um sujeito de 30 e poucos anos, que nunca foi nada, absolutamente nada, na vida. Tá, foi deputado federal, em primeiro mandato. E daí?! Ele é totalmente inexpressivo, autor de projetos esdrúxulos, como um que propõe multa para quem dá esmola!!! Sim, é verdade, há um projeto de lei da autoria de Indio da Costa que propõe instituir multa para quem dá esmola!!! É um exemplo da mentalidade de extrema direita das pessoas que cercam Serra. Agora pense: o vice-presidente da república é um total desconhecido, que nunca fez nada, que mal atingiu a idade mínima para o cargo. O cara foi inventado, por falta de alternativa. E se ele precisar assumir, por quais motivos forem? Serra não é imortal. Quem é o presidente do Brasil? Um tal de Índio da Costa. É absurdo, é insano. Em matéria de vice, aí sim, Dilma dá um show. Michel Temer, goste-se ou não dele, pode, numa eventualidade, assumir a presidência sem nenhum problema (onde, inclusive, já esteve interinamente enquanto presidente da câmara, substituindo o vice José Alencar). A equipe de Dilma é competentíssima. Palocci, que deveria ser o candidato, não Dilma, já mostrou sua capacidade. Fernando Pimentel é uma nova estrela nacional que desponta, e isso sem falar em Aloizio Mercadante, provável derrotado em São Paulo e com todas as chances (se fizer bem feito) de ser o sucessor de Dilma. Confio nessas pessoas que são as pessoas que ajudaram Lula a fazer de seu governo um grande governo.
Mas o que quero dizer sobre Dilma é o seguinte. Dilma Rousseff é o Fernando Henrique Cardoso do PT. O que quero dizer com isso? Bom, aqui vai minha previsão do futuro. Espero estar errado, mas, pelo meu olhar, é para isso que caminha. Dilma é um excelente paralelo com FHC. Alguém sem apelo popular, um tanto técnico, que devidos às circuntancias foi criado, fabricado (o plano real de FH e o governo Lula de Dilma) e ganhou a oportunidade de governar o país. Se a história se repete, como nos ensina a doutrina marxista (e eu creio que, sim, a história tende a se repetir), Dilma tem grandes chances de, em certa medida, frcassar e se tornar para o PT o estorvo que FHC é para o PSDB. Alguém cujo governo os opositores usarão como exemplo do quanto aquele grupo político é ruim. Sabe o que acho? Acho que Dilma se elege este ano, e torço por isso. É o melhor que pode ocorrer, nas atuais circunstâncias (a opção Serra faria um governo ainda pior). Mas também acho que seu governo não será bom. Em não sendo, creio que ela não se re-elegerá em 2014, perdendo assim a eleição para Aécio Neves (alguém tem um mínimo de dúvida que Aécio é o candidato tucano de 2014?). Poxa, estou fazendo muitas previsões, hein? Esse é um texto para se guardar para o futuro. Ou não. Rsrss. Enfim... Creio que, sim, o governo Dilma pode dar certo, mas se der será pelas pessoas por detrás. Espero que isso possa ocorrer.
Por fim, uma coisa realmente me intriga. Lula podia ter escolhido qualquer um para lhe suceder. Quem ele dissesse seria aceito pelo partido e provavelmente ganharia a eleição. Podia ter escolhido pessoas muito melhores e com perspectivas muito mais grandiosas de futuro. Dois exemplos emblemáticos seriam Antonio Palocci, mesmo com toda bobagem sobre supostos escândalos, ou Tarso Genro, excelente ministro e mais do que preparado para a missão. Na verdade, consideraria Tarso a pessoa certa para o cargo. Tem uma reputação pública, uma história que faria frente à Serra em qualquer campo. Alguém perfeito que realmente representaria nosso país. Posso fechar os olhos e vê-lo como candidato a presidente no lugar de Dilma, nos debates. Iria arrasar. Fico muito triste por não ser ele o candidato. E veja, estou falando de opções petistas, nem estou citando o candidato mais natural e correto, que seria Ciro Gomes. Mas Lula escolheu Dilma, que sucessivamente me decepciona. É uma pena, uma pena para o futuro do PT.
terça-feira, 17 de agosto de 2010
A escola
Outro dia, com alguns amigos, Mario, Gaucho e Jimmy, surge o tema e eles me perguntam: afinal, por que eu, tão inteligente, abandonei os estudos? Desconversei. Ainda é um tema com o qual não verso muito bem, mas me sinto feliz em já poder falar sobre ele. Freud diz que a libertação está em poder falar. Eu concordo inteiramente. Quando entrei na faculdade, isso era algo que eu escondia e demorou muito para que eu falasse a respeito com alguém. Sentia vergonha disso. Não que agora tenha orgulho disso, mas, hoje, falo de certa forma abertamente, e até já escrevi sobre isso aqui no blog, um espaço público. De fato, a libertação está em poder falar. Fico feliz em poder falar sobre isso. Mas por que, afinal, eu abandonei a escola? Para quem não sabe, eu parei de estudar entre a 4ª e a 5ª série (completei uma, mas nem começei a outra). Bem, houve uma série de razões, destacadamente duas. Sobre a possivelmente mais importante, é pessoal, e conto para os amigos que me perguntarem tranquilamente, mas não cabe ser mote de escrita aqui. Mas uma das razões (não a principal) que me levaram a abandonar a escola foi minha insatisfação com ela. Frequentei boas escolas, particulares. Mesmo assim, eram uma droga. Não gostava de ir para a aula. Quando abandonei em definitivo, já havia reprovado de ano três vezes. Hahaha. Sim, é verdade. Em todas, por falta. Eu era uma espécie de versão mirim do meu amigo Carlos e de como trata a faculdade. E não estou brincando. Eu era exatamente assim, muito inteligente, bom em conhecimentos escolares e extremamente desisteressado em frequentar as aulas. Desde cedo, sempre amei filmes. Mas nos idos dos anos 90 não existia internet, para baixar filmes e assistir a hora que quisesse. Me lembro quando lançaram o intercine, em que você podia escolher o filme que passaria no dia seguinte, era incrivel! E mesmo antes... Sempre adorei ficar as madrugadas acordado para assistir filmes. Resultado, nunca acordava de manhã para as aulas. Quando acordava e ia (sempre, sempre atrasado), odiava. Era insuportável aguentar as professoras passarem em um mês aquilo que podia ser dado em alguns minutos. Era insuportável. Não quero me achar, mas também não dá para negar. Uma das coisas mais insuportáveis que me lembro é do "ou seja". Foi na quarta série, se não me engano. A professora era meio que obcecada por essa expressão, eu acho, pois usava a absolutamente todo momento, ao escrever no quadro negro, ao ensinar. Enchia o quadro de ou sejas. Ficava indignado. Como disse, não quero parecer arrogante, mas com aquela idade, acho já escrevia melhor do que aquela professora. E questionava ela durante as aulas, sobre não ter sentido em usar tantas vezes essa expressão. Ela dizia que era para explicar melhor o que você estava tentando dizer. Me lembro que dizia algo como "Se você tem que explicar melhor depois é por que não explicou certo da primeira vez. É melhor você se expressar certo de uma vez, aí não precisa usar o ou seja". E assim foi indo. Repeti a segunda série uma vez, antes de passar. Repeti a terceira também, antes de passar. E repeti a quarta. Hahaa. E esta eu só passei por um chuncho da minha mãe com as professoras. Elas, em virtude da minha inteligencia, aceitaram, se eu fosse no último bimestre, e fizesse a última prova, alterar minhas presenças do resto do ano e repetir nos outros bimestres a nota que eu tirasse no último bimestre. Só por isso passei na quarta série. Haha. Ou seja, na prática mesmo, só fiz até a terceira, pois a quarta só frequentei no último bimestre. Então vieram outras questões, depressão, que funcionaram como referendo e reforço à essa tendencia e abandonei a escola definitivamente. Hoje, olhando para trás, me arrependo muito. São experiencias que não tive. Por isso (entre muitas outras coisas, claro) estou realmente adorando a faculdade. Ela é para mim o convivio escolar que nunca tive.
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