quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Canções

Fim de carnaval. Nada melhor do que celebrar com boa música. Amo o álbum Tommy, do The Who, uma ópera rock. Duas, das muitas canções marcantes da obra.

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1921

Sinto que vinte e um vai ser um bom ano,
Especialmente se você e eu estivermos juntos.

Então você acha que vinte e um vai ser um bom ano?
Pode ser para eu e ela, mas você e ela, não nunca!


Eu não tenho nenhuma razão para ser otimista demais,
Mas de algum modo quando você sorri
Eu posso suportar o mau tempo.


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Christmas


Você já viu o rosto das crianças?
Elas ficam tão excitadas
Acordando numa manhã de Natal
Horas antes do sol de inverno surgir
Elas acreditam em sonhos
e todos seus significados
Inclusive generosidades celestiais
Espiando pela porta
Para ver quais pacotes são de graça
Com curiosidade

E Tommy não sabe que dia é hoje
Não sabe quem foi Jesus
Ou o que seja rezar
Como ele pode ser salvo
Do túmulo eterno?

Cercado pelos amigos,
ele se senta silenciosamente
E desavisado de tudo
Jogando proxy pin ball
Coloca o dedo no nariz e sorri e
Mostra a língua para tudo
Eu acredito em amor
Mas como pode homens que nunca viram
A luz serem iluminados?
Somente se ele estiver curado
O seu espírito no futuro se elevará.

E Tommy não sabe que dia é hoje
Não sabe quem foi Jesus
Ou o que seja rezar
Como ele pode ser salvo
Do túmulo eterno?
Tommy, você pode me ouvir?
Tommy, você pode me ouvir?
Tommy, você pode me ouvir?
Como ele pode ser salvo?

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Carnavais

Os carnavais sempre foram marcantes em minha vida, de uma forma ou outra, por mais curioso que isso seja. Sempre gostei do carnaval em si, nem sei direito bem por quê. O carnaval teve uma grande importancia em meu reestabelecimento de um elo com o mundo real. Acredito que, boa parte, gostava do carnaval (e acredito que é o por que as pessoas, ao menos em parte, gostam) por ser uma espécie de catarse. A expiação dos sentimentos, a realização temporária dos desejos não manisfestos da vida. Este ano, como diria o sábio Akira, "num tô nas pira". Ou seja, não estou ensejado no movimento para curitr o carnaval. Nem é por tristeza, desentusiasmo ou algo assim, apenas não senti vontade, gosto. Acho que estou aproveitando melhor meu tempo, fazendo as outras coisas que tenho feito esses dias. Acho que existem duas explicações para isso. Primeiro, acredito que para o carnaval se constituir como catarse, a distancia geográfica do lugar que você conhece é fundamental. No passado, a cidade era como que uma visita para mim, nada e ninguem conhecia. Apesar das referencias de ruas e lugares continuarem sendo uma grande incógnita (apenas por falta de locabilidade; nunca sei onde é o que, em qualquer parte) cruzo com pessoas nas ruas, que são meus conhecidos. Não que eu seja falso (acho que isso não se constitui como uma falsidade) mas não agirei em minha cidade, apenas por ser carnaval, de modo que não agiria fora dele. Tenho muito pudor e senso de responsabilidade para isso. Acho que isso, em parte, explica por que as pessoas viajaram para longe, no carnaval. Podem curtir, fazer o que quiserem, e depois abandonam o passado por lá, sem precisar conviver com ele. Em segundo lugar, penso que o carnaval só era tão atrativo para mim, durante uma época, por ser o momento da vida, por assim dizer, onde se podia experimentar viver, de certa forma como todos demais. Agora já vivo, e se vivo a vida que desejo todos os dias, que importa essa vida no carnaval? Já vivo as coisas que quero todos os dias, logo não preciso mais do carnaval para expiar o que quer que seja. Mas ainda há uma série de considerações a serem feitas sobre o carnaval. Semana passada, vi pelo twitter, um amigo do ctcom anunciar que ficaria bebado ao extremo, que não se lembraria de nada e pedindo (em tom jocoso) para que as pessoas depois lhe contém o que aconteceu. Não consigo entender as pessoas que ficam bebadas para privação de consciencia. Já fiz isso, mas ainda assim não consigo entender. Desde sempre olhei para as pessoas na rua, no carnaval, interrogando-me sobre a beleza que deveria ser os motivos pessoais que trouxeram cada pessoa àquele momento, para estarem reunidas naquele lugar. Em geral, pode-se generalizar certos motivos, e é a partir disso que se constrói a sociologia, como estudo das motivações sociais das atitudes dos individuos. Podem falar que a psicologia também cuida disso, mas com todo respeito ao Zama, foda-se a psicologia, o que importa mesmo é a sociologia. A psicologia pode até determinar como reagimos de uma forma ou outra, mas o que determina os motivos para as ações são questões essencialmente sociais. Ou seja, desde sempre fui um chato metido a sociólogo. Hahaa. Acredito que deve existir estudos sobre ambos, carnaval e bebida, mas nunca procurei a respeito - qualquer dia, ainda faço isso. Apesar da beleza de pensar sobre os motivos que trouxeram cada um àquele ponto, não consigo entender a bebida. Mas isso, eu já disse. Voltando ao carnaval. Já tive bons, excelentes carnavais. Curti muito, tal qual todos. Outros nem tanto, nem tanto. Mas sempre saí, e talz. Ano passado não me recordo, mas acredito que não. Estava ainda em recuperação do acidente que sofrera no final de 2008. Me lembro de desejar sair para ficar no sol, o que não podia fazer, e pensar que no ano seguinte faria tudo aquilo, diferente, aproveitaria. Sabe o que é engraçado? Esse ano posso sair para aproveitar o carnaval, mas não o faço. Não quero. Acho que esta é um fase que, de certo modo, já superei. E sabe qual a direferença deste para o ano passado? Dessa vez eu que escolhi, não sair. Claro que, se ano que vem, existir uma oportunidade para confraternizar junto com amigos, irei, mas aí está aquela coisa que a companhia é o que importa, não o lugar em si. O carnaval, ao menos nesse momento, já não me atrai mais, ainda que seja um belo mote de estudo social.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Manias e outras coisas

Meus ultimos posts tiveram um tom tão amargo, não? Meio autoritário, fascista, sei lá. Só quero dizer que não é esse meu sentimento para com a humanidade. Acredito no Amor, como Agostinho acreditava e Hanna Arendt também.
Engraçado que temos manias que, às vezes, nem percebemos. Uma mania que percebi minha é que sempre começo os posts explicando como cheguei àquele tema. Geralmente é o primeiro parágrafo, que é grande, e muitas vezes não tem nada a ver com o tema em si.
Percebi que quantidade não é igual qualidade. Vou dar um tempo nos posts diários, e vou tentar reduzir seus tamanhos.
Já este post não tem lé-com-cré, com cada parágrafo uma coisa diferente, né? Assim é a vida, nem sempre tem uma coesão interna.
Enfim...

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Esboço de algumas idéias revolucionárias. Ou não.

Nem sei se deveria estar escrevendo isso aqui, mas lá vamos nós. Me inspirei pelo post sobre liberdade. É um tema longo, que poderia escrever muito a respeito, mas paradoxalmente, vou ir direto ao ponto e ser o mais sucinto possível.
Durante muito tempo, todo um ano, desde que entrei na faculdade, até metade do ano passado (quando começei a me interessar por antropologia e cogitar essa alternativa) esta foi minha idéia quase certa para minha tese de mestrado em filosofia política, para uma nova teoria do estado.. Hoje já, minhas idéias já não são definidas, e penso sobstancialmente diferente, mas vamos lá.
Eu defendo que a idéia de moral e mesmo de bondade só pode ser socialmente referendada por uma entidade superior, que, onisciente e onipotente, garante a punição absoluta. Em última instancia, apenas a punição garante a retidão. Pois bem, enquanto a Igreja e o estado eram a mesma coisa, tudo caminhava muito bem, em se tratando de retidão moral (é claro que não era bem assim, mas vamos em frente). Veio Montesquieu, separou Etsado e religião. Mas e agora, o que dá legitimidade ao Estado? Então veio o contrato social. Não vou explicar isso aqui. Mas ora, contratos são quebráveis, podem ser rompidos. É isso que faz o criminoso ao cometer um crime, apenas rompe um contrato, não reconhece o Estado, pois não há mais entidade superior. Defendo (e isso sou eu, nenhum sociólogo, até onde sei) que apenas uma entidade superior pode dar legitimidade inquestionável ao Estado. O que fazer agora, então? Defendo um conceito que chamo de Estado-Deus. Veja, Montesquieu tirou Deus da equação, mas não colocou nada no lugar; agora são só homens. E como um homem, igual a mim, pode ter dominio sobre mim?, é a pergunta que se faz quem quebra o contrato social. Há que se pôr algo no lugar de Deus, que saiu da equação. Defendo que o Estado não deve ser encarado como simples união, contrato, ou representação. Não apenas como regulação da sociedade, mas criação, controle e punição. O Estado deve ser encarado como Deus. Para isso, é necessário as três características que caracterizam esse ente. Onipresença. O Estado deve estar em todos os lugares - função que já está começando a se viabilizar com as novas tecnologias que surgem. Onisciencia. O estado deve saber de tudo. Consequencia da onipresença, como já expus, o estado tem direito, por exemplo, de fazer escutas telefonicas, para garantir a paz e a punição dos que sairem da reta. E o terceiro ponto, mais polêmico, Onipotência. A essa, acho necessário impor limites, os limires da previsão legal. Assim como Deus também tem os mesmo limites, que são os limites da previsão legal de suas escrituras. Penso, em síntese, que o Estado deve ter poder e influencia direta sobre a vida das pessoas, regulando não somente a economia, mas sendo encarado realmente como o ente superior. Os problemas de regulação social, ao menos relativo à segurança pública, seriam resolvidos num estalar de dedos. "Paz não é somente ausencia de guerras, mas segurança social", essa é uma das freses que mais me marcaram (é de Alberto Dines). O Estado deve prover essa segurança social, mas também reprimir violentamente não sair das regras. Se o Estado é aquele que detém o monopólio legitimo da violencia (essa é a definição sociológico do estado, para Weber, por exemplo) qual o problema de usá-la? E as idéias vão mais longe, mas como disse, serei breve hoje.
É apenas um esboço por enquanto, e eu sei que são idéias mais do que perigosas. São idéias bem, bem próxias do fascismo. Mas primeiro, que discordo do fascismo em relação a perseguição a pessoas ou grupos de pessoas. O Estado deve ser neutro nesse ponto. Eu não sou fascista, ok? Mas não nego tudo que foi o fascismo, acho que existem coisas aproveitáveis. Confesso que ainda não estudei em profundidade, e posso estar falando uma bobagem. Mas o controle da economia, por exemplo, parece interessante.
Enfim...

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós (ou Da relatividade da liberdade)

Li outro dia desses um artigo no blog do Fred (Fred Vasconcelos, não o professor Fred...  haha) na Folha sobre a mudança da jurisprudência a respeito das escutas policiais e os limites do direito à privacidade. Coincidentemente, no mesmo dia, leio um babaca de extrema direita na Veja, que gosto de ler só para rir de suas babaquices, citar distorcidamente Lenin, que teria dito "Liberdade para quê?" (não sei se é verdadeira a citação, mas acredito que sim). Então me retorna à mente um tema sobre o qual queria escrever a muito, e se a memória não me engana, ainda não escrevi aqui no blog. Liberdade.
Antes que eu comece, já vou prever as criticas. São idéias totalitárias, fascistas, ditatorial, comunista, sei lá mais o que. Sei que as piores criticas virão de mim mesmo, daqui a algum tempo (provavelmente não muito), quando mudar de opinião. Mas sendo esta a minha posição de hoje, lá vamos.
Todo o sistema do assim chamado Estado de Direito (ou seria de Direita?) baseia-se na liberdade. Liberdade individual, liberdade de comércio, liberdade de imprensa, liberdades liberdades. E quem foi que disse que a liberdade é natural? Ok, Locke e Hobbes disseram. Mas e daí? Quero dizer, adota-se a perspectiva que a liberdade é um dom “natural” do ser humano, mas isso é uma perspectiva cultural; cultural e sobretudo ocidental. Não quero viver em um regime totalitário, sem liberdade alguma; creio que a liberdade essencial, que essa sim não pode ser tocada, é a liberdade de pensamento e expressão, mas penso que a liberdade total em que vivemos, e que certas correntes defendem, não é algo intocável. Vamos colocar assim: não vejo problemas em pequenas restrições à liberdade, se estas favorecerem a promoção da igualdade. Igualdade, assim como liberdade, é um conceito cultural, antropologicamente falando. Ambos os conceitos foram construídos socialmente e pertencem a um processo histórico. Inclusive, se pensarmos bem sobre o “natural”, a liberdade estaria mais perto de ser natural do que a própria igualdade, apesar de nenhuma das duas o ser, para mim. Então, por que promover igualdade, se ela é tão culturalmente construída quanto a liberdade?
Não sei se é possivel construir um argumento baseado na Razão, assim como não é possivel defender a liberdade. Minha fé na igualdade tem muito a ver com minhas crenças, e por isso, por se tratar de vontade e fé, não é essencialmente razão, esta inquestionável lógicamente, se é que existe tal coisa. Sou cristão, apesar de não frequentar nenhuma igreja especifica. Ironicamente, acredito na Igreja Católica, apesar de não frequentar (geralmente as pessoas fazem o inverso, frequentam mas não acreditam). Minha confiança na igreja católica como a representante do cristianismo na terra tem muito a ver com o que Weber definiu como o poder vindo da tradição, mas não é sobre isso esse texto. As pessoas enxergam - e quando tento argumentar com elas continuam insistindo em seu ponto de vista inicial - uma dicotomia entre fé/religião e Marx. Marx criticou duramente a religião, o "ópio do povo", assim como também criticou o próprio sentido de ideologia, a falsa consciencia, ao mesmo tempo que construia uma nova ideologia. É contraditório se você pensar, mas faz seu sentido. Ele criticou a religião por entender esta como um instrumento da classe dominante para alienar o povo. Muito provavelmente estava certo, dentro de seu contexto. Ele não critica, até onde sei, a fé em si, o objeto no qual se acredita, a saber o paraíso, propagado pela igreja católica, por exemplo. Analisando Marx, suas propostas parecem utópicas exatamente por propor qual um paraiso na terra. Ou seja, as coisas que Marx defende tem muita semelhança, com as coisas que a fé cristã defende, como harmonia entre os homens, fraternidade, etc. Diferenciam-se pela igreja chamar isso de paraíso enquanto Marx chama de comunismo. Poderia tentar expor mais longamente e melhor meus argumentos, mas como Marx não é o objeto central desse texto, acho que está suficiente. A igualdade entre os homens é o sonho último, tanto do marxismo, quanto do cristianismo. Acredito que nunca (pelo menos não em plano terreno) chegaremos a igualdade plena, mas isso não nos impede de caminhar em sua direção.
O Estado é o ente que instituimos para "controlar" a sociedade, nos "regular". Então acho sim, que o Estado tem o direito que intervir em certos aspectos sociais, inclusive diminuindo a liberdade, em beneficio dessa regulação, desse controle. Tanto para promover igualdade, mas sobretudo em outro aspecto, que é o trabalho polícial (definição esta do que é o Estado - aquele que tem o monopólio da violência legítima). Já ouvi criticas, do fato de que na Ingleterra, por exemplo, existe um sistema de vigilancia por câmeras muito incisivo. "Estão tirando minha liberdade; estão me olhando", é o que dizem. Mas é preciso vigiar mesmo! Claro que nos sentimos menos à vontade sob o olhar de uma camera, mas essa é a intenção. Que você não faça, sob o olhar de uma camera, o que não faria fora do olhar dela. Controle social. Esse é o termo, e acho que é fundamental. Veja, existem limites. O Estado não pode colocar um satélite e olhar dentro da casa de uma pessoa, em uma esfera estritamente particular. Mas desde que exista, nessa casa hipotética, uma janela aberta, e a camera olhe pela janela, é justo. O Estado está em toda parte. Só não há policiais em cada esquina por pura questão logistica, mas ainda que o policial não esteja lá, o Estado está. Minha tese é: se, parado no local onde existe uma camera "espionando" as pessoas, houvesse um policial, e este policial fosse capaz de enxergar por uma janela, o interior de uma casa, então a camera (que é o olho eletronico do policial) também tem o direito de olhar por ela. O lugar público é público, meu bem. Deve sim, ser vigiado. E nisso a tecnologia é um grande bem, pois propicia que o Estado torne-se, na prática, o que ele era até então somente em filosofia e teoria: onipresente.
Claro que devemos ter cuidado com a onipresença do Estado, sobretudo em regimes autoritários. O poder de controle e repressão aumenta. Mas não vejo o Estado como inimigo (como Hobbes, que se pergunta como o individuo deve se defender do Estado). Não acho que o cidadão reto deve temer o Estado, ou ter que se defender dele. Uma outra correlação que faço agora é com os "pardais" (terminais de fiscalização) eletronicos, tão criticados por aqueles que gostam de infringir a lei do limite de velocidade no transito. A lei não deve ser cumprida apenas pois haverá punição, ele deve ser cumprida por ser lei. Ou seja, não importa se existe ou não o pardal, escondido, para fiscalizar, a lei deve ser cumprida. Por isso, defendo que exista "pardais" em absolutamente todos as ruas da cidade, assim como exista cameras em absolutamente todo e qualquer lugar que um policial poderia estar. Nesse sentido, não se trata de privação da liberdade, ainda que alguns achem que sim. No entanto, vou mais longe.
Não gosto do ex-governo de George W. Bush, mas também não o odeio, como muitos. Acredito que americanos são todos iguais, Bush e Obama, quando se trata da relação imperialista com o sul. Mas não discordo, e pelo contrário, gosto, de uma das medidas mais criticadas de Bush, o Ato Patriótico, que dava uma série de permissões especiais ao Estado em relação ao cidadão, como prisão preventiva e escutas telefonicas sem  necessidade de mandato judicial. Quanto à prisão preventiva, até concordo com as criticas, mas as escutas telefonicas, é, a meu ver, um direito do Estado em relação ao cidadão, com a finalidade de proteger a sociedade. Afinal, odeio ditados, mas vou recorrer a um "quem não deve não teme". Tudo bem, sei que essa minha opinião é o que há de mais retrógado e conservador que existe - me lembro do professor Rodrigo, quando disse isso certa vez, fazer um paralelo, ironico, que no regime militar também, o governo dizia que "o cidadão de bem não tem o que temer". É claro que deve haver controle ridigo a respeito do uso pessoal, politico ou partidário de um sistema como esse. No Brasil, por exemplo (e sem querer bancar aquela gente que acha que tudo que é estrangeiro é melhor - não sou assim), seria complicado pois cada governo nomeia os cargos da polícia federal, por exemplo, a seu gosto. Não apenas o governo do PT, como a mídia gosta de ressaltar, mas do PSDB também, e de qualquer um. Uma coisa que admiro no sistema americano é uma "burocratização" do serviço de inteligencia. Os chefes militares são aqueles, o diretor do FBI é aquele, o diretor da CIA é aquele, há decadas! E não vai mjudar a política ou as ações, independentemente do presidente que houver. O sistema está acima dos governos, e os transpoem., os perpassam. Em um sistema assim, estável, é possivel instituir um serviço de escutas telefonicas que sirva aos interesses do país. Diminui-se a liberdade. Não em nome da igualdade, mas da segurança, do fortalecimento do Estado. Claro que existem limites.
O que quero mostrar é que já hoje, vemos nossa liberdade diminuir. que então façamos algum proveito, que seja por uma boa causa. Por fim, apenas para não deixar a impressão errada, quero dizer que acho sim, que a liberdade é um bem fundamental da nossa civilização. O que caracteriza o ser humano é o livre arbitrio para a escolha. Liberdade. "Essa palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda", como disse nossa poeta Cecilia Meirelles. É tudo questão de achar o ponto de equilibrio. Nem tanto lá, nem tanto cá.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Coisas abrangentes

Lembrei-me de Star Trek. A nova versão, feita ano passado. Inclusive, sobre este filme, gostei muito quando o vi na lista de possíveis cotados ao Oscar - uma pena que a cotação não se efetivou, mas continua sendo muito bom mesmo assim. O filme tem grandes qualidades, mas acredito que talvez a melhor seja sua "polissemia", por assim dizer. Tentarei explicar. Geralmente os filmes tais quais Star Trek, que já vêm de uma longa tradição cinematrográfica (e além) seguem um dos dois caminhos: ou são continuações, assumidamente para os fãs, para quem já conhece e está familizariado com aquele universo, ou, na segunda alternativa, negam o passado, ignoram os filmes anteriores, e tentam se re-inventar para as novas gerações, seja em refilmagens tradicionais, seguindo a linha do que já foi posto, seja mesmo recriando as histórias. Em qualquer uma das opções, desgrada-se um publico em potencial e o perde, seja os já fãs, seja as novas gerações. O grande mérito do novo Star Trek, que está essencialmente na sacada genial de seu roteiro, é que com uma complexa (mas de fácil assimilação) história sobre viagens no tempo e universos paralelos consegue o talvez inédito feito de agradar aos dois públicos (sem ser condescendente). O filme não nega todo o passado que já existiu, nos mais de dez filmes feitos até hoje da versão clássica. Este passado existiu, e está presente no filme. Mas ao mesmo tempo, dá um re-start na série, começando do principio da história classica dos personagens, mas alterando-a, sem ser uma mera refilmagem. O maior fã de Star Trek vai adorar o filme; quem (literalmente) nunca na vida ouviu falar de Capitao Kirk ou Spock também vai adorar o filme. É sobre este tão raro fator abrangente que quero falar hoje.
É raro ver isso, e, eu, na minha humildade linguistica, não sem bem como nomeá-lo. Agradar a gregos e troianos às vezes é possível. Mas o risco maior quando se tenta fazer isso, creio, é tornar-se apenas algo morno, nem quente, nem frio. Ficar em cima do muro é fácil. Mas ficar em cima do muro não é agradar a ambos os lados, é não agradar a nenhum. Por isso realmente admiro obras que conseguem dizer alguma coisa, e ainda assim ter uma visão ampla, que possa agradar (senão a todos) a muitos. E por que estou falando sobre isso agora? Começei a ler hoje o livro "Cartas entre amigos: sobre medos contemporaneos". Começei hoje, mas já li muito, como não devorava um livro desde que devorei o livro do Palocci, alguns meses atrás (geralmente leio muito devagar, deglutindo cada palavra). 
Estou gostando muito, muito mesmo. São cartas trocadas entre o Padre Fábio de Melo, um dos grandes representantes da corrente carismática da igreja, e o político paulista Gabriel Chalita (ex-tucano, até ano passado - o que me fez pensar treze vezes antes de comprar o livro - hoje candidato ao Senado pelo PSB). Como o título já sugere, o tema são os medos contemporaneos, amor, morte, solidão, fé, e por aí vai. Sempre gostei do registro através de cartas - coisa muito, muito comum na literatura classica, na filosofia, em todas áreas de pensamento, até a metade do século XX, e hoje já esquecida. O livro está me agradando muito, e uma das causas esse limiar abrabrangente que tentei definir sem saber direito como. Ambos são intelectuais, e transparecem isso -  as cartas contém recortes de poesia, de filosofia, não apenas opiniões, e não restritas a uma visão de mundo apenas (como poderia se supor, pelo fato de um dos autores ser padre). Mas a filosofia e a poesia amplamente citada não está lá como ostentação intelectual que se percebe em trabalhos academicos - ela sustenta e dá sentido ao pensamento, e responde aos questionamentos. Questiona-se, mas não é um manual de auto-ajuda barato. Estes, tentam vender respostas milagrosas e prontas, para como se tornar um gerente de sucesso, como ter uma familia feliz, etc e etc. O livro é um questionamento filosófico sobre a vida, mas não necessariamente se obriga a oferecer respostas. Não as oferece. Apenas propõe uma reflexão. Está me agradando, acredito que agradaria um academico, assim como agradaria igualmente um "mortal" não-iniciado. Estou impressionado.
P.S. Só a capa que é horrivel - parece coisa de dupla sertaneja, e não a reflexão filosófica que é.

O papel da universidade

No post anterior recorri à universidade para exemplificar o que queria dizer sobre méritos e condições sociais, e então me lembrei de um tema que acho muito interessante, e que co-habita um outro fato que ocorreu esses dias: qual o papel social da universidade?
Bom, nem sei se esta é a pergunta certa para o que quero dizer, pois abre margem para muitas interpretações, mas vamos lá. Como a universidade deve se comportar em relação ao acesso a ela?
Saiu esses dias os resultados do vestibular do CTCOM, da UTFPR: meus futuros calourinhos. Comemorou-se que a nota de corte foi alta (algo em torno de 700, coisa assim) e a concorrencia havia subido, para 14 por vaga, se não me engano. Bom, não sei por que se comemorou, mas não vejo como algo necessariamente bom. Já vou explicar.
Na verdade, entendo sim por que se comemorou, afinal, mais concorrencia no curso, significa que o curso é mais valorizado no mercado, o que dá mais valor pros nossos curriculos, pro curso, etc e tal. Mas que tipo de lógica é essa?
Me lembro da Maurini, comentando em algum momento do semestre passado, do seu plano/proposta para divulgar a UTFPR em cartazes por Curitiba, para fazer propaganda. Assim como acho que o governo não deve fazer propaganda, muito menos uma instituição pública de ensino deve fazer propaganda. "A UTF concorre com as outras universidades", me lembro dessa frase dela. Discordei no dia, e continuo discordando. É uma lógica mercadológica. A UTF não está no mercado (é pública, e seu aval deve ser qualidade, não propaganda), e não precisa de grande concorrencia.
Concorrencia de 14 por vaga, significa que a cada um que entre, 13 terão frustados seus planos. Mostra que sistema educacional brasileiro ainda tem um grande gargalo, e não dá conta de todos dos alunos que desejam estudar. O vestibular só é necessário por que não há vagas suficientes, mas poderia muito bem haver. Universalizou-se a educação básica e média, e sua continuidade, a educação superior também deveria ser universalizada. Se houvessem vagas para todos, claro que ainda haveria concorrencia pelas melhores universidades, pelos cursos mais desejados, mas esta seria bem mais baixa. Menos concorrencia, significa melhor distribuição e ampliação do acesso. Uma vaga, para cada um, deveria ser garantida. 
"Ah, Márcio, isso é 'se'.." pode-se argumentar. Ora, se não nos indagarmos com os "se" e os "dever ser" permaneceremos sempre na reprodução do estado de "ser" atual da coisas. Quero mudar, criar, não reproduzir. 
Então é este o questionamento principal que me lembrei e que quero refletir. Criticou-se, à epoca, que o ProUni iria patrocinar, com dinheiro público, vagas em universidades sem qualidade, ou de baixa qualidade. O principal argumento contra o Reuni do governo federal, que amplia os investimentos em universidades públicas condicionado à ampliação de vagas, é que, ao ampliar as vagas perderá-se a qualidade do ensino. Então chega-se ao dilema: ensino de qualidade para poucos, ou ensino sem qualidade para muitos? O ideal, claro, seria ensino de qualidade para muitos, mas devemos reconhecer que a realidade não é igual aos ideais. Devemos perseguir os ideais, claro, mas também nos atentando para a realidade. O que fazer, então? qual a solução? Me lembro de uma discussão (no bom sentido, academica, de troca de idéias) sobre esse tema da educação com o Prof. Rodrigo, logo no inicio que entrei na federal, e ele argumentou a favor da "banalização do estudo", baseado em um ponto especifico que me convenceu. Todos os países do mundo, que tornaram-se grandes, só o fizeram a partir da vulgarizção do ensino; ele deve se tornar acessivel a qualquer um, e não ser aquela coisa restritiva,  "dos melhores". Nisso, ele fez uma critica justamente a o sistema que considera quanto mais dificil de entrar melhor, quanto maior a concorrencia, melhor, quanto maior a reprovação durante o curso, melhor. O ensino não é para os melhores, mas para todos. Perde-se qualidade? Sim, perde-se. Mas salvo profissões de risco (engenheiro, médico, etc, que devem ser resguardadas) não há problemas em formar um mau profissional. Um profissional incompetente, mal graduado, é "melhor" do que um não-graduado. E, em meio a mil profissionais ruins, vai sair um que se destacará, um que será um novo gênio, que irá promover grandes mudanças. Um, que se o ensino não estivesse vulgarizado, jamais teria a oportunidade de chegar lá. Não aceitei o argumento na hora, demorei alguns dias pensando, e hoje penso que realmente concordo, em partes. Digo em partes pois tendo a uma visão mais centrista, ou dialética. Não devemos ter o estudo elitizado, apenas para poucos, mas também não podemos ter o ensino totalmente "banalizado", e sem qualidade. Penso que deve haver instituições e instituições. Deve haver a universidade abrangente, que esteja aberta a todos. Como de certa forma é a Litoral, atendendo ao povo dessa região, como outras universidades que estão surgindo. Mas também deve haver aquelas universidades que são centros de excelencia, e, por centros de excelencia, sejam de dificil acesso. Deve haver a Unila, que vai atender aos povos da fronteira, uma universidade de promoção social, como a Litoral também é (mas cuja qualidade do ensino não será comparável com a UFPR, por exemplo). Mas também deve existir os ITA's da vida, impossiveis de entrar; as Unicamp, desenvolvendo tecnologia. Isso que digo pode ser criticado como uma divisão de classe, como se propusesse que a qualidade deve ser para o ricos e aos pobres nada. Não é isso. Acho que devemos lutar em duas fronteiras. Ampliar a participação e o acesso ao ensino, mas também manter os centros de excelencia e inovação. Correntes políticas brigam para tentar provar qual está certo, quando as duas são necessárias e eficazes. Seja de que forma for, uma coisa é indiscutível. A grandeza de um país passa pelo fortalecimento da educação. Mais do que um discurso político, isso deve se traduzir em sentimento da população, que reinvidique quantidade e qualidade.