domingo, 15 de agosto de 2010

Sobre mulheres vulgares e outras brasilinidades

Cléo Pires saiu na Playboy desse mês. Isso me assusta e me entristece. Nosso país ainda não é sério. Nosso país não é sério pois não nos valorizamos. Cléo Pires, ao contrário das prostitutas (como bem definiu Marcelo Tás) que tipicamente estampam essas revistas, é um boa atriz. Não gosto de ser etnocentrico e acho essa prática tenebrosa. Me causa nojo ver pessoas que falam "ah, mas no exterior...". Infelizmente, há momentos que isso é inevitável. No exterior... Não vemos as grandes atrizes americanas ou européias nas capas de revistas masculinas. Apenas no Brasil nossas grandes atrizes se sujeitam a sair na Playboy como se fosse uma grande coisa. Playboy, nos Estados Unidos, é para prostitutas, não tem prestigio nenhum, quanto mais o prestigio que tem no Brasil. Inclusive, nos Estados Unidos, as mulheres são frescas até demais com essa coisa de nudez. Na Europa, as atrizes são bem mais desinibidas em relação à nudez, mas nas obras  de "arte" (filmes, tv, etc). É normal explorar a nudez no cinema europeu, pois aí a atriz se entrega à arte, ao personagem; elas não saem nuas em revistas masculinas por dinheiro apenas. Quando vejo putas como qualquer dessas mulheres frutas, que estão na moda, posarem para essas revistas, acho normal, pois é, para usar uma expressão cara a meus amigos, sua função social. Mas me entristeço quando atrizes boas, de gabarito, se sujeitam a isso, se rebaixam a essa vulgaridade. Então percebo que, infelizmente, nosso povo ainda não se leva a sério. 
Existe outro exemplo, desse modo de nos encarar a nós mesmos. Outro dia, vendo tv, assisti uma dessas "propagandas institucionais". Acho que era do SBT, mas não tenho certeza. Falava do nosso país, exaltava e tal, para no fim falar sobre o voto consciente. Objetivava passar a mensagem que nossa atitudes individuais são as atitudes também coletivas. Tinha passagens como "a todos mataram o filho; todos nós furamos o sinal" Ou seja, é problema de todos. Até aí, só piegas, mas tudo bem. A coisa pega quando começa a exaltação das coisas boas do país e fala, basicamente, apenas sobre mulheres e esportes. Outros trecho "temos as mulheres mais bonitas do mundo, ganhamos cinco copas do mundo". Fiquei indignado com esse trecho e gritei com minha tv: e daí, porra?! Há outros trechos igualmente revoltantes, como quando fala "daqueles que jamais serão esquecidos" e a imagem que ilustra é a de Pelé, como se o ápice fosse o esporte. Fiquei indignado e revoltado como essa propaganda trata nosso país. Sério, o melhor que temos a falar sobre nosso país é que temos mulheres e esportes?!?! Algumas semanas atrás todos ficaram indignados com uma brincadeira de Stallone que ridicularizava o Brasil mas o que fazemos é passar justamente a mesma imagem e referendar o que ele disse. 
É revoltante, principalmente por que não é verdade. Se me perguntarem qual meu herói, tenho dois exemplos a dar. Um, claro, quem me conhece já pode adivinhar, é merecidamente Lula. O outro é Miguel Nicolelis. Sabe o que é triste? A maioria dos próprios brasileiros (e talvez até mesmo meus leitores) não sabem quem é ele. Indicado em 2008 ao Nobel de Medicina, é um dos mais brilhantes cientistas do mundo atualmente, e desenvolvedor da tecnologia que permite o controle de um esqueleto mecânico a partir de ondas cerebrais. Nos Estados Unidos, onde comanda um grupo de pesquisas de uma das maiores universidades do país, é considerado um gênio, mas no Brasil, é um desconhecido. Triste a desvalorização que o brasileiro inflige a si mesmo. Se queremos ser grandes, que os outros nos reconheçamos como tal, então temos que começar por nós mesmos. Creio que seja necessária uma mudança de mentalidade, gradual, que infelizmente não se faz do dia para a noite. Tenho a esperança que, um dia, verei isso. Mas não podemos sentar e esperar, temos que começar a nos mudar, hoje. O mais breve possível, por favor.

sábado, 14 de agosto de 2010

Minha mãe

Meu relacionamento com minha mãe é um tanto complicado, por assim dizer. Difícil explicar, e não irei me deter nisso aqui, hoje. Apenas um pensamento me ocorreu hoje. Ela entrou aqui no meu quarto e eu estava com a página de rascunhos do blog aberta, escrevendo. Ela se deteve por um instante, olhando o que era que estava fazendo. Não costumamos conversar muito, e por incrível que pareça eu nunca comentei com ela que tenho um blog. Ela não sabe da existência deste blog. Não por segredo, nem nada, afinal, isso aqui é público, mas por pura falta de abertura, ensejo ou propósito para dizer algo assim. Aí me ocorreu: este blog sabe mais de mim do que ela. Ou seja, já escrevi aqui, sobre minhas opiniões (que, no limiar, dizem quem sou), mais do que já disse a ela. Quem me lê e quem ler o blog conhece minha opiniões mais do que ela. Estranho isso, não? Enfim, apenas um comentário.

Em tempo: sobre a definição acima (somos nossas opiniões), penso que precisa ser relativizada, pois é perigosa. Já dei opiniões aqui que são puramente teóricas ou já fiz provocações que são apenas isso, o contraditório, a antítese. Acho que somos muitos mais do que apenas nossas opiniões e, pensando bem, não acho que este blog consiga expressar em sua totalidade a complexidade de minha opiniões.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Sobre questões profissionais levantadas em sala

Havia um outro post programado para ir ao ar, mas o adiei para escrever esta tarde sobre uma coisa que realmente me impressionou. Esta manhã tivemos a primeira aula de uma coisa chamada "sistemas e processos integrados", seja lá o que isso signifique. O professor é um administrador, com toda sua formação em administração, graduação, mestrado e doutorado, tal como um burro de viseira que não consegue olhar para os lados. Começou a falar da relação entre administração e relações públicas. Fez um desenho no quadro em que colocava RP de um lado, ADM de outro, e a Comunicação Institucional no meio. Me opus à toda aquela bobagem que ele estava falando. Mas o que me impressionou e assustou não foi o professor falar merda, pois isso todos podem fazer, mas a reação de vários de meus colegas. O único que se opos junto comigo foi um veterano que agora entrou para nossa turma, o Rone. E um pouco a Sissa. Os outros, até meio que concordaram com ele. Uma grande bobagem. E é isso que me impressiona. Eu, assumidamente, não retirei tudo que podia da matéria de RP. Apesar de minha boa nota (e daí digo que nota não é necessariamente significa algo) não absorvi completamente o conteúdo. Mas ainda ficou algumas boas partes. No entanto, as outras pessoas pareciam saber menos do que eu. Isso realmente me assustou. Enquanto eu falava, todos ensaiando seus "não, não..", concordando com o professor. Me pergunto: será que não se lembram nada de RP, não entendem nada? Por que isso é essêncial ao nosso curso. Nosso curso é, em essência, RP. O professor claramente demonstrou nunca ter ouvido falar disso na vida, mas nós já ouvimos, já tivemos aulas com a Valéria. E aí tem uma questão que é mais do que simples vontade ou querer pessoal. É uma bobagem querer, como o professor tentou, colocar RP na comunicação e Comunicação Institucional entre RP e a administração. Em verdade, e muitos autores concordam (e eu também), a Comunicação Institucional é uma área, um braço, das RP. É "natural" que nós queiramos, para nosso ego, dizer "não, não, Comunicação Institucional está acima, nós estamos acima..." ou algo assim. Normal, não queremos dizer que somos um braço de RP, mas é isso. Com muitas, muitas diferenças, como a perspectiva socio-critica que é empregada pela universidade, mas que não tão tão profundas para se constituirem como um novo curso. E a RP está sim, associada diretamente à administração, apesar do professor tentar dizer que não. Inclusive, acho que é a Kunsch que diz isso (não tenho certeza), a administração deve tomar suas decisões após consulta à RP e atendendo suas orientações. Então o professor tenta dizer: isso é teoria, não acontece na prática. Uma grande babaquice. Ora, os autores de RP também previram essa crítica que ele fez e a resposta é simples. De fato, ainda não é feito assim, hoje, na maioria das empresas, o que não significa que não seja o correto. O comunicador mediocre vai aceitar sua posição de subordinado à administração. O grande comunicador, que terá alguma relevancia, vai batalhar para implementar um modelo de gestão que contemple aquilo que é mais eficiente. Me lembro da mensagem passada pela Valéria, essa sim, grande professora, algo como (palavras minhas, não dela): temos a missão que ir às empresas e mostrar a eles isso, ou seja, mudar o modelo e fazermos diferença. Eu realmente não consigo entender pessoas que não defendem sua profissão. A passividade que vi hoje foi impressionante. Se me perguntassem o que achava de RP quando entrei na faculdade, diria que não gostava (afinal, não conhecia bem). Mas hoje estou dentro desse curso, que é a essência de nosso curso. Acho que frente a uma situação dessas há duas alternativas: ou se adota uma postura crítica aos fundamentos do curso, como a Peruzzo faz, o que é totalmente válido, e gosto muito. Ou se veste a camisa e defende ele. O que não entendo é pessoas ouvirem merda de alguém que não sabe nada de nosso curso e ficarem passivas, ouvindo e aceitando. Eu procuro ter a criticidade de Peruzzo e criticar (todos sabem que sou critico até demais). Mas criticar sobre o real, não sobre o irreal. Sabe o que é engraçado? Geralmente "brigo", me oponho aos professores, defendendo posturas contra o mercado e talz, por questões ideológicas, mas dessa vez não foi isso. Estava defendendo o que é o meu curso. Me lembro duma ocasião, lá na Litoral, em que alguem em algum momento, não sei por que disse: "estamos sendo apenas os relações públicas deles". Respondi "alto lá. não fale do que você não sabe e respeito com meu curso". Eu "detesto" RP. Acho que Peruzzo está certissima em tudo, e todos RPs são uns filhos da puta. Mas se somos alguma coisa, então que assumamos isso. Desculpem a todos se alguém se ofendeu, foi só um desabafo.
*
P.S. (edição posterior): Creio que isso seja um pressupoto sempre presente, mas é bom avisar: tudo isso é só minha opinião, tá? Eu não preciso avisar que é "na minha opinião" em tudo que eu escrever, pois tudo que alguém fala é sempre opinião. Então mesmo quando invoco que alguém "acredite" em mim, estou me filiando a uma tentativa (válida, diga-se) de construir um efeito de verdade. É o que todos fazemos todo o tempo, portanto, não há motivos para me chamar de "dono da verdade" ou se sentirem ofendidos. É só minha opinião. Ah, e quando falo sobre as reações, estou falando de modo genérico; o texto não é absolutamente para ninguém em específico.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Aos leitores (ou: Sugestões?)

Aproveitando o ensejo do meu último post, em que falo sobre o CTCOM, que está entrando em seu último semestre presencial e chegando ao fim, também percebo que está chegando ao fim este blog. Quando decidi criá-lo foi a partir de uma noção da ciência política de que toda instituição é finita, ou seja, tem data para acabar. Batizei-o de Cadernos da Graciosa e creio que no primeiro post (ou um dos primeiros) disse que serviria para registrar meu pensamento durante este tempo que é caracterizado por viagens diárias no trajeto Curitiba-Matinhos. Pois bem. Tal tempo tinha e tem data para acabar. Junto, este blog encerrará atividades. Afinal de contas, não faria sentido manter um blog nomeado Cadernos da Graciosa em um outro contexto, seja qual for, em que isso não tivesse significado. No entanto, quando comecei, não sabia em que daria isso, essa experiência. Gostei. Bem mais do que esperava. Pretendo continuar escrevendo, blogando. Precisarei de um novo blog. Desta vez, sem a proposta da finitude. Um que possa ser, de certa forma, perene. O meu blog, realmente. Começarei a pensar desde já, mas para títulos sou péssimo, ainda mais o título de algo tão importante assim. Peço, ao eventual leitor, dicas, ajudas, sugestões. Alguma idéia para o meu novo blog? Comente, ainda que seja para dizer que não tem idéias. Rsrss. Peço, aqui, sua sugestão e participação. E (acho que nunca disse isso) obrigado aos meus leitores. 

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Dois Anos

Faz dois anos. Dois anos de aulas, na faculdade. Poxa, como passou rápido, hein?! O que tirar desse tempo? Difícil dar conta disso, nesse espaço. Um dia ainda sento para escrever um belo texto sobre isso. Hoje, é apenas um ensaio. Dois anos, e prestes a acabar. O tempo passou muito rápido. Tem sido um grande aprendizado. Não falo de conteúdos acadêmicos, mas da vida, das relações. Quantas confusões eu arrumei, hein? Em alguns momentos uni (quase) todos, opostos, contra mim. Rsrss. Não deixa de ser engraçado. Mas não é isso que vai ficar. O que fica são bons momentos. Momentos muito bons, e crescimento. Na literatura, umas das características de uma boa narrativa é a mudança de estado dos personagens (saem de A e chegam a B). Mais do que apenas na faculdade, mas na vida, essa mudança de estado é fundamental. Creio que seja, hoje, uma pessoa diferente de quando entrei na faculdade. Em muito permaneço igual, mas muita coisa mudou em mim. Para mim, que não fiz ensino médio e cuja última experiência em um ambiente escolar havia sido quando abandonei os estudos na 5ª série (afora o cursinho pré-vestibular, claro), a experiência na faculdade foi uma coisa nova, da qual tenho gostado. Às vezes, mal ambientado a isso, tive alguns problemas com interações em grupos ou relações sociais. Como tudo na vida é aprendizado, estou bem mais apto nessas questões hoje em dia. A faculdade é para mim o ensino médio que nunca fiz. É uma grande experiência. 
Sabe, me lembro da primeira vez que entrei na UTFPR. Foi quando fui fazer o vestibular. Até o pré-vestibular, confesso que não sabia da existência da UTFPR. Alguns colegas do cursinho tinham o (como chamavam) CEFET como meta e assunto predominante. Para me integrar melhor ao grupo, resolvi também fazer o vestibular do CEFET. Entrei no site, para escolher algum curso e fiquei em dúvida entre os dois que, aparentemente, não eram ligados a matemática (que detesto). Escolhi Comunicação por ser uma área que sempre gostei. A primeira vez que entrei na UTFPR foi pela porta da Westphalen, única aberta no dia do vestibular. Passei pelo pátio central. Subi a rampa dos blocos A, depois desci aquela rampa coberta que conecta o bloco A à entrada do bloco E. Finalmente subi as rampas do bloco E, que se tornaria a casa do CTCOM. Não lembro quantos andares. Para mim, que nunca havia entrado ali, aquilo me pareceu complexo e gigantesco. Fiquei maravilhado. Me lembro de pensar, naquele momento, caminhando por aquele mundo de corredores e voltas, que eu gostaria de estudar naquele lugar, que eu me sentiria orgulhoso de estudar naquele lugar. Foi o momento em que passei a desejar a UTFPR. Entrei e hoje me sinto orgulhoso de estudar naquele lugar. Interessante como algumas escolhas mudam nossa vida, não é mesmo? Minha intenção, quando no cursinho, era fazer o vestibular de fim de ano para a UFPR. Querendo ficar mais próximo de uma garota, por quem tinha uma quedinha, resolvi fazer um vestibular duma faculdade que não conhecia, mas pelo que falavam era boa e difícil de entrar. Passei e aqui estou eu. O que seria se fosse diferente? Não sei, mas sei que amo o CTCOM. Por algum entroncamento da vida, todos nós fomos parar na mesma sala, juntos, e todos podemos parar para refletir sobre os caminhos da vida que nos trouxeram a este momento. E juntos vivenciamos muitos momentos, em sala e fora dela. Temos desavenças e ninguém nunca concorda, mas no fim até que a gente se gosta. Rsrss. Tem sido um bom tempo, que agora está entrando em sua fase final.
Tenho medo, sabe. Sendo sincero. Algum tempo atrás me perguntaram sobre meu maior medo. Nem lembro o que respondi. Talvez um dos maiores seja crescer. Não lembro quem definiu que ser adulto é ter responsabilidades. Nesse sentido, não as tenho. Não apenas eu, muitos de nós não as temos ainda. E chega esse momento de crescermos, assumir responsabilidades. São etapas na vida, claro. Não haverá mais CTCOM. Virão outras coisas. Pós-graduação, mestrado, trabalho... E a vida segue sua seqüencia, seqüencia quase que pré-determinada, contra a qual não conseguimos lutar, mesmo que sejamos muito teimosos. Faltam seis meses para acabar, e então acabou. É uma etapa da vida que formalmente se encerra, e outra que começa. O que fazer agora? Vamos deixar isso de lado e falar do que está se encerrando.
Este que agora começa é o último semestre presencial. Já sou tomado, desde já, por um sentimento de nostalgia, saudades. Está chegando o fim. Acho que é um sentimento que, em maior ou menor gradação, há em todos nós. Mesmo para quem ainda tem matérias em dependência para cumprir, este é o último semestre na prática, pois as pessoas podem até ainda vir alguns dias para uma ou outra matéria, mas não haverá mais o vínculo de turma. A turma acaba agora. A minha rotina de viagens diárias é um tanto estafante, mas já estou acostumado a ela. No inicio pensei seriamente em desistir por causa do cansaço; não estava mais aguentando. Hoje, gosto dessa loucura de viagens. Não imagino como será, quando acordar, primeiro semestre de 2011, e não tiver mais que viajar às 5:00 da manhã. Mais do que isso. Não encontrar mais diariamente tantos rostos familiares na sala, nos corredores. Conversas às vezes (apenas aparentemente) inúteis, mas indispensáveis. Correria para preparar trabalhos e seminários, sempre, sempre, na véspera. Ou abrir o e-mail e ter 30 novos e-mails não lidos, alguns inúteis, outros profundos, e muitos trabalhos compartilhados. O e-mail da sala, hoje, já não é tão movimentado quanto no passado, e aí percebemos que as coisas já estão mudadas, acabando... Tantos momentos. Há coisas, claro, das quais não sentirei saudades. Mas estas deixemos para lá, pois não valem ser citadas.
Mas sabe, disse que não haverá mais CTCOM. Estou errado. Sempre haverá o CTCOM. Não haverão mais aulas apenas. Mas pertencer ao CTCOM é mais do que apenas aulas. É quase como um estado de espírito. Você tem que estar imbuído dele. Você pode, sim, ser aluno, mas não gostar do curso, não pertencer realmente ao CTCOM. Ou você pode estar imbuído de seu espírito, e sempre pertencerá ao CTCOM. São relações que não se desfazem, e ainda que se desfaçam, permanecem em você. É algo que você vivenciou e que não te abandona. Algo que carregaremos para sempre. Posso parecer talvez um tanto dramático, mas são nossas relações e experiências que nos definem, que dizem quem somos. O CTCOM faz parte dessa experiência. Ele sempre estará em nós.

domingo, 8 de agosto de 2010

Sobre problemas dos outros

É um saco acompanhar na mídia o caso da tal iraniana condenada a ser apedrejada por infidelidade. Usam isso para atacar o Lula, dizer que o Brasil mantém relações com um país que não respeita direitos humanos, isso e aquilo. Pura bobagem. Lula, por incrível que pareça, aconselhado ou não por seus competentes assessores, tem demonstrado uma sabedoria de ciência política muito avançada, quando diz, por exemplo, que o Brasil não pode interferir nos assuntos de outros países. E a mídia grita: tem que impor sanções! Têm que romper relações! Infelizmente Lula cedeu à pressão popular e ofereceu abrigo à mulher condenada. Foi apenas um jogo de cena, importante para o momento eleitoral, pois ele sabia que não poderia ser concedido o asilo, mas agora ele pode falar: eu tentei. Ora, deixe-me explicar o que aprendi nas aulas de ciência política. Uma noção básica, simples, mas que as pessoas custam a entender. Cada país é absolutamente soberano dentro de seu território, e pode estabelecer as leis conforme queira. Conforme queira. Me lembro de um case, um exemplo extremo, usado para ilustrar isso. A Alemanha nazista tinha o direito, legal e legítimo, de determinar que dentro de seu território os judeus não mais teriam direitos civis. O "erro" da Alemanha foi invadir a Polônia, pois aí excedeu seus limites e direitos, e a partir dai começou a guerra. Mas enquanto a questão se restringia a seu território era seu direito fazê-lo. Chocante? Pode até ser, mas são as regras da política internacional. Os países são soberanos e podem estabelecer as leis conforme queiram. Ah, mas e o que os Estados Unidos e a ONU fazem?, perguntarão alguns. Não é limitar a soberania dos países? Sim, até fazem isso, com os mais fracos, tentando impor seu estilo de vida, sua mentalidade. Não quer dizer que estão corretos. E não digo que estão errados em fazer isso por causa de qualquer moralismo, mas por que para a ciência política, para a filosofia (e é sobre estas que se construíram as nações), cada país é absolutamente soberano dentro de seu território. Ponto. Por isso, estou esperando o apedrejamento da iraniana. Será o exercício de soberania das leis de um país soberano. Obviamente, não estou falando como cristão (como cristão, condeno a atitude, claro), mas como alguém que respeita o outro e o direito do outro país de estabelecer suas leis. Agora pondo em prática as lições das aulas de antropologia, é preciso nos relativizarmos. Só por que consideramos adultério normal, queremos impor esse pensamento a todos? Quem disse que nós estamos certos? Então acho certo matar por adultério?, poderão me perguntar. Aí que está a questão que as pessoas não entendem. Não há certos e errados. É uma questão cultural que deve ser respeitada. Respeitada não apenas (mas também) por princípios antropológicos, mas por que é direito soberano do país estabelecer suas leis conforme os preceitos que queira.

Em tempo: Vale ressaltar que a lei já existe já tempos e a mulher tinha conhecimento dela. Infringiu conscientemente.
Em tempo 2: Estão condenando o método, o apedrejamento. Ora, não é mais desumano que cadeira elétrica, que provoca sofrimento análogo.
Em tempo 3:. Não está sendo divulgado, mas ela foi condenado não apenas por adultério, mas por que seu amante (já executado) assassinou seu marido. Ela tem, portanto, parte de culpa nessa morte. E por isso morrerá.

sábado, 7 de agosto de 2010

A importância das pesquisas nesse momento (Ou: o momento de manipular)

Nos últimos dias, uma série de pesquisas foram divulgadas acerca das eleições presidenciais desse ano. O que chama atenção, muitas vezes, é a discrepância de dados entre as pesquisas de um ou outro instituto. Último dia 23, Vox Populi apontou 8 pontos de vantagem de Dilma na frente de Serra. No dia seguinte, 24, DataFolha divulgou pesquisa em que ambos estão empatados, com Serra numericamente um ponto à frente. Dia 30, Ibope seguiu similar à Vox, com 5 pontos a favor de Dilma. Ontem, 05, Sensus dá a maior vantagem para Dilma, 10 pontos. Três das pesquisas apontam, de certa forma, o mesmo fenômeno, a liderança de Dilma. Apenas o DataFolha é discrepante. A proximidade das datas, a meu ver, rebaixa a hipótese de reais mudanças do cenário. 
Muitos acham que as pesquisas eleitorais são manipuladas nas vésperas da eleição ou ao longo da campanha. Na verdade, salvo em disputas acirradas,  a tendência é que próximo ao resultado os institutos tendam a calibrar seus númeoros mais próximos da realidade, afinal, têm um nome a zelar. O verdadeiro momento de manipulação das pesquisas é este em que vivemos, por que: a) é o momento que realmente influencia no voto dos eleitores; e b) se provocar mudanças no cenário, o instituto pode dizer que capturou os números antes; se não as provocar, os "erros" podem ser corrigidos durante o tempo e atribuídos a outros fatores.
A despeito de qual instituto está certo ou errado, se é problema metodológico ou má-fé, proposital, o que não pode ser negado é a importância fundamental dessas pesquisas nesse momento, no inicio da corrida eleitoral (nas vésperas de entrar no ar o horário eleitoral). E por quê? Peço licença para ser acadêmico e resumir uma teoria que, certamente de conhecimento dos marketeiros, ajuda a explicar a importância dada a esse momento.
Uma intersecção entre os campos da comunicação e da psicologia, que explica a influência da televisão nas opiniões pessoais, é a Teoria da Espiral do Silêncio, de Elisabeth Noelle-Neumann. O pressuposto inicial dessa teoria é aquilo que também está presente em Bion de que o indivíduo se faz para o outro, se constrói a partir das expectativas depositadas nele. O individuo sempre busca, inconscientemente,  a integração à cultura do grupo a que pertence e para isso adequa e forma suas opiniões baseado nas opiniões de seu grupo cultural. Ou seja, as pessoas são influenciadas pelas outras pessoas, de seu grupo social, mas também (e principalmente) pelo que elas imaginam que as outras pessoas pensam e esperam dela. Diante de opiniões majoritárias, as pessoas se calam, evitando manifestar opinião contrária, e se adaptam à opinião dominante. Assim, uma opinião que não seja majoritária, se vendida como tal, pode se transformar em majoritária.
Essa teoria explica o tão afamado "voto útil". Mais do que não "perder" o voto, ele busca seguir ao desejo manifesto da socieadade, para, insconscientemente, se integrar a ela. É interessante nós olharmos esse fenômeno não com olhos críticos, de algo que deveria ser mudado, mas algo psicológicamente intrinseco às pessoas. Assim nós podemos entender melhor seus comportamentos. Por isso é importante estar atento às manipulações de pesquisas nesse momento e é importante para a campanha de Dilma vender, nesse momento, a imagem de que ela está na liderança. Pode ser isso que falta para lhe dar a vitória ainda no primeiro turno.

Em tempo: o artigo "A espiral do silêncio em dois episódios referenciais", de Antonio Hohlfeldt (publicado no livro "Comunicação na Pólis", organizado por Clóvis de Barros Filho) é uma excelente introdução dessa teoria à luz de casos da política brasileira.